Wolfhardt escrita por Lena Saunders


Capítulo 12
Charming Speak


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi inspirado em Piper McLean, da série "Heróis do Olimpo".
Quero dedicá-lo a Rafa Dutra que escreveu a primeira recomendação de Wolfhardt.
Sem mais delongas, boa leitura.
~Lena



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No caminho de volta para casa eu percebi duas coisas: primeiro, é muito mais divertido correr na forma lupina. Segundo, de alguma forma, minha humanidade parecia inferior à minha selvageria.

Ao menos essa foi a conclusão de todos após minha sexta tentativa inútil de retornar à forma humana.

Depois disso, Theresa começou a gritar com todo mundo, dizendo que estavam me cobrando demais e que precisavam me dar um tempo.

Daí, ela lembrou que havíamos deixado uma Cora inconsciente e os menores sozinhos com Eccho, Ethan e Derek.

Em pouco tempo eu aprendera a adorar os três, mas tinha certeza de que eles não tinham absolutamente nenhuma idéia de como cuidar de crianças.

Quero dizer, Derek era um caçador, Eccho uma banshee - embora eu ainda não compreendesse o conceito em sua integridade - e Ethan, bem, é do Ethan que estamos falando, acho que isso dispensa mais explicações.

E foi nesse dia que eu descobri a verdadeira liberdade.

Liberdade não era correr sozinha ou com meus irmãos. Não era poder fazer o que eu quisesse. Não era não precisar obedecer ninguém.

Liberdade era correr com Aaron, em minha forma lupina. Nada se comparava com aquilo. Nós éramos mais rápidos do que o vento. Mais rápidos do que qualquer outro da alcatéia.

Com exceção de Khyra.

Eu podia vê-la, praticamente flutuando de galho em galho. E então, ela sumira do meu campo de visão. Nunca entendi como ela poderia ser tão rápida.

Aaron voltou a sua forma humana assim que entramos na casa. Eu, em compensação, pulei no sofá branco e aguardei, com minha calda balançando. Isso não podia estar certo.

A primeira a me ver foi Maeve. Khyra provavelmente já havia explicado a situação para todos, mas mesmo assim minha irmã hesitou.

– Lunna? - Ela perguntou.

Eu acho que uivei em confirmação, mas não tenho certeza, já que estava ocupada demais sendo agarrada por Meghan.

A pequena ruiva praticamente subiu em minhas costas e Theresa apareceu, já em sua forma humana, quase tendo um aneurisma.

– Lunna, querida, eu entendo que você ainda não consiga voltar ao normal, mas você vai encher o sofá de pelos. E sangue. Desça, por favor.

Desci, com Meghan montada em mim e o resto da noite seguiu assim, com minha irmã em minhas costas e Theresa me pedindo para parar de destruir acidentalmente seus móveis.

O jantar foi, no mínimo, interessante. Eu pude me sentar à mesa, normalmente, embora tenha dispensado os talheres. Ninguém parecia se importar com um lobo gigante à mesa, mas eu podia ouvir seus sussurros.

"Ela arrancou a garganta dele e não consegue controlar a transformação."
"Você também demorou para aprender, Alec."
"Mas eu tinha doze anos e era problemático. Ela tem dezesseis."
"Cala a boca."

Eu esperava por isso. Achei que conseguiria manter um certo grau de normalidade por mais tempo, mas sabia que cedo ou tarde as coisas sairiam de controle. Sempre saem.

Eu só esperava que eles levassem mais tempo para descobrir o resto da verdade. Talvez uma ou duas semanas. Meus irmãos pareciam adorar a casa e a família de Aaron e eu não tinha coragem de tirar isso deles. Ainda não.

Depois, todos foram para os seus quartos e William disse que eu deveria dormir, já que provavelmente voltaria ao normal assim que toda a adrenalina passassse e minha respiração se estabilizassse.

Entretanto, ele fez questão de deixar bem claro que precisaríamos ter uma conversa na manhã seguinte. Droga.

Aaron apertou os botões do elevador para mim e fiquei surpresa ao descobrir que um lobo gigante, de fato, cabia ali.

Eu dispensei o pijama, o cobertor e a escova de dentes por motivos óbvios. O que significa que eu apenas me deitei na cama. Mas eu não estava, nem de longe, com sono.

