A Arma Escarlate - O Muiraquitã. escrita por NahHinanaru


Capítulo 7
Capítulo 7 - Árvore Genealógica


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente quero agradecer aos meus leitores Beta, ahuahuahuahuahauh
Segundo Obrigada pela imagem Leo! o

Ansiosa pra vocês lerem esse capitulo, posso dar uma dica???? Escutem a musica Alone Together do Fall Out Boy enquanto leem do meio pro fim. ;) eu escrevi ouvindo ela, e eu fiquei um tanto eufórica é só uma sugestão hahaha... enfim

Boa leitura!



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–---Narrativa da Nádia.----

Estávamos nós três ali na sala do meu avô, eu já estava morrendo de tédio olhando o Índio folhear aqueles cadernos, ele fazia algumas caretas lendo sobre os assassinatos que meu tio cometera, às vezes ele vinha perguntar se eu sabia dos contatos que ele tinha em Brasília, e eu contentava apenas a sorrir e sacudir a cabeça negando, pelo que parecia, ele conhecia a maioria dos nomes citados nos cadernos de Salvador. Eu já não estava mais agüentando toda aquela monotonia, quando comecei a cantarolar:

–“Do you have the time to listen to me whine, about nothing and everything all at once?..,”

–Oi? – perguntou Virgilio.

–Só cantando, não se incomode. – respondi continuando – “...I am one of those...” – Admito que devo ter me empolgado batendo na mesa. Por que Virgilio me olhou feio e disse:

–Aff. num poderia cantar um pouquinho mais baixo?

–Sorry. – respondi sorrindo de lado.

Então parei e não sei por que me veio outra musica a mente, abandonei a letra do Green Day indo direto para Placebo:

Shine the headlight, straight into my eyes. Like the roadkill, I'm paralysed You see through my disguise…– agora cantando mais alto pronta para levar bronca de Virgilio, ou no mínimo um olhar cruel. Dito e feito, no mesmo momento, ele me olhou feio. Assim que percebeu que eu estava o provocando de propósito ele bufou:

–Aff...

Eu então ri.

–Entendi, não gosta de rock? Que tal Amado Batista? Oh não não, melhor...
Me levantei e ele falou:

–Não Nádia, para de brincadeira... – então sorri, eu finalmente estava tirando a atenção dele dos cadernos.

Yo, I'll say you what I want, what I really really want So tell me what you want, what you really really want.– comecei eu então a cantar e dançar uma musica boba das Spice Girls, rindo ao mesmo tempo. Dando até a reboladinha que elas dão durante o video clipe. - If you want my future, forget my past, If you wanna get with me, better make it fast.

–Aff... Para com isso, você não vê que o que temos que fazer é muito mais importante que suas brincadeirinhas???

Eu então parei, fechei a cara desapontada e resmunguei me sentando de novo:

–Credo como você é chato!

Eu então voltei a olhar cada maldita folha irritante que Virgilio olhava, torcendo para ele não achar nenhuma informação que venha ser direcionada a mim, ou minha genética. Cansada de nenhum resultado vindo dessa busca inútil, fui ajudar meu irmãozinho a fuçar nas coisas de meu avô. Eu ainda estava com sono da noite mal dormida. Mas lá estava eu olhando algumas revistas e jornais velhos, quando vi uma foto muito peculiar se mexendo em um dos jornais, meu avô, com uns 30 anos, ao lado de um outro bruxo, ambos com a mesma cara de Pajé e Cacique. Que o Índio não escute meus comentários sobre a aparência deles haha. Onde a manchete dizia:

“Soldados bruxos desaparecidos em batalha.

Os bruxos que foram dados como desaparecidos após serem mandados como reforço em ajuda aos grupos europeus, contra aquele-que-não-deve-ser-nomeado, podem não estar mortos.

Um dos homens desaparecidos em batalha foi encontrado recentemente nesta quinta-feira do ano de 1983, com parte da memória bem afetada, vagando pela Escócia como um velho bruxo andarilho, pobre e passando necessidades, logo após sofrer uma fratura na perna e ser internado no Hospital St. Mungus em Londres, descobriram que o homem, era um velho guerreiro da batalha dos fins dos tempos. Este homem que não é ninguém mais ninguém menos que integrante da família OuroPreto, família com grande importância no cenário politco do país... “Continuação, pág A-53””

Eu queria chamar Virgilio e mostrar aquele jornal para ele, queria poder mostrar o avô dele ali naquela imagem. Mas como explicaria meu avô na foto? Tudo bem ele não reconheceria, mas mesmo assim, o que faria um jornal daquele guardado naquela sala? No mínimo ele ficaria curioso, e o que eu menos queria era que ele adivinhasse o que eu tento esconder dele desde sempre.

Então bufei, enrolei o jornal e escondi para mais tarde o guardar em minhas coisas.

–Nah o que é isso? – perguntou meu irmão.

Quando olhei pra trás eu vi meu irmão com um uma arma em mãos, eu arregalei os olhos:

–Coloca onde você achou com cuidado. – eu disse com medo dele se machucar ou sei lá o que.

Logo Virgilio também virou e olhou espantado para a arma.

Eu então me aproximei de meu irmão com cuidado, e peguei a arma das mãos dele.

–Que arma é essa Nah?

–Não sei. – respondi com sinceridade.

–Onde ocê achou isso? – perguntou Índio rígido.

–Ali ó! – respondeu Enzo apontando para um armário de madeira escondido na parede como um armário secreto.

Eu fui até o armário com o Índio ao meu lado. Quando coloquei a arma pude notar algumas outras armas, não só revolveres como aquele, mas também havia um riffle e uma espingarda diferente, alem de vários punhais, de diversos tamanhos. Eu então deixei a arma lá e peguei um dos punhais embainhei, e coloquei no cano médio do meu tênis.

–O que ocê tá fazendo? – perguntou Virgilio.

