Wolfhardt escrita por Lena Saunders


Capítulo 5
Hurricane


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu sei que demorei. E peço perdão. A minha vida estava uma loucura e, como tenho problemas mentais, achei que seria possível escrever sete fics ao mesmo tempo. É, eu sei. Louca.

De qualquer forma, agora as portagens realmente serão freqüentes.

Quero dedicar esse capitulo para a MadameButterfly que lindamente puxou minha orelha e me incentivou a continuar. Obrigada, sua linda.

~Lena



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Acordei com a luz do sol batendo no meu rosto. Algum bastardo deixara a janela aberta. Olhei para o pequeno relógio da minha cabeceira. 5:27. Que maravilha. Ao meu lado, ou melhor, sobre mim, Meghan dormia pesadamente, roncando ocasionalmente, e Astryd murmurava algo sobre a queda de um avião. Pobre Astryd. Tirei Meghan de cima de mim e uni sua mão esquerda à mão direita de Astryd. Minha estrela dormiria bem agora. Me levantei para fechar a cortina e aproveitar mais uma hora e meia de sono. Quando alcancei a janela, parei para observar a paisagem que não pudera ver na noite anterior. Era absolutamente linda.

Tudo era pontilhado com diferentes tons de verde e o céu estava coberto com aquele laranja quente mesclado com rosa, que apenas o nascer do sol possui. Abri a porta de vidro da sacada, fechando-a em seguida, e caminhei ate a beirada da sacada, querendo mergulhar naquele céu. O vento tocou meu rosto, bagunçando meu cabelo e eu o farejei antes de vê-lo. Aaron saltou na minha sacada, como no dia anterior.

– Ah, droga. - Ele parecia legitimamente chateado. - Você já está de pé. Eu queria ter chego antes. Bem, que seja. Melhor calçar seus sapatos.

– Você deixou a maldita cortina aberta de propósito! - Eu o acusei.

– Claro! Acha que eu iria te deixar perder isso? - Ele apontou para trás, em direção à paisagem. - Mas é sêrio, calce alguma coisa.

– E por que eu faria isso? - Perguntei, enquanto bocejava.

– Porque se não fizer vai machucar seus pés. - Ele respondeu como se fosse óbvio.

– Aaron, me deixe dormir. - Eu me virei para entrar, mas ele passou na minha frente, ficando de costas para a porta e dando um sorriso malicioso. Então ele levou o inficador aos lábios, pedindo silêncio e abriu a porta. Com uma graça silenciosa que eu nunca teria, ele caminhou até a cama onde minhas irmãs dormiam e pegou meus tênis.

"Engraçado. Não me lembro de tê-los deixado ali."

E a compreensão me atingiu como um tapa na cara. Eu não me lembrava porque não tinha deixado-os ali. Eu nem sequer voltara para a cama. Tudo que eu lembrava era de estar lá fora com Aaron. Então me dei conta de que estava com o casaco dele.

Senti minhas bochechas ardendo de vergonha. Ele retornou com meus sapatos e fechou a porta novamente. Minhas irmãs dormiam profundamente agora.

– Obrigada por... Ãh... Não ter me deixado no chão ontem.

– Ãh... Não foi nada. - Ele parecia tão envergonhado e desconfortável quanto eu, mas logo se recuperou. - Mas, agora você me deve um favor.

Ele sorriu malignamente enquanto erguia os tênis em minha direção.

– Que seja - Eu disse, e calcei os malditos tênis.

Ele pegou impulso e se jogou da sacada, sem estimar a altura, o que, mesmo para um lobiso... Licantropo, pode ser perigoso. Corri para ver se ele estava bem, quase desesperada, mas assim que olhei para baixo o vi com seu sorriso convencido, completamente bem.

Aaron pegou uma mochila que estava no pé de uma árvore e continuou com aquela postura prepotente. Me apoiei na grade da sacada e saltei, dando um mortal no ar.

Meu objetivo era mostrar que eu também sabia fazer aquilo. Eu calculara meu salto com precisão mas Aaron se colocou sob mim e me segurou antes de meus pés tocarem o chão.

– Exibida! Eu posso fazer melhor!

