Os Guardiões - Reino dos Elementais escrita por Kai


Capítulo 24
Inimizade Oculta


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura



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Klaus se sentia nervoso. Com a saída de Jack com uma pequena frota de gnomos, ele pensou que sem o salamandra, as coisas iriam ficar mais calmas ou pacíficas, mas por mais que a ondina fingisse, ele ainda percebia nela desconfiança em relação à Rose. Não tinha adiantado tudo a qual o gnomo tinha dito a ela, Suzana continuava não confiando e sendo insegura. O conselho havia se desfeito, e o gnomo tinha concordado que eles deveriam se esconder e estar prontos para se defender. Claro, eram velhos pessimistas e pouco sagazes (com exceção de Alento e Cassius), mas ainda deviam muito a todas as facções gnômicas...como Klaus queria Gaio estivesse no lugar. Obviamente, era muita honra ter sido escolhido como embaixador, apesar da arrogância de Dante ao lhe anunciar a notícia semanas atrás, porém ele se sentia pouco capaz. Por mais que tivesse proposto aos outros leprachauns, antes da chegada de Jack e Suzana, o conselho jamais tinha lhe dado a atenção merecida. Quando Rose falou diante deles, a kitsune tinha sido extremamente convincente, delicada e bela como sempre, eles tinham esquecido até que ela era uma renegada.

Os soldados do castelo ficaram em prontidão em todas as pequenas torres que se elevavam, em meio a neve que caía, os golens pareciam maiores e estátuas prontas para defender o rochedo. Suas sombras faziam a visão dos goblins ficar escura e tenebrosa quando olhavam para as paredes, a cidadela jamais tinha ficado em um silêncio tão perturbador e aterrorizante como aquele, Klaus sabia disto. Depois de ter alertado que deviam começar a procurar pela cidadela onde estaria a relíquia da terra, Suzana opinou que Draupnir poderia ficar nas torres onde a maior parte da riqueza de Waeros estava enterrada (já que ele era vaidoso, e o anel tinha lhe concedido poderes nunca vistos), já Rose disse que a relíquia estaria escondida em algum lugar inóspito como a floresta ou em algum monumento, mas o gnomo sabia o primeiro lugar em que eles deveriam procurar: a biblioteca do castelo.

A kitsune, a ondina e o gnomo se dividiram pela grande biblioteca do castelo de rochedo. A biblioteca, também chamada de hall do conhecimento, tinha numerosas estantes com livros e mais livros datados desde o século 12 e 13, além de pergaminhos e mapas do velho mundo, além de outras peças como armaduras e espadas. Klaus admirava o brilho e a longevidade das armas, com seus olhos verdes e curiosos, até que se lembrou que tinha que procurar alguma pista sobre a relíquia. Ele já tinha visitado a biblioteca, mas nunca a visto por completo, ela era extremamente grande, e pouquíssimos a frequentavam. Rose tinha se transformado em raposa e farejado os livros, o que tornava a procura mais rápida, e Suzana vasculhava os pergaminhos folheando-os. Klaus sabia que a biblioteca era subdividida em quatro fases: Livre, Revolto, Escondido e Oculto.

Na área Livre ficava conhecimento básico sobre os gnomos e sua descendência, o Revolto continha os livros que abrangiam as batalhas e os gnomos de grande nomes (como o próprio Waeros), o Escondido falava sobre os segredos mais vastos e as peculiaridades acerca do conselho, já o Oculto era o único área protegida...

–Nada achei- disse Rose após reaparecer na forma "humana" assustando Klaus -Os livros daqui são tediosos, só falam sobre gorros e as facções- o gnomo revirou os olhos e lembrou que estava sem o seu gorro desde a batalha no Himalaia, ele ainda odiava a tríade negra e seus serviços à Ahura, o gnomo também admitiu que pouco eles tinham achado, então ele chamou Suzana. A ondina parecia não gostar da proximidade de ambos, mas parecia aflita;

–Também não achei nada nos livros em Revolto e Escondido, na verdade, os goblins que supervisionavam lá não pareciam nada agradáveis...alguma ideia?- Klaus sabia que ela ainda achava que deveriam procurar pela cidadela, mas o gnomo tinha uma ideia melhor;

