As Sete Coisas escrita por maguita


Capítulo 7
Parte II - Amor: I - Cabelos


Notas iniciais do capítulo

Começando a Parte II, povo! Capítulo fresquinho, acabou de sair do forno porque eu não brinco o Carnaval, haha.

Créditos a Dimitri Dalf pela ideia de fazer a Lílian tomar a iniciativa aqui :3

Espero que gostem, boa leitura!



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Parte II - Amor

I
Cabelos





Se alguém dissesse a Lílian Evans que no sétimo ano ela sairia com Tiago Potter, a garota teria rido com vontade, porque aquela seria a coisa mais absurda que poderia ser dita. Se a mesma pessoa dissesse que a ruiva é quem faria o convite, Lílian teria mandado internar no St. Mungus, porque com certeza a pessoa estava sofrendo os efeitos de alguma poção maléfica. Afinal, aquilo não tinha a menor chance de acontecer, em universo algum. Mesmo que, durante o sexto ano, Potter tivesse apresentado mudanças significativas no comportamento – não armava mais escândalos com Snape na frente da ruiva, não fazia mais cenas patéticas a cada vitória no quadribol, não se pavoneava a cada elogio que recebia. Também parara de provocá-la o tempo todo e passou a chamá-la somente de “Evans”.

Para Lílian, aquilo havia sido um peso tirado dos ombros. Nunca tivera um ano tão tranqüilo em Hogwarts como fora seu sexto ano. Continuava sendo uma das melhores alunas, continuava sendo amiga de Remo e até conseguia conversar com Black como uma pessoa normal – embora tais conversas acontecessem muito raramente.

Ela também nunca admitiria, mas foi na metade do sexto ano que começou a prestar mais atenção em Potter. A primeira coisa que notara foi como os cabelos dele pareciam ter vida própria, mas coexistiam em perfeita harmonia com o garoto. Lílian percebeu que aos poucos Tiago parou com aquela mania ridícula de assanhar os fios negros de propósito, e não pôde deixar de ficar surpresa quando se viu contente com aquilo.

Ela gostava, especialmente, quando o vento os sacudia para todos os lados e, depois, eles se assentavam lentamente na cabeça do garoto, mas continuavam um tanto bagunçados. Isso acontecia frequentemente quando ele desmontava da vassoura após um jogo, sorrindo de orelha a orelha, segurando o pomo com firmeza na mão.

Talvez por coincidência, foi exatamente nessa situação, após o primeiro jogo de quadribol do sétimo ano, enquanto todos se dirigiam de volta para o castelo para comemorar (no caso da Sonserina, lamentar) a vitória da Grifinória, que Lílian andou calmamente até Tiago, alcançando-o antes que ele deixasse o estádio. Por algum motivo que o garoto desconhecia, a ruiva estava sozinha.

Tiago ainda segurava a vassoura na mão direita e seus cabelos estavam um pouco mais bagunçados porque o time inteiro se jogara nele quando ele capturara o pomo. Fora uma confusão de uniformes vermelhos, gritos e mãos atacando seus fios negros, mas ele não se importara. Lílian se perguntou por que aquilo lhe dava uma vontade ridícula de sorrir, mas conseguiu manter uma expressão cordial no rosto, enquanto Tiago a encarava curioso.

“Oi Evans”, ele sorriu minimamente, tentando não aparentar o nervosismo que o atacara de súbito.

“Oi. Foi um bom jogo”, Lílian imitou seu gesto, e Tiago precisou de todo o seu autocontrole para não fazer nada estúpido por causa da alegria.

“Obrigado”, ele alargou o sorriso. Abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas hesitou. Lílian não conseguia imaginar o que se passava na cabeça dele, mas também não se preocupava com isso. Naquele momento, uma brisa dançou entre eles e os cabelos de Tiago esvoaçaram um pouco antes de voltarem a se assentar do jeito que a encantava há meses.

Talvez esse tenha sido o gatilho para as palavras que saíram da boca da ruiva. Ela não percebeu o que estava fazendo até ver Tiago arregalar os olhos em surpresa, e só então ouviu a própria voz, num tom casual:

“Escuta, você não quer... sei lá, ir a Hogsmeade comigo semana que vem?”

Houve um momento de silêncio em que nenhum dos dois monitores-chefes acreditava no que havia acabado de acontecer. Lílian conseguiu, com muito esforço, não corar. Tiago piscou três vezes e abriu a boca algumas vezes mais antes de finalmente articular uma resposta, sentindo-se idiota por demorar tanto.

“É... é sério?”, perguntou, tentando não parecer esperançoso ou incrédulo demais.

