Yin Yang escrita por Beatrice Ricci


Capítulo 12
Eu te quero




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Depois de dançar com Po, pede licença, com a desculpa de ir ao banheiro, o panda ainda ofegante e vermelho acena com a cabeça, suas duas patas sobre o joelho e olhos fechados. É o que a leoparda das neves vê depois de sair da presença do urso.

Caminha com passos rápidos, movendo os olhos em direções diferentes a procura da dançarina de olhos azuis, conduzindo pela conversa de alguns machos, nos quais comentavam sobre as façanhas da bela felídea, não sendo apropriado a qualquer um que passasse por eles, chega a uma recepção, diferente da que ela e os seus amigos foram atendidos. Essa tem velas aromatizadas rosas, vaga-lumes em potes e as paredes e o balcão são vermelhos.

Ela ergue o olhar para a pintura fixada ao lado direito, revira os olhos negando a prestar atenção à velha cabra pintada, aproxima-se até o balcão e balança o sino que está na mesa, ninguém atende, decide dar a volta e entrar pela entrada em formato retangular, com uma cortina vermelho escuro, como de uma rosa. Ao passar respira fundo ao sentir o forte cheiro de vinho, quase fazendo vomitar, não é fã de vinho, apesar de que viveu com vários apreciadores da bebida.

Lançado olhares atentos a várias fêmeas e machos sentados em almofadas, alguns apreciado as danças e outros desfrutando beijos calorosos em suas companheiras, encontra a quem procura, rapidamente caminha até ela, ignorando as miradas dos homens, esses a queimam com os olhos, como se fosse um objeto de desejo. Estando a frente ela, cuja não está sozinha, a chama, todavia a dançarina está ocupada desfrutando o beijo do lobo aparentando ser mais velho, faltando à paciência estende a pata agarrando uma das duas taças de vinho sobre a mesa, e joga o liquido em ambos, de imediato separam-se.

— Está louca?! — exclama o lobo, tenta limpar a bebida roxa de seu colete.

— Me de licença, mas quero falar com ela. — ordena, recebe o olhar ameaçador dele.

— Quem pensa que é para...

— Querido a deixa — interrompe a dançarina, enxuga com um pano o próprio rosto. — Prometo lher compensar depois.

— Espero mesmo!

O Lobo dá o ultimo olhar a leoparda e anda pesado para outra mesa.

— Então — começou a de olhos azuis. — Por que está aqui? — Tem um sorriso. Recosta as costas novamente na almofadada, relaxa os músculos.

— Isso não é assunto seu. — responde Song, com tom de voz irritado. — O que você faz aqui? — Cruza os braços esperando a resposta.

— Negócios. — Despeja vinho na taça vazia. Bebe de olhos fechados. E fica com a borda do copo comprimindo o lábio. — A dona dessa “hospedaria” é bem gentil, claro que sou eu e as garotas que fazemos o trabalho mais duro, esses homens são irritantes, mas o trabalho compensa, quando se ganha bem. — termina ela com o tom sombrio.

— Você se prostitui...

— Na verdade não, nunca permitiria um deles colocar a pata em mim — Balança a taça de vinho distraidamente. — Coloca algo na bebida deles antes e quando estamos na cama eles dormem, pesam que tenha a noite dos sonhos. — Ri frouxamente, sem alegria.

— Está me dizendo que aqui não é um prostíbulo? — ironiza, pousando as patas na cintura.

— Não disse isso querida. — Lança um olhar rápido a Song. Apanha o isqueiro do bolso, após deixar a taça de vinho sobre a mesa, para acender um cigarro. — Mas e você, ouvi boatos que deixou o grupo de dança, parece que está andando com o dragão guerreiro...

— Como sabe disso Su?

— As noticias... O povo é bem fofoqueiro. — Com o cigarro aceso, dá a primeira tragada e joga a fumaça no rosto da felina. — Também ouvi dizer de seu irmão, nunca pensei que ele era capaz.

— Você não sabe o que está dizendo. — afirma aumentando o tom de voz, não chega a gritar. — Meu irmão...