–O conselho pode até não saber exatamente onde está a relíquia, mas os antigos conselheiros sabiam, Paracelso sabia- Rose fez uma expressão de dúvida. Ela estava com os cabelos ruivos soltos e livres, usava o típico vestido branco bordado com rosas ao redor e uma rosa na orelha, o gnomo ainda se levava pela beleza dela. A ondina estava com os longos e lisos cabelos castanhos presos em uma trança de lado, usava calças jeans desgastadas e uma camiseta azul;

–E...?- perguntou Suzana;

–O oculto- falou Rose que já deduzia o que Klaus queria dizer, ela parecia completar as frases dos outros, e estava menos séria e mais próxima dos outros, como se fosse de propósito -É o único lugar que não temos acesso-

–É lá que devemos procurar- advertiu o gnomo.

Os três andaram desconcertados atravessando os degraus e percebendo que a medida que passavam pelos portais, viram que o número de janelas diminuía e um número maior de tochas aparecia em meio a escuridão. Chegando ao quarto e último hall, Suzana retrocedeu alguns passos ao verem dois golens armados que pareciam não olhar para ela tão pouco para a kitsune. Eles sussurraram palavras em irlandês, e Klaus não sabia exatamente o que dizer, ele só conhecia três línguas: o alemão, o latim e a língua comum dos elementais, aparentemente os golens só permitiriam a entrada dele se falasse irlandês. Suzana olhou para ele com relutância e parecia fuzilá-lo com o olhar, o gnomo não sabia o que fazer, ele tentou se aproximar mas os golens tomaram posição de guarnição colocando as lanças na frente da entrada formando um x;

Klaus...– sussurrava Suzana -O que vamos..– antes que o gnomo pudesse responder, eles ouviram os sons de combate. Rose tinha perdido brevemente a paciência e começado a lutar contra os golens. Apesar deles parecerem altos e fortes, eram lentos e não muito ágeis. Rose era uma boa lutadora, o gnomo reconhecia, mas ela parecia mais forte, resistente, como se algo estivesse condicionando sua força. A kitsune concedia socos e pontapés que fizeram um dos golens cair no chão e quando tentou se levantar cambaleou e então Suzana deu de ombros e chutou seu capacete fazendo ela desmaiar. Quando um dos golens rosnou, Rose ousou cuspir fogo em sua forma de raposa nele, e depois o socou fazendo se deparar na parede. O golem começou a fazer pedidos em irlandês por misericórdia, porém ela riu e estalou os dedos fazendo-no cair no chão desmaiado. Klaus estava totalmente impressionado com as habilidades da kitsune, ela parecia mais precisa e fria;

–Vamos- falou a kitsune descendo os degraus entrando no hall do oculto. Klaus e Suzana pela primeira vez se entreolharam surpresas e entraram. O hall oculto era o escuro, havia algumas estantes com livros, mas o que mais impressionava era que as chamas nele presente eram verdes e pareciam ter vozes, um enorme pentagrama abrangia o centro dele, com um altar pronto para que nele fossem feitos alguma espécie de ritual. Um candelabro de cristal estava nele com um grande livro encravado. Os olhos do gnomo pareciam ser atraídos por aquele livro grande com um pentáculo brilhante e sedutor, mas percebeu a armadilha ali presente;

–Um pentagrama- falou Rose;