–To sem minha varinha, não quero ver o outro lado do meu rosto cortado. – comentei, sorrindo.

–Nádia acho melhor ocê devolver, não é seu... – começou a falar quando eu logo cortei dizendo:

–Bom meu avô está morto, então esse presentinho vai para a herdeira mais velha da ultima geração nascida.

Ele então se calou.

–Posso pegar uma também? – me pediu Enzo com os olhos brilhando.

–Acho que não, a mãe não vai gos... – comecei quando ele começou a fazer chilique:

–Você é chaaaataaaa...

–Eu sei, e por isso você me ama! – e abracei o pequeno.

–Meeee soooltaa sua feia! – esperneou meu irmão.

–Nãaaaooo por que eu te amoooowww. – e comecei a dar cócegas até ele começar a rir e tirar aquele olhar de rancor de seu rostinho curioso por natureza.

Até que meu irmão rindo, fugiu dali.

Olhei pro lado e vi Virgilio me olhando com um meio sorrisinho, e os olhos com uma luz diferente do normal.

–Que foi? – perguntei rindo.

–Você cuida dele muito bem. – ele me disse, enquanto voltava para os cadernos, e eu fui fechar a parede de novo quando meu irmão aparece na porta e fala:

–Não esquece amanha da casa de doces!

Eu sorri e disse:

–Me lembra de não esquecer.

Então ele sorriu travesso e saiu correndo dali de novo.

Eu ri e voltei a olhar para Virgilio, quando me lembrei de algo, os rolos que eu havia encontrado embaixo da cama.

Fui até a poltrona da sala e estiquei os papeis desenrolando-os.

Eram algumas plantas de construções, que assim que eu as deixava completamente abertas elas exibiam as construções em 3D. Poderia jurar que eram imagens em tempo real a imagem que eu via ali.

–Eu conheço esse lugar. – comentou Índio abismado atrás de mim, eu nem o vira levantando!

–Que lugar que é? – perguntei.

–A escola de Brasília! – ele exclamou.

–Ai minha Deusa. – murmurei.

Logo quando eu colocava em plano superior cada folha aparecia uma nova construção, a ultima que eu levantei era a tão conhecida Korkovado.

–Índio. – eu disse assustada.

–Eu sei é a Korkovado...

–Não, olha o Capí ali com o Ehwaz na praia. – então apontei para onde o papel mostrava a praia.

–Num pode ser! – ele exclamou.

–Pode sim. – eu murmurei chorosa e assustada ao mesmo tempo, olhando Capí brincando alegremente na areia com seu amigo unicórnio.

–Isso é muito perigoso! Ele tem as plantas em tempo real das cinco escolas! – Virgilio comentou. – Não podemos devolver pra ele!

–E o que você espera que façamos? “Oi tio tudo bem? Eu e o OuroPreto aqui roubamos suas plantas mágicas. Tem problema se tentarmos te impedir? Ahh e por favor, não pegue da minhas coisas, e nem pense em ir na casa do Virgilio matá-lo para pegar seus papeis hein?!” – disse eu debochada logo em seguida soltando um. - Tu ta doido? Temos que devolver!

Ele então me olhou e disse:

–E se escondermos ali? – apontando pra parede com fundo falso.

–Até que não é má idéia. – murmurei.

Enquanto meu indígena abria o fundo, eu depositei aquelas folhas ali, fechamos e eu comentei:

–Acho melhor devolvermos esses cadernos pro lugar deles.

–Ocê tem razão, não tem muita coisa que podemos extrair daqui.

–De fato, nada além de sangue e dinheiro ilegal que nunca acreditariam em nós. Mesmo com esses cadernos, quem vai dar ouvidos a nós dois com diários de um bêbado em mãos? – bufei frustrada por chegar à mesma conclusão duas vezes sobre esses cadernos.

Começamos então a guardar os cadernos faltavam poucos quando um dos cadernos que Virgilio estava olhando caiu aberto em uma pagina com vários quadradinhos e bolinhas escritos nele.

Eu logo tratei de recolher, mas Índio pegou primeiro.

–Me devolve. – eu disse entre os dentes.

–Isso é uma espécie de arvore genealógica... – comentou ele.

–Sim, é uma droga de heredograma, agora me devolve!!! – eu disse entre os dentes.

–Porque sempre os primeiros de uma geração tão pintados de azul? – perguntou ele.

–Por que azul deve ser a cor favorita do meu tio, agora me dá! – eu urrei.

–Por que? – Virgilio me olhou, ele notou que eu não queria que ele entendesse nada, meu rosto gelou. Eu comecei a querer passar mal, eu via que agora sim, ele nunca mais olharia na minha cara, nunca, por eu esconder a verdade sobre mim.

Eu podia jurar que eu e ele estávamos começando a nos dar bem, e agora isso? Ele vai me odiar.

–Essa pintada de azul é ocê? – perguntou ele apontando para o primeiro circulo de uma quarta geração.

–Talvez. – eu sussurrei.

–Ta pintado de azul por que ocê é nascida bruxa? – ele perguntou.

–É. – suspirei aliviada. Afinal, eu estava viajando, ele não pensou em nada demais!

–É verdade que sua família é toda de fiascos? – perguntou ele, fechando o caderno e me devolvendo: - Fica tranqüila, não precisa ficar com vergonha disso.

Eu sorri amarelo e disse:

–É né.

–Vamos logo levar essas coisas para lá. – disse ele por fim.

Depois de termos levado todos aqueles cadernos para o cantinho da podridão. Fomos para sala, onde Flávia e Maysa estavam.

–Oi. – cumprimentou Flávia com um tom tedioso habitual dela.

–Flávia, Maysa, esse é meu amigo da escola, o Virgilio. – apresentei.

Maysa então riu debochada e disse:

–Virgi- o que? Hahaha....

Índio então olhou de mim para ela com a cara fechada.

–Finalmente desencalhou! – bufou Flávia.

–Cala a boca garota! Ele é só meu amigo! – esbravejei.

