Yin Yang escrita por Beatrice Ricci


Capítulo 13
Conflitos


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, esse capitulo aborda um pouco o conflito de Tigresa com si própria, espero que gostem, agradeço a todos que comentam e favoritaram, beijos.



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Ela agita-se olhando em redor. Esboça um gesto em direção a um dos empregados que perambula entre os animais, o porco acena com a cabeça dando alguns passos até Song, cujo faz o mesmo. Abaixa a cabeça para visualizá-lo melhor, o suíno é de altura mediana e possui uma pinta no queixo.

— Está lhe esperando. — diz ele.

Sem esperar vá de encontro a quem procura, sobe os degraus de uma escada, perto de uma das cozinhas da hospedaria, enquanto os olhos detalham, está surpresa pelo lugar não ser modesto como pensou que seria, ou como aparenta na fachada, com o ultimo passo, entra ao suposto quarto do indivíduo, a iluminação é mínima, não notando a presença dela por breves segundos.

— Bem vinda aos meus aposentos querida.
Song desvia para a direção da voz, cerra os olhos a fim de enxergar a mulher.

— Aqui está o combinado. — fala ela, ao estar perto da cabra joga um saco de cor bege, cujo está aberto com várias moedas, a senhora confere se são verdadeiras ao pegar uma e tentar cravar os dentes, tendo a prova. — É exatamente o que pediu. O suficiente para você continuar com essa “hospedaria”. — diz a leoparda num tom que a fez levantar a cabeça e sorrir cinicamente.

— Não sei o leva você a fazer isso — começa com o tom de chacota. —, poderia muito bem ter só aparecido e não...

— Isso não lhe diz respeito. — a interrompe com irritação na voz.

Com a fisionomia endurecida saí da presença da fêmea.
Tigresa está só, no quarto, cujo dormiu na noite passada com Víbora e Song, admira seu reflexo no espelho, há tanto tempo esse gesto tornou-se banido de sua vida, que esqueceu como é sua fisionomia, franze a testa ao notar as ligeiras mudanças do seu corpo, como o aumento de massa na cintura e nas pernas, está diferente de quando tinhas vinte cincos anos, onde essas regiões eram mais planas e pequenas, certamente por causa na maneirada de treino e as comidas de Po contribuíram para aumento de curvas e reduziu um pouco os músculos.

Passa a pata sobre o abdômen estando de perfil, depois de frente examina o rosto, usa a ponta do dedo indicador para desenhar linhas imaginarias nas listras negras, sorri sem motivo aparente, vai até a sua cama e embaixo do travesseiro pega um colar, o detalha como fez com a face.

A metade de uma lua, de material de cor prateado, semelhante a ferro, um cordão preto e a palavra gravada atrás: Yin.
Demoradamente examina o objeto, com um movimento brando aparta-se do colar, posicionando-o no mesmo lugar, defronte ao travesseiro com a ação terminada, batidas na porta, ela voltar-se a espera do individuo fazedor do som, concede a entrada, quando revelar-se como Víbora, a serpente rasteja até a amiga, cujo está na mesma posição de antes, o breve silêncio é tirado pela réptil, com os lábios entre abertos, demonstra um sorriso de duas presas sem venenos, e diz “oi”, apenas com esse cumprimento, o tigre fêmea percebe algo errado, a maneira como saiu seu tom de voz, como se fosse incomodo. Questionada pela felídea, Víbora sem querer deflorar a privacidade da amiga, esquiva-se do pensamento feito em sua mente, porém volta e o faz, é notável o desconforto e a tensão do questionamento.

— Não sei do que fala. — responde ela, após segundos de espera por parte da amiga.

— Lhe fiz uma pergunta simples Tigresa: o que houve com você e o Po?

Desvia o olhar para a janela aberta ao fundo do quarto. A Luz da manhã entra iluminando o cômodo, deixando o quarto com aspecto alegre.

Novamente se fez um pequeno silêncio. Tigresa baixa a vista, não quer respondê-la, apesar de confiar e considerar como irmã, sente-se desconfortável ao dialogar sobre o que aconteceu minutos antes, considerando o fato de Víbora entender diferente.

Ignorando a questão levanta-se da cama, vai até a pequena instante ao lado do espelho, e pega uma escova de cabelos, volta a sentar, mas de costas para a serpente, na qual suspira revirando os olhos. Conhece quando não quer falar sobre um assunto, evita contanto visual e esquiva-se de perguntas, isso várias vezes a irrita, de qualquer modo é sua amiga, tentar falar com ela é ter paciência.