–Sim. Um pentagrama. Este lugar é sagrado- explicava Klaus -Nossos poderes elementais são tais inúteis aqui quanto se estivéssemos presos com as correntes das masmorras do castelo- Suzana andava pelas estantes observando os livros conflituosa assim como os outros. O gnomo via que os livros eram volumosos e datavam das mesmas épocas dos anteriores, no entanto, vagarosamente lidos, mas cheio de segredos que Klaus jamais tinha visto, como o livro Encruzilhada. Encruzilhada falava sobre todas as armadilhas e selos místicos que protegiam o castelo "até os dentes" por assim dizer, Waeros havia no protegido como se a própria vida dele ficasse em jogo, segundo o livro, a lenda dizia que ele chegara a fazer um pacto na encruzilhada com a renegada conjurada como senhora-de-três-faces, temida pelo seu poder e beleza. Outro livro, denominado Bestas das Trevas, o próprio Paracelso descrevia as numerosas espécies de renegadas. Talvez aqueles fossem um dos únicos lugares do mundo em que ainda restassem livros escritos pelo alquimista chamado de "aborto". Aranhas estranhas serpenteavam as estantes repletas de poeira, quando Klaus notou que diferente dos outros halls, e parecia ter sido usada há anos ou talvez séculos atrás. Deveria ter alguma coisa ali que falasse sobre a relíquia, até que lembrou que tinha trazido uma pequena mochila nas costas a qual continha o diário de Paracelso, e lembrou-se do que tinha visto.

Chamando Rose e Suzana, foram inspecionar o diário;

–O que acha que pode ter aqui que essa parte da biblioteca não tem?- perguntava Rose até que eles leram um fragmento que Paracelso tinha escrito:

"Escura é , e sempre será os segredos e defeitos humanos indistinguíveis de dor e sofrimento. Os círculos lhe cercam, assim como os portais do inferno, mas diferente do conhecido, foi expulso e humilhado por ter descoberto. Querem esconder no oculto aquilo que não pode ser escondido, a luz é vossa assim como as trevas são sua"

Depois Paracelso tinha desenhado um lugar ilustradamente escuro e sombrio, mas com um pentagrama brilhante;

–Isto- repetia o gnomo que parecia chegar perto de alguma conclusão -Paracelso esteve aqui, mas o conselho descobriu e queria que ele fosse expulso pois não era um elemental de sangue puro- Suzana franziu a testa;

–O conselho queria que a relíquia ficasse segura, escondida, em um lugar onde ninguém pudesse entrar e estivesse fora do alcance dos outros- disse ela friamente -Por isso se irritaram com Paracelso?- perguntou a ondina;

–Precisamente- dizia Rose -Isso só nos leva a uma coisa...-

–Aqui fica a entrada para achar a relíquia da terra- respondeu Klaus -Mas Paracelso só ilustrou um lugar, ele poderia ter desenhado ou escrito acerca do conhecimento que achou, mas ele apenas ilustrou o pentagrama- o gnomo tinha deixado o local em que os três estavam, em um canto do hall, e se dirigiram até o centro do pentagrama. Lá, Klaus e Suzana quase cambalearam pois estavam extremamente afetados, quase toda a sua energia elemental parecia estar sendo bloqueada, Rose, por outro lado, andava normalmente, o que deixava o gnomo ainda mais curioso, e a ondina cerrou os punhos;

Klaus ignorou os olhares reprimidos de Suzana em relação a Rose, ele já estava cansado dela ser tão estúpida com a kitsune. Seus olhos se sentiram ainda mais atraídos pelo livro que estava no candelabro de cristal e se aproximou dele, até que sentiu uma energia domá-lo quase que instantaneamente;

–Que livro é...- tentava perguntar a ondina enfraquecida;

–Este é o livro do trevo de 12.000 folhas, forjado e escrita pelo próprio escriba da família de Waeros, o estranho, ele conta sobre toda a linhagem e os segredos acerca do fundador da maior ordem elemental gnômica desde o século em que foi criada: O conselho dos Leprachauns- Klaus não sabia o que tinha dito, ele estava extremamente impressionado assim como Rose e Suzana, o livro parecia irradiar alguma energia que fez suas mãos tamborilarem em busca de folhear as páginas velhas e quebradiças. Seus dedos corriam pelas folhas de papel como se já tivesse lido aquela centenas de vezes, até que depois de muito tempo chegou na última página que parecia estar grava de símbolos ocultos;

–O que é isso?- perguntou Rose;

–É um poema- respondeu Klaus -Em latim- e na folha amarela e descascada jazia aquilo que ele afirmava;

Tueri auderent, paucis dicendum est quid in treval familiam gubernare. Ecce mater eius, contra boream nostrae, quae nostrum genus ac devorabit filios misit. Vera autem mater filium, ex semine spirituali magno sublimis in cujus campis et montibus iacent et fortes esse solus verus. Anulus in occulto, et culta tuo. Qui libere ingrediuntur, sed viae tres lis; via divitibus velle atque compunctus, via latronum mortuoso et facilis et difficile iter gloriosa victoria.

