Yin Yang escrita por Beatrice Ricci


Capítulo 35
Entre a luz e as sombra


Notas iniciais do capítulo

Vamos algumas explicações da fanfic, para assim vocês não se perderem.
Em um capítulo escrevi que a rainha Mirume havia usado o colar do yin para invocar a criatura enorme, cometi um erro, na verdade ela usou o colar yang, pois como sabemos a felina usou o Chi da Tigresa para modificá-lo, tornando-o escuro, desculpe pelo erro.
O significado do nome Yaoguai é demônio em chinês.



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Ofuscamento mental causado pelo medo impede a ave de dar mais um passo, mortificado pela aparência devastadora do amigo panda, marcas de garras, feridas e o sangue na pelagem branca lhe traz uma sensação de revirar o estômago, desvia os globos oculares de cor azul marinho na direção dos seus amigos.

Macaco dá um pulo, olhando atônito à sua volta, ouve um barulho surdo quando dois seres da escuridão atacaram Víbora e Louva-a-deus, mesmo tempo, que ambos o bloquearam em uma combinação de habilidades.

O inseto agarra a cauda da serpente lançando-a com velocidade nos dois, ela envolve seu corpo escamoso imobilizando as criaturas, aproveitando a oportunidade seu amigo defere inúmeros golpes em determinadas regiões, paralisando ambos, que caíram em seguida.

Suspira Garça. O olhar aliviado encontra de Po, esse cambaleante, coloca a pata na testa, o mestre do ar fez um curto voo até o guerreiro preto e branco, qual franze o cenho a notar a sua presença, os olhos verdes do panda brilham intensamente na noite sem lua, buscando refúgio para as sensações de dor e fracasso.

— O que faz aqui?

Poucas vezes notara a fisionomia tensa do dragão guerreiro, o fio de voz firme, ainda assim transmitindo toda agonia de estar em uma guerra.

— Ajudá-lo. — responde ajeitando o próprio chapéu chinês.

— Estou bem sozinho. — diz severamente.

Disfarça a dor que ameaça contrair-lhe o rosto, põe a pata esquerda sobre o antebraço machucado, Po fixa o olhar na grama enlameada enquanto se recompunha. Depois volta-se na direção de Garça.

Pôs-se a sair da presença do amigo, mas é impedido.

— Po deve haver outro jeito. — comenta a ave.

— Estaria mentindo se concordasse com você. — murmura ele, compartido seu lado inseguro, deixa escapar um suspiro. — Existem outras prioridades, leve os aldeões para um lugar seguro, essas criaturas vão devorar tudo e todos. — Com a postura reta, caminha sem olhar novamente para o mestre.

Obedecendo à ordem, ele abre as asas e plana no ar em busca de animais para salvar, nota um pequeno leão chorando, prestes a se tornar a comida, em um gesto rápido usa o bico para agarrar o felino pelo colarinho da camisa.

Quando coloca a criança no chão, qual caí sentada, o olhar dele antes assustado dá lugar a um semblante admirado, jamais vira um animal com traços tão diferentes, considera todos iguais aos felídeos, garras, presas e estatura imensa.

— O que é você? — indagou o pequeno leão.

Garça riu, um riso descrente.

— Sou Garça.

Com uma aparência gentil, gira os calcanhares, as pupilas do mestre aumentam gradualmente, um formigamento a partir dos dedos dos pés à medida que uma enorme criatura negra a cada passo dado destrói casas, árvores, assemelha a uma fera destroçando suas vítimas, diversão.

Os amigos do guerreiro voador chegam a ele, Víbora Macaco, Louva-a-deus, esse sentado no ombro do primata, encaram espantados o ser sobrenatural, se antes estavam com pavor ao vê-lo, agora o medo crescia de forma atroz.

— Aquilo está comendo tudo. — exalta o inseto verde, levantando as pinças.

— E eu pensando que o Po é guloso. — comenta Macaco, a cauda marrom balança levemente no ar.

— Qual seria o melhor plano para detê-lo? — indaga a serpente, erguendo o corpo verde a altura de Garça.

— Você é a líder, nos diga você. — responde o primata, mantendo a vista no monstro.

— Gente, já notaram como ele se parece com Xiezhi? — questiona Louva-a-deus.

— Para mim, é mais como... — começa Macaco.

— Yaoguai. — falam os dois em uníssono.

A cobra revira o olhar.

— Mas se ele for fêmea? — Interroga o mestre no ombro do primata.

— É de importância isso, sério? — pergunta Garça dando um passo a frente.

— Para ele sim. — replicou.

Uma leoa cerca de vinte e cinco anos olha para os mestres e depois para o leãozinho, agarra o filhote em um gesto afetuoso, o abraço é apertado, amoroso, à medida que beija as suas bochechas, os joelhos firmes no solo, soluça aliviada, as lágrimas a cegam e a dor que nutria desaparece, em um último suspiro, desvia a mirada para os animais a sua frente, sorri.

— Obrigada. — agradece, levanta da posição, sustém o filho no colo.

