Wolfhardt escrita por Lena Saunders


Capítulo 9
Little Talks


Notas iniciais do capítulo

Galera, peço perdão pela demora. O pai da minha melhor amiga faleceu, dai foi meu aniversario, o aniversario dessa minha amiga e aniversario do meu avo.
Por isso o capitulo esta atrasado.
Ah, uma pergunta: alguém aqui tem um convite para o Ello sobrando?
Boa leitura!
~ Lena



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/464792/chapter/9

Quando Aaron abriu a porta, foi como voltar para a realidade. Kylle, Khyra e as gêmeas iriam sozinhos para a cama, mas eu precisava achar Meg e Ed.

– Sabe Aaron, acho que você deveria pedir desculpas para o Alec.

Ele concordou e pediu licença, enquanto eu procurava meus pequenos.

Normalmente não era difícil encontrá-los. Os cabelos de Khyra e Meghan costumam se destacar de longe e não é como se Kylle e Scott fossem baixos. Eu precisava olhar para cima para falar com eles.

Hey! Lunna né?

Era a garota bonita de cabelos negros. Katherine. Ela estava linda em um vestido negro extremamente justo, com as costas nuas.

Isso mesmo. E você é a Katherine.

Ela fez uma careta emgraçada.

Só Kat, por favor. Enfim, eu queria conhecer meus novos primos. Já falei com a Meghan, o Scott e uma das gêmeas. Acho que era Astryd.

Ela parecia feliz?

Bem, agora que você comentou, não muito. Ela parecia exausta.

Era Astryd.

Ela inclinou a cabeça em confusão. Ninguém parecia entender o que eu dizia naquele lugar.

Ela está sempre assim, meio cansada e triste. O dom dela é ver as coisas ruins que acontecerão.

Uou. Parece desagradável. Mas a outra gêmea parecia tão animada quando...

Maeve vê as coisas boas. - Eu a cortei. - Elas se balanceiam como podem.

Imagino que sim. - Ela tomou um novo fôlego. - E seu dom, qual é?

Essa era uma pergunta que eu não tinha a mínima vontade de responder. Eu não poderia evitá-la para sempre, mas podia tentar.

Acho que não tenho nenhum. Mas e você? Tem algum?

Ah sim. Toda nossa família tem. - Ela estava divagando. - Tia Tessa diz que somos sortudos, mas acho que é apenas a genética.

Eu queria chorar quando ela disse "genética".

Mas, enfim, eu posso controlar os sentidos. Veja.

Ela continuou falando mas eu não conseguia ouví-la. Na verdade, eu não conseguia ouvir nada. A música, as vozes, nada.

Viu? - Os sons retornaram. - Posso te deixar surda, cega, sem tato, olfato ou audição.

Estou impressionada. De verdade.

Bem, obrigada. Ah, eu estou tão contente de ter outra menina da minha idade aqui! Quero dizer, tem Eccho e a Rebecca mas a Becca não gosta de mim e a Eccho é, bem... Ela passa a maior parte do tempo em silêncio.

Eu apenas consegui sorrir, sem saber ao certo o que dizer. Ela me encarava, com uma expectativa quase palpável.

Também estamos contentes de estar aqui. - Tentei. - Aliás, você viu a Meghan e o meu irmãozinho mais novo?

Ela pareceu pensar por um segundo, deu um sorriso ainda maior e apontou para uma sala de TV.

Meghan e Edwin. - Então, ela já decorara os nomes deles. - Acho que estão por ali. Ah meu Deus.

Ela segurou meu braço com força, suas garras perfurando levemente meu braço, e me virei para olhar na direção de seus olhos.

Um garoto de cabelos negros e olhos castanhos estava conversando com Kyle. Para os padrões de estética queen vira nos outdoors e nas revistas, ele era bonito. Muito bonito.

Bem, já comecei a gostar dessa cidade. Agora me lembro porque eu gostava daqui. Até mais, Lunna.

Engraçado. Katherine deveria ser metade lobo, mas seu sorriso se assemelhava aos dos leões do zoologico.

Agradeci com um aceno de cabeça e segui na direção em que ela apontara.

Por cima do ombro pude vê-la jogar o cabelo e sorrir como uma víbora, enquanto caminhava na direção do garoto, seus quadris balançando com perfeição.