– Mentira! Eu sou superior. Apenas aceite o segundo lugar, Aaron.

Nossas risadas começaram altas e sonoras, mas logo se reduziram a um silêncio completamente confortável.

Havia algo nos olhos de Aaron que eu simplesmente adorava. Não era apenas a cor, aquele castanho acalorado, coberto de fragmentos negros e amarelos, quase como se alguém tivesse estilhaçado a noite e o dia. Era o brilho doce e simultaneamente selvagem que eles adquiriam sempre que seu coração batia mais rápido. O coração.AH MEU DEUS. Eu estava no colo de Aaron, com o braço passando por seu pescoço e a mão em seu peito, encarando-o em silêncio. Há um bom tempo. Ele me encarava de volta, provavelmente se perguntando que tipo de problema mental eu teria.

Eu imediatamente soltei seu pescoço e me empurrei para trás, o que resultou em uma bela aterrissgem de bunda. Sutileza zero, Lunna.

– Você está bem? - Ele perguntou com a testa franzida, enquanto tentava ajudar-me a levantar.

Neguei seu auxilio e me pus de pé, tentando juntar os cacos da minha dignidade.

– Estou ótima. Vamos?

Ele deu um sorriso torto e sinalizou em que direção deveríamos seguir.

– As damas na frente.

Fiz uma reverência desajeitada e iniciamos a caminhada. Permanecmos em silêncio por um bom tempo, caminhando lado a lado. Seu cotovelo esbarrou em mim duas vezes antes de ele parar.

– Feche os olhos.

– Por ue?

– Lunna, apenas confie em mim. Pelo menos uma vez, ok?

Impaciente, fechei os olhos e senti meu corpo ser levantado, meus pés tirados do chão.

– Aaron! - Gritei sem pensar.

– Olhos fechados, Lunna.

Senti o vento bagunçar meu cabelo e a velocidade fez meu corpo escorregar aos poucos. Resignada, permaneci de olhos fechados enquanto Aaron me carregava.

Com meu corpo escorregando aos poucos, precisei segurar em seu pescoco, afundando minha cabeça em sua clavícula.Eu gostava do cheiro de Aaron. Era uma mistura agradável de sabonete de limão, canela e algo mais. Desodorante, talvez.

Ele reduziu o ritmo antes de parar completamente e me colocar com cuidado no chão.

– Pode abrir.

Não sei como descrever o local à minha frente. Não sei nem de existem palavras para suficientemente boas para descrevê-lo.

Havia uma espécie de lagoa, cujo a água era tão transparente que permitia-nos ver dezenas de peixes coloridos. Árvores cor-de-rosa cercavam a área, criando uma especie de clareira. Cerejeiras. Os raios de sol pareciam brilhar com mais intensidade do que eu acreditava ser possível e centenas de borboletas de diferentes espécies e cores voavam de um lado para o outro. Os raios de sol brilhavam entre as folhas das árvores e criavam uma atmosfera rosada.Tenho quase certeza de que vi um coelho.

– Aaron, você me trouxe para o País das Maravilhas ou Oz?

Ele riu e se sentou no meio das florzinhas, esmagando algumas delas.

– Nenhuma das opções. - Ele olhou ao redor, examinando tudo por um segundo. - Eu acho. Você prefere panquecas ou bolo de chocolate?

Eles tirou uma pequena toalha branca da mochila e a estendeu à sua frente.

– É sério, Aaron. Que lugar é este? - Perguntei enquanto me sentava ao seu lado.

– Não sei. Há alguns anos minha mãe perdeu um bebê.

Ele permeneceu em silêncio por alguns segundos, olhando para o vazio. Segurei a mão dele, sem entender muito bem a razão. Acho que queria que ele soubesse que não estava sozinho.

– Eu estava muito chateado. - Ele continuou. - E eu resolvi que precisava dar uma volta. Não sei bem como cheguei aqui. Aquelas árvores apenas estavam no meio do caminho. - Ele apontou para duas árvores enormes. Realmente enormes. Elas passuíam troncos tão grossos que seria impossível fechar os braços ao seu redor e, juntas, curvavam-se formano um coração. - Acho que são uma espécie de porta. É preciso passar por elas para entrar aqui.