–Como de praxe, solteira eternamente, afinal quem ia querer namorar uma aberração gorda? – disse ela arrogante pra mim.

Bom, devo admitir, eu já deveria ter me acostumado com as provocações dela, mas no entanto eu perdi um pouco do controle sobre mim, eu meio que fui para socar a cara dela, mas eu juro que era de levinho, tipo só tirar bastante sangue, mas nada que precisasse ir pra UTI, só que parei de supetão quando Virgílio disse:

–Na verdade, eu namoraria ela. Ela faz sucesso lá na escola sabe...

Eu que estava ali parada abismada olhei com uma cara de “Coméquié?”, ele então me devolveu um olhar de “entra no jogo”.

–É por isso que vim aqui hoje, eu disse que era pra buscar Aloisio, mas na verdade ele sabe se virar, eu vim mais para ver como ela tava. – ele continuou.

–Então por que ela disse que vocês não estão namorando? – perguntou Flávia com o ego arrogante inflado.

–Por que não , uai. Aparentemente ao contrario di ocê, ela se dá valor o suficiente pra não sair por aí namorando qualquer um que apareça só por que está “encalhada”. – argumentou ele sério. Uai, Eu fiquei tentada a beijá-lo, Hahaha! Eu estava incrédula com o que ele disse.

–E você acha que é quem pra vir na casa da minha avó falar assim comigo? – disse ela.

–E ele disse alguma mentira? – perguntei.

Ela me olhou fulminante e disse:

–Eu vou contar pra mãe!

–Vai fundo. – respondi, a Maysa riu e foi atrás dela dizendo:

–Fica tranqüila vou desmentir ela.

Então ri.

–Senta aqui vou chamar Aloísio pra ir embora com você já venho.

–Tudo bem. – me respondeu ele.

Subi correndo as escadas, bati na porta vizinha a do meu quarto, ouvi um “que é?” por de trás da porta então disse:

–Aloisio, ta na hora de ir embora!!!

E voltei para sala, minha avó estava na sala:

–Então qué dize que ocês estudam na Korkovado?

–Sim senhora. – respondeu ele.

–E o que ocê pretende faze da vida? – questionou ela.

–Creio que algo relacionado a leis...

–Sabe eu to com um processo, ocê pode olha uns documentos para mim...

–Vó ele é só um estudante do quarto ano. – cortei o assunto.

–Eu posso...

–Não pode, ela vai te alugar o resto do dia, acredite, ela me faz olhar todos os exames médicos e bula dos remédios dela. – cochichei para ele.

Ele então se calou.

Quando o olhar dele pousou em algo peculiar, um colar azul que estava pendurado na parede.

–O que é aquilo? – perguntou ele.

–É do meu avô, pega lá pra ver. – sugeri.

Ele então mudou seu interesse pra minha avó que agora estava lendo os papeis do processo dela com ajuda de um óculos velho.

–Que foi? Pega lá!

–Não.

–Por que não. – questionei achando graça.

–Não estou na minha casa e não é meu. – respondeu ele como se fosse algo obvio.

Então olhei do colar para a minha avó e disse:

–Vó posso pegar?

Ela me respondeu:

–Ocê sabe muito bem que não.

–Ok. – me levantei sorrindo e peguei.

Minha avó me olhou abismada com a minha petulância, quando Índio disse:

–Ela disse que não!

–E sei! E eu desobedeci! – disse depositando o colar na mão dele e ele se recusando a pegar, então segurei a mão dele e forcei-o a pegar.

–Eu conheço isso de algum lugar. – comentou Virgilio, olhei então pra ele e disse:

–Mesmo?

Ele estava olhando sério pro Muiraquitã azul, quando Aloísio apareceu na ponta das escadas, com Marine ao seu braço.

Peguei rapidamente o colar da mão dele e coloquei de volta no suporte em que estava.

–Então é isso. Espero que vocês dois não fiquem vindo aqui. Já me trouxeram muitos problemas. – comentei em tom responsável.

–Ocê falando assim até parece que tomou jeito na vida. – comentou Virgilio sorrindo discretamente, mas era muito discretamente mesmo, só uma pessoa como eu que estava acostumada ver a cara séria dele conseguia detectar o sorriso.

–Depende do que ocê acha que é minha vida. – eu disse e pisquei para ele.

Ele franziu o cenho e com olhar duro disse:

–Não estávamos indo?

–Tchau. – disse eu acenando sorridente.

–Sim vamos. – respondeu Aloísio. – Mas antes, você vai lá passar o Natal comigo certo? Minha tia vai querer te conhecer! Ela que me convenceu a vir pedir perdão pelo meu medo.

–Claro que vou! – exclamou Marine radiante, abraçando o namorado.

–Ah que ótimo demonstração de afeto em publico, posso ir ali me jogar da ponte? – resmunguei, sabendo que o único motivo de eu detestar casaizinhos, é nunca ter feito parte de um, não que nunca tenham tido vontade de me namorar, uns dois garotos já tentaram me chamar pra sair, mas entendam, pra mim só há um garoto que valha pena tudo.

Eles então estavam saindo pelo portão quando Virgilio se virou e disse sugerindo:

–Se quiser ir também. Pode ir.

–Não posso, minha vou ficar aqui com a minha mãe. – expliquei.

– Só estou sugerindo por educação, de qualquer modo, comprei um presente procê, ia mandar por pombo correio, como você está aqui, te entrego se ocê for. – comentou ele como quem não quer nada.

–Você comprou algo pra mim??? – disse eu sorrindo.

–Não se faça de inocente, a ultima vez que não comprei cê me irritou mais do que o costume! – ralhou ele.

–Eu sei! – respondi rindo.

–Vou lá. Tchau.

–Adioos!

–--

Era véspera de natal, lá estava eu com meu irmão ajudanddo ele a construir um telhado de balas da casa de doces.

–Mãe. –chamei ela enquanto ela temperava um pernil enorme pra ceia de natal.

