Wolfhardt escrita por Lena Saunders


Capítulo 7
Time to Buy


Notas iniciais do capítulo

- "Mas Lena, esse capítulo é inútil para a história!"
— "Aguarde e confie, leitor. Aguarde e confie. "

De qualquer forma, ele foi divertido de escrever.
Espero que goste!
~Lena



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Aaron e eu almoçamos com Theresa e William, que parecia permanentemente mal humorado. Depois de nos encotrar rolando no jardim ele parecia estar ainda mais rabugento.

Theresa, em compensação, parecia extremamente bem humorada. Talvez até demais. Ela anunciou, sem nenhum tipo de cerimônia, que o restante da alcatéia chgaria naquela noite. Aaron teve um pequeno engasmo simulado. Ela disse que seria "maravilhoso" se eu e meus irmãos nos vestissemos "apropriadamente".

Após uma vistoria geral no meu guarda roupa, que se resumia à duas calças e quatro blusas, ela reprovou absolutamente tudo o que eu tinha. Foi a mesma coisa com as roupas dos meus irmãos. E então, uma coisa totalmente inesperada aconteceu: Ela me entregou várias sacolas (que estavam pesadas, apenas para constar).

– Todos na alcatéia precisam ter um celular. É importante para as emergências. O número 1 está programado para todos os números da alcatéia e é estritamente para emergências. O primeiro que atender deve ajudar a resolver o problema. Vocês poderão comprar capinhas depois.

A primeira sacola estava cheia de celulares. IPhones 5. Meus irmãos pirariam. Só percebi que estava chorando quando senti as lágrimas pingarem do meu queixo.

Para Theresa, William e Aaron, aquilo eram apenas celulares. Eu não tinha idéia de onde vinha o dinheiro, mas sabia que eles tinham um monte. Para mim e meus irmãos? Era muito mais. Por um segundo eu me senti parte daquilo. "Todos têm celulares". E ela queria que nós tivéssemos também. Porque erámos iguais a todos. Eu não conhecia "todos", mas fiquei radiante com a mínima possibilidade de me encaixar entre eles. De ser parte de alguma coisa maior. Uma coisa que protegeria meus irmãos quando a hora chegasse.

– Oh, não chore ainda querida. Eu estou apenas começando. Aqui. Isso é para Meghan.

Eram as bonecas mais bonitas que eu já havia visto. Elas tinham vestidos e cabelos perfeitos. Meghan amaria. Theresa estava completamente alheia à minha surpresa, e continuava agindo com naturalidade.

– Essa é para Scott. E essa para Edwin.

Pincéis, tinta, carvão e papéis. Vídeo-games e skates, que não cabíam nas sacolas.

– Para as gêmeas eu não sabia ao certo o que comprar, então optei pelo clássico.

Duas enormes maletas de maquiagem. Daquelas profissionais. Eu acho que já estava soluçando àquela altura.

– Khyra e Kylle foram um desafio a parte.

Pesos de musculação, outro skate e uma bola de futebol americano. Livros e um violino.

– Como você sabia que ela queria tocar?

– Ouvi ela e Maeve conversando ontem a noite. Se ela quiser e você permitir, ela pode ter aulas aqui em casa.

– Isso seria incrível. - Eu estava maravilhada e Theresa parecia poder dar pulos de alegria.

– Eu guardei isso para o fim. Geralmente os membros da alcatéia ganham ao completar doze anos. O limite dos seu é maior para poder comprar por Meghan e Edwin.

Meu queixo caiu. Cartões de débito. Daqueles dourados que as mulheres ricas tiravam da bolsa nas lojas, fazendo os vendedores praticamente segurar a respiração. Seis deles.

– Theresa, isso é muito gentil e estou infinitamente agradecida, mas não posso aceitar.

Ela franziu a testa por um segundo.

– Você pode me chamar de Tessa, se quiser. Lunna, não quero que você pense que estou tentando comprar sua família ou qualquer coisa assim. - Eu nem havia pensado nisso, mas agora que ela mencionara... - Mas você sabe o que fêmeas alfas, em uma alcatéia real, fazem na natureza? - Neguei com a cabeça. Sua voz era um sussurro. - Elas procriam. São responsáveis por gerar e criar os filhotes. Eu amo Aaron, e ele é o melhor filho que eu poderia querer, mas é apenas um. E ele já cresceu. Nao quero substituir sua mãe, muito menos você - se ela soubesse. - mas por favor, me deixe fazer isso. Me deixe ajudá-los.