Eu estava adorando a família de Aaron. Eles era, divertidos e estavam nos tratando bem. Katherine devia ter se esforçado para aprender tantos nomes em tão pouco tempo.

Acabei encontrando Meghan e Edwin dormindo em um sofá. Meu irmão tinha as bochechas sujas de chocolate. Limpei-as antes de levantá-lo em meu colo. Ele babulciou uma ou duas palavras e se aconchegou no meu pescoço.

Eu não queria fazer duas viajens, então tentei pegar Meghan também, jogando um em cada ombro. Embora eles não fossem tão pesados, tinham massas diferentes e se mexiam, tentando encontrar uma posição confortável em seu sono. Fui me desequilibrando até quase derrubar minha irmã. Talvez duas viajens tivesse sido uma idéia melhor.

Opa. Peguei.

Isaac segurara Meghan, impedindo-a de cair de volta no sofá. Ela tinha um sono realmente pesado.

Precisa de ajuda? - Ele perguntou.

Hum... Pode ser. Vem.

O caminho no elevador foi silencioso. Ele colocou Meg na cama e eu expliquei como cobrí-la, com Edwin ainda no colo. Isaac era um desastre. Ele quase bateu a cabeça dela na cama enquanto tentava arrumar o cobertor.

Depois, ele me seguiu até o quarto de meu irmãozinho. Eu odiava as paredes brancas do corredor.

Isso é uma Harley? - Isaac perguntou, apontando para uma moto no meio do quarto, enquanto eu cobria Edwin.

Ele ainda não sabe controlar as ilusões. Quando ele dorme isso costuma acontecer. Vem, vamos sair antes que ele sonhe com dinossauros.

Ele riu um riso tão baixo e rouco que demorei para perceber que era uma risada. Caminhamos para o corredor deprimentemente branco, enquanto eu olhava melhor para o garoto à minha frente.

Sob os fios loiros, suas olheiras e olhos melancólicos eram seus traços mais marcantes, assim como sua palidez. Por um momento me perguntei à quanto tempo ele não dormia direito. Os olhos azuis pareciam pertencer à um cadáver, de tão mortos e ele era tão magro que eu não ficaria surpresa se ele desmaiasse de fome a qualquer momento.

Sinto muito pela sua perda. - Eu disse sem pensar.

Ele me olhou como se eu tivesse lhe dado um tapa.

Não. Você não sente. Você nem a conhecia. Não diga isso para fazer eu me sentir melhor.

Tudo bem. Me desculpe.

Ele bagunçou os cabelos, incomodado.

Eu não quis ser grosso. Só não suporto que todos digam que sentem muito e que entendem a minha dor. Porque eles não entendem. É mentira.

A dor escorria pela voz rouca dele.

Eu não menti. Não sinto por eles, mas sim por você. Não sinto pelo acidente, sinto apenas por ter te abalado tanto.

Eu estou melhor agora. Vou ficar bem.

Se não quer que eu minta, não minta para mim. Há quanto tempo você não dorme direito?

Desde que ela morreu, acho. Mas está melhorando agora.

Não, não está. Está piorando e você sabe disso. Você tem medo que os pesadelos nunca acabem e só fiquem piores. Você já não sabe quando está sonhando e quando está acordado. Vai te matando aos poucos.

Como você pode saber?

Criar sete crianças não é algo fácil. Arranjar comida, teto, roupas, proteção... Pesadelos são apenas uma consequência lógica. Vem comigo. - Era uma meia verdade. Estar sempre em fuga também era aterrorizante, mas ele não precisava saber disso.

Retornamos ao maldito corredor. Eu não gostava de suas paredes brancas, nuas, reveladoras. Nenhum lugar deveria ser tão estéril, principalmente um onde vivessem crianças.

Qual é seu quarto? - Ele perguntou.

Aquele. - Apontei para a porta no fim do lado direito do corredor.

E o meu, qual é?

Encarei-o por um momento, tentando assimilar sua pergunta. Ah sim. Theresa dissera algo sobre um sobrinho dela que ficaria no nosso andar. Fazia sentido que fosse ele.

Acho que aquele. - Apontei para o quarto na ponta oposta ao meu.

Ok. Deveríamos colocar placas nessas portas.

Sim, isso seria uma boa idéia. Ainda não entendo como há um andar com a quantidade exata de quartos que precisamos.