–Oi? – respondeu ela sem tirar os olhos da tarefa.

–Posso destruir os discos do Amado Batista?

–Não.

–Eu juro que vou destruir aqueles discos se ela ligar durante a festa de Natal. – resmunguei entre os dentes.

–Não é nem louca!

–Se fosse eu ouvindo Green Day no ultimo volume você já teria tirado! – bufei irritada.

–Afinal de contas, o que tanto você tem contra a esse cantor? – perguntou ela ainda ocupada preparando a comida enquanto eu tentava encaixar os dois telhados um no outro e meu irmão agora mais comia as balas do que ajudava.

–Quando você ficar presa em um armário e pedir socorro mas ninguém te ouvir por causa desse bendito cantor, me pergunte isso de novo. – respondi áspera.

–Você está muito reclamona hoje. É o natal que está te incomodando? – perguntou minha mãe rindo.

–Na verdade eu to sentindo que hoje o dia vai dar merda. – comentei, por que eu estava esperando a qualquer momento receber um ataque de Salvador, durante toda noite dormi com o punhal em mãos esperando ser esfaqueada novamente pelo meu “adorável” tio.

–Vai dar tudo certo. – disse minha mãe sorrindo. - Fica tranqüila, eu escondi os discos de sua avó, nada vai dar errado.

Eu sorri, minha mãe já tinha pensado em tudo, espero que também tenha pensado nos problemas “tios”.

Ficamos a tarde toda preparando a casa pra meia noite, a troca de presentes, a arvore de natal já fora derrubada umas três vezes até as 7 horas da tarde pela minha irmã mais nova, bom foi até essa hora que eu vi, pois depois fui pro meu quarto me esconder lá. Eu ouvira Salvador chegando junto Julio.

Eu particularmente estava com medo de ter que enfrentá-lo sem a minha varinha. Quando minha mãe foi até meu quarto, apareceu só o rosto pela porta e disse:

–Seu padrasto chegou, está com fome? Vou servir pros mais novos já.

–Já desço. – respondi.

Amigos, vou lhes dizer uma coisa. Festas são uma droga, você fica o dia inteeeeeeiro mexendo com comida, e não come nada, nem beliscar dá! É uma droga! Eu estava morrendo de fome! Ao ponto da fome ser maior que o medo! Esse é o mal de ser mais cheinha ou gorda se preferir. Sempre colocar doces, lanches antes dos grandes problemas hahaha.

Bom, sabe quando as pessoas têm premonições? Pois é, eu estava certa, quem era que estava na beirada da escada esperando eu descer? Julio! Lacaio nojento.

–Olá bruxinha, como tá a vida?

–O que você quer? – resmunguei empurrando ele pra sair da minha frente.

–Bom, eu não quero muita coisa, mas seu tio está um pouco... zangado c’ocê. – disse ele indo ao meu lado.

–E eu com isso? O cara não sabe cair e vem me culpar? – zombei.

–Huuummm... sério que ocê num tá sabendo di nada? – ele disse com um sorriso malicioso. – Num sei não. Acho que cê é bem mais esperta do que aparenta.

–E eu acho que você ta ficando louco, por que eu não estou entendendo nada. – comentei fingindo minha inocência. Era obvio que eles estavam procurando as plantas 3D das escolas.

–Será que seu tio vai concordar c’ocê? Vamos ver? – ele então agarrou meu braço e me levou ate a mesa de jantar e eu tentei me soltar em vão, cogitei pegar a adaga e cortar a mão dele, mas achei melhor deixar a arma para ultimo caso, como fator surpresa.

–Oia quem apareceu! – anunciou Julio me arrastando pelo braço.

–Ocê mesm’ que eu queria ver! – Salvador foi direto com a mão em meu cabelo me arrastando e batendo minha cabeça na parede.

–AAAAAAAHHHHHH – gritei. Logo não demorou muito minha mãe, minha irmã Flávia e minha avó apareceram lá.

–Solta ela Salvador! – gritou minha mãe, indo tirar ele de cima de mim e ela empurrou minha mãe e ela caiu no chão.

–Mãe! – gritamos eu e Flávia ao mesmo tempo. Flávia correu ao encontro de minha mãe e na hora meu padrasto entrou na sala e socou a cara de Salvador, que me soltou de imediato.

Minha avó olhava em choque a situação, agora Salvador estava com a varinha apontada para cara do meu padrasto.

–Pode vir com suas mágicas! Mas a minha mulher e a minha filha você não machuca! – naquele momento meus olhos se encheram de lagrimas, era a primeira vez que meu padrasto havia me chamado de filha!

Aquilo me fez perder um pouco a noção do perigo, por que eu tirei a adaga do tênis e me joguei contra Salvador o jogando em cima da casa de doces que eu passei duas horas fazendo com meu irmão, peguei a lamina e cortei o rosto de Salvador na mesma extensão que ele havia me cortado.

–Você está prometido de morte seu verme! – cuspi as palavras de ódio nas fuças dele.

O homem me empurrou longe me fazendo cair de costas no chão, a faca voou longe e ele me puxou pelo colarinho da blusa e me deu um tapa na cara, o que fez meu rosto latejar.

–PAAAARAAAA! – gritou minha avó apontando uma varinha para Salvador. Afinal, da onde a velha tirara a varinha?

–Mãe? – perguntou Salvador.

–Vó você é bruxa? – exclamei, eu queria sorrir abraçar minha avó, mas meu rosto doía, eu estava com ódio e com um pouco do orgulho ferido. Eu sem uma varinha, eu era muito fraca. Eu teria de treinar luta se eu quisesse defender alguém.

Antes que eu me esqueça. Esse é meu propósito, Virgilio não está aqui, então posso contar pra vocês, eu nasci para isso, para defender. Enfim, logo, logo vocês entenderão melhor.

–É claro que eu sou bruxa, a maldição que ocê herdou veio de seu avô! – ela ralhou.