Seus olhos lacrimejavam e suas mãos tremiam levemente. Me lembrei de Aaron dizendo que Theresa perdera um bebê. Por um segundo tentei imaginar se isso já havia acontecido mais vezes. E quantas vezes seriam.

– Bem, ainda tenho algum tempo antes da aula. Por que não colocamos tudo isso nos quartos deles? Ele vão amar as surpresas.

Ela foi de mãe sensível à criança na véspera de natal em segundos.

– Ah, vocês não estão mais nos quartos de hóspedes!

– O que?! Fomos expulsos? Mas...

– Ah, claro que não, querida. Vocês só ganharam seus próprios quartos. Cada um pode ter o seu agora.

Por mais adorável que fosse a empolgação de Theresa, eu começava a duvidar de sua sanidade. Por maior que fosse a casa, era impossível que existissem quartos para todos nós.

– Ajude-me com as sacolas.

Resolvi não discutir e peguei algumas sacolas. Thessa me surpreendeu. Para um mulher tão pequena, ela era bem forte. Caminhamos até um elevador que eu nem sabia que existia. Foram necessárias duas viajens para carregar tudo. Por fim, colocamos tudo dentro do elevador e fomos para o quinto andar.

O quinto andar consistia, basicamente, em paredes brancas lisas e nove portas, igualmente brancas e lisas.

Theresa abriu a primeira porta à nossa direita, onde deixou uma das maletas de maquiagem. Passamos por sete das portas, deixando os presentes.

Cada cômodo se resumia à um quarto enorme e branco, com uma cama simples de casal, uma porta do lado direito e uma janela sem cortinas e com uma sacada.

Separamos os meninos para o lado esquerdo e as meninas para o direito, por nenhuma razão além da organização, já que havia mais quartos do lado direito do elevador. Por fim, notei que havia uma porta além do necessário.

– Um dos meus sobrinhos vai dormir ali. Espero que você não se importe. - Tessa explicou.

Várias possibilidades cruzaram minha imaginação. Uma criança mimada. Um adolescente insuportável. Um garoto espaçoso...

– Imagina. Claro que não. - Respondi.

– Chamei um docorador para vir no sábado. Vocês poderão escolher o que quiserem para decorar.

– Tessa... Eu, eu não sei o que dizer.

– Apenas diga que vai levá-los para comprar roupas adequadas para hoje à noite. A recepção será realmente importante.

– O que seriam roupas apropriadas?

– Aaron vai ajudá-los, mas fiz uma lista com alguns itens básicos. O motorista irá levá-los até o shopping e tomei a liberdade de marcar um horário para todos vocês no salão.

Acho que se Theresa sorrisse mais, seus lábios se partiriam ao meio. Eu não tiraria essa felicidade dela.

Alguém bateu na porta e a cabeça curiosa de Aaron apareceu.

– Julieta disse que vocês estariam aqui. Nós precisamos ir agora.

– Leve os cartões e os celulares Lunna, para que vocês possam se separar no shopping.

– Certo, muito obrigada por tudo, Theresa.

– Eu é que agradeço - Ela beijou o topo da minha cabeça. Me senti estranha por um milésimo de segundo.

Coloquei meu uniforme - agora limpo e passado graças à Julieta - e fomos para a escola.

Naquela tarde, as aulas passaram mais devagar do que nunca. Passei o intervalo programando as chamadas rápidas dos celulares e Aaron me explicou rapidamente como usar. Foi infernal assistir os ponteiros se arrastando segundo por segundo. Quando o sinal tocou, eu já guardara o material e praticamente voei pela porta. Quando finalmente encontrei meus irmãos, suspirei de alívio. Eu não os vira praticamente o dia todo. Aaron logo me alcançou e, juntos, caminhamos para a van.

– Muito bem. Silêncio. - Eu pedi quando todos já estavam sentados. - Eu tenho uma surpresa, mas se vocês gritarem, não ganham, entenderam? Não quero que atrapalhem o motorista.

Todos se calaram imediatamente.

