14 – Coisas indesejáveis acontecem.
Anne McField.
Nova York – 25 de dezembro.
De manhã pude perceber o sol batendo na janela... com alguns resquícios úmidos... não. ERA NEVE!
- Neve! – eu gritei e assustei Alec, olhando para cima de maneira pensativa;
- Anne... – ele disse em meio á gargalhadas.
- Olhe Alec! É neve... – eu estava correndo para perto da janela.
- Pegue uma roupa peladona... – ele zombou. E assim me jogou minhas roupas. Ele já estava vestido.
- Vamos... temos que curtir um dia cheio de neve! – o êxtase me castigava.
- Não estou afim... não curto muito o que é assim gelado – ele deu de ombros.
- Pois então eu vou sozinha... – empinei o nariz.
Meu celular tocou.
- Alou? – disse ao atender ainda meio sonolenta;
- Anne!? Por onde andou? – era Mama, estava exclusivamente preocupada.
- Hm... ontem a noite... eu vim para o apartamento do Alec, e acabei passando mau... acho que deve ser o big big burguer, que eu comi a tarde... – menti numa voz enjoada.
- E por que não ligou? – ela me botou em um cano.
- Eu não parava de vomitar, mama... foi mau. – eu mordi o lábio com o celular na orelha.
- Tudo bem querida... mais era uma tradição. – ela se lamentou.
- Mama... eu estava passando mau, hello? – disse num tom chato.
- Tudo bem, tudo bem. Ao menos vamos estar no ano novo, na formatura. Todos juntos... mais está melhor? – ela não parava de se preocupar.
- Sim mama... sem problemas... Alec vai me levar pra casa agora. Não vai me deixar lá sozinha, até que eu esteja 100%, ok? – disse para acalmá-la;
- Sim... eu vou ligar pra você de 5 em 5 minutos, para ter certeza que está bem... – ela disse meio pensativa.
- Não precisa tanto, mama... – bufei. – Té mais, mama... – desliguei o telefone. E assim percebi como Alec me olhava.
- Um pouco encrencada... – ele me beijou.
- Até parece... eu sou craque em enrolar a mama... – mostrei á língua.
Um minuto de silêncio no apartamento gelado, nos acolheu. Com nosso olhos ligados, minhas mãos em palmo, se conectaram com as maças de seu rosto...
Alec Volturi
Nova York - 25 de dezembro.
Ela estava a minha frente. Olhos colados com os meus, suas mãos nos lados de meu rosto e um sorriso tímido em seus lábios. O silêncio emanava de nós.
Sua expressão se desmanchava, os olhos fitavam o nada que existia entre nós dois, seus olhos se arregalavam e Anne desaparecia deles.
- Anne? Está tudo bem? – perguntei afoito.
- Olhos vermelhos... – ela dizia desenfreada. Ela não respondia. – ódio. Dor. Vingança... ela deseja... morte... SUA morte... Renata... a quer de volta. Medo; ela a quer... Renata... – não era mais a voz de Anne. Era algo que falava por ela. Eu não encontrava Anne nela.
- Anne? – clamei com desespero.
- Alec... – pude ouvir mais uma vez a voz mais calma de Anne.
- Você está bem? – perguntei entre soluços de desespero.
- Alec... eu... eu... – ela caiu em meus braços. O corpo flácido e sem vida.
A segurei e a ajeitei na cama.
- Anne? – eu chamei no pé de seu ouvido.
- Alec... – ela suspirou com a voz fraca e chorosa.
- Eu estou aqui... o que houve? – perguntei em meio ao alívio que me tomava.
- Eu tenho intuições... coisas sobrenaturais acontecem comigo as vezes... – ela riu ainda demonstrando fraqueza.
- É... se namorar com um vampiro faz parte delas... – sorri.
- É... a menor parte delas é isso. Eu sofro com essas visões desde pequena. – ela tentou se sentar.
- Não... esta muito fraca ainda... – segurei-a deitada.
- É um mal passageiro. – ela sorriu.
- Isso me lembra minha vida humana... – suspirei.
- Como assim? – ela abriu os olhos e percebi a palidez que a cercava.
- Eu... tenho um dom. lembra da vez em que eu te salvei de seu ex? – a lembrei da noite em que eu libertei a fera que eu escondia.
- Lembro... mais não do seu dom... – ela forçou a se sentar;
- Eu posso tirar todo e qualquer sentido de minha vítima. Eu tiro sua energia vital, compreende? – sorri e afaguei seu cabelo, mais minha expressão se desmanchou. – e assim me tornei um assassino... – disse me menosprezando.
- Você não é um assassino... você me salvou lembra? – ela sorriu e levantou meu rosto.