— Víbora faz um favor? — pergunta. A guerreira verde sabe qual é o pedido, espera que a deixe sozinha, rasteja para ir embora.

— Pode escovar meus pelos? — Como se o questionamento fosse um sinal de pare, interrompe a ida do quarto e vira-se para ela. — Se não for incomodo. — acrescenta com a voz baixa.

Toma com a ponta da calda a escova, concordando, tem um sorriso largo em seu rosto, se antes estava chateada com ela, agora está intrigada e exultante, poucas vezes tem momentos juntos de amizade, são próximas, contudo fazer compras, maquiagem e fofocar, está fora do dicionário de Tigresa, resumindo “coisas de meninas”, como a amiga sempre diz.

Sorri ainda. Escova os pêlos da nuca laranja devagar, dando as duas o tempo necessário para recomeçar a conversa.
Tigresa entrelaça as patas sobre o colo, tendo o olhar sobre elas, se fosse a outra ocasião não permitiria Víbora usar a mesma escova na qual Song usou, no entanto para camuflar mais perguntas não importa-se.

Concluí a escovação colocando a escova sobre a cama, escuta as palavras de agradecimento da guerreira de listras, no momento em que ela volta-se, não a responde de imediato, e nem é preciso, pois o sorriso e a ternura de seu rosto dizem tudo.

— Irmã sabe que estarei aqui sempre para te ajudar. — diz Víbora num tom velado, vagando olhar pelo rosto da amiga.

— Eu sei, e agradeço. — responde. A amiga tem esse modo protetor e acolhedor, e o fato de chamá-la de irmã não a incomoda, ao contrário, acha deslumbrante. — Também estarei aqui para ajudá-la. — acrescenta, descruza as pernas e lançou um olhar sincero.
Poderiam continuar a conversar ou desfrutar do momento a sós, se porventura Louva-a-deus não aparecesse, cruzando a porta aberta. As duas encaram o inseto, no qual fica parado dando o mesmo gesto, impacientes uma delas resolve quebrar o silêncio, no caso é

Víbora, pergunta o que há de errado, uma risada curta e envergonha a responde, para depois falar.

— Eu estava pensando se posso ficar com vocês por enquanto. — As fêmeas se entreolham desconfiadas por breves segundos, o guerreiro verde permanece imóvel, e constrangido pelo questionamento. — O Garça está falando com um senhor sobre pinturas em vasos, o Po... Eu não sei o que ele está fazendo, não o encontrei e o Macaco... Ele está paquerando as mulheres e queria me ensinar à arte de conquistar — pausa a voz e continua logo depois. — Convenhamos que ele seja péssimo nisso.
Tigresa é a primeira a respondê-lo.

— Então você está aqui, porque somos sua segunda opção?

— Na verdade a terceira.

— Eu poderia expulsa-lo, mas não vou fazer. Se quiser fique. — As palavras do tigre fêmea, e a face inexpressiva causaram curiosidade e espanto dos dois amigos.

— Está brincando comigo? — indaga, dá dois passos para trás com medo, talvez seja uma pegadinha da mestra.

— Não, podemos jogar um jogo de damas, claro se a víbora concordar. — Desvia a mirada para ela, na qual concorda sorrindo. — Só digo que sou ótima jogadora. — acrescenta, levantando.

— É o que vamos ver. — provoca o inseto, pulando várias vezes até estar sobre a cama.
Abaixa à altura da cama a procura do jogo, tinha encontrado uma caixa de jogos de cartas e tabuleiro, incluindo de damas e mahjong, esse último não a interessa, não é fã, ao contrário de Shifu e Po, ambos adoram jogar e competir um com o outro, lembra-se da ocasião em que Po contou como seus dois maiores ídolos derrotou alguns bandidos e ele no jogo, sendo eles de idade avançada; sorri ao ter a imagem alegre do amigo na mente, para finalmente esticar o braço e puxar a caixa de madeira.

Com a vista de volta a Louva-a-deus e Víbora, senta-se novamente na cama, o inseto a sua frente, e a amiga ao seu lado, retira da caixa o jogo que procurava e depois deposita no chão os outros; começa arrumar as peças no tabuleiro tradicional, escolhe as peças vermelhas e o amigo as pretas, terminando começam a partida.

Diferente do jogo de damas de formato hexágono, como de uma estrela, esse é mais fácil de jogar, de acordo com a mestra, pois exigem concentração e estratégia, duas qualidades na qual se saí bem.

O jogo ocorre por minutos, poderia dizer horas, devido à demora que o guerreiro verde faz para movimentar uma peça, a líder dos cinco furiosos, tenta manter a calma, sua virtude é a paciência, Shifu a ensinou desde pequena, assim como fez para controlar sua força.

