Enigma escrita por Matheus Pereira


Capítulo 16
Quebra-Cabeças I


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é longo e muito descritivo - boa parte da habilidade dedutiva, raciocínio lógico e a essência detetivesca da história se encontra aqui. Tenho particular admiração por esse capítulo. Narcisismos à parte, por ser longo, o dividi em duas partes (e não vou fazer isso tão bem, já que a parte II será bem mais longa). Para quem curte a solução de um bom mistério - este está perto de ser desvendado.

Boa leitura!



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Quinta-feira, 6 de março de 1930

8h45

Lucchesi saboreava uma xícara de chocolate quente. Estava acordado desde as primeiras horas da madrugada. Estava incomodado com o quanto seu corpo parecia desajustado após a investigação do assassinato de Daniel Smith. Em roupas limpas, descansado e em casa, tudo parecia estar melhorando agora. Apoiou a xícara na mesa e folheou a nova edição do The Atlanta Journal-Constitution.

Não foram muitas as informações novas divulgadas ao público, muito embora o caso tomasse agora duas páginas do impresso. David Becker era apontado como "principal suspeito e foragido da polícia". Uma descrição física do rapaz foi fornecida, com um aviso em negrito alertando que não era aconselhado se aproximar do suspeito. A roupa que David Becker usava pela última vez que foi visto também era descrita. A ordem era contatar a polícia local ou estadual imediatamente após avistar alguém com as mesmas características do suspeito. Fora isso, as páginas eram recheadas com os detalhes gráficos da perícia e uma entrevista com um psicólogo falando sobre maníaco-homicidas.

Lucchesi se incomodou. O caso seria levado à Justiça a algum momento, e, em tese, David Becker era inocente até que houvesse provas contundentes que mostrassem o contrário. Até o momento, as provas eram nada além de circunstanciais. Havia tantas coisas que ele não compreendia ainda a respeito do assassinato e das pessoas envolvidas nele. Agora, ele parecia conseguir pensar mais claramente.

"Warwick estava certo", pensou. "Eu não estava em meu juízo normal ontem à tarde. Talvez David Becker seja mesmo o assassino. Thomas criou uma teoria fantástica, mas que respondeu a todas as interrogações propostas pelo caso. Bom, quase todas."

Preferiu afugentar aqueles pensamentos. Agora, estava impotente. Não podia mais interferir no caso. Quando se preparava para um último gole, ouviu um som. Era a campainha. Lucchesi se levantou e cruzou a espaçosa sala de estar, que dava para um jardim bem cuidado.

Era uma sala moderna, mas não era extravagante. Lucchesi certamente não havia moderado nas despesas, mas toda a decoração se combinava perfeitamente. Cortinas filtravam a luz do sol que insistia em entrar por duas grandes janelas, uma de cada lado da porta de entrada. Um papel de parede em tom cinza revestia o cômodo sobriamente. Os móveis eram robustos e imponentes. Uma escrivaninha cheirava a produto para lustrar móveis. Dois confortáveis sofás ficavam ao redor de uma parte revestida por carpete. No centro, havia uma mesinha, sobre a qual estava um prato com biscoitos. Tudo parecia milimetricamente em seu lugar exato.

Lucchesi abriu a porta.

– Ora, mas que surpresa! – ele disse. Uma jovenzinha de cabelos ondulados cobertos por uma boina característica aparecia, aflita, na porta.

– Detetive Lucchesi, seria muito incômodo se eu entrasse? Eu espero que não esteja ocupado. Desculpe-me por não ter avisado nada antecipadamente. – disse Megan Becker.

– É claro, sinta-se à vontade para entrar. – disse Lucchesi, abrindo passagem para a moça em um gesto cavalheiresco. Os passos do salto de Megan Becker sobre o chão de madeira ecoaram pela sala. – Permita-me abrir as janelas, senhorita Becker. Está abafado aqui. Por favor, sente-se.

Ela suspirou, observando a luxuosa sala de estar. Um lustre pendia do teto e, no fundo, livros eram perfeitamente organizados numa prateleira que ia do chão ao teto. A luz do sol invadiu o cômodo e Megan Becker se acomodou no sofá. Lucchesi se sentou no sofá adjacente a este.

– O que a traz aqui? – Lucchesi perguntou, estudando o rosto ansioso da senhorita Becker.

– Senhor detetive, acredito que saiba bem. Meu irmão está sendo considerado foragido pela polícia. Estão tratando tudo como se ele fosse o assassino. E esse crime, a morte do senhor Smith, parece ter sido desumano. Os detalhes que estão divulgando quase me fazem vomitar. É tudo tão horrível! O senhor sabe como eu penso. – ela parou e ajeitou os cabelos – David não era capaz de fazer tal coisa. O que me aflige é o quanto injusto tudo isso é. David deve estar morto. É a única possibilidade! E, bom, ele não merece isso.

– Sinto muito pela forma como a polícia está lidando com o caso, senhorita Becker. Eu entendo que você quer honrar a memória do seu irmão. Mas não vejo em como eu posso ajudar – Lucchesi disse.

– O senhor... Ontem, o senhor afirmou que tinha pretensões em provar que David não era o assassino. Parecia concordar comigo. Por que não está o fazendo? Também acredita na versão da polícia? – Megan Becker questionou, nervosa. A luz do sol cobria-lhe perfeitamente o rosto branco.

– Senhorita Becker, eu fui desligado do caso – Lucchesi disse em tom frustrado.

– Meu Deus! Você não é um detetive? Pois então eu estou lhe contratando! – disse a senhorita Becker. – Falam tão bem de você. Falam que você tem as qualidades de um detetive nato. Será isso mesmo verdade, detetive Lucchesi? Será que você é mesmo tão bom detetive quanto dizem por aí, ou essa sua fama só foi construída por alguns casos em que você contou com a sorte?

– Gosto do seu tom desafiador, senhorita Becker. Mas a polícia já está se ocupando do caso.

– Está desistindo, detetive Lucchesi?

Lucchesi pausou por um momento. Fitou a senhorita Becker, que tinha seus olhos castanhos brilhando. O brilho denunciava uma força de vontade que só os jovens detinham. Megan Becker queria saber a verdade e contava com a ajuda dele.

– Não, senhorita Becker. Eu, Lucchesi, não estou desistindo. Dê-me algum tempo, porém, senhorita. Eu preciso pensar. Ter método, raciocinar e desvendar tudo – Lucchesi pausou e, seguido de um longo suspiro, falou em voz firme. – Eu só espero que a senhorita não se arrependa do que está me pedindo. Você pode, no final das contas, vir a desejar que o trabalho tivesse ficado apenas com a polícia local.


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Notas finais do capítulo

Como autor, ficarei muito feliz de saber sua opinião! Não deixe de me escrever.



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