Ahhh sim a maldição. O motivo de eu não querer que Virgilio visse a minha arvore genealógica, minha família funciona assim, quem nasce primeiro na geração suga a magia de todos os outros que estão pra nascer. O único real mistério mesmo é como eu e a Cris tivemos nossos poderes nós duas, mas só eu vou carregar a maldição! Uma tremenda injustiça!

–Vai embora daqui Salvador. – ordenou minha avó, mas eu fui mais rápida e disse:

–Quem vai embora sou eu!

–O que? – perguntou minha mãe que agora estava a minha frente.

–Isso mesmo, essa noite vou fazer companhia a minha “amada” priminha, que já sabia que não ia prestar passar o natal aqui. Vou pegar minhas coisas e amanha volto pra pegar o resto e vou pra escola. – parei para respirar e disse para Salvador: - É peguei suas coisas sim seu bandido miserável e nojento. Destruí aqueles malditos mapas, quem manda não colocar feitiço de proteção neles?!

Então voltei a olhar para minha mãe que estava em prantos, abracei-a e disse:

–Feliz Natal mãe, te vejo amanha, e a propósito, nunca mais venho para Minas.

–--

Eu simplesmente fui para o quarto joguei minhas coisas mais importantes na mochila de qualquer jeito, fui até o banheiro, tomei um banho pra tirar o sangue que estava espalhado por mim e pelas minhas roupas, coloquei um vestido azul que eu pretendia usar no ano novo, já que minha roupa do natal estava banhada de sangue, como iria aparecer na casa dos OuroPreto totalmente nojenta de sangue?

Joguei a mochila nas costas, amarrei o meu cordão com um pingente, no calcanhar e calcei meu all star vermelho, e coloquei a adaga no bolso lateral da mochila.

Desci correndo, fui até a porta e sai sem dar tchau, com medo de mudar de idéia e ficar lá.

–--

Bati palma para ser atendida no portão. Só que não precisei muito, o portão foi aberto pelas criaturinhas bizarras de jardim, ao passar as mais novinhas me olhavam raivosas, e os mais velhos sentiam o cheiro do meu sangue e se curvavam para mim, aquilo me assustou bastante devo admitir, então entrei pela porta inicial, e bati na porta.

Esperei, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8! Oito segundos! Uma senhora abriu a porta.

–Pois não? – me perguntou ela.

–Ahh, Oi, Marine está? – perguntei meio constrangida.

–Sim está, se quiser posso chamá-la... – começou ela, então eu interrompi:

–Ahh não, não, é que o Índi... não pera, quero dizer, o Virgilio, m-me chamou... – tentei falar, mas eu estava com vergonha, a verdade é que eu estava me atrapalhando, não tinha como ficar pior.

–E ocê? Quem é? Pelo visto conhece meu neto. – perguntou a senhora.

–Meu nome é Nádia, Nádia Lima Torres. – respondi fazendo careta, já contei para vocês que detesto sobrenomes? Pois bem, detesto.

–A Muiraquitã! – aquelas palavras me foram como um tapa na cara. – Não precisamos dos seus serviços aqui, meu neto está bem.

Ela foi fechando a porta na minha cara quando coloquei o pé, para a porta não se fechar.

–Se ele não está em perigo qual é o problema de eu entrar como uma garota comum aqui? – respondi áspera.

–Não precisamos de outra da sua laia se envolvendo com meus netos.- ela me respondeu no mesmo tom.

Aquilo me irritou um tanto, sofro preconceito por ser da minha família, e na minha família sofro preconceito por ser bruxa! Qual é a lógica da vida mesmo? Ahhh é a minha vida. A minha vida é o Virgilio.

Okay, está confuso o que eu disse certo? É porque estou furiosa.

Vamos dar nomes aos burros, o muiraquitã bruxo? O Muiraquitã normal é um amuleto comum de proteção de indígenas azemolas,os deles são verdes, os muiraquitã bruxos são azuis, os muiraquitãs azemolas são feitos de pedras e em forma anfíbia, já os bruxos, são como um elo, onde prende dois membros como Soberano e Vassalo. A muitos anos atrás a família do OuroPreto, haviam vassalos e servos, os mais velhos da família, possuíam o membro mais velho de cada geração da minha família, como escudo. Esse é o nosso legado. Por isso que absorvemos a magia dos nossos primos e irmãos. Assim que nascemos, automaticamente adquirimos toda a magia dos nossos familiares que nasceram ou estão pra nascer naquela determinada geração.

–Você está enlouquecendo mulher. – eu disse entrando mesmo sem a permissão dela. – Você não pode separar um muiraquitã de seu protegido!

–É isso que enlaça você a ele né? – ela foi parar pegar um colar do meu pescoço, quando ela notou que eu não tinha o amuleto pendurado em mim, então sorri e apontei pro meu all star. O cordão que eu tenho amarrado no meu calcanhar dentro do meu tenis, é o elo que me liga aquele garoto rabugento que me faz saber onde ele está quando eu preciso. O elo que enlaçou nossos destinos assim que nos vimos pela primeira vez na Korkovado. Me fazendo desequilibrar mais pro lado e me fazendo cair em cima dele.

E foi o mesmo que aconteceu com meu avó, que criou um elo que o prendeu ao avô do Índio, e exatamente o que aconteceu ao meu tio Salvador ao falecido tio do Índio.

Eu sou o motivo que meus irmãos não tem magia, eu sou a culpa pela ruína da minha geração. E não só isso, eu não só sou o muiraquitã do Virgilio, eu fiz o grande favor pro meu emocional de me apaixonar por ele também!