- Eu não posso apagar meu passado, Anne. Eu matei... eu iria matá-la. Lembra-se daquela noite em que minha piedade foi maior que tudo... – fitei seus olhos.
- Mais você teve piedade, Alec; você não me matou... – ela sorriu e percebi uma lágrima escorrendo de seu rosto.
- Mais de quantas pessoas inocentes eu não tive? – fui mais ríspido do que realmente quis.
- Alec... você teve coragem de mudar, não teve? – ela ainda tentava encontrar uma solução para meu problema.
- Não há como eu voltar atrás, Anie... – bufei. – mais vou estar do seu lado... para me redimir no que puder...
- Faça isso... e me fará a mulher mais feliz do mundo. – ela riu.
- Sempre... – gargalhei.
- Então... qual é o lance de ser vampiro? – ela sorriu mais uma vez.
- Como assim... “qual é o lance”? – ri.
- Qual as vantagens, o que é ser um, como é, qual seu nome de verdade, sua irmã é vampira? – ela me encheu de perguntas.
- Bom... somos mais rápidos, mais fortes, indestrutíveis, não respiramos, e não comemos... respondendo a segunda; ser vampiro é ser um sugador de sangue... ter que beber para viver, respondendo a terceira; ser um vampiro é não poder estar sobre o sol, respondendo a quarta; sim. Jane é vampira e ela tem o dom inverso ao meu. Ela pode causar a dor nas pessoas. Mais apenas mentalmente... e falando nisso. Fomos transformados para controlarmos esse dom melhor... e isso nos leva a você; o que é que você sente... o que é que acontece com você? – suspirei.
- Eu... não sei bem.. mais basicamente quando encosto e estou concentrada em uma pessoa... eu consigo ver o seu futuro. E assim foi com você; e falando nisso.. eu vi. Eu vi Renata. – ela exasperou com a voz séria e dolorida.
- Ah não. – eu joguei as mãos á meu rosto.
- Você a conhece? – ela estreitou os olhos e franziu o cenho.
- Sim... – bufei.
- Como? – ela se levantou.
- Lembra-se da noite em que você me viu com os olhos vermelhos? – engoli seco; ela assentiu – então... foi a noite em que Aro, o líder vampiro a buscou. Ele a transformou em vampira. E hoje é a proteção de Aro... – engoli seco mais uma vez.
- E por que eu a vi beijando você, a força? – franziu o cenho.
- Eu e elas... éramos namorados... – cuspi e não a me permiti olhá-la.
- Por que não me contou? – ela exasperou.
- Não importava... e ainda não importa. Eu nunca a amei. Nunca foi como é agora. Você é única pra mim, dá pra entender? – berrei.
- Eu sei, Alec... mais as vezes... parece que não confia em mim. – ela disse chorosa.
- Existiam segredos que eu não desejava que você soubesse... – pausei – como o de ser um vampiro. – engoli seco.
- Tudo bem... eu apenas quero saber... ela está bem? – pude ouvir a preocupação fluindo de suas palavras.
- Sim. Ela apenas ficou chateada, quando eu fui embora. Mais Demetri está com ela... – olhei ao lado e sorri.
- É bom que ela esteja bem... – o alívio a inundou.
- Acho melhor irmos para sua casa... não acha? – ela sorriu e se levantou da cama. Em algum lugar dalí, se agasalhou e escolheu uma roupa para mim. Eu me vesti mais rápido que ela – para variar – e descemos..
A recepcionista nos acolheu com um suave “feliz natal”, e assim respondemos.
- Quer passar em alguma loja pra comprar um café bem “natalino”? – ofereci.
-Não... eu realmente quero ir para casa; - ela sorriu e nos abraçamos pelo caminho nevado, e apreciando a minha pele exposta ao ambiente natural.
Logo chegamos a casa de Anne.
- Tem certeza que não está com fome? – perguntei abrindo a porta.
- Estou com fome de você... – ela empurrou a porta com o pé e me agarrou ali mesmo.
- Vai com calma, humana; - zombei e ela mordeu meu lábio.
- Ah... não me venha com essa vampiro... – ela deu de ombros e me derrubou em seu sofá. E arrancou meus casacos sujos de neve.
- Você está muito saidinha, pra quem está doente, não é mesmo? – girei seu corpo com o meu. E assim estava acima dela. Ataquei seu pescoço. Mordisquei de leve, e assim distribuí longos beijos a arrancando suspiros. Tirei sua roupa cheia de neve, e atirei-as longe de nós.
A cada segundo, criávamos uma bolha ao nosso redor... e nossa união se tornava cada vez mais completa.
- ANNE LOUIS MACFIELD! – ouvi uma voz feminina assustada e furiosa.