Aaron pareceu notar isso e eu assisti, lentamente, suas feições mudarem, tornando-o um lobo. Era impressionante. Eu gostaria ser capaz de fazer isso, transformar-me quando eu quisesse, conseguir controlar a mim mesma.

Seus olhos pareciam ouro líquido. Era lindo de se ver. Como a grama pela manhã ou esmeraldas em um colar.

Vi a cama aumentar e imediatamente entendi que era ele quem estava fazendo isso. Como Isaac fizera. Era outra coisa que eu queria ser capaz de fazer: me sentir em casa.

Aaron deitou-se ao meu lado e encostou o fucinho entre as minhas orelhas. Milagrosamente, eu entendi o que ele queria dizer.

"Eu estou aqui. Somos iguais. Você consegue."

Mas não éramos iguais. Theresa me forçara a limpar o sangue antes do jantar, mas eu ainda me lembrava de seu sabor. O sabor da vida e da morte.

Eu nem sequer pensara duas vezes antes de destuir seu pescoço. Fiz por puro instinto. O fato de eu ter tentado protejer Derek não justificava minhas ações e não pude deixar de lembrar do Tenesse.

Eu tinha treze anos. Ainda não sabia como me virar direito e meus irmãos eram ainda menores. Eu entrava nas casas durante a noite e roubava o que conseguia. Carne, arroz, frutas e, com sorte, algum dinheiro.

Nós morávamos em uma casa abandonada no centro da cidade, o que nos forçava a dormir durante o dia para que ninguém notasse que havia alguém ali. Era arriscado e exposto, mas foi o único lugar que encontramos.

Dei um pouco de dinheiro para Khyra e Kylle comprarem um bolo. Vi seus olhos brilharem e achei que era decisão certa. Quando se vive nas ruas, com sete irmãos, dinheiro é um luxo praticamente inalcansável, mas era aniverssário das gêmeas e eu queria dar isso a elas. Um bolo. Algo para comemorar, para ter esperança. Todos eles precisavam disso.

Eu estava dando banho em Meghan, com a água gelada, mas ela não parecia se importar. Quinze minutos depois que eles saíram, Astryd teve sua primeira visão. Ela ficou tão assustada que dormiu abraçada à mim por semanas.

Em sua visão, Kylle e Khyra não retornavam para casa.

Me lembro de entregar Meghan, pequena, nua e ruiva à Maeve e pedir que a secasse. Me lembro de gritar com Scott, mandando-o ajudar Astryd. Quando vi, eu já estava correndo.

Quando os encontrei, Kylle já estava no chão. Eu disse para eles irem pelas calçadas das ruas movimentadas, mas Kylle achou que seria mais rápido cortando por um beco.

Vi os cortes no braço dele começarem a se fechar. Ele não se curava rápido o bastante ainda e um dos garotos chutou-o na barriga. Um garoto alto segurava Khyra contra uma parede, puxando seus cabelos.

Quando ele começou a tirar as calças dela, foi demais para mim.

Não me lembro de muito depois disso. Quando acabei, contei os corpos inconsientes. Sete deles.

Khyra ajudou Kylle a se levantar e ele resmungou, antes de vomitar. Eles ficariam bem. Minha família ficaria bem.

Mandei-os voltar para a casa e chequei todos os bolsos dos garotos. Eles deviam ter assaltado algum lugar, porque consegui mais de novecentos dólares.

Pensei em ir comprar o bolo, mas me lembrei que estava coberta de sangue.

Então, apenas caminhei de volta para casa, evitando ser vista. Os garotos cedo ou tarde acordariam e me reconheceriam se me vissem.

Foi a segunda vez que tivemos que mudar de cidade.

Saí de meus devaneios quando senti Aaron lambendo meu... Rosto. Acho. Dei uma patada nele e me arrumei para dormir.

Foi uma noite sem pesadelos ou pertubações.

Quando abri os olhos e estiquei o braço, procurando meus irmãos, acidentalmente acertei o rosto de Aaron. Com um pouco de força.

– Ai! Lunna! Eu já estava indo embora! Não precisava fazer isso!

– Ah! Me desculpe! Foi sem que... Você dormiu aqui? Você tem seu próprio quarto, sabia?

– Sim, mas você parecia chateada e eu não queria te deixar sozinha. Ai. Acho que você quebrou meu nariz.

– Pare com o drama, Aaron. Nem sangrou.