Aí você deve estar se perguntando, “se seu tio é bruxo quem é o protegido dele?”, pois bem, isso me vem ao ponto, “por que que não posso simplesmente falar não para a maldição?”, pelo que sei, Salvador a muito tempo atrás, falhou em sua missão de proteger a vida de seu pretegido, e desde então a maldição do muiraquitã endoidou a cabeça dele. É isso que acontece se seu muiraquitã falha, sua mente morre junto com a vida de seu protegido. O primeiro a deixar isso acontecer em séculos foi Salvador, Meu avô morreu pelo protegido dele. Minha bizavó morreu pela protegida dela. E eu não posso deixar meu Índio morrer, não antes de mim pelo menos.

A avó de Índio me olhava raivosa, e abria a porta furiosa para eu sair, quando eu ouvi a voz de Marine:

–Aí de repente, ele se ajoelhou e pediu perdão!

Eu sorri, ignorei a avó dele e fui até minha prima, eu estava curiosa pra saber como eles reataram.

Encostei na parede, Virgilio estava sentado a mesa lendo um livro, enquanto uma mulher muito bonita, ouvia a historia atenta, orgulhosa. E no outro sofá havia um homem e uma mulher, a mulher igualmente bonita a outra, eu presumi que eram irmãs, e o homem branco de cabelo castanho marido dela.

–Ele disse então que pra eu perdoá-lo ele que ele queria se casar comigo...

–Oi, quem é você? – perguntou a mulher que eu pensei esta atenta a historia de Marine.

Todos os olhares se voltaram pra mim, inclusive o do meu Indiozinho.

–Ahh eu, eu, eu sou Nádia, a prima de Marine.

–Nádia? – perguntou Marine. – O que você esta fazendo aqui?

–Seu pai perdeu uns papeis e tentou me culpar por isso. – eu ri, indo abraçar falsamente Marine, então vi o rosto de Virgilio tomando certo tom de preocupação. Mas é claro que ele tinha que estar preocupado! A culpa é dele!!!!

–Nádia essa aqui é a mãe do Virgilio! – disse Marine.

Virgilio então se levantou, e ficou me olhando ir cumprimentar a mãe dele.

–Prazer em conhecê-la.

–O prazer é todo meu, senhora. É uma honra conhecer a famosa Senhora OuroPreto.

Virgilio me olhava embasbacado com toda a educação que eu estava me forçando a ter.

–E esses são meus sogros. – ela disse apontando para o casal com cara de bosta.

–Olá, prazer em conhecê-los também. – fui até lá e apertei a mão deles.

Eles apertaram minha mão em silencio.

–Tia você sabia que ela é a namorada do pequeno Virgilio? – comentou Aloísio cantarolando. – foi ele próprio que chamou ela.

–O que? – eu exclamei.

–E se for, qual seria o problema? – disse então Virgilio, vindo até mim.

A avó dele franziu a nariz com o comentário. E eu senti vontade de fugir dali, mas Índio logo completou:

–Não somos namorados, ela é minha amiga da escola, e tínhamos um assunto importante a tratar, responsabilidades. – ele disse frio e seco, todos olhavam para ele.

–Ele me convidou por educação. Mas eu tomei a liberdade de vir, por que não vi problema já que minha prima estava aqui. – respondi, pra tentar dividir a atenção para mim também.

–Nossa que clima pesado! – riu Marine.

Então acompanhei a risada e disse:

–Verdade né?

–Ahhh então prossiga, e depois? – perguntou a mãe do Índio para Marine.

Virgilio me conduzia para onde ele estava sentado, e cochichou:

–O que aconteceu?

–Aconteceu que eu quase morri. Você acredita que minha avó é bruxa? – eu respondi no mesmo tom de sussurro.

–Ocê quer ficar aqui essa noite? – ele me perguntou.

–Contava com sua hospitalidade. – respondi sorrindo travessa e piscando para ele.

–Aff...

–Eu tenho uma pergunta. – ouvi a avó do Virgilio falando um pouco mais alto que o comum, creio que para eu também ouvir.

–Sim? – respondeu Marine.

–Se sua família é grande maioria de fiascos, inclusive ocê, não tem medo de seu filho nascer com essa... “Anormalidade” também? – eu então arregalei os olhos, eu nunca tinha cogitado a possibilidade. Eu então senti meu estomago revirando. Eu queria vomitar.

–E ele achou os mapas? – perguntou Virgilio nem dando atenção pra conversa delas.

Eu então fiquei quieta, eu me senti muito mal, creio que meu rosto passou do rosa, pro branco, do branco pro azul e pro verde.

–Nádia está tudo bem? – perguntou Índio.

Sacudi a cabeça negando, e por fim então ouvi Marine dizendo:

–Não se preocupe. O primeiro herdeiro de cada geração SEMPRE nasce bruxo, é só tomarmos cuidado para não termos outro filho, por que os mais novos da geração sempre são fiascos.

Eu então quase vomitei, só que não tinha o que por pra fora! Eu não havia comido nada o dia todo.

–Mãe ela ta passando mal! – exclamou Virgilio assustado.

–Banheiro. – resmunguei.

–Rapido!!! – exclamou a senhora OuroPreto.

Eu corri até o banheiro que ela me mostrou.

Tentei por pra fora aquela agustia que eu estava sentindo, mesmo não tido colocado nada pra fora, lavei minha boca, sentei na privada, e senti uma lagrima escorrer no meu rosto.

Agora eu entendi o porque eu não podia entrar ali. Eu era um problema, eu nunca seria alguém pro Virgilio. Eu nunca poderia me casar com ele, primeiro por que eu sou só uma serva, um escudo, segundo, ele nunca me veria como uma garota atraente, e por terceiro, eu nunca seria a esposa ideal, eu nunca daria filhos bruxos pra ele, eu seria a causa da ruína de mais uma família, já não bastasse a minha!

–Nádia? – bateu Índio na porta. – Esta bem?

–Tô. – disse secando as lagrimas.

–Coloquei suas coisas no meu quarto, tomei a liberdade de pegar sua escova de dentes, precisa dela? Você parecia prestes a .... – ele então se aquietou.

–Obrigada. – passei a mão pela fresta da porta e peguei a escova e pasta de dentes.