- Daisy ... – Anne fechou os olhos e se levantou – Nunca ouviu falar de uma coisa chamada campainha? – eu ainda estava deitado no sofá escondido da garota que acabara de chegar.
- EU SABIA! EU SABIA! ELES TÃO SE PEGANDO! ESSE ALEC E A ANNE! ELES TÃO SE CATANDO! EU SABIA! – ouvi uma voz masculina gritando como uma criança que descobriu um segredo.
- Cala a boca, Cony! – era a voz de Anne levantada. – Alec... levanta. – Anne mandou.
E assim o fiz. Ajeitei meus cabelos e me escondi atrás de Anne.
- Anne o que...? – a garota loira perguntou estupefata.
- Olha Daisy, eu não assinei nenhum contrato com o Chowder. Ele é meu irmão! Qualé a sua? – ela berrou.
- Você deixou-nos plantado na ceia de natal... pra ficar com esse aí? – apontou pra mim.
- Ah... e por acaso vocês decidem com quem eu devo ficar? – falou ríspida.
- Não... mais ao menos poderia nos contar a verdade! Que preferia ficar com seu novo “ficante” do que com sua família... – cuspiu.
- Não foi bem isso que aconteceu... – ela disse num sussurro. – Venha... vamos conversar longe deles... – disse Anne estendendo a mão á outra garota.
- Fiquem aqui... – a menina loira me olhou de uma forma cortante. E assim elas forram para adentro de outros quartos.
- Então... você tá mesmo com a Annie? – o garoto loiro, se jogou no sofá como se estivesse em casa.
- É... eu acho que sim... – sorri e me sentei em seu lado.
- Connor Hells – ele estendeu a mão num gesto amigável.
- Alec Manford – apresentei-me também.
- Há quanto tempo... você e Anne... sabe... sabe comé né? – ele riu e me deu um soco no ombro.
- Acho que mais ou menos um mês... – sorri e olhei pro canto da sala.
- Você é um cara de sorte., mermão... – ele riu.
- É... Anne é incrível... – senti a aceitação de sua parte. Ele gostou de mim.
- Bom... eu espero que cuide bem dela... ou eu arranco seu pescoço mano... – ele sorriu torto.
- Claro... ela é a coisa mais importante pra mim agora. – arrepiei meus cabelos.
- Então bem vindo á família, amigão! – ele me deu um daqueles abraços masculinos e confesso que fiquei meio perdido com aquilo.
- Obrigada, Connor... – sorri.
- Connor não. É Cony, pros amigos e cunhados... – ele riu de novo.
- Então... ok. Cony... – zoei-o.
- Ela anda mais feliz ultimamente... deve ser com quem ela está passando o tempo... – ele ficou pensativo.
- é... eu também fico mais feliz com ela... – ri.
- Bom... eu acho que ela não passou mau ontem á noite, não é? – ele me deu uma cotovelada e falou maliciosamente.
- Ahn... é. Estamos fazendo outra coisa... – segurei uma gargalhada.
- AH MULEQUE! – ele me socou numa seqüência.
- Hoho...- eu tossi.
- Cara... você tirou a santa do altar! – ele gargalhou alto.
- Não era essa minha intenção... – cocei a cabeça.
- Você tome cuidado... tem gente de butuca na sua gata... – ele mudou o tom brincalhão para sério.
- Quem? – a pergunta pulou de minha boca.
- Bom... Chowder... ele sempre gostou de Anne. E é nosso irmão. Ele está disposto a arriscar a vida por ela, brother... – engoliu seco.
- Ela que fará a escolha... – suspirei um pouco enrijecido.
- Ele a beijou á uns dias atrás... – ele não conseguiu me olhar.
- Não posso fazer nada quanto á isso... mais não vou mais deixar Anne ao lado desse cara, ao menos sozinha... – mordi o lábio.
- Faz muito bem mano... – ele suspirou.
- Alec... – ouvi a voz da garota loira. – Desculpe meu mau modo. Sou Daisy. Irmã de Anne. Estou um pouco atordoada com tudo isso... mais... bem vindo á família! – ela sorriu na soleira de uma porta.
- Daisy... agradeço muito. – me levantei.
- Agora vamos, Connor... – ela caminhou sorridente até o sofá. E num relance mandou um olhar malicioso á Anne. As duas riram num mistério.
- Até formatura, brother! – o garoto simpático... meu cunhado... se levantou e caminhou com Daisy.
Saíram da casa e nos olhamos.
- Foi por pouco... – suspirou Anne.
- Adorei esse seu irmão... mais detestei o tal Chowder... – cuspi com uma careta.
- Você não é o único que odeia, entre vocês dois... – ela me agarrou.
- Que tal continuarmos de onde paramos? – questionei malicioso.
- Bora... – riu.