Lílian baixou os olhos, xingando-se mentalmente por não ter se controlado a tempo. Se aquele convite fosse feito por ele há dois anos, ela provavelmente teria lançado um feitiço em Potter e se afastado imediatamente. Mas durante o sexto ano, ela vira que o garoto mudara de verdade e, por Merlin, vinha prestando atenção nele há meses. Por mais que não admitisse para ninguém, estava se interessando por Potter – tanto que fizera o convite quase inconscientemente.

Então, por que não?

Lílian sabia que por que não?, não era uma justificativa válida para fazer o que quer que fosse. Mas ninguém dissera que ela seria obrigada a repelir Potter pelo resto da vida. Quando voltou a erguer os olhos, deparou com a expressão que Tiago se esforçava para manter neutra e despreocupada, mas que não escondia toda a expectativa do garoto.

“É. Pode ser legal”, disse ela, por fim. “O que me diz?”

“Ah, eu vou, claro!”, Tiago chutou-se mentalmente por parecer animado demais, mas não era segredo para ninguém que ele sonhava em sair com Lílian desde o quinto ano. A garota sorriu minimamente.

“Encontro você na frente da Dedosdemel depois do almoço.”

Tiago assentiu, fazendo o possível para esconder sua incredulidade enquanto Lílian se encaminhava para fora do estádio. Alguns minutos se passaram com ele parado ali, até que a ficha caiu: ele, ele, Tiago Potter, finamente ia sair com Lílian Evans! E, talvez a melhor parte, ela que tinha feito o convite! Beliscou-se para ter certeza de que não estava sonhando, e quando sentiu uma dor aguda no braço, não pôde conter as risadas e os gritos que pularam para fora de sua garganta enquanto ele mesmo pulava de um lado para o outro no campo vazio de quadribol.

“Lílian, se você sabia que ia se arrepender de fazer isso, por que convidou Potter para sair?”, perguntou Marlene pela milésima vez naquela semana. A morena já estava ficando impaciente com o comportamento da amiga, que desde o domingo já mudara de ideia tantas vezes que não sabia mais o que fazer.

“Eu não queria dizer nada, quando percebi, já tinha falado!”, exclamou Lílian, abraçando o travesseiro. “E agora?”

“Bem, agora você sai com ele, ué”, disse Dorcas, encarando a ruiva como se fosse óbvio. “Convenhamos, Lílian, se você o convidou, é porque queria sair com ele. Vai lá, tenha um ótimo dia e depois você pensa se valeu a pena ou não.”

“E nos conta tudo, é claro”, completou Marlene, com uma piscadela.

Lílian assentiu, hesitante. Então Marlene arrancou o travesseiro de suas mãos, ignorando os protestos da ruiva, que ainda não trocara de roupas. Continuara usando sua camisola florida, como se tivesse esperanças de continuar na segurança do dormitório. Poderia ter funcionado, se suas amigas não estivessem com ela. Dorcas revirava suas roupas, escolhendo o que ela devia usar para ver Potter, e Marlene se armara com uma escova e liga para arrumar os fios ruivos numa bela trança.

Quando Lílian percorreu as ruas de Hogsmeade até a Dedosdemel, ainda tentava se convencer de que estava sonhando. Seu vestido balançava suavemente na altura dos joelhos quando o vento brincava à sua volta, sussurrando em seus ouvidos que aquilo estava acontecendo de verdade. Ao avistar Potter parado a alguns passos da porta da loja, Lílian desistiu de discutir consigo mesma. Seguiria o conselho de Dorcas e aproveitaria o passeio.

E seja o que Merlin quiser.

Tiago sorriu para ela quando a garota parou ao seu lado. O nervosismo de Lílian não era nada comparado ao rebuliço dentro de Tiago. Ele passara a semana toda imaginando o que poderia acontecer naquele sábado, se a ruiva realmente apareceria, se ele conseguiria não ser um idiota na frente dela (“Aí você já está pedindo um pouco demais, Pontas”, dissera Sirius, arrancando risadas de Remo e Pedro e recebendo um olhar furioso em troca. “Ser imbecil na frente de Lílian é parte da sua natureza, cara.”), e se haveria outros encontros no futuro.

Talvez ele estivesse com cara de idiota olhando para Lílian, porque a garota franziu o cenho, preocupada e agitou a mão na frente dos seus olhos. “Ei, Potter?”

Tiago piscou algumas vezes, pigarreando e se xingando mentalmente.

“Desculpe, é que você está tão linda”, disse ele, antes que pudesse se controlar. Lílian corou levemente e Tiago sorriu. “Oi.”