–Por nada. Estou te esperando na sala. – ele me disse suavemente. Eu nunca vira ele falando daquele jeito comigo!

Ahhh que ótimo. Eu vou embora daqui assim que sair daqui. Procurar a primeira passagem de ônibus pra São Paulo ou pro Rio. Qualquer coisa posso pedir ajuda para o Capí.

Saí dali e vi a avó do Índio ali parada ao lado da porta.

–Agora ocê entende o porquê não quero ocê do lado dele?

–To indo embora. – respondi sem emoção.

Desci até a sala e disse:

–Vou embora, você pode pegar minha mochila?

–Não vai embora não. Pronde ocê vai? – ele me perguntou.

–Não me diga que você também está grávida? – perguntou a mãe de Aloísio petulante.

–Não senhora, eu só estou o dia inteiro sem comer nada. – expliquei.

–O que? – disse a avó de Índio. – espera nem eu vou deixa-la ir embora de barriga vazia, em plena véspera de natal!

–Aff hospitalidade mineira, ainda bem que você não é assim. – eu sussurrei pro Índio.

Ele sorriu e disse:

–Então é isso que ocê gosta em mim? Hostilidade?

–Talvez.

Bom depois de uma verdadeira ceia servida antecipada só por minha culpa.

Servida, Virgilio me olhou e disse:

–Ocê num vai embora hoje, tá muito tarde.

Eu lembrei que não tinha como eu ir embora de minas sem a minha varinha, e concordei contra minha vontade.

Eu resolvi ficar quieta o resto da noite, o que realmente incomodou Índio, pois ele também não falava nada, ficávamos os dois sentados olhando pro nada fingindo que aquilo era interessante de se olhar.

Eu estava muito triste, não conseguia conversar direito, ainda mais com todo mundo ali nos olhando.

Logo deu meia noite, e Virgilio me deu um pacote de presente. Eu não quis abrir. Só subi até minha bolsa joguei do lado dela e peguei um livro que eu havia comprado pra ele na minha ultima semana de aula. Sobre histórias curiosas e cômicas de casos policiais fora do comum. Ele aparentemente gostou, mas eu não sabia se era por educação ou não, mas eu também não queria saber, fui até a mesa e enchi uma taça enooorme de sorvete de limão, e comecei a tomar de pequenas colheradas.

–Tá tarde, vamos para o quarto? – ele disse.

Aquilo me assustou, eu iria pro quarto? Com Virgilio? Como? Quem? Onde? Por um flash de segundos eu havia me esquecido de esquecer ele. Mas então me lembrei. E aquilo só me fez ficar mais amarga ainda.

–--- Narrativa a partir de Virgilio ----

Estávamos eu e Nádia, sozinhos no meu quarto, ela ainda estava entretida naquela taça de sorvete absurdamente grande que ela fez.

Eu então por minha vez, abri o livro de casos que ela me deu, e comecei a lê-lo. Era um livro interessante, pelo menos foi o que me pareceu pelo Índice.

Sentei então na minha cama, meio inclinado, olhei de canto de olho para Nádia, que fingia que não me olhava, ainda se concentrando no seu grandioso sorvete de limão.

–Por que ocê não se senta? – perguntei.

–Ah, não, estou bem assim. – ela me respondeu com a voz tremula, ainda de costas para mim. Esses últimos dias ela estava agindo de forma estranhamente anormal, mas hoje ela estava mesmo agindo de forma estranha a dela.

Fechei então o livro preocupado com ela, enquanto ela olhava para a janela.

Será que ela estava constrangida de estar sozinha em um quarto fechado comigo? Eu nem iria dormir na cama e sim no sofá, para não incomodá-la! Impossível, isso não faz o estilo dela.

Então notei que a mochila dela estava aberta ao lado da cama, e o presente que dei para ela estava ali intocado.

Mas o que realmente prendeu minha atenção era o caderno que se sobressaia do interior da bolsa, envolta de algumas peças de roupas e fios enrolados.

–O que é isso? – perguntei, já tirando o caderno de dentro da mochila.

Ela então se virou para mim, e ao ver seu caderno de desenhos e minhas mãos ela disse:

–Ahh, “isso” é o meu caderno de anotações. – disse ela vindo em minha direção para se sentar ao meu lado.

–Posso ver? – perguntei, ela logo assentiu com um sorriso no rosto.

Tenho que confessar para vocês, desde o dia que vi ela cuidando de seu irmão mais novo, com tamanho carinho e responsabilidade eu simplesmente passei a achar o sorriso dela estranhamente lindo.

Então ela abriu a capa do caderno, dando vista ao primeiro desenho, uma versão minha em desenho animado japonês, no entanto estava todo rabiscado.

–Ocê tava muito brava comigo nesse dia! – comentei.

–Ahhh, isso foi minha irmã. – comentou ela rindo.

Virei a pagina e pode ver então alguns textos e formulas anotados, qualquer um poderia dizer que ela fizera o trabalho de alquimia ali, no entanto, mesmo eu que freqüentava algumas aulas avançadas junto com os pixies, não reconhecia aquelas formulas.E haviam mais e mais paginas assim, algumas delas com os mesmos riscos que tinham no desenho de mim.

Nos contornos e cantinhos mais improváveis do caderno eu podia notar vários “Virgilio ♥”, “Índio e Nah”ou simplesmente “Virgilio OuroPreto”, eu não via meu nome escrito tantas vezes em um caderno, desde quando eu era pequeno e estava aprendendo a escrever meu nome.

Olhei para ela que ainda estava concentrada no sorvete:

–Que fórmulas são essas? Não me lembro de tê-las visto.

Ela então estufou o peito fez feição de gente importante, deu então um tom sofisticado em sua voz e explicou:

–Estas fórmulas serão o auge do meu sucesso! Um dia no universo não haverá bruxo ou bruxa que não se utilize da minha genialidade, serei conhecida até pelos azêmolas como a Senhora da alquimia! –ela então encostou a mão em meu ombro e completou: - essas fórmulas meu rapaz, são negócios! São negócios.