Eu estava prestes a me levantar para vê-las mais de perto, movida pela curiosidade, quando Aaron tirou uma pequena tijela com panquecas e um vidro de calda da bolsa. As árvores poderíam esperar.

– Eu achei que, se trouxesse minha mãe aqui, ela ficaria mais feliz. Ela poderia até voltar a ser como antes. Levei dias para convencê-la a vir e, quando finalmente a tirei da cama, não achei a entrada. Simplesmente não estava mais aqui. Achei que eu estivesse louco. Ela, é claro, acho que era fofo eu imaginar um lugar tão bonito apenas para fazermos uma caminhada. Ela não voltou a ficar na cama de novo, mas nunca mais foi a mesma.

Ele praticamente engoliu uma panqueca mergulhada em calda e canela. Quando vi que ele trouxera canela, roubei-a dele. Eu sempre amei panquecas com canela. Melhor do que isso só se houvesse chocolate quente.

– Eu fiquei obcecado. Eu passei a semana seguinte me remoendo, pensando se eu estava ou não enlouquecendo. Decidi procurar novamente e, mais uma vez, cheguei aqui. Era de noite e notei que o céu daqui era muito mais estrelado do que o normal. Então, comecei a catalogar essas estrelas. É completamente confuso. As constelações se sobrepõe e há estrelas que não consegui encontrar na internet. Ninguém sabe sobre elas. Sei que é estranho, mas, pelo menos agora que você está aqui, sei que não estou louco.

Aaron parecia animado além do normal. E ele era sempre bem animado. Eu acreditava nele. Havia algo de diferente naquele lugar. Era especial, de certa forma. Continuamos comendo e conversando por algum tempo. Aaron adorava fala e sabia ouvir. Era estranho e reconfortante poder conversar com alguém da minha idade. Ele até me deu algumas dicas de como lidar com minha parte lobo.

– Precisamos ir agora. Logo todos estarão de pé e não temos exatamente permissão para estar fora de casa.

Ele juntou tudo e guardou em segundos. Logo estávamos em nosso caminho de volta. Dessa vez, ao invés de caminharmos, corremos, apostando corrida.

Nenhum de nós estava ofegante quando chegamos, mas eu tinha um galhinho ou outro no cabelo.

Havíamos saltado quando saímos da casa mas, sem um ponto de apoio, não havia nenhuma chance de voltarmos sem deixar marcas nas paredes. Entramos pelas portas da frente, rezando para que todos ainda estivessem dormindo. Fui direto para o meu quarto, na ponta do pés, abandonando Aaron em uma das salas.

A primeira coisa que notei ao chegar lá foi o relógio marcando 06:04. Mas eu tinha certeza que leváramos mais de meia hora. A segunda coisa foi um leque de cabelos brancos ao lado de Meghan. Chamei Khyra algumas vezes antes de ela acordar. Seus braços estavam ao redor de Meghan e não havia sinal de Astryd.

– Está tudo bem Khyra? - Perguntei quando ela abriu os olhos vermelhos.

– Claro. - Ela bocejou. - Astryd precisava de chá. Para os pesadelos, você sabe. Mas Meghan não queria ficar sozinha. Então elas me chamaram.

Sua voz, como sempre, era um sussurro. Tudo em Khyra parecia sempre prestes a sumir. Desde sua pele desbotada até sua voz baixa e delicada. A única coisa realmete viva nela eram seu olhos vermellhos quase incandecentes, para os quais eu comprara lentes há duas semanas. Agora eles eram de um tom artificial de azul, puxado para o violeta e realçados pelos cílios quase transparentes.

– Pode continuar dormindo aqui. Vou ver se Astryd e os outros estão bem. Acordo vocês quando for hora de se arrumar.

– Lunna? - Ela levantou a cabeça do travesseiro, sua voz sonolenta.

– Sim? Você precisa de alguma coisa?

– Não. Mas tome um banho antes de sair. Você está cheirando como Aaron.

Senti minhas bochechas corarem, enquanto corria para o banheiro.