Um leão mais velho a puxa dali, antes que qualquer um deles respondam.

A sensação de calor inunda-os. Aquela criatura poderia ser impossível de deter, mas jamais desistiriam, é isso que guerreiros fazem, eles lutam até o fim, mesmo com a possibilidade de morte, enquanto houver animais para proteger não será o fim.

Entreolham-se por breves segundos, depois deslocam na direção de Yaoguai, a medida que os quatro animais cruzam com o caminho da eminente ruína, é perceptível como são menores comparados com a estatura da besta, passam entre criaturas da escuridão, o terreno dificulta a passagem, a chuva começa a cair igual a uma tormenta, se o apocalipse estivesse para se realizar, Mirume seria vitoriosa.

De longe a rainha admira as ações que cometera, seus lábios curvam em um sorriso zombador, segura o cetro dourado com uma das patas, a bola de vidro de energia negra misturasse igual a um redemoinho, segue até a borda do transporte, de soslaio vê as duas criaturas empurrando-o, ordena que sigam para a entrada do vale, o vestido antes vermelho é tomado pelo breu, apenas os olhos âmbar rubi são nítidos em toda a sua formosura.

A mirada vaga nos mestres de kung Fu lutando contra seu "bichinho", ela balança a cabeça desacreditada, mas mantém o sorriso de escárnio.

Macaco segura nos tornozelos de Garça, esse plana a certa a altura, estando o primata próximo de Yaoguai solta-se e caí na cabeça dele, as pupilas negras do demônio posteriormente concentradas em Víbora, qual o distraía, vão de encontro com a ave, o guerreiro engole em seco horrorizado, as asas batendo de forma rápida identificam o seu medo e rapidamente tentam sair dali, adivinhando o movimento o ser abre a enorme boca, aspirando a ave.

— Garça! — grita Macaco, indo em disparada no centro do rosto do monstro, soca um dos olhos e outro em seguida.

A monstruosidade berra, um berro alto e estrondoso, assemelhasse a um trovão, balança a cabeça fechando as pálpebras, pula inúmera vezes, o chão treme similar a um terremoto, Garça aproveita o ocorrido para escapar.

Song usa a faca de cabo cinza para acertar uma das grossas pernas de Yaoguai, fracasso em feri-lo, a camada de escamas e a couraça firme é uma barreira protetora, bufa irritada, retrocede por um instante, prepara para agarrar a cauda dele, quando fez escala com rapidez as costas escamosas, se não podia atacar por fora faria por dentro, encontra Macaco pendurando nas narinas, lutando pela própria vida, as pernas esticadas na boca do ser, ela usa a sombrinha vermelha equivalente a uma corda, o animal beje estica uma para e pega o objeto, a leoparda o puxa, à medida qual Yaoguai pula.

— Obrigada Song. — agradece, estando na linha da sobrancelha esquerda, se o monstro tivesse uma.

— Não me agradece ainda, estamos sem opções aqui. — diz em um grito alto.

O movimento produzido por ele, faz ambos cambalear.

— Notei. — comenta, olha diretamente para ela.

— Podemos acabar com ele por dentro.

A chuva caí intensamente, o pelo dos dois mestres arrepiados.

Em um pulo a leoparda entra na boca da besta, puxando Macaco no processo, Garça que voa por perto escuta e vê, dá algumas voltas antes de chegar ao solo, ao lado de Víbora e Louva-a-deus.

— Song e Macaco vão tentar por dentro. — Pisca repetidamente de modo a limpar as órbitas oculares, espirra sentindo aflorar sua alergia.

— Isso é suicídio! — exalta a serpente.

— Pode dar certo, já fiz isso uma vez com Lidong. — responde o inseto, pulando no chapéu da ave.

Recorda da vez que lutara contra o crocodilo imenso, foi por dentro que o derrotou.

Divertida com espetáculo, Mirume desvia o olhar para mestre Shifu, o panda-vermelho usa o cajado como uma arma de luta, derrubando varias criaturas, as roupas de tecido chinês estão rasgadas e sujas, há cortes nas duas orelhas, na face e boca, o líquido vermelho contorna a maxilar, os olhos azuis cansados, o corpo demostra exaustão, as pernas falham em instante, fecha às pálpebras.

Cinco criaturas percorrem na sua direção, as presas afiadas prontas para dilacerar, o mestre do palácio de jade suspira, derrotado, apoia as patas no cajado, enquanto os joelhos estão enterrados no solo barrento, as gotas da chuva limpam os rastros de sangue na pelagem, as orelhas contraem ao escutar os rosnados altos, vislumbra as costas do pequeno tigre, um clarão em azul emana das patas do felino, acertando um raio no centro de cada ser, franze a testa deixando aparente as marcas da idade.

Confuso, encara a cena qual se segue.

A criança aproxima do último monstro, a pata erguida na frente dele, fixa o olhar desafiador, andam em círculos, ele atinge outro raio azul, a criatura desaba no chão contorcendo-se, em seguida transformar-se novamente em um animal, um leão.