Ah, Theresa não te contou?

Contou o quê?

Ah, bem. Ela é meio esquecida mesmo. Pobrezinha. De qualquer forma, a casa é moldada por magia, segundo à necessidade...

O quê? - De que inferno ele estava falando?

Bem, quando se precisa de quartos, eles aparecem. A casa se conecta com qualquer um que more aqui. Não sei como ela sabe quem são visitantes e quem se mudou de verdade, mas é assim. Aqui, vem comigo.

Ele me puxou pela mão até seu quarto. Seus dedos eram gelados, mas se encaixavam bem nos meus.

Ele abriu a porta de uma vez e fechou os olhos.

Seu quarto era como o meu ou o dos meus irmãos. Exatamente igual. Mas se manteve assim por pouco tempo. Do lado de fora, vi paredes sendo construídas e tornando o quarto maior. O piso foi daquela madeira clara para uma muito escura, enquanto as paredes se tornavam acinzentadas. A janela dobrou de tamanho e o teto foi de branco à cinza, como as paredes.

Acho que eu estava com a boca aberta, chocada demais para dizer qualquer coisa. Ele deu um sorriso contido, embora seus olhos fossem tristes.

Eu posso mudar qualquer coisa na casa?

Se morar aqui, sim. Basta imaginar que a casa faz o resto.

Certo. Me virei de volta para o maldito corredor e pensei nele com paredes coloridas ou qualquer coisa mais divertida. Nada aconteceu.

Olhei para Isaac, meio desapontada.

Por que ela te reconhece mas me ignora? - Perguntei.

Não sei. Talvez você não se sinta em casa, ou algo assim.

E como você pode se sentir em casa? -Perguntei. - Você chegou hoje e acabou de perder sua mãe. Como você pode se sentir em casa?

Ele pensou antes de responder, encostado na porta.

Bem... Acho que casa é onde as pessoas que você ama estão. Meus pais podem estar mortos, mas toda as outras pessoas que eu amo estão aqui. Meus tios e primos também são minha família. Quando eu era pequeno costumava escalar as árvores da floresta com Aaron, Peter, Eccho, Kat e os gêmeos. Quando voltávamos, Theresa nos servia bolo, cookies e refrigerante azul na mesa dos fundos. Eles podem não ser meus pais mas, embora eu não venha aqui há anos, eu ainda tenho essas memórias. Eles ainda são minha família e eu ainda os amo. Entende?

Ele se virou para mim com aqueles olhos tristes que já estavam se tornando quase tão familiares quanto os meus.

Mais ou menos. - Fui sincera. - Todo mundo fala disso. Eu até ouvi uma vez, enquanto passava na frente de uma loja de TVs, mas nunca entendi direito. O que é amor?

Nem em um milhão de anos eu poderia decifrar a expressão dele. Ele inclinou um pouco a cabeça. Comecei a me perguntar se eu falava outra lingua. Por que todo mundo parecia confuso com o que eu dizia?

Bem... Ãh... Você está falando sério?

Aham.

Amor é... Você sabe, amor. Você ama seus irmãos, eu tenho certeza. É o que te faz querer defendê-los de tudo e cuidar deles. É o que faz você se importar com eles. É o que te motiva a querer vê-los felizes.

Fazia muito sentido. Isso explicava muitas coisas. Amor. Eu gostava da forma como essa palavra soava

Ok. Saquei. Então vamos resolver o seu problema.

Ele me olhou confuso mas me seguiu quando o puxei pela mão, de volta ao quarto de Meghan.

Eu descobri isso há alguns anos. Segure a mão dela. - Instrui.

Isaac segurou, desconfiado, a pequena mão de Meghan. Ele era extremamente desajeitado e parecia estar com medo de quebrá-la, o que era ridículo, porque ela devia ser quase mais forte do que ele. Ok, talvez isso fosse exagero, mas ela era realmente forte.

Não solte, ok?

Comecei a cantar uma das únicas músicas que eu conhecia. Eu a ouvira pela primeira vez há algum tempo, tocando de dento de um carro estacionado. O que quer que estivesse tocando repetiu-a três vezes antes da pessoa que o motorista esperava entrar no carro. Foi o bastante para marcar as palavras à ferro em minha mente.