Sanguine adoleat incantatores, et dicere quod mors et commotio brevis securitatem.

O gnomo conseguia traduzir sem esforço, havia passado horas à fio aprendendo latim;

–A família treval deve proteger aquilo que poucos ousariam reger. Eis que a própria mãe do norte se levantou contra nossa casa, e enviou seus filhos para que devorasse nossa raça. Mas o filho da verdadeira mãe, descendente da grande espírita, ergueu dos vales e montes os verdadeiros e guerreiros, para que a mentira ficasse sozinha. O anel é seu segredo, e a guarnição é seu desejo. Para aqueles que entrais, poderão ir livremente, mas por três caminhos terais que passar: o caminho dos ricos, desejoso e contrito, o caminho dos ladrões, fácil e mortuoso, e o caminho dos vitoriosos, difícil mas glorioso.Derramais o sangue, queimai o feitiço, e dizei as palavras: Morte curta e desespero anseio- os três ficaram em silêncio até que Rose levantou a voz;

–Existem três caminhos feitos por Waeros, mas precisaremos fazer um feitiço-

–Com sangue- murmurava Suzana -Sabemos onde isso vai dar. Feitiços que requerem sangue, são...perigosos- Klaus revirou os olhos;

–Que importa? Na Ilha Tartária fizemos o mesmo! a ondina franziu a testa;

–Claro, mas era totalmente diferente. Aquilo era necessário, Ahura tinha assustado a todos, ele havia aparecido no fogo- Rose parecia ter ficado desconcertada com a nomeação do espírito das trevas;

–Não importa- exclamou a kitsune com raiva -Para de agir como uma idiota- Suzana colocou as mãos na cintura;

–Eu, idiota?- a kitsune reprimiu os olhos;

–Sim, você. Acha que não percebo o modo como olha para mim? Acha que eu ainda sou a culpada, que eu sou a "infiltrada", mas você nunca olhou para si mesma. É uma mentirosa. Por sua causa, Katherine está desaparecida! O melhor que tem a fazer é calar a boca!- Suzana parecia ter ficado retraída e ao mesmo tempo frustrada, Klaus tinha percebido isto;

–Vamos fazer o feitiço- falou Klaus, sem ligar para o que a ondina pensaria - Rose, pegue uma das lâminas que os golens carregavam e certifique-se que não acordem- a kitsune entendeu e foi para a entrada do hall. O gnomo e a ondina não trocaram quaisquer palavras até que ruiva voltou com um lâmina na mão direita. Eles arrancaram a folha de papel que tinha o poema escrito e então cada um começou a cortar a mão e fazer o sangue pingar no papel. Klaus e Rose fizeram isso de bom agrado, enquanto que Suzana ainda parecia relutar, mas fez de qualquer forma. Os três deram as mãos e recitaram as palavras em latim;

Denique desperationem et desiderium mortis– Klaus ainda pensava no poema, e imagens surgiam em sua mente: a família de Waeros tinha sido responsável por proteger aquilo que poucos ousariam fazer, e quando a primeira mãe atacou os gnomos virando uns contra os outros, Waeros liderou-nos e causou a vitória, mas também anos de vaidade e orgulho que fizeram os leprachauns se acomodarem em glória. Prova disto eram os ladrões, e os três caminhos criados, talvez o caminho que eles tivessem tomado fosse os dos vitoriosos, mas o gnomo suspeitava que Draupnir não estivesse em um acesso tão fácil assim. Depois que citaram as palavras, Rose estalou os dedos gerando uma pequena chama e abaixou para queimar o papel. O sangue no papel provocou uma chama única e ardente que parecia mudar de cor, até que eles sentiram toda a sala começar a se mover, viram que o teto agora brilhava como o céu noturno e o pentagrama expelia uma luz azul e rangente. Os três começaram a afundar e serem levados para algum lugar.


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Notas finais do capítulo

Obrigado