Shifu sustenta horrorizado olhos arregalados, a boca aberta ao máximo, assemelha quando Po desviou a bola de canhão, desacredita no que acabara de ver. O pequeno gira nos calcanhares para estar a sua frente, de soslaio percebe os animais desacordados, dá um passo relutante de modo a questionar.

— Como você fez isso? — interroga. Os olhos do panda vermelho voam para o rosto dele, sobressaltados.

— É meu Chi. — responde, dá de ombros. — Todos temos, o senhor não?

— Sim, mas não dessa cor, o Chi é dourado não azul.

Ondas de incertezas invadem a mente do grão-mestre, recorda de Tigresa, quando pequena revelou o Chi real, da mesma cor que do pequeno tigre, decidiu esconder até o momento exato de contar, a lembrança espanta tudo e qualquer coisa, seria possível o filhote ser parente de Tigresa? Conforme esse questionamento cresce, o olhar é distante, obtém a razão depois de ouvir seu nome.

— Senhor? Há algo de errado? — indaga o filhote, preocupado.

Exausto, tão machucado que qualquer movimento o fazia sofrer, ainda assim mantém a postura, odeia demostrar fraqueza.

Às duas linhas negras que iniciam no canto dos olhos, contornam as bochechas terminando no busso perto dos bigodes, do filhote lhe chamam atenção, é diferente de um tigre, assim como as orelhas pequenas, o focinho e a pelagem diferenciada, as listras acompanham pontinhos pretos.

— Não. — Sorri de canto, o tom de fala em um suspiro cansado. — Você deve se esconder, é perigoso ficar aqui. — acrescenta.

As sobrancelhas do filhote quase se encontram, tamanha estranheza e incredulidade.

— Sei me defender. — diz baixinho, respeitando o mestre. — Posso ajudar. — soa mais com um pedido do que uma afirmação.

***

A mente do panda fixa nas suas frustrações, alimentando o fervor de sua angústia.

Em plenos pulmões é fisgado pela oponente, um chute é direcionado no rosto, jogando-o a certa distância, atordoado crava os punhos na lama, sente que o coração está prestes a explodir, procura recuperar o fôlego, como se pegasse carona no ar que aspira.

No circunspecto da cena, esse medo monstruoso qual costuma chamar de fardo parece aterrorizá-lo, mas também, uma válvula de escape dos transtornos múltiplos.

Ele olha para cima, depois para baixo, levanta num pulo, fecha às pálpebras, aumenta um pouco a frequência respiratória, contraindo os músculos da face, em um lance de olhar percebe a besta com mais de quinze metros seguir para entrada do vale, destruindo casas e tudo que se atreve a estar em seu caminho, uma súbita dor no ombro machucado o faz contorcer de dor, deposita a pata na ferida, o vento pesado e ocioso traz consigo a chuva e folhas secas das árvores, impossibilitando a visão por segundos.

Como a amargura, insuportavelmente cruel, penetrante, presença tangível que nunca parecia diminuir, por mais forte que recusa a deixar ir, resolve contra-atacar, olha diretamente para a felina, qual corre na sua direção as quatro patas, fecha a vista adquirido ar por meio das narinas, depois solta pela boca em um suspiro cansado, estando novamente a vê-la prepara a posição de luta.

Aquela é Tigresa. Recordações dos momentos vividos por eles invadem a mente dele, é um baque tentar esquecer, se tivesse imaginado o que estava à sua espera, não teria desperdiçado sua energia com momentos irrelevantes.

Quando a felídea distribui socos, o panda desvia, aproveita para pegar o pulso dela e torcer para omoplatas, ouve o rosnar irritada no fundo da garganta, a guerreira possui força suficiente para girar em uma cabolhata e levá-lo junto, por seguinte deferindo um chute no estômago do dragão guerreiro, esse cambaleia antes de receber outro chute, o caí no solo de costas.

Po sente o peso da felina sobre a barriga, ela pressiona as garras afiadas nos ombros, o guerreiro grita de dor, fechando as pálpebras e abrindo de modo a encarar o olhar âmbar rubi, toda a face dela contorce em escuridão, ergue as patas agarrando o pulso da líder dos cinco furiosos, imobiliza-a naquela posição, de perto vê as rugas que formam no centro da testa, no momento qual ela rosna, é como um desafio.

De punho fechado a mestra empurra as patas do guardião do yang com força, qual repete a ação.

— Em uma luta normal você estaria sorrindo. — comenta ele entre os dentes, sufocando o gesto.

Realmente se fosse nos dias de treinamento a amiga estaria sorrindo, pois, a mesma gostava quando ele a desafiava, muitas vezes Shifu teria que separar ambos, porque nenhum dos dois se rendiam, esse era o jeito durão, impossível de ser quebrado.

— Espera, o que aconteceria se o cetro quebrasse?

O próprio questionamento ilumina o espírito, esquece da dor, com o intuito de responder tal pergunta vageia o olhar de cor jade além de Tigresa, concentrando na rainha, quão está a poucos metros da entrada do vale.


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