Os Guardiões - Reino dos Elementais escrita por Kai


Capítulo 23
Papéis e Verdades


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura



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Depois de Rose ter acordado desde que fora infectada pela flor de Quione, Klaus e Suzana evitaram discutir e focaram sua atenção na kitsune ainda levemente danificada. Klaus perguntou a Rose o que tinha acontecido antes dela aparecer diante da cidadela no fim da nevasca, mas a kitsune simplesmente tinha achado o caminho sozinha. Claro, Rose disse que tinha achado o caminho quando ouviu sons de batalha da floresta em que tinha se escondido. Suzana achou que Rose poderia estar omitindo alguma coisa, pois ela ainda não acreditava 100% nesta, mesmo que comprometesse sua amizade com a do gnomo. Porém, quando Rose disse que tinha informações importantes para falar sobre Ahura e Cailleach, Klaus pediu que o conselho se reunisse no salão Magnífico e que ninguém estivesse ausente e que Suzana fosse atrás de Jack, já que os dois ainda não tinham se perdoado, e o salamandra se comportava como uma bomba preste a explodir.

Suzana correu pelos corredores do castelo do rochedo até achar Jack em um canto com o olhar vazio e o vento gélido com a neve que ainda caía soprando em seus cabelos. Quando ela se aproximou, o salamandra revirou os olhos;

–Veio para pedir desculpas?- Suzana cerrou os punhos;

–Não, mas você deveria. Você sabia o motivo de Klaus ter se irritado, ele tem todo o motivo. Não se comporte como se não tivesse sentimentos- Jack a olhou apreensivo e se levantou encarando-a;

–Se ele tem motivos é por sua causa-

–Minha causa?!- quase gritava a ondina, sua voz ficava mais aguda e indignada -Claro, até porque eu planejei que um espírito das trevas quisesse dominar o mundo, fiz uma profecia que quatro adolescentes iriam sair por aí para salvar a humanidade e esqueci que uma delas iria ficar totalmente apaixonada por...- Suzana se calou e olhou para o chão;

–Esqueça o que eu disse, desculpe- ela sussurrou tentado se dirigir para o salão magnífico, quando se virou para trás, Jack a pegou envolvendo sua mão quase em chamas;

–Suzana- ele a chamou depois a puxou para sua direção -Você pede desculpas demais- depois disto Jack a puxou e tocou seus lábios com o dela em uma chama única e ardente, deixando os dois como um só. Fogo e Água. Quente e Frio. Ordem e Caos. Depois que ele terminou, a ondina ficou totalmente sem reação. Ela não sabia o que fazer. Apenas queria bater em Jack por deixá-la ainda mais confusa ou fazê-lo queimar no inferno, mas ele era um salamandra, fogo não o queimava, seu clã já existia e habitava nas chamas antes da ilha Tartária ter sido formada. No entanto, algo de diferente pairava em Jack. Apesar de sua aparência pálida e solitária revelar que não tinha recebido muito afeto, ele parecia mais rebelde, mais impulsivo, alguma coisa tinha mudado.

Suzana e Jack andaram silenciosamente, sem trocar olhares, até o salão Magnífico onde todo o conselho se reunião não em uma mesa de jantar e sim em uma semicírculo elevado alguns degraus acima como se fossem juízes de determinado tribunal. Apenas 3 assentos existiam fora do círculo dos leprachauns, em um deles estava Rose que observava, a kitsune olhou para os dois como se inflamasse rapidamente e voltasse para a estrutura corporal comum;

–Isto é o cúmulo- reclama Alento, um dos principais leprachauns -Mal sobrevivemos a uma batalha, e já quer entrar em outra?- Petrus riu e Cassius afirmou;

–Sabemos onde isso vai dar. Primeiro colocamos a mão para saber se queima, depois todo o corpo é consumido e destruído- Klaus, ao olhar de Suzana, tentava convencer os leprachauns a atacar a primeira mãe enquanto havia tempo;

–Senhores- explicava ele - Estamos ficando sem tempo, e Cailleach é mais velha e perspicaz do que todos nós juntos. Ela enviou nevasca, hags, dagdas e até sátiros que não eram vistos desde a queda do império romano ocidental. O que vai custar que ela mesma destrua Sidh e tome o anel de Waeros?- todo o conselho ficou em silêncio, sem reação. De fato, gnomos de todo o mundo falavam sobre a aparição de grupos cada vez maiores de renegados e consequentemente a destruição de vários monumentos, vilas e templos;

–O que planeja então, filho da luz desonrado?- perguntou Dario com desprezo;

–Só existe um de nós que tem informação que pode nos ajudar a impedir uma guerra que pode estar por vim- ele olhou para os três elementais sentados e apontou para Rose -Ela- Suzana e Jack ficaram surpresos imediatamente quando a kitsune se dissolveu e transformou-se em uma raposa, fazendo Suzana novamente ficar atordoada. Alguma coisa não fazia sentido para ela, como a tinha visto na floresta como se fosse uma hag? ódio? raiva? insegurança? amor...? a flor de Quione só era criada quando ela não conseguia quem amava....não poderia ser Jack, Suzana não conseguia-se imaginar com um salamandra, eles eram opostos, todos sabiam disso. Água e Terra eram um só porque eram físicos, materiais, Fogo e Ar se mesclavam porque eram etéreos e intocáveis, o físico e o etéreo jamais ficariam juntos.