“Oi...” Lílian olhava para o chão, um tanto constrangida.

“Então... você planejou alguma coisa para fazermos, ou...”

“Na verdade não”, a garota piscou algumas vezes e voltou a olhar os sapatos. Tiago não conseguia parar de olhá-la. “Podíamos só andar por aí um pouco e decidir o que fazer, o que acha?”

Tiago assentiu e os dois começaram a andar. Os primeiros minutos foram ligeiramente desconfortáveis, visto que nenhum dos dois sabia o que dizer para iniciar uma conversa. Lílian começava a se sentir estúpida por ter sugerido que saíssem, afinal nunca havia falado com Tiago por mais de cinco minutos sem que os dois acabassem brigando. Ele parecia pensar a mesma coisa, porque soltou uma risadinha e disse num tom divertido:

“Quem imaginaria que um dia nós estaríamos nessa situação?”, quando Lílian olhou para ele, continuou: “Honestamente, achei que não íamos parar de brigar nunca.”

“Ah, eu também”, disse ela, encolhendo os ombros. “Ainda é um pouco estranho, na verdade”, completou, e Tiago teve que concordar. Mais alguns minutos de silêncio seguiram, embora desta vez não tão desconfortáveis quanto antes. Os dois faziam o possível para ignorar os colegas de Hogwarts e habitantes do vilarejo, que não faziam questão de esconder a surpresa de vê-los juntos. Muito pelo contrário, falavam em vozes altas e claras, quando passavam por eles:

“Aqueles são Potter e Evans?”

“Não pode ser, eles não se suportam!”

“Mas estão andando juntos! Será que ele a enfeitiçou?”

“Talvez ela tenha perdido alguma aposta...”

“Não seja idiota, Evans não faz apostas! Tenho certeza de que ela não está bem!”

Lílian, apesar de fingir não estar ouvindo nem percebendo a movimentação, estava ficando cada vez mais vermelha. Tiago exibia um leve rubor no rosto também, e fez o que pôde para engolir seu orgulho e resmungar para que apenas a garota ouvisse:

“Nossa, até parece que eu forçaria você a sair comigo. Obrigado, pessoal.”

“Talvez não devêssemos ter vindo para cá. É claro que todos iam ver”, Lílian tinha um pedido mudo de desculpas no olhar, que Tiago dispensou com um aceno. “Se você quiser, podemos ir embora.”

“Não, não precisa. Tem uma vantagem em ser um idiota narcisista, sabia?”, o garoto sorriu travesso e piscou de modo cúmplice para Lílian, que apenas aguardou curiosa, ignorando uma pontada de culpa ao reconhecer o apelido que ela mesma criara para Tiago. Então ele tomou fôlego e falou tão alto quanto os passantes: “É isso mesmo, eu estou num encontro com Lílian Evans, e não precisei enfeitiçá-la para isso! Morram de inveja e nos deixem em paz!”

“Potter!”, embora quisesse parecer séria e estivesse tão vermelha quanto seus cabelos, Lílian não pôde evitar sentir uma pontinha de satisfação ao ver o choque das pessoas ao redor. Tiago a conduziu para dentro da Zonko’s e o vento que acompanhou a porta se fechando bagunçou um pouco seus cabelos.

Ele ergueu a mão para os fios negros e, para a surpresa de Lílian, os arrumou como pôde, parecendo um tanto envergonhado quando murmurou: “Desculpe por isso.”

“Eles mereceram”, Lílian acabou sorrindo. “Bom trabalho, Potter.”

Antes que percebessem, os dois estavam rindo. Havia alguns estudantes espalhados entre as prateleiras, incluindo os Marotos, que quase não acreditaram no que estavam vendo. Lílan e Tiago rindo juntos? Aquilo tinha que ser obra de um Feitiço Ilusório ou algo que o valha. Tiago pigarreou e olhou para Lílian, como se esperasse que ela decidisse o que fariam a partir dali. A garota olhou em volta, um tanto curiosa. De todos os estabelecimentos de Hogsmeade, a Zonko’s era o que ela menos visitava – apesar de Marlene gostar dos produtos vendidos ali.

“Então... por que não me mostra o que tem de bom aqui?”, sugeriu a ruiva. “Eu sempre quis entender o que faz vocês e a Marlene passarem tanto tempo nessa loja.”

“Está falando sério?”, perguntou Tiago, tendo dificuldades em esconder a empolgação. Lílian assentiu. “Ora, espere um pouco, você vai ver por que essa é a melhor loja daqui.”