– Não se preocupe. Não vou conta nada. - Ela disse. - Eu gosto dele. Ontem, antes de dormirmos, ele foi ver se eu e Maeve estávamos bem.

E então ela deitou a cabeça, dormindo quase no mesmo instante. Tomei um banho rápido e vesti o uniforme que eu usara no dia anterior. E o mesmo que eu usara como pijama. O cheiro não era dos melhores e estava um pouco amassado. Eu deveria ter aceitado a oferta de Theresa de lavar minhas roupas. Já vestida mas ainda resignada, fui para a cozinha para encontrar Astryd com uma enorme xícara de chá, rindo. Aquilo me surpreendeu, já que Astryd não costumava rir daquele jeito. Aaron estava ao seu lado. Quando ela me viu, gargalhou ainda mais.

– O que foi? Do que está rindo? - Peruntei.

– De você. - Ela respondeu. - O que aconteceu com suas roupas?

– Não está tão ruim. - Respondi, enquanto procurava a farinha e a canela.

– Lunna, parece que você rolou na grama. - Aaron me encarava preocupado. - Ou que foi atropelada.

– Vocês realmente não estão ajudando.

Quebrei os ovos e comecei a preparar a massa das panquecas.

– Calma. Hoje seremos liberados da aula da manhã. Deixe seu uniforme aqui e o pegaremos na hora do almoço. - Disse Aaron, com uma calma assombrosa.

– Claro. E eu fico pelada até lá?

– Na-Não. - Ele puxou ainda mais o capuz sobre seu rosto. - Minha mãe pode te emprestar algo para vestir.

– Aaron, por favor. As roupas da sua mãe nunca vão me servir.

– Use as da Rebbeca então. - Theresa disse, entrando na cozinha.

– Quem é Rebecca? - Astryd se manifestou.

– Minha prima. Tem certeza mamãe? Ela detesta quando mechemos nas coisas dela. Talvez fosse melhor já buscarmos as coisas deles no trailer.

– Não dará tempo, filho. E a pobre Lunna não pode sair assim na rua. - Theresa parecia desesperada por mim.

– As roupas de Kat, então.

– Nao vão servir. Kat é muito mais alta do que ela.

Comecei a me perguntar quantos membros aquela alcatéia teria. As panquecas enfim estavam prontas e Theresa olhava assustada para a monstruosa pilha à sua frente.

Eu inspirei e uivei. Alto e claro. Astryd se juntou à mim, seguida por Kylle, Edwin, Scott, Meghan e Maeve. Eu sabia que Khyra não uivaria. Ela nunca uivava. Meus irmãosl chegaram correndo, com diferente níveis de sono.

Meg e Kylle estavam animados como sempre, empurrando-se pelo caminho. Eles praticamente me derrubaram para pegar as panquecas. Atrás deles vinha Scott, com pijamas emprestados que ficaram grandes demais para ele. Em seus ombros, Edwin parecia extremamente sonolento enquanto esfregava os olhos. Khyra caminhava tão elegantemente quanto era possível vestindo os pijamas antigos de alguém. Por último vinha Maeve, descabelada e mal humorada.

Theresa sorriu ao ver todas aquelas crianças sonolentas e se retirou da cozinha.

Eles atacaram as panquecas e acabaram com elas em questão de segundos. Khyra calmamente tomava chá, enquanto todos corriam de volta para os quarto para se arrumar. Recolhi os pratos e comecei a ensaboá-los o mais rápido possível sem quebrá-los. Theresa retornou com uma sacola de roupas.

– Lunna, você não precisa lavar a louça querida. - Ela avisou.

– Imagie, não é nada. Já me acostumei.

– Sim, mas a lava louças pode fazer isso.

– Ãh... Oi?

– Essa máquina.

Foram quase quinze minutos até eu entender o que era uma lava louças. E qual a exata utilidade de um "IPad". E o motivo pelo qual microondas e liquidificadores eram tão úteis.

– Você pode subir e se arrumar agora, Lunna. O motorista vai levá-los em meia hora.

– Vocês tem um motorista?

– Nós temos, na verdade. Mas só precisaremos dele até minha carteira chegar.