Chegando perto do conselho em sua forma "humana" Rose se apresentou. Suzana lembrava-se das palavras de Rhal: ela era a última kitsune, a última de sua espécie, a última elemental do fogo renegada viva;

–Antes da batalha acontecer, eu e Katherine havíamos fugido para a floresta infelizmente por motivos pessoais, e acabamos por nos perder, andar em círculos, brigamos, até que eu resolvi voltar para a cidadela Sidh. No meio do caminho, ouvi três dagdas ajoelhados diante de uma grande chama a qual uma voz antiga e maldita lhes dava ordens- Rose respirou fundo como se estivesse puxando a memória para a superfície, Suzana sentia alguma indiferença do conselho em relação ao seu discurso -Ela era chamada de mãe das primeiras bestas, rainha das fadas, senhora detentora da morte, protetora do norte, e dominante do inverno. Cailleach era o seu nome. Ela está reunindo seu exército desde os confins do polo norte até os portões do grande abismo, suas promessas incluem matar os filhos da luz e provocar a queda do Reino dos Elementais-

–Em outras palavras- dizia Klaus -Ela vai fazer o que for preciso para destruir tudo- Mesmo que Suzana tentasse, ela não conseguia depositar sua confiança em parte no que Rose dizia, a kitsune estava diferente, alguma coisa irradiava dela, e não era nada boa;

–Waeros derrotou a primeira mãe com a relíquia- dizia Cassius -E esta protege seus guardiões. Nós leprachauns sempre fomos os guardiões e nada nos aconteceu-

–É o que vocês acham- dizia Rose -Cailleach não está sozinha. Bem vocês devem saber que Ahura está do lado dela, o espírito das trevas, e ele é muito mais poderoso que ela- Suzana sentiu calafrios e tudo parecia te ficado apenas ao mencionar o nome dele, na realidade, por algum motivo seu verdadeiro nome era Utah;

–Devemos atacar- advertiu Jack em alta voz -E cercar todo o perímetro de Sidh evitando que cheguem perto, inclusive impedindo a saída de quaisquer elementais- A ondina sabia o que ele queria dizer, Jack queria salvar Katherine, impedir que ela fosse capturada pelos seguidores de Ahura e Cailleach. Rose abaixou os olhos demonstrando algum sentimento e continuou como se lesse os pensamentos de Suzana;

–Depois que os dagdas perceberam a minha presença, eles atacaram-me e disseram que iriam sacrificar meus ossos para a deusa do norte, até que alguém defendeu-me. Katherine apareceu lutou contra eles, mas foi arremessada contra uma árvore, foi sufocada e jogada nas chamas- Jack parecia ter recebido um soco na cara, ele estava sem reação, seu rosto tinha desconfigurado, e tudo parecia ter perdido o sentido;

–Ela.. está...- tentava perguntar Dario, como se aquilo lhe divertisse;

–Não- repreendeu Rose -As chamas não a mataram, ela foi...engolida, se posso assim dizer, levada par algum lugar. Como uma refém. Querem usá-la como isca ou..-

–Em troca do anel de Waeros- disse Jack com frieza. Ele sentou na cadeira mesmo com o olhar de Suzana vidrado nele. A ondina não conseguia acreditar em qualquer uma das palavras de Rose, uma voz dizia em sua mente que deveria fazer algo, porém ficou paralisada. Ela não queria estragar mais nada, não queria destruir aquilo que tocasse;

– Isso já é o bastante para incitar uma guerra- concordou Alento, pela primeira vez. Ele parecia ter se convencido com o discurso da kitsune. Todos estavam convencidos, a não ser Suzana - A primeira mãe tem um exército, conta com uma refém e tem um objetivo- Cassius olhou seriamente para os únicos três filhos da luz ali presentes, ele entendeu que Katherine não era uma elemental qualquer, ela era um sílfide, todos sabiam que gnomos e silfos possuíam uma certa rivalidade e problemas diplomáticos, se a garota morresse, ele teria que justificar para o Paralda, além disto ela era uma filha da luz;

–Que assim seja- terminou Dario -O conselho deve agir a favor da causa, Sidh conta com uma frota de quantos soldados? 348? 315?- perguntava o leprachaun que fazia pequenas pedras flutuarem e tomarem formatos variados;

–Creio que nem 348 e 315, Dario- dizia Petrus -Muitos fugiram e foram mortos, contamos com apenas 110 soldados nos muros, 28 no castelo, e 15 que patrulham o percusso do rio que segue o rochedo- Suzana não entendia exatamente de guerras ou de cidades, mas os números eram pequenos demais para uma possível batalha;

–Não temos gnomos suficientes, fora os súditos que provavelmente não sabem lutar- reclamou Petrus;

