Diário de um Assassinato escrita por Matheus Pereira


Capítulo 4
Cena do Crime


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês! Esse é mais curto, mas é bem interessante. Agradeço à LindaLua pela rapidez na betagem.
Boa leitura para todos vocês!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/465534/chapter/4

0h50

A luz forte da lanterna que Lucchesi tinha em mãos iluminou todo o quarto do senhor Pemberton. Iluminou até mais do que eu gostaria. Ele lançou a luz sobre o cadáver, revelando um homem de semblante austero e cruel. O rosto frio era tomado por uma barba branca, um grande nariz adunco e uma cova no queixo. Stratford Pemberton era consideravelmente alto e robusto. Seus olhos sem vida estavam bem abertos, meio esbugalhados, como se ele estivesse assustado com algo que via. Mas, agora, se ele via alguma coisa, certamente eram apenas as portas do inferno. Bem no meio da sua testa, havia um pequeno orifício, de onde havia jorrado sangue suficiente para lhe cobrir todo rosto e chegar até ao peito, coberto por um pijama de flanela.

O sangue brilhante, ah, aquele sangue... Sangue brilhante, vivo, molhado. Os esguichos haviam caído como lágrimas vermelhas pela pele empalidecida. Ao redor da cabeça, o sangue se empoçava, salpicado por pedaços de cérebro. Ah, aquele sangue... Este foi um crime de sangue.

– Uma forma bem fria e eficiente de se assassinar alguém – Lucchesi observou, como se estivesse lendo meus pensamentos. A frase me despertou dos devaneios em que eu estava absorto.

– De fato. Eu já vi algumas pessoas baleadas por arma de fogo, as lesões cerebrais são quase sempre fatais. Quando não, os danos são desastrosos.

– Alguém estava furioso com o senhor Pemberton. – observou Lucchesi. – O que mais você pode dizer?

Eu me vi obrigado a me abaixar novamente ao lado do corpo e, dessa vez, tive um arrepio ao fitar os olhos esbugalhados do cadáver.

– Eu não sei o que procura, detetive Lucchesi. A causa da morte é muito clara. Um perito no assunto poderá lhe fazer um relatório mais apurado. – ele manteve os olhos fixos em mim mesmo assim, sem nada dizer, até que eu continuasse – Parece-me muito claro que ele nem teve tempo de reagir. Isto qualquer amador poderia perceber pelo semblante do cadáver. Não há feridas defensivas. Ele reconheceu seu atirador, se assustou, mas você deve saber melhor que eu a velocidade que uma bala viaja. Antes que ele pudesse se esquivar ou implorar, o projétil já havia estraçalhado alguns ossos do crânio.

– E, veja bem – eu disse, movendo o corpo do senhor Pemberton – há um orifício de saída aqui. O final da história é o rompimento dos tecidos cerebrais. Vamos deixar a baboseira técnica para o inquérito. O importante é que deve haver uma bala neste quarto. Bom, ao menos isso o senhor deve encontrar. Certamente é um caso muito fantástico, jamais ouvi algo do tipo.

– Muito esclarecedor, senhor Reed. O que me diz do tempo de morte?

– Tocando-o, minha opinião é de que a morte é mesmo recente. O próprio senhor Rupert Pemberton checou este detalhe assim que a porta foi arrombada. A vítima acabara de morrer, isto é certo, ele disse que ela estava muito quente. Eu não sei precisar horários, isso deixou de ser uma preocupação minha nessas férias em Miami. Mas certamente alguém poderá lhe dizer. Além disso, ouvimos um grito; eu e a senhorita Pemberton; um grito que foi tão rápido que não deve ter durado um segundo. Isso foi logo antes de termos encontrado o corpo.

– Muito interessante... Eu irei fazer mais alguns questionamentos sobre isso, pois há algo que está me chamando atenção. Antes disso, porém, eu vou fazer uma inspeção no cômodo.

E então, Lucchesi se transformou, como um cão que farejava algo. Era engraçado ver aquela mudança repentina dele. As veias saltavam-lhe da pele branca, ele parecia espremer os olhos enquanto examinava todo o quarto com a ajuda da lanterna. Eu continuei por ali, praticamente sem função, por uma boa meia hora. Ele não dava muita atenção aos meus comentários, pois havia voltado toda a sua concentração para buscar o que quer que fosse ajudá-lo.

Eu sabia que cada gesto seu tinha um objetivo certo e, por isso, eu observei com muita atenção tudo o que ele fez. Lucchesi começou lançando sua atenção para a porta, muito sólida, que havia resistido muito após ceder. Ele notou, curioso, a chave de metal que ainda estava agarrada à fechadura. Não havia nada especial, a meu ver, a respeito daquela chave. Eu lembrei, contudo, do molho de chaves que o mordomo havia exibido mais cedo.

Depois, Lucchesi fez algo que eu achei muito estranho. Ele nem mesmo se constrangia com a minha presença. Contornou o cadáver e agachou-se na lareira, sujando a calça com as cinzas que se aglomeravam ali. E então, ele lançou luz na chaminé e a estudou por alguns segundos. Certamente, ele queria saber se era possível para um homem feito ter escapado por ali. Pelo seu olhar de decepção, ele havia excluído aquela possibilidade.

Por último, ele foi até a grande janela de vidro, ao lado da cama. Ela estava semi-aberta, contudo, a grade de ferro que estavam fincadas no exterior tinha barras muito estreitas uma da outra para que permitisse até mesmo a passagem de uma criança.

– Impossível! – ele murmurou. Seguiram-se então longos segundos, em que Lucchesi agarrou dezenas de barras, da primeira até a última, puxando-as, e nenhuma delas cedeu. Finalmente, ele se deu por satisfeito.

E foi aí que a luz da sua lanterna focou na escrivaninha, que ficava entre a janela e a cama, junto da parede. Havia uma garrafa de uísque totalmente vazia, ao lado de um copo no mesmo estado. Também havia uma caneta tinteiro repousando ao lado de alguns papéis. Lucchesi examinou aquelas folhas avulsas. Eu podia jurar que um brilho de curiosidade surgiu em seus olhos por alguns segundos. Foi quando ele direcionou a luz para o chão. Um pequeno relógio de pulso estava caído, em frente à cama, já na parte em que o tapetão cobria o assoalho. Por um segundo, meu coração parou e eu fiquei sem ar ao olhar para aquela cena. Lucchesi, agachando-se no chão, forçou os olhos.

– Fascinante! – ele disse. – E muito curioso também. O relógio está quebrado. Está marcando alguns segundos para as 23h45.

– E então você tem o horário que tanto buscava.

– Sim... Mas é curioso, mesmo assim. Não deve ter importância.

Nem houve tempo para eu perguntar o que não devia ter importância, pois ele logo voltou a vasculhar todos os cantos do quarto. Arrastou as mobílias, inclusive a estante cheia de livros, sem nem mesmo pedir ajuda. Talvez buscasse alguma passagem do quarto do senhor Stratford Pemberton para os dois quartos ao lado – o da senhorita Emily Pemberton e o quarto de hóspedes. A decepção em seu rosto deixava claro que ele não estava achando o que procurava. Ele parecia muito aflito, quanto mais investigava. Finalmente, desistiu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? O que estão achando? Deixe uma review, eu irei ficar muito feliz em saber a opinião de vocês.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Diário de um Assassinato" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.