E levou Lílian para os fundos, onde cumprimentaram Remo, Sirius e Pedro antes de Tiago começar a apontar produtos e dar exemplos de acontecimentos que ele e os amigos presenciaram ou (como Lílian suspeitava) tiveram participação. Tiago tomou o cuidado de contar apenas os episódios que não envolviam Snape, ou eles quebrando regras muito importantes – e isso diminuiu bastante seu acervo de histórias, mas Lílian pareceu se divertir do mesmo jeito.

Quando saíram da Zonko’s, despedindo-se de dois Marotos atônitos e um Maroto que sorria serenamente, Tiago insistiu que Lílian devia mostrar alguma loja que gostasse a ele. Lílian tinha sérias dúvidas se haveria alguma loja naquele povoado que o garoto não conhecesse a fundo, por isso, decidiu entrar na Dedosdemel, que àquela altura do dia não estava tão lotada – a maioria dos estudantes estaria no Três Vassouras, tomando cerveja amanteigada.

Passaram uma hora agradável escolhendo doces e conversando naturalmente. Talvez Tiago tivesse conseguido quebrar o gelo ao gritar no meio da rua. Talvez Lílian conseguira ficar mais confortável quando o vira arrumando os cabelos discretamente. Ou quando estavam andando a caminho do Três Vassouras no final da tarde e uma brisa relativamente forte e insistente fez os cabelos de Tiago chicotearem e os deixou completamente bagunçados, ao que o garoto bufou.

Lílian não sabia, mas estava gostando muito daquela tarde. Potter podia ser absolutamente divertido e conversava sobre coisas normais, não se importando mais com os olhares que os dois recebiam das pessoas. A garota também não se importava. Estava se divertindo demais para prestar atenção ao seu redor.

Quando chegou a hora de voltar para Hogwarts, ela ficou surpresa ao descobrir que não queria se despedir de Tiago – o que era meio estúpido, porque os dois se veriam depois na Torre da Grifinória -, e o garoto parecia sentir o mesmo, embora ele não estivesse surpreso com suas próprias vontades. Entraram na mesma carruagem e o caminho de volta foi feito em um silêncio confortável enquanto observavam o despontar das estrelas no céu. Ocasionalmente, brisas outonais passeavam entre eles, balançando os cabelos negros com suavidade. Lílian não percebeu que estava admirando os fios dançarem na cabeça de Tiago até a carruagem parar com um tranco. O garoto desceu primeiro e estendeu a mão para ajudá-la.

Uma vez no chão, soltaram as mãos depressa. Fora uma tarde maravilhosa, mas algo os constrangia profundamente para que mantivessem um contato físico além do necessário. Ainda nos portões de entrada, continuavam parados, procurando o que dizer. Foi Lílian quem falou primeiro.

“Bem, hoje foi legal”, disse ela, segurando o cotovelo direito e torcendo a barra do vestido. “Obrigada, Potter, eu me diverti muito.”

“Eu que devia agradecer. Sabe, por me dar uma chance”, Tiago bagunçou os cabelos timidamente, e Lílian sentiu as bochechas esquentarem. Desta vez, ela sabia, o garoto não estava tentando ficar bonitão para impressioná-la. E talvez exatamente por isso ela tenha o achado mais bonito. “Obrigado.”

Lílian fez um gesto como se dissesse “Não agradeça”, e desviou o olhar. “Devíamos entrar”, disse ela após um momento. Tiago anuiu e os dois caminharam por alguns minutos até alcançarem o saguão de entrada. Lílian viu Dorcas e Marlene adentrando o salão principal e se despediu de Tiago com um sorriso pequeno. Ela havia se afastado dez passos, quando o garoto tomou coragem e gritou:

“Ei, Evans!”

Lílian se virou, deparando com um Tiago muito corado. “O que foi?”

“Você sairia comigo de novo semana que vem?”

Ele parecia ter feito um esforço hercúleo para fazer o convite. Antigamente, o garoto dizia aquilo com mais freqüência do que diria “Olá” para alguém, mesmo que soubesse que seria rejeitado. Lílian sorriu mais abertamente, e podia jurar que Tiago ficara ainda mais vermelho.

“Sairia.”


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Notas finais do capítulo

Bem, tá aí a Parte II começando. Confesso que esse capítulo foi bem trabalhoso de escrever, porque descobri que é muito mais fácil fazer Lílian e Tiago brigando do que se dando bem o.o Mas até que fiquei satisfeita com o resultado. E acho que podemos esquecer aquela história de "os capítulos são curtinhos", haha.

Espero que vocês gostem também, me digam suas opiniões e críticas ou sugestões :3

Bom Carnaval pra quem brinca/gosta de assistir aos desfiles (eu vejo alguns), e até o próximo! x



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