–Não precisa-se de mais soldados- falou Klaus -Temos algo muito mais poderoso que eles não têm: a relíquia da terra- depois daquilo, o conselho começou a discutir quantos homens seriam liderados em uma cruzada até o lado sudoeste da Irlanda em que a primeira se encontrava ainda tentando erguer-se por completo. Klaus estava certo. Se ela estivesse realmente com todo seu poder e vigor, teria atacado pessoalmente. No total, apenas 25 soldados gnômicos iam já que os muros e a cidadela precisariam estar protegidos. Rose questionou acerca da liderança e peguntou quem faria responsável por tantos soldados que raras vezes tinham saído, quando Klaus pensou em se auto-indicar, Jack disse que se a primeira mãe estaria com Katherine, era responsabilidade ir em busca dela (já que eram primos). O salamandra saiu do conselho trocando o último beijo com Suzana antes de pensar em partir, e foi se reunir com o exército. A ondina demonstrava-se preocupada, a espírita da água tinha alertado e Klaus ainda afirmado que eles estavam se separando, se distanciando cada vez mais.

Depois de tomarem as últimas decisões, o conselho definiu situação emergencial e que todos soldados que ficassem na cidadela deveriam estar em seus postos, enquanto que Klaus, Rose e Suzana tentariam achar Draupnir, o anel de Waeros.

*****

Jack saiu do castelo pensando apenas em Katherine. Ele se sentia culpado por tudo e todos. A culpa era dele, somente dele. Além de não saber quais eram seus reais sentimentos, sentia que uma parte dele agora estava longe: sua prima, sua sílfide. Fora ela que tinha lhe salvado, ela que tinha lhe tirado da vida menosprezante e desmerecedora que tinha antes, agora era dever dele salvá-la. Seus cabelos pretos lisos estavam salpicados com a neve que descia levemente, sua pele estava pálida e seus olhos pareciam ser mistos de sofrimento e raiva. O salamandra pensou que Fang estaria com Rose, ou com as cocatrices do castelo, mas a fênix tinha vindo com ele até o espaço branco que agora se definia como o rochedo. Talvez o único animal que Jack já tivera tinha se demonstrado fiel e indissolúvel quanto a isto, Fang também queria achar Kathe.

Toda a cidadela de Sidh se preparava para uma possível batalha ou um confronto que jamais tivessem presenciado. Os golens de rocha erguiam-se no rochedo aumentando sua estatura com lanças em punhos, prontos para proteger o castelo, enquanto que os soldados gnomos com suas armaduras prateadas e penas verdes, além dos brasões do conselho dos leprachauns, eles pareciam ser fortes, orgulhosos, mas misericordiosos de alguma forma para aqueles que não debatiam seus atos e opiniões, Jack tinha conseguido encorajá-los para batalha não pelos muros ou pelas construções, e sim por aqueles que nelas habitavam: os conselheiros, a relíquia, os gnomos que vieram ao "festival" anual e até os próprios elementais da terra que já habitavam a cidadela antes do conselho se apropriar dela.

Não seria uma batalha por muros e armas, seria uma batalha pela paz. Os soldados gritaram brandindo suas lanças com os escudos amarrados às costas e foram até a torre do grifo, a única construção existente que ficava perto da floresta. Ela era grande, impetuosa, e parecia ter inscrições rúnicas em suas lápides. Dentro dela, o arsenal de armas elementais e suprimentos para guerra estava disponível para os soldados (lanças de pedra, dardos de Mandrágora, arcos-flechas e até espadas de ferro) e animais que piavam insistentemente em suas jaulas.

Fang voou até as jaulas instigando Jack que a seguiu e viu que haviam animais parecidos com águia, quase fortes como leões mas que eram esguios e ágeis. Perguntou a um dos soldados, um gnomo niggey moreno com cabelo crespo e olhos cor de âmbar, se eram grifos, mas ele respondeu que eram hipogrifos. A torre do grifo tinha recebido aquele nome porque Waeros havia roubado uma das bestas de Cailleach e tentado domesticar, um grifo, mas ele era teimoso e fugia insistentemente de sua torre e engravidava as éguas dos soldados da cidadela. Depois que Waeros era velho e percebeu que o grifo parecia liderar os hipogrifos e encorajá-los a fugirem como ele, matou-no com suas próprias e acabou morrendo com seu próprio orgulho.

Mesmo com a relutância dos soldados, o salamandra disse que soltassem os hipogrifos e lhes utilizasse como meio de transporte para ir até Ceann Cailly, uma região conhecida na Irlanda como "Cabeça de Bruxa", lá Cailleach e Ahura estariam com seu exército e Katherine aprisionada. Depois que Jack e os soldados saíram torre, eles e os hipogrifos alçaram aos céus indo na direção sul das Falésias de Moher, Jack não foi em um hipogrifo, ele voava com Fang, em seu poder de fogo máximo e vasto. Ele não queria deixar que as trevas vencessem, o bem deveria prevalecer.

A neve fria e devastadora aumentava a sua intensidade quanto mais se aproximavam de seu destino.


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Notas finais do capítulo

Obrigado