— Você poderia fazer a jogada logo? — ordena irritada. O amigo não a responde, permanece imóvel analisando o tabuleiro, uma de suas pinças sobre o queixo, como se o gesto ajude-o a pensar. — Vai logo. — repete, aumentando o tom de voz.

— Talvez essa... — Prepara para mover a peça, mas desiste, volta à mesma fisionomia de antes, causando um suspiro logo de Tigresa e o riso baixo da amiga. — Já sei essa aqui, não espera essa, ou essa...
“Paz interior, paz interior” — repete mentalmente aguardando. — “Paz interior, paz interior... Para eu não fazê-lo engolir as peças...”

— Essa aqui.

— Finalmente. — Por breves segundos o semblante anima-se.

— Não, espera! Eu acho...

— Nem pense em dizer que vai trocar a jogada — o interrompe, sua voz saí ameaçadora. — ou fazer você comer esse tabuleiro!
O inseto temendo a concretização da intimidação lamenta e disfarça um sorriso, sabe o que ela é capaz, é conhecida por ser temida, tem como prova Po, muitas vezes o ameaçou e bateu no coitado, por motivos torpes e corretos, apesar dos eventos de Gongmen City, ainda possuí o temperamento forte.

— Tigresa paciência. — fala Víbora com a voz calma e baixa.

— Você pode ter calma, mas eu não. É um jogo de tabuleiro é fácil é só jogar e pronto. — argumenta com persuasão. — Se ele não consegue é melhor deixar! — aumenta o tom de voz. Deixa a cama e gira em torno do quarto, os dois amigos de entreolham estranhando a atitude da felina. — Se ele for então deixe horas, não percebe!

— Tigresa... — a chama, mas é ignorada.

— A vida é como um jogo aprenda a jogar, escolha um lado, tenha cuidado e... Não acredite que está certo, quando sabe que pode estar errado! — A frase termina com um grito. Desconsidera as miradas dos dois mestres, passa pala porta frustrada, os deixando.

— O que deu nela? — pergunta o inseto, franze a testa, confuso e assustado, poucas vezes presenciou reações assim.

— Ela está bem... — responde. — Só precisa de tempo sozinha.
Como se fosse uma irmã a conhece verdadeiramente sabe quando encobre algo, suas emoções apesar de escondidas são refletidas em pequenos atos e gestos, é preciso saber lidar com ela.

— O macaco está certo. — o comenta, dando por fim o silêncio que fez.

— Sobre o quê?

— As mulheres são loucas.

Víbora espera alguns segundos antes de usar a calda para arremessá-lo no chão e sair do quarto, o pequeno mestre de kung fu caindo sobre piso arrepende-se por suas palavras, esqueceu um dos conselhos de Macaco: “nunca diga a elas, que são loucas ou que não querem escutar, você vai acabar sem testículos ou dolorido.”

— Preciso de mais conselhos dele...

Após sair do quarto, anda com passos lentos pela hospedaria.

A mente vaga novamente nos sonhos e imagens barrosas, está atordoada e cansada, não quer a verdade, nem os amigos perguntando se está bem ou Po ao seu lado, quer estar sozinha, longe dessa missão, de todos, talvez do mundo, mesmo que tente mascarar a sensibilidade, ser a guerreira incondicional, cujo, todos esperam, é impossível; abriu mão disso ao abraçar e beijar Po. Seja como for é preciso ter o foco, contudo ser tratada como a guerreira de ferro, pode doer, mas se isso faz ser quem é, o que a define agora? Não é a guerreira de kung fu sem emoções, séria e incondicional. Então quem é?

Vaga pelos corredores, de vez em quando um animal cruza seu caminho, até esbarrar em alguém, a cabeça até o momento abaixada, é levantada para o sujeito, os olhos se cruzam em uma mistura de surpresa e repulsa, Tigresa retorna a postura normal, assim como o indivíduo, Song. Nenhuma das duas começa um diálogo, desde o acidente com os bandidos se evitam, o máximo que fazem é dividir o quarto e dar miradas, não são amigas e provavelmente nunca serão. Conversar é algo inadmissível, são diferentes em gestos e opiniões, como dois pólos de um imã não atraíssem.

— Olá Tigresa.

Song é a primeira a falar, sua voz é mansa e tranquila.

— Olá Song. — a responde de forma indiferente.


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Notas finais do capítulo

Gostaram?
Pelo visto vai rolar enfrentamento de Song e Tigresa ( a luta mais aguardada do século); E o Louva? Deu até peninha do bichinho... Deixe sugestões e peguntas, beijos :)



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