– Aham. Até parece que vou deixar meus irmãos irem a qualquer lugar com você dirigindo.

O conteúdo da sacola era basicamente um top cropped vinho, calça e jaqueta de couro e dois coturnos. A jaqueta ficou enorme e a calça ficou um pouco comprida. Dobrei as barras, deixando-a com um comprimento ideal. Coloquei meu gorro, abaixando-o mais do que o normal para compensar a ausência do capuz.Não tenho idéia de como Theresa sabia meu tamamho e minha numeração e muito menos como ela encontrou algo que quase me servisse, mas estava muito agradecida pelo bom gosto de quem quer que fosse.

Eu estava atrasada. Maravilha. Corri de quarto em quarto verificando se todos já tinham descido. Scott estava desenhando sentado em sua cama.

– Scott. Desça. Agora. - Avisei.

No outro quarto, Khyra tentava prender o cabelo de Meghan, que se debatia como se estivesse morrendo.

– Khyra, pode descer. Não esqueça a mochila.

Ela não esperou uma segunda ordem. Trancei o longo cabelo ruivo de Meghan o mais rápido que pude e mandei-a descer. Passei nos outros quartos e constatei que não havia mais ninguém. Corri escada abaixo, desesperada para não atrasar ninguém. Eu preciso coordenar melhor meus movimentos.

Senti o chão sumir sob meus pés e esperei pela queda que não veio. Quando abri os olhos, eu estava no colo de Aaron.

– Ah meu Deus, me desculpe.

– Não foi nada. - Ele estava rindo. - Já estou acostumado a te segurar.

Soquei de leve o ombro dele e o empurrei em direção a saída.

– Vamos logo. Estamos atrasados.

Ele continuou rindo até a van - que era surpreendentemente grande - e contou como eu havia caído da escada para todos os meus irmãos e para sua mãe. Ao notar que ocupáramos mais da metade dos lugares, Theresa garantiu que conseguiria um veículo maior para quando o restante da "alcatéia" chegasse. Novamente, pensei em perguntar quantas pessoas morariam conosco, mas ela fechou a porta e acenou, enquanto o motorista, Ben, dava a partida.

Aaron me acompanhou enquanto deixava meus irmão de sala em sala. Por fim, fomos até a coordenação pedir a autorização para sairmos da escola.

A primeira pessoa que vi quando chegamos lá foi uma garota. Ela era pequena e magra. Seus longos fios negros caíam em seu rosto, quase contido seus olhos de um verde quase elétrico. Ela cheirava à estresse e ansiedade mas seu rosto era uma mascara perfeitamente bela e calma.

Ela gesticulava, falando com alguém à sua frente. Conforme eu e Aaron entramos, pude ver quem era. Era um garoto, quase da minha altura. Isso foi o que pensei, antes de notar que ele estava sentado. Ao perceber nossa presença, a garota parou de falar e o garoto virou seu rosto.

Minha primeira impressão foi de que ele era um lobisomem. Ou um desse garotos transgênicos, grandes demais para a idade. Além de ser enorme, ele possuía uma espessa barba negra que cobria sua mandíbula e se ligava ao cabelo negro e liso. Seus olhos eram do exato mesmo tom da garota e ele não parecia feliz. Nem um pouquinho. Sua testa estava franzida e os lábios, tão unidos quanto era possível.

Tenho certeza de que Aaron notou isso, porque logo em devida ele passou o braço pelos meus ombros e me puxou, colando-me ao seu corpo. O garoto de levantou em um pulo e a menina o repreendeu com um olhar mortal. O sorriso de Aaron era quase psicopata. A recepcionista finalmente notou nossa presença e nos entregou o papelzinho da autorização para sairmos da escola. Já estávamos na porta quando ouvimos nossos nomes. Droga. Tão perto, mas tão longe da liberdade. Era o Sr. Charles, provavelmente vindo nos dizer que encontrara outra forma de nos torturar até a morte.

– Eu tenho uma ótima notícia para vocês! - "O Sr. vai se mudar para o Canadá?", pensei. - Encontrei voluntários para ajudá-los com a organização do baile! - Ele disse empolgadamente.