– Arg. Insenssível. Melhor eu ir embora antes que você me acerte de novo.

– Ok. Te vejo no café. - Eu disse, enquanto me levantava e começava a separar o uniforme da escola.

Eu ainda estava com as roupas de treino. Fiquei encarando a manchinha de sangue no punho e senti o gosto metálico em minha boca novamente.

– Te vejo lá. E, Lunnie...

Olhei para ele. Sua testa estava franzida em preocupação e um sorriso de pena brincava em seus lábios. Não, não de pena. De compaixão.

– Está tudo bem. De verdade. Você fez o que era preciso. Pode parecer confuso, mas estamos orgulhosos de você e... Se quiser falar sobre isso ou qualquer coisa assim... Bem, não precisa ser comigo, mas sei lá. Acho que poderia fazer você se sentir melhor.

Sorri para ele. Aaron me vira coberta de sangue e sabia que eu tinha destruído a garganta de um licantropo com os dentes, mas ele queria que eu ficasse bem. Infelizmente, ele ainda não sabia nem da metade.

– Talvez mais tarde. Precisamos nos arrumar para a reunião antes da escola.

– Ah, certo. - Ele sorriu magnificamente. - E não se preocupe. Meu pai só quer te assustar. Vai dar tudo certo.

– Acredito em você. Agora vá se arrumar.

Ele mostrou a língua antes de sair pela janela, escalando em direção ao andar de cima.

Me arrumei depressa e chamei meus irmãos. Kylle jogou um travesseiro em mim e Maeve reclamou que ainda era muito cedo. Mas não era. Dei quinze minutos para eles descerem. Khyra, Scott e Astryd já haviam descido.

Encontrei Meghan no chão do quarto de Edwin, com ele. Os dois estavam sentados, encarando profundamente algo que identifiquei como um aparelho de vídeo-game.

– Acho que 'tá quebrado. - Ela disse, cutucando o aparelho com o dedinho.

– Mas o primo Ethan disse que era só ligar. - Edwin respondeu. - Ele teria vindo ajudar mas disse que estava ocupado.

– Você tem certeza? Como liga isso?

– Eu já disse que não sei. Podemos pedir pra Khyra pedir para o primo Alec. Ele vai ajudar se ela pedir.

Primos. Meu irmão havia acabado de dizer que Ethan e Alec eram seus primos. E Meghan não o corrigiu. Eles aceitaram a farsa como se fosse a realidade. Eu não tive coragem de arruinar aquilo.

Quando me viram, os dois se levantaram e correram, abraçando minhas pernas.

– Lunna! Lunna! - Meghan disse, puxando minha blusa. - Você sabe hã...

Ela olhou para o irmão, buscando ajuda.

– Ligar! - Ele continuou. - Você sabe ligar o vídeo-game?

Os mais velhos sempre se lembrariam de tudo, da nossa história. Mas não precisava ser assim com eles. Meghan e Edwin ainda eram pequenos demais para se lembrar de tudo. Eles nem sequer sabiam como havia começado. Eles poderiam ter uma vida boa, saudável, feliz.

Mas deixá-los viver uma mentira doía mais do que contar a verdade. Eu fiz uma promessa uma vez. Eu não poderia mentir para Meghan. Jamais.

– Bem, porque não perguntam para o irmão de vocês? - Falei por impulso, sem pensar muito nas consequências. - Isaac ainda deve estar no quarto. Batam na porta antes de entrar, ok? Depois se arrumem para a escola e tomem o café.

Eles não esperaram uma segunda ordem, antes de sair correndo em direção ao fim do corredor.

Eles falharam no teste. Isaac não era nosso irmão. Não havia como eles não saberem disso. Madelaine.

Estalei os dedos, um por um, enquanto estava no elevador. Não ajudou a aliviar a tensão.

Fui direto para a cozinha. Madelaine esta sentada ao lado de Scott, conversando com ele. Astryd estava discutindo com Peter e não havia nenhum sinal de Khyra.

– O que você fez com eles? - Perguntei, pressionando a mandíbula.

– Os pequeninos? Ora, pode considerar um presente. - Seus olhos verdes faiscaram, me desafiando a enfretá-la. - E não se preocupe, não causei nenhum dano permanente aos dois. Eles podem voltar ao normal se você quiser.

Eu arrancaria seus estúpidos olhos e a faria engolir, apenas para perguntar se ela conseguia ver minhas garras quando eu atravessasse seu estômago com elas.