– O número um da chamada rápida liga para toda a alcatéia. Usem apenas em caso de emergência e só atendam de puderem ajudar no momento. - Repeti o que Theresa dissera, enquanto entregava os celulares. Vi, com satisfação, alguns queixos caírem. Eles nunca haviam nem sonhado com isso. -O número dois sou eu. Isso é um presente de Theresa. Vocês agradecerão à ela depois. Não ligue até eu terminar os avisos, Maeve. Músicas são permitidas apenas com fones de ouvido e podem baixar os aplicativos que quiserem. Fotos relacionadas à lobos estão proibidas e coloquem uma senha fácil de lembrar. Se atrapalhar os estudos, eu confiscarei. Alguma dúvida?

Uma pequena mão se ergueu em um dos assentos de trás. Assenti, permitindo que ela falasse.

– Para onde estamos indo? Esse não é o caminho de casa.

As palavras de Meghan me atingiram. "O caminho de casa". Ela já considerava aquela casa como nossa, certamente mais por Theresa do que pelo local em si. Respirei fundo antes de falar.

– Esta noite, o resto da alcatéia chegará e teremos um jantar de recepção. Nós precisaremos de roupas adequadas, além de roupas para usarmos no dia-a-dia. Aparentemente, nada do que nós temos serve. Khyra e Kylle, venham aqui, por favor.

Os dois se levantaram com dificuldade devido ao movimento da van.

– Vocês são os mais velhos. Embora eu confie em Khyra, você não é muito responsável, Kylle. Por isso, tome cuidado. É outro presente de Theresa.

Entreguei à eles os cartões com seus nomes. Me perguntei quanto Theresa havia pago para conseguí-los tão rapidamente. Khyra agradeceu e se sentou novamente, mas Kylle ficou me agradecendo e me abraçando repetidamente.

– Ok, cai fora. Muito contato físico.

Ele riu e finalmente foi se sentar, enquanto eu acenava para Scott e as gêmeas.

– Scott. Esse é o seu. Evite gastar muito com material artístico, ok?

Ele acenou com a cabeça, mas eu sabia que ele o faria de qualquer forma. Logo seu quarto estaria entupido de tintas, lápis e telas.

– Astryd, esse é o seu. Seja responsável. Maeve, o mesmo serve para você. Evitem gastar, ok? É apenas para as coisas realmente necessárias.

Enfim, chegamos ao chopping. Meghan e Edwin não questionaram o fato de não ganharem cartões e fiquei feliz por isso. Eles não se importavam tanto com ter coisas.

– Aaron, você pode levar os meninos?

Não me sentia bem deixando meus irmãos com outra pessoa, mas este era Aaron. Eu o conhecia a menos de uma semana, mas sabia que podia confiar nele. Não conseguíriamos comprar tudo se ficassemos todos juntos. Ele concordou e pegou as listas dos meninos. Vi o choque cruzar seu rosto quando viu tudo o que teria que comprar. Pedi que ele tomasse um cuidado especial com Kylle, que saiu resmungando que eu era exagerada e que ele era o mais velho.

Fui com as meninas para as lojas do segundo andar, onde, segundo Aaron, eu encontraria o que precisava. Começamos com as calças jeans e as camisetas. Aparentemente, cada uma delas precisava de cinco calças e quinze camisetas. Era um absurdo, para quê tanta roupa? Mas então me lembrei de Theresa. Ela nos dera tanto... E tudo o que pediu foi que eu comprasse o que estava na lista. Quase desmaiei quando vi a conta da primeira loja.

As pessoas nos encaravam pelos corredores e imaginei o quão estranhas parecíamos. Uma garota morena, uma de cabelos brancos, duas loiras e uma ruiva. Sabia que não parecíamos irmãs.

Deixamos as calças, casacos, camisetas, pijamas, sapatos e roupas íntimas na van e voltamos para comprar os vestidos. Theresa exigia 12 para cada uma. Um absurdo, na minha opinião.Khyra simplesmente se recusava a usar "aquilo". Graças à Maeve, conseguimos enfiá-lá em um branco, simples, que a fazia praticamente sumir na parede branca. Astryd e Meghan foram mais fáceis de lidar. Meg parecia uma princesinha com o vestidinho verde, com babados em degradê. Maeve simplesmente escolheu um pouco mais que o necessário em segundos. Khyra e Astryd estavam provando seus últimos, enquanto eu tentava convencer Maeve a deixar alguns.

– Com licença, crianças. Preciso pedir que deixem a loja. - A moça usava um uniforme, então deduzi que era uma vendedora.

– Não se preocupe, já estamos acabando. - Sorri para ela.