E ness momento eu percebi que ele não estava fazendo aquilo apenas para nos castigar. Ele realmente se importava com a festa. Mas desconheço qualquer razão para um professor de ensino médio de importar com uma festa boba dos alunos.

– Essa é Coraline e esse é seu irmão Derek. Eles irão com vocês hoje, para começar os preparativos. - A expressão de desgosto do garoto mostrava claramnte que ele preferia estar morto à estar ali.

Oh, pobrezinhos. Mais vitimas do sistema, como nós. Me apiedei das pobre almas. Tenho quase certeza de que ouvi Aaron rosnando e decidi interceder antes que ele nos causasse ainda mais problemas.

Mostrei ao professor uma lista com as idéias gerais para a decoração e ele pareceu bastante contente apesar de fazer questão de nos lembrar que precisaríamos de comida, música, convites, prestadores de serviço...

Ele nos entregou um cartão de crédito e a senha, além de exigir as notas fiscais. Coraline segurou a respiração ao saber o valor disponibilizado e o Sr. Charles explicou que houve uma doação anônima para ajudar com as despesas.

Após os últimos conselhos e ajustes, caminhamos os quatro em completo silêncio até a van. Aaron me puxou até os bancos do fundo, mantendo a maior distância possível dos outros dois, que se sentaram colados ao motorista.

– O que há entre você e aquele garoto estranho? - Perguntei assim que nos sentamos.

– É um pouco complicado. - Ele disse. - Para resumir um pouco, nossas famílias possuem alguns problemas de convivência há... Algumas gerações.

– Por quê. - Perguntei quando percebi que ele não pretendia falar mais nada.

– Não sei dizer ao certo. - Eu sabia que ele estava mentindo. - Acho que tem algo relacionado à uma garota. Ah, precisamos decidir como serão os convites e de vamos contratar um DJ.

"Mudando de assunto com maestria. Muito bem, Luppie."

– Eu estas pensando sobre isso. - Entrei na conversa dele. - DJs costumam cobrar caro e...

– Oi. Licensa. É... Desculpem, mas eu queria mostrar isso para vocês. É só uma idéia é claro.

Coraline surgira do nada e nos entregara uma folha de caderno rabiscada. Estiquei o pescoço e vi seu irmão lá na frente, parecendo bastate mal humorado.

Era o protótipo de um convite. As setas apontavam que o fundo seria negro e as letras, prateadas. Havia anotações que indicavam que um papel prata seria colado atrás e estrelas vazadas seriam recortadas, dando um efeito tridimensional. Parecia lindo, mesmo em uma folha amassada.

– Parece perfeito, Coraline. - Aaron disse, expressando meus sentimentos.

A garota deu um sorriso extremamente fofo e radiante que me pertubou por um milésimo de segundo. Ela sorria como
Meghan. Meghan, que se afastava a cada segundo em que a van se movia.

– Que bom que gostou. Você pode ir comigo na gráfica, enquanto Derek e Lunna vão encontrar com uma amiga nossa no estúdio dela. Ela é DJ e tenho certeza que pode nos dar um bom desconto.

– Sério? - Perguntei, animada.

– De jeito nenhum! - Aaron respondeu ao mesmo tempo.

A van estacionou em uma vaga qualquer e Dereck se levantou rapidamente. Ele era preciso em todos os movimentos.

– Deixe de ser ciumento Aaron. E cuide da minha irmãzinha.

Ele segurou meu braço e me puxou para fora da van antes que Aaron pudesse objetar. Caminhamos em silêncio por duas quadras até o "estúdio".

Quando Coraline disse "estúdio", imediatamente liguei à um estúdio de música. E eu não poderia estar mais enganada.Era um estúdio de tatuagem, ricamente decorado do lado de fora.Assim que abrimos a porta, um soninho soou acima de nossas cabeças.

– Já vou! - Uma voz harmoniosa gritou de algum lugar atrás da pesada porta de metal, decorada com vários desenhos presos por imãs.

– Olá! Eu sou Sele... - Ela olhou para mim, espantada e se voltou para o Derek, furiosa. - Como você ousa trazer uma loba na minha casa?

Ela era linda. Mas não era humana.


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