Ela entrou na cabeça dos meus irmãozinhos. Da pequena Meghan e do pequeno Edwin. Ninguém mexe com os meus irmãos. Ninguém.

Vi Madelaine ser jogada na parede, no exato segundo em que a torneira da pia estourou e atingiu Peter.

– Lunna! - Astryd gritou, empurrando Peter para a porta.

O nariz do garoto escorria em um tom lindo de escalarte e ele tirara aquele sorrisinho estúpido do rosto. Mas não prestei atenção nisso. A única coisa que via era Madelaine presa à parede O vento ao nosso redor soprou tão forte que jogou as xícaras e os pratos que estavam em cima da mesa na direção dela.

Eu a faria pagar. Ela e seus malditos olhos verdes. Olhos como os de Aaron.

Madelaine era tia dele. Ele parecia se importar com toda a família e, certamente, se importava com ela. Ele ficaria arrasado se eu a machucasse. Meus irmãos seriam expulsos. Eles gostavam daqui. Gostavam dessas pessoas.

Senti minha cabeça rodar enquanto Madelaine despencava em direção ao chão. O vento havia parado, assim como a água que antes jorrava da pia.

– Lunna. Nós precisamos conversar.

William, Theresa, Katherine e Rebecca estavam na porta. O pai de Aaron se virou para Rebecca e mandou-a fazer uma "Convocação Geral".

Aparentemente, havia uma espécie de porão na casa de Aaron.

O ambiente era grande e bem iluminado, com alguns bancos dispostos diante de uma elevação de madeira.

Me sentei entre Astryd e Peter e implorei para que ele me desculpasse. O garoto se limitou a rir, dizer que estava tudo bem e que não havia sido minha culpa. O sangramento já havia parado, mas as caretas dele denunciavam que seu osso ainda não se remendara completamente.

Pouco a pouco, os outros membros da casa foram chegando. Kylle se sentou ao lado de Astryd e cochicou algo para ela. Minha irmã assentiu e se retirou. Kylle ocupou seu lugar.

– Onde ela foi? - Perguntei.

– Janna disse que apenas os transformados podem ficar aqui.

– Mas Elizabeth está aqui. Ela não pode ter se transformado ainda.

– Também perguntei sobre isso. Ela disse que Elizabeth, Eccho e Janna nunca se transformarão, mas que já atingiram a maturidade. Não deu tempo de perguntar mais porque Rebecca começou a gritar com ela. Algo sobre uma escova de cabelos, se não me engano.

– Certo. Pelo menos Khyra estará com...

– O que você está fazendo?! - Aaron entrou, gritando.

Instintivamente me encolhi diante de seu tom de voz. Até notar que não era comigo que ele estava bravo. Era com seu pai.

– Aaron, nós dissemos que faríamos isso. - William respondeu, sem perder a compostura.

– Você disse que conversaria com ela e não que faria uma Convocação! Isso é ridículo! Ela salvou a vida dele e você sabe disso!

– Aaron, querido, nós apenas vamos fazer algumas perguntas, sente-se por favor. - Theresa disse, tocando-o levemente no ombro.

Aaron se limitou a empurrar a mão dela e continuar gritando com o pai. Ele não era assim. Ele não ignorava sua mãe ou gritava com seu pai. A culpa era minha. Senti minhas mãos se apertarem involuntariamente.

– Ele não precisa fazer isso. - Eu disse para Kylle. - É justo que eu responda o que quer que eles perguntem.

As pontas das garras perfuraram minha mão. Eu não sabia o que havia de errado comigo. Eu estava tensa demais essa semana. A semana toda. Meu irmão se levantou e empurrou Aaron bruscamente, virando-o para si.

– Você pode me odiar o quanto quiser, cara, mas você está estressando a minha irmã e isso nunca acaba bem. De qualquer forma, peço desculpas pelo que vou fazer. Sente-se e cale-se até que eu diga que você pode se levantar ou falar.

Aaron se virou e caminhou até o bano de Katherine e Alec. Ele se sentou ao lado da prima e permaneceu em silêncio, embora sua expressão dissesse mais do que qualquer frase.

– Lunna, sente-se ali, por gentileza. - William parecia tão surpreso quanto o resto da família.