Eu fiquei tentado a rir, mas apenas conclui:

–Então quer dizer que ocê é uma futura empresária?

–Quase isso – respondeu ela voltando ao seu sorvete.

Continuei então virando as paginas, algumas paginas haviam poesias e trachos de livros escritos, outras ela relatando partes do dia na semana que ela me viu, as vezes ainda era possível encontrar desenhos dos amigos dela, e mais alguns de mim.

Até que parei e notei que havia uma pagina escrito:

“TODOS SÃO INOCENTES ATÉ QUE SE PROVE O CONTRÁRIO”

Esse comentário que me fez torcer o nariz, lembrando de todas as vezes que tentei provar o atraso dela em aula.

Ela então notou que eu havia lido e riu me explicando:

–Sempre escrevo isso em meus cadernos, para nunca esquecer.

–Aff... – bufei fazendo ela rir mais ainda, quando eu ia virar a pagina, ela então segurou minha mão me impedindo de continuar.

–Acho que já está bom por hoje. – disse ela tentando tira o caderno de minhas mãos, porém eu não deixei ela pegar.

–O que tem de tão importante que eu não posso ver? – questionei.

–É muito pessoal. – ela então me disse após pensar um pouco.

–Olha realmente não me importo se for algo relacionado a sua família ser cheia de de fiascos ou não como aquela hora... – comecei.

–É só um sonho que eu tive. É particular.

–Ocê passou os últimos quatro anos invadindo minha vida particular, me dê um bom motivo para não virar a pagina? – contra-argumentei.

Ela fez menção em responder, mas apenas disse:

–Eu tenho um bom motivo, mas no entanto, acho seu argumento valido, então pode virar a pagina. – ela então sorriu para mim e começou a raspar com a colher o resto de sorvete do recipiente, olhando-a melhor pude notar que seu rosto estava corado.

Virei então a pagina, ela estava em branco que servia para dividir uma folha da outra, então virei mais uma e vi um desenho, era uma representação de nós dois nos beijando dentro da biblioteca, agora eu entendi o porquê de ela não querer que eu virasse s pagina, não era só ela que estava constrangida, até por que eu muito provavelmente também estava no mesmo estado que ela, notei isso ao sentir meu rosto esquentando aos poucos.

–Cê desenha bem – contentei-me a dizer.

–Obrigada.

–Ocê por acaso sonhou com isso durante uma aula da Areta? – perguntei a ela como quem não quer nada.

–Sim, como você sabe? – perguntou espantada.

–Digamos que às vezes cê fala enquanto dorme. – respondi numa voz de tédio, lembrando do dia que em aula ela chamava meu nome enquanto dormia.

–Ahhh... Lamento. – envergonhou-se ela. Por dentro eu pensava “É também lamento!”, mas preferi só ficar quieto.

Ficamos ali então em silencio, revirei então algumas paginas do caderno, enquanto ela ainda brincava com a taça vazia.

No entanto a imagem do desenho dela não me saia da cabeça, eu agora estava começando a ficar assustado comigo mesmo. Era como se eu estivesse querendo que aquilo no papel fosse real.

Eu com certeza não estava bem, pois eu estava me preparando para uma titude que mudaria grande parte da minha vida, e eu sabia disso!

–Nádia. – eu disse, ela então olhou em meus olhos.

Nota mental: Não sei se vocês já viram os olhos dela, olhando agora fixamente para eles, eu notei algo pela primeira vez em anos na minha vida andando com ela, as íris dos olhos dela são compostos por três cores, era âmbar próximo a pupila, depois vinha o verde claro, que era envolto de um cinza azulado incrivelmente bonito.

Eu simplesmente não estava mais raciocinando nesse momento, pois só agora eu percebi o que eu fazia, estava afastando uma mecha do cabelo dela de seu rosto, e com a outra eu aproximando o rosto dela do meu.

A ultima coisa que meus olhos viram antes de fecharem-se, foi o tom rubro das bochechas dela se encontravam, quando senti os lábios dela tocando os meus.

Nesse momento eu sentia meu estomago revirava de nervoso, meu coração estava estranhamente acelerado, como pude ignorar ela por tanto tempo? Mas o que eu estava pensando? Deveria me afastar, quando senti que a respiração dela estava rápida demais, como poderia me afastar, os lábios dela estavam ainda com gosto de sorvete de limão! Que tipo de desculpa era essa afinal, desde quando sorvete de limão é motivo para continuar beijando garotas desorganizadas, irritantes e irresponsáveis com complexo de boba da corte? Mas... não era qualquer garota desorganizada. Era a Nádia, a minha pequena Nah implicante. MAS O QUE EU ESTOU PENSANDO???

Finalmente consegui me separar dela, ela então me olhava completamente vermelha, com os olhos verdes arregalados e com sua boca semi-aberta.

E eu então? Provavelmente não estava com uma expressão menos patética.

–Me descul... – ia me desculpar pela atitude quando ela pulou no meu pescoço, me derrubando de vez na cama, ficando em cima de mim.

Ela olhou nos meus olhos com um brilho apaixonado no olhar, como aquela Nádia que eu conhecia antes das férias. Ela segurou meu rosto delicadamente, por vezes mexendo no meu cabelo, eu estava parado ali esperando o que iria acontecer, foi o tempo para ela tomar coragem, a mesma que eu tive antes de beijá-la, então ela encostou suavemente o rosto dela no meu, e tomou meus lábios tão carinhosamente que era impossível eu não aprofundar aquele beijo meio sem jeito, eu agora abraçava ela durante aquele beijo terno.

Pois é, perdi.

Não só perdi para ela, como perdi completamente o juízo. Só podia ser.

Eu estava realmente me apaixonando por ela aos poucos, durante todos esses anos e nem havia percebido! Eu só posso estar ficando doido!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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