– Eu lamento, mas vocês realmente precisam ir agora.

– Sim, eu entendi da primeira vez. Como eu disse, já estamos de saída.

– Por favor, não me faça chamar o segurança.

– Perdão?

– Vocês provaram dezenas de roupas, e sabemos que não irão comprar nada.

– Na verdade, queremos várias dessas peças.

– Por favor, não é como se crianças de rua como vocês pudessem pagar qualquer coisa aqui.

Espere um momento. Ela acabou de chamar meus irmãos de crianças de rua?

– Já vi que terei que tirar vocês eu mesma.

Ela segurou o bracinho de Meghan e começou a arrastá-la para a saída. O efeito foi instantâneo. O medo de Meghan invadiu cada poro do meu corpo e senti minhas presas crescerem. Ao meu lado, Maeve possuía garras. Todos éramos capazes de fazer essas pequenas transformações iniciais desde a mais tenra idade. Eram um dos motivos de eu achar ser uma aberração desde pequena.

Khyra saíra do provador parecendo confusa, mas logo vi suas garras. Ela escondeu as mãos atrás do corpo. Vi Aaron chegando na loja com meus irmãos e os olhos de Kylle adquiriram um tom quase sinistro. Eu não me importava com as transformações. Não me importaria se Kylle se transformasse completamente e destruísse a loja. Tudo o que me importava eram os dedos daquela mulher estranha no braço do meu bebê, puxando-a contra a sua vontade. Minhas garras cresciam conforme minha vontade de rasgar a garganta daquela mulher.

– Primas! Encontrei vocês! - Aaron passou o braço sobre meus ombros. - Acalme-se. - Ele sussurrou.

A vendedora, que aparentemente não havia notado nada fora do normal, se virou para nós, surpresa.

– O senhor as conhece?

– Mas é claro! São minhas primas. Acabaram de chegar na cidade e viemos comprar roupas, já que a bagagem delas foi estraviada.

Ele se aproximou da vendedora e pegou Meghan no colo. Minha irmã finalmente se acalmou e, lentamente, todos recuperaram o foco.

– Lunna, precisamos pagar porque estamos atrasados. Maeve, chame Astryd no provador, certo?

Ele me passou Meghan que se agarrou com força ao meu pescoço. Pagamos as malditas roupas e fiz questão de levar todos os vestidos que Maeve queria. Depois arranjaria uma forma de pagar Theresa. Tive prazer ao ver o queixo da mulher cair ao ver o valor final das compras.

Aaron decidiu que havia tempo para o sorvete antes do salão, então deixou meus irmãos escolhendo os sabores antes de me puxar de lado.

– Preciso falar com você, Lunna. É sobre Scott. - Meu coração gelou por um décimo de segundo. - Acho que ele precisa usar óculos.

Soquei o ombro dele, aliviada e irritada. Ele ficou totalmente confuso.

– Isso foi por me assustar desse jeito. Não se preocupe. Vai passar quando ele se transformar, como aconteceu comigo.

– Sei disso, mas não deveríamos comprar óculos até lá?

– Não compensaria. Ele vai se transformar em breve e ele não usaria de qualquer forma.

– Como você sabe disso?

– Ah, ele diria que atrapalha para desenhar. O problema dele é para enchergar de longe e ele está sempre olhando para o bloco. Veja.

Scott estava sentado entre Kylle e Astryd, se revesando entre desenhar e lamber o sorvete. Sua mão corria para cima e para baixo no papel e sua bochecha estava suja de carvão.

– Não isso. Como você sabe que ele vai se transformar em breve?

– O aniversário dele é domingo e ele já está pronto. Não vai levar mais do que duas semanas. Khyra também não levará muito tempo. Esse foi um dos motivos de eu ter aceitado morar com vocês. Quando as gêmeas se transformarem, serão cinco lobisomens para eu lidar e mal consigo me ajudar, quem dirá ajudá-los.

– Bem, não deixe minha mãe saber sobre o aniversário, ou ela atormentará o pobrezinho com uma festa.

– Vou me lembrar disso. Melhor irmos, ou iremos nos atrasar.

– Ah, Lunna. Dê uma olhada nisso.

Era, obviamente um desenho de Scott. Meghan estava em pé, com um cutelo na mão. Em sua frente, uma garota de sorriso sarcástico parecia querer desafiá-la. Prestei mais atenção no desenho e notei que ela usava o adorável vestidinho verde que eu acabara de comprar.