— Está preso — interrompe —, eu sei disso, mas o que eu não entendo é o por que está com cinco furiosos e o panda, você não lutaria junto deles sabendo o risco que seu amado irmão corre... A não ser...

— Cala boca! — ordena com a voz alterada. — É melhor não ficar em meu caminho, se contar alguém qualquer coisa eu juro, seja como for, faço a sua vida um inferno!

— Realmente acha que vou dizer algo? Faça-me rir, não gosto do panda, estou pouco importando-se com ele e com você. — Amassa a ponta do cigarro na mesa. — Entre mi e você Song, velha amiga, só boas recordações certo? — questiona, com um sorriso cínico.

— Fique longe do meu caminho. — ameaça, para volta-se a saída.
                                                      °°°

Tigresa permanece minutos meditando, as lembranças do sonho que teve de manhã a fez relaxar um pouco, incluindo os filhotes de pássaros em seus ninhos, nos quais cantarolaram músicas, cuja ela não conhecia, porém afirmar com convicção ter a paz é enganar o espírito, mesmo com o ambiente harmônico, ao fazer movimentos de paz interior, os tropeços em seus próprios pés causavam sua queda, decidiu meditar, como está nesse instante.

Uma de suas orelhas contraiu-se minimamente, a audição inferior a de outros animais, sempre é uma vantagem, escuta sons a distância, o único a sobrepor a ela nesse quesito é mestre Shifu, por causa de suas orelhas enormes. Passos quase torpe e o mastigar de alimento do indivíduo lhe fez dar um sorriso curto, não interrompe a meditação, o sujeito pensa que sua presença não é obtida por ela, nas pontas dos pés, como se faz uma travessura, a distância de ambos é diminuída, prestes a assustá-la, como é seu plano desde começo, é frustrado por ela.

— Você sabe que isso não vai dar certo. — fala ela, os olhos ainda fechados, desfrutam da decepção do amigo.

— Como soube? — questiona decepcionado. — Meu estilo gracioso sempre funciona.

— Po você não é nada gracioso. — afirma ela, abre os olhos em seguida. — Além do mais eu conheço seu andar.

Levanta-se da posição de lótus, fica a altura do panda, no qual a encara por breves minutos, agora que está na presença dela, o motivo não vem a sua mente, espera a amiga fazer qualquer questionamento para começar a conversar, porém não o faz, abaixa a vista, lembra das ameixas que trouxe e voltar-se a vê-la oferecendo os frutos, sem recusa aceita, está com fome, só comeu uma maça a manhã toda.

Agradece pela ameixa, e leva à boca, o gosto é um pouco enjoativo de tão doce, mas após romper a polpa densa tem o gosto verdadeiro. Com a ponta da língua sente a semente sob a parte interna. O ácido inunda a boca, para depois cuspir a semente.

— Posso perguntar uma coisa? — pergunta ele, recebendo a atenção dela. — Você está com raiva de mim?

— Não, qual motivo? — questiona, estranhando.

— Nada, nada, esquece. — Dá de ombros. — O que faz aqui?

— Treinando.

— Meditando?

— É um tipo de treino.

— Por quê?

— Você não acha que já fez muitas perguntas?

A líder dos cinco furiosos inclina-se até ele, seu tom de voz saiu baixo, em um tom quase perigoso, meio entre os dentes, macio e calmo, de sarcasmo. Mas só ele sabe o que há de trás de sua voz.
Contendo-se para não continuar o interrogatório ou ir, continua a mirá-la, imóvel. Por que ela faz isso? Seus olhos dela são como esferas hipnotizantes, talvez o fogo de uma lareira, as chamas consumindo-se em laranja e vermelho, o individuo a vendo. Sente o coração bater descompassado, perseguido pelos próprios pensamentos, seria o certo perguntar sobre o beijo? Se ao presenciar a dança dele com Song teve ciúmes? Esse ultimo questionamento causa um sorriso de lado, imaginar a mestre Tigresa dessa maneira é hilariante e agradável ao mesmo tempo.

— Por que me pediu para beijá-la? — contesta ele. Não sabe como surgiu a coragem, mas o fez.