"I don't like walking around this old and empty home...
So take my hand and walk with me my dear...
Cause the truth is very this ship will carry our bodys sabe to shore..."

Quando acabei, ele estava sorindo. Era a primeira vez que eu o via sorrir de verdade. Ele tinha covinhas. Acho que era algo que herdara da família da mãe. Seu sorriso era lindo e contrastava com suas olheiras. Quis beijar as manchas escuras sob seus olhos até que elas desaparecessem. Abafei a ideia, sem saber de onde ela viera.

Of Monsters and Man? Boa música.

Eu não tinha idéia do que ele estava falando, portanto, dei de ombros, esperando que fosse a reação correta.

Como se sente? - Perguntei sussurrando para não acordar Meghan.

Melhor. Quase como antes. - Ele fez aquela expressão que eu já aprendera a reconhecer como sinônimo de dúvida e confusão interior.

Ela entende e influencia sentimentos. - Expliquei. - Quando cantamos para ela, ela fica calma e isso é transmitido para as outras pessoas. Principalmente as que a estão tocando. Você vai dormir bem hoje. Eu garanto.

Obrigado. - Ele me abraçou e eu fiquei estática.

Eu não estava acostumada a tocar ninguém além dos meus irmãos. Era... Diferente abraçar Isaac. Diferente de um jeito bom. Ele tinha cheiro de café e energético. Claro. Ele evitava dormir o máximo possível. Fiquei contente em ajudar. Amanhã, pediria ajuda à Meghan para fazê-lo se sentir ainda melhor.

Eu queria que ele ficasse bem. Não, eu precisava. Precisava mostrar para mim mesma que até quem passou pelas maiores tragédias pode ser feliz. Que eu posso ser feliz.

Quando saímos, fechei a porta com cuidado para não acordá-la.

Eles tem sorte de ter você para cuidar deles. - Isaac disse, enquanto estávamos no corredor.

Eles tem sorte de ter nós dois, Isaac.

Ele me olhou confuso.

Você também é nosso irmão agora, Isaac. Não se esqueça de decorar todos os nomes.

Na verdade, eu adorara a idéia de Theresa. Nos ligava à sua família e facilitava tudo. Se alguém perguntasse, era só dizer que nossos pais haviam morrido em um acidente. As pessoas parariam de perguntar depois disso. Mas todos precisaríamos manter a farsa e, para isso, ele precisaria saber nossos nomes.

Lunna, Kylle, Khyra, Scott, Astryd, Maeve, Edwin e Meghan.

Ele disse tudo em um fôlego só.

Muito bem. Estou impressionada. Aliás, qual o nome dos nossos pais?

Era algo importante para se saber. Entramos no elevador e ele estalou todos os dedos, um por um.

Emma e Luke Solomoon.

Ri baixinho, instintivamente.

O que foi?

Ãh? Ah, nada. É que "Sol" em português significa Sun. É irônico.

Disse a licantropa que chama Lunna.

Ok. Você venceu essa.

Como você pode saber palavras em português mas não entender o que é amor?

Era uma excelente pergunta.

"Minta, Lunna. Minta."

Também não sei. Devo ter escutado em algum lugar por aí. - A mentira deslizou suavemente sobre minha língua. Eu estava cada vez melhor naquilo. - Solomoon não é o sobrenome de Aaron, Theresa e William?

Supostamente esse sobrenome deveria vir de William, mas Isaac deveria ter o sobrenome dos pais.

Isso aí. Esse sobrenome é da família da minha mãe e de Theresa. Quando Theresa se casou com William eles adotaram o sobrenome porque William não tinha nenhum. Ele não tinha família. Meu pai, em compensação adotou o sobrenome da minha mãe porque era humano e queria ser integrado à alcatéia.

Ah, agora isso era novidade. Isaac não parecia a vontade para falar sobre isso.

Isso faz sentido. De uma forma confusa e pertubadora, mas faz. - Mudei de assunto. - Bem, preciso mandar nossos outros irmãos para a cama.

Vou te ajudar. Mas e você Lunna, qual o seu sobrenome?

A porta do elevador se abriu após o toque da campainha.

Sou Lunna. - Eu disse, enquanto caminhava na direção de Aaron e Kylle. - Só Lunna.

Ele não poderia descobrir. Nenhum deles poderia. Jamais. Ou estaríamos arruinados.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Wolfhardt" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.