– Você conhece essa garota?

Aaron concordou.

– É...

– Lunna! Estamos atrasadas! - Maeve começou a nos puxar, ansiosa para ir à um salão pela primeira vez.

Aaron nos deixou na entrada e levou os garotos para "dar uma volta". Na verdade, eles provavelmente levaríam o resto de nossas sacolas para a van e esperariam lá.

Quando entramos, as mulheres nos encararam, chocadas. Foi apenas quando vi nossos reflexos no longo espelho que entendi. A vendedora estava certa: parecíamos crianças de rua. Por isso as pessoas nos encaravam tanto nos corredores. Nossos cabelos estavam completamente bagunçados, e os sapatos sujos somados às unhas deploráveis não ajudavam em nada.

– Boa tarde. Você deve ser a Lunna.

A mulher não cheirava como Theresa ou Selena, mas era igualmente não humana. Senti minha postura ficar rígida. Seus cabelos eram lisos e negros e sua pele, muito pálida. Ela era quase tão magra quanto Khyra e seus olhos possuíam o mesmo tom artificial de violeta.

– Theresa marcou um horário para vocês. Eu sou Isabella. - Ela parecia simpática. - Barbie e Skiper, cuidem dos cabelos das gêmeas. Kelly e Kelsy, as unhas das outras duas. Lunna, me acompanhe, por favor.

Observei minhas irmãs que seguiam, contentes, as moças. Com exceção de Isabella, todos ali eram humanos e os únicos objetos afiados eram os alicates. Elas estavam seguras. Além disso, Theresa confiava naquela mulher, aparentemente.

Caminhei atrás dela até uma sala que cheirava à camomila e tinha uma maca no centro.

– Theresa sugeriu que eu fizesse suas sobrancelhas e depilasse suas pernas, se estiver tudo bem para você.

– Ãh... Tudo bem, eu acho. O que é você?

Ela pareceu surpresa por um segundo.

– Oh pobrezinha. Você realmente não teve muito contato com o mundo sobrenatural, não é? Sou o que os humanos chamam de vampira.

Ela sorriu, mostrando suas presas que eram mais finas e compridas do que as minhas. No fim das contas, foi algo bom ela não ser humana. Toda vez que ela puxava uma daquelas tiras com cera, eu rosnava e tentava arranhá-la, apenas para ela me mandar deitar e parar com o drama. Ao fim de meia hora eu havia passado por algo que definitivamente devaris ser considerado tortura e tinha perdido muitos pêlos. Jurei nunca mais fazer aqui novamente.

Quando saí da sala, ainda um pouco tonta, Maeve estava passando alguma coisa nas unhas dos pés, enquanto uma mulher puxava o cabelo de Astryd com uma escova.

– Uou, Lunna. Você parece bem mais bonita.

– Ãh... Obrigada Maeve. Eu acho.

Meu cabelo foi lavado, esfregado, hidratado, penteado, alisado e cacheado. Minhas unhas foram cortadas, polidas e pintadas.

Quando acabamos, Meghan parecia uma princesa. Seus fios ruivos desciam brilhantes por suas costas e terminavam em cachos suaves. Suas unhas estavam cor-de-rosa e ela fizera Skiper desenhar coelhinhos nelas.

Astryd e Maeve pareciam ter sido tiradas da capa de uma das revistas daquele lugar. Ambas prenderam seus cabelos bem altos, com alguns fios propositalmente soltos. Elas tambémpintaram faixas brancas na ponta das unhas, o que aparentemente chamava "francesinha".

Khyra estava increvelmente bela. Suas unhas estavam completamente brancas e seu cabelo, perfeitamente liso. Era uma beleza natural, que lhe servia completamente.

Meu cabelo estava ondulado e minhas unhas, vermelhas. Admito que escolhi essa cor porque estava curiosa sobre como unhas pintadas ficariam ao se transformarem em garras.

Conforme o esperado, os garotos estavam nos esperando na van. Meus irmãos pareciam muito mais arrumados e deduzi que era por causa dos cortes de cabelo caros. Aaron levou-os em um barbeiro perto do shopping. Scott dormia apoiado em Aaron, enquanto este discutia com Kylle sobre algum joguinho bobo de celular que meu irmão já baixara. Edwin estava deitado nos bancos do fundo, praticamente roncando. Meghan correu até ele, sacudindo-o para mostrar os coelhinhos das unhas.