Caminhei até a elevação de madeira e me sentei, aguardando. William caminhou até o outro lado de uma divisória e pediu silêncio à todos.

– Está iniciada a Convocação Geral. São proibidas quaisquer interrupções sob a pena de expulsão da sala. - Sua voz era alta e clara, ecoando pelo local. - Bem, Lunna, o objetivo dessa Convocação é te dar uma chance de nos explicar algumas coisas. Vamos começar com o que acabou de acontecer entre seu irmão e meu filho.

– Certo. - Tomei folêgo para responder. - É o dom de Kylle. Qualquer coisa que ele peça, as pessoas fazem. Imediatamente. Qualquer coisa.

– Imagino que isso tenha sido de grande auxílio quando vocês viviam na rua.

Corei diante da sugestão implícita. Eu não estava disposta a recuar.

– Isso mesmo. Tudo o que Kylle tinha que fazer era pedir, e as pessoas nos davam tudo o que queríamos. Ah, por favor, né? Descobrimos sobre isso há menos de um mês. Foi como conseguimos o trailer.

Se William ficou irritado, ele não demonstrou. Ele nunca demonstrava nada. Era parte de sua aura de poder e intimidação.

– Muito bem. O próximo tópico gira em torno do nariz quebrado de Peter, dos cortes de porcelana em Madelaine e do treino de ontem. Já sabemos sobre Kylle, Astryd, Maeve, Scott, Edwin e Meghan. Qual é o seu dom e o de Khyra?

Olhei para Kylle, que se limitou a erguer os dois polegares para cima.

– Bem, o dom de Khyra funciona mais ou menos como o de Madelaine, mas ela não pode mudar o que vê.

– Você pode ser mais específica?

– Ela lê pensamentos. Os presentes e os passados. Ela pode saber tudo o que você pensou ou sentiu em toda a sua vida. E, já que estamos sendo sinceros, eu acho que ela vai enlouquecer com isso. Sei que ela é grande parte da razão pela qual vocês nos deixaram ficar, mas ela está perdendo sua sanidade.

Era verdade. Khyra não conseguia lidar com seu Dom. Ela precisava de um tipo de ajuda que eu não poderia dar

– Por que ela enloqueceria?

– Bem, ela já não fala muito por causa das vozes que está sempre ouvindo. É pior do que o que acontece com Maeve e Astryd. Elas as vezes não conseguem distinguir as possibilidades e elas sofrem com suas visões. Mesmo as de Maeve a machucam. Elas aparecem aleatorimente em qualquer hora e lugar. Mas com Khyra é pior. Ela está enloquecendo, eu posso sentir isso.

– Bem, Lunna, querida, nós podemos ajudá-las. Com as gêmeas será mais complicado já que elas são Clarividentes, mas, se Khyra é Psíquica eu tenho certeza de que podemos ajudá-la.

– Obrigada, Theresa.

– E seu dom, Lunna, qual é? - O pai de Aaron era insistente. - Clarividente, Físico, Psíquico ou Misto?

– Eu não tenho certeza de que sequer tenho um dom. - A mentira escorreu amarga, mas facilmente por minha língua.

– Nós sabemos que tem Lunna, apenas diga. - William exigiu.

Todos estavam me encarando. Katherine me deu um sorriso discreto, em um tipo silencioso de apoio e Kylle estava mais imóvel do que uma rocha.

Aaron parecia prestes a explodir, preso ao silêncio, enquanto a maior parte parecia indiferente ao que acontecia. Eles apenas queriam saber meu dom. Todos eles. Não deveria ser nada demais. Mas era.

– Theresa! - Me virei para ela. - Jure pela vida do seu filho que, aconteça o que acontecer você vai cuidar dos meus irmãos como tem cuidado até agora.

– Mas Lunna...

– Apenas jure, Theresa. Jure.

Ela jurou. E eu acreditava nela.

Senti as lágrimas escorrem até minha boca, salgando-a. Não havia como voltar atrás. Não havia nada a ser feito além de contar a verdade. E foi o que eu fiz. Falei a verdade.

– Elemental. Meu dom é Elemental.

E então, diante das faces perplexas de todos, eu comecei a minha história. A nossa história.


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Notas finais do capítulo

Espero, do fundo do coração, que vocês estejam gostando. Wolfhardt recebe pouco comentários, mas mesmo assim vocês me incentivam a continuar! Muito obrigada por todo carinho!
~Lena



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