A pergunta veio como choque, seus músculos ficam tensos, como o responderia? Diria que gosta dele? Que fez por sentir algo, sem mesmo ter consentimento se é verdadeiro? As dúvidas penetraram a mente, volta a si ao escutar novamente o questionamento, respira três vezes, fecha os olhos a repetir cada respiração.

— Foi o momento.

Dá a volta para negar a si, a própria mentira.

— Eu gosto de você. — revela o guerreiro.

Não quer mais esconder, se é para ter a rejeição ou o amor dela, seja rápido e não dolorido, afinal ela é a mestra Tigresa, se espera o que de uma lutadora de kung fu? Beijos ou chutes?

— Po... — gemeu a guerreira, fechando os olhos. — Também gosto de você, é meu melhor amigo...

— Não Tigresa, você sabe a razão de estar tentando convencer a si mesma dessa mentira? — Sua palavra saiu com raiva e irritação. A trás de volta aos seus olhos; precisa dela o encarando. — Sou eu? O motivo sou eu? — acrescenta. Os olhos verdes movem-se, como duas bolinhas de ping pong em uma partida. Está temeroso pela resposta, todavia a quer.

Fez silêncio entre ambos, assim como o dos pássaros atentos a cena.

— A missão, é esse problema. — murmura quebrando o ambiente tenso.

É verdade a preocupação com a missão, mas outra razão faz pensar, como o motivo de às vezes querer estar perto dele e outras vezes longe, como agora, é aconchegante sua presença, entretanto não o vê como a noite passada, ontem havia uma força, não sabe explicar, e também a paz interior, nega a ter qualquer tipo de relacionamento sem obtê-la.

— Não entendo. — Desliza a pata aos seus ombros.

— Estamos em missão não é correto ter relacionamentos, e também... Não sei o que sinto de verdade. — seu tom saiu falho no final. — Entenda somos apenas amigos aqui. Não vou mentir o beijo significou algo para mim, se pode chamar o contato de lábios de beijo. — murmura. — Mas agora não.

— Está dizendo não?

— Sim.

— Sim?

— Não, pare com isso.

Po fecha os olhos, poderia sair dali com raiva ou triste, qualquer sentimento para definir as duras palavras de Tigresa, ao reabrir as pupilas, seu olhar é inexpressivo, isso a estremece, quer saber a reação dele, teme ser a que imagina. Ele sofra o ar nostálgico, seu hálito acaricia acima de seus lábios, tem o cheiro de ameixa, sua fisionomia muda, um sorriso curva-se em seus lábios demonstrando os dentes, ninguém disse que seria fácil ou difícil conquistá-la.

— Diga o que quiser, eu vou lhe conquistar. — sussurra a seu ouvido. — Demore o tempo que precisar nada vai me impedir, pois eu quero você mestre Tigresa. — acrescenta, a fim de voltar a vê-la.
As orbitas oculares expandidas, por causa do susto e surpresa.

— É melhor eu ir, vou estar com os outros. — diz, e deixa os ombros da felina, cuja suas pernas quase falham. Segue e saí da presença, ignorando as ameixas deixadas sobre o solo.
Caí no chão estando sozinha, a fala de Po continua ao seu ouvido, passa a pata na orelha privilegiada, os olhos muito abertos, a respiração curta. Morde o lábio para conter-se, qual a razão de estar assim? Prefere negar-se a si, talvez nunca ter presenciado o ato provocante dele, mesmo escutando o que disse, precisa de conselhos urgente, porém prefere resolver sozinha, se Po quer conquistá-la, deixará o jogo seguir, afinal dois podem jogar.

— Um panda e um tigre é uma combinação estranha.
A voz de um dos pássaros interrompe seu próprio mundo, irritada e envergonhada ordena que cale a boca, péssima ideia, pois outros pássaros começam a comentar, pedindo aos céus ajuda fecha os olhos com as patas e grita frustrada, longe dali o panda escuta o grito dela e sorri novamente antes de ter a mirada de todos amigos.

— Esse foi o grito de Tigresa? — pergunta Louva-a-deus, a qualquer um que o responda.

— Talvez. — Dá de ombros o panda. — Treinamento. — acrescenta por fim.


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