– Quem são vocês e o que fizeram com as minhas irmãs?

– Muito engraçado, Kylle. - Respondi.

O caminho de volta foi tão agitado quanto a ida e Theresa recebeu dezenas de agradecimentos pelos celulares, roupas, quartos e presentes. Eles piraram com os dois últimos. Levou algum tempo até eu convencer que os skates só deveriam ser usados no dia seguinte, e que eles precisavam se arrumar.

Tomei um banho rápido e foi enquanto eu estava no chuveiro que percebi: Eu não comprara nenhuma roupa para mim. Não tinha nada para vestir. Theresa ficaria tão desapontada.

Ainda enrolada na toalha, caminhei até o pequeno guarda-roupa, onde Julieta gentilmente guardara as minhas roupas velhas. Parei no meio do caminho, quando notei algo em minha cama. Era um vestido negro e discreto, com decote em forma de coração. No chão, ao lado da cama, havia um par de sapatos com saltos enormes e brilhantes, que combinava com os brincos gigantes. Era perfeito. Precisaria me lembrar de agradecer Theresa depois.

Levei alguns minutos para conseguir ficar de pé com aqueles sapatos, e ainda mais para sair do lugar. Quando finalmente fiquei satisfeita com a forma que andava, passei de quarto em quarto, procurando pelos atrasados. Khyra, Meghan e os garotos já haviam descido. Astryd estava no quarto de Maeve com a própria. Uma das grandes maletas estava aberta e elas pareciam fabulosas. Era a primeira vez que eu as via ficar tão parecidas. Seus vestidos eram do mesmo modelo, com mangas esvoançantes. O de Astryd era verde pastel e o de Maeve, rosa. Suas maquiagens e cabelos pareciam impecáveis. Mal parecia que elas eram as mesmas garotas de hoje de manhã.

– Lunna! Que bom que chegou! Estávamos indo te chamar. - Anunciou Maeve. - É sua vez.

– Ãh... Vou ficar sem maquiagem garotas, mas obrigada. Vamos descer?

– Por favor, Lunna. Até Khyra nos deixou maquiá-la. - Pediu Astryd. - Nós descemos e espiamos a recepção. Você vai querer a maquiagem.

Pobre Khyra. Seriam anos de terapia para superar isso. Eu nunca havia visto Astryd tão animada com algo. Na verdade, acho que nunca tinha visto Astryd animada.

– Que seja. Mas rápido, hein?

Elas levaram quinze minutos. Elas nomeavam as coisas enquanto aplicavam em mim. Sombra. Delineador. Rímel. Lápis. Batom. Uma das garotas do salão explicara por cima como funcionava tudo aquilo durante minha tortura. No fim, eu mesma não seria capaz de me reconhecer.

Quando as portas do elevador se abriram, meu queixo caiu. Dezenas de pessoas andavam para todos os lados, dançando, bebendo e conversando.

– Lunna! Até que enfim! - Theresa caminhou até mim. - Vocês estão maravilhosas, garotas.

– Tessa, quem são todas essas pessoas? Aquele é o cabelo de Selena?

– Ah sim. No fim achei melhor convidar todos os sobrenaturais aliados da alcatéia, para que todos se conhecessem. Aaron me disse sobre o que aconteceu com Derek. A última coisa que queremos é outro mal entedido como aquele.

– Ok. Certo. - Eu não tinha tempo para conversar. Aquela sensação familiar do dom de Meghan começara a me atingir. Eu precisava encontrá-la. - Ah, você viu minhas irmãs?

– Acho que elas foram pegar alguns petiscos por a...

Um grito alto e estridente preencheu o salão e Selena, que aparentemente estava de DJ, parou a música no mesmo segundo. Todos correram para a sala de jantar de onde o grito viera. Apesar dos saltos, fui uma das primeiras a chegar.

Khyra estava no chão, com um filete de sangue escorrendo por sua testa. Um garoto tentava ajudá-la a se levantar, mas ela estava obviamente tonta.

Apesar de toda a minha preocupação com ela, não pude deixar de me preocupar ainda mais com o cutelo na mão de Meghan. Ela tinha uma mira impecável. Meghan nunca errava. Imediatamente me lembrei do último desenho de Scott. A garota à sua frente tinha um sorriso quase desafiador.

– Você está morta. - Disse Meghan, e atirou o cutelo.


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