As Sete Coisas escrita por maguita


Capítulo 5
Parte I - Ódio: V - Quem é o verdadeiro Potter?


Notas iniciais do capítulo

Aqui o capítulo novo, pessoal. Ele deu um pouco de trabalho, mas ficou pronto, enfim.
Não vou enrolar muito aqui, hahaha. Boa leitura! o/



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Parte I - Ódio


V
Quem é o verdadeiro Potter?





“Explica de novo o que está acontecendo”, pediu Lílian, encarando Marlene e Dorcas. As duas reviraram os olhos com a teimosia da amiga. Não era preciso ser gênio para entender o que música, jogos e risadas à beira do lago num dia escaldante significavam. A própria Lílian entendia aquilo, mas algo em sua mente não permitia que ela aceitasse o causador daquele dia adorável para os membros da Grifinória.

Tiago Potter.

Como podia ser possível que aquele garoto insuportavelmente arrogante tivesse passado a noite toda preparando aquela diversão para os colegas, quando poderia perfeitamente estar aprontando e conseguindo detenções a torto e a direito? Como era possível que ele estivesse sentado ao pé de uma árvore rindo alegremente enquanto os calouros jogavam frisbee-dentado?

Como era possível que ele não estivesse tentando ser o centro das atenções?

Lílian não entendia.

Ela também não entendia como Potter tinha encontrado aquele lugar. Era à beira do lago, mas numa área mais afastada do castelo, quase dentro da Floresta Proibida, e ela não queria imaginar como não haviam sido pegos ali. Até quisera aplicar uma detenção quando vira a pequena trilha perigosamente próxima da Floresta, mas Remo a convencera a não fazer nada (“Só uma vez não fará mal, Lílian. Aproveite para descansar também”, dissera ele, mostrando um raro sorriso largo quando a garota finalmente aquiesceu).

As garotas observaram alguns alunos mais velhos tentando atrair a lula gigante para a margem do lago, provavelmente para dar um susto nos mais novos. Marlene sorria empolgada com a idéia, mas não chegou a se juntar a eles. Dorcas sentara na grama à sombra de uma árvore grande e fazia desenhos aleatórios na terra com os dedos, curtindo a paz do momento. Lílian continuava de pé, numa luta interna.

Era óbvio que Potter seria aclamado durante semanas por ter organizado isso. Desde a segunda-feira, o tempo tivera algum surto e começara a fazer muito calor, mesmo que o verão ainda estivesse um pouco longe. Nenhum dos estudantes de Hogwarts precisava do boletim meteorológico do Profeta Diário para saber que naquele sábado o calor estaria insuportável.

Mas por que, então, o comportamento dele estava tão diferente daquela vitória no quadribol? Lílian observou por mais alguns minutos o grupinho composto por Potter, Black, Remo e Pettigrew. Eles conversavam e jogavam uma partida animada de bexigas¹, como se não se importassem em fazer parte das atividades principais.

“Lílian, você devia aproveitar e se divertir um pouco também, sabia?”, comentou Marlene, se jogando na grama ao lado de Dorcas. “Potter teve uma idéia genial e tudo mais, mas até ele está deixando tudo de lado para relaxar.”

Até Remo havia deixado seus livros de lado e estava se divertindo.

Lílian decidiu que daria um desconto. Sentou ao lado das amigas, entretidas numa partida de snap explosivo. Acabou se envolvendo nas brincadeiras das duas, e chegaram ao ponto de jogar água umas nas outras à beira do lago – ao que vários colegas se juntaram depois, enchendo o ar de risadas e gritos.

Ela não percebeu quando Potter e Black sumiram por alguns minutos e voltaram cheios de guloseimas da cozinha, que deixaram sobre um pano aberto para que todos fossem lanchar. Na verdade, ela simplesmente esqueceu a presença de Potter pelo resto do dia. Só voltou a vê-lo no caminho de volta para a torre, porque passou por ele na trilha e foi barrada por um sorriso largamente alegre. Nem um pingo de arrogância à vista. Só simpatia.

“Espero que tenha se divertido, Evans”, disse Tiago, enquanto Sirius e Remo vigiavam a saída da trilha para ter certeza de que ninguém seria pego saindo da floresta.

“É, foi um dia inesperadamente bom”, respondeu Lílian, vendo Potter alargar ainda mais o sorriso. Ela abriu a boca algumas vezes, indecisa, mas uma força maior a fez falar: “Obrigada por ter armado tudo isso, Potter. Foi muito melhor do que todos virando churrasquinho na sala comunal.”

Por um momento, pareceu que Tiago ia explodir ali mesmo. Lílian Evans, seu lírio arisco e respondão, estava agradecendo por algo que ele fizera? Será que ele estava sonhando? Teve vontade de se beliscar para confirmar, mas decidiu não fazer papel de palhaço daquela vez. Apenas abriu um novo sorriso, um menor mas não menos bonito ou doce, e sua voz saiu antes que ele pudesse se controlar.

“Não foi nada, Evans. Aliás, obrigado por não nos dar uma detenção hoje.”

Lílian conteve um sorrisinho debochado e olhou para Lupin, que conversava com Black enquanto as pessoas iam passando animadas. Deu de ombros e murmurou um “Foi uma exceção. Não se acostume.”, antes de alcançar Dorcas e Marlene mais à frente.

Qualquer resquício de admiração que Lílian pudesse ter sentido naquele sábado sumiu no dia seguinte. Chovera a noite toda, e quando todos acordaram havia tantos raios e trovões que o treino de quadribol fora cancelado pela Prof.ª McGonagall. Mesmo com toda a insistência do time inteiro, ela fora categórica: “Não vou permitir que arrisquem o pescoço desse jeito por um treino! E se tentarem ir até aquele campo contra minhas ordens, vão receber uma detenção até as férias de páscoa!”

Com esse argumento convincente, é claro que ninguém quis ir até o campo de quadribol.

Mas então, Potter teve outra idéia genial, que resultou em todos os móveis da sala comunal afastados e os sete jogadores montados em suas vassouras atirando bolas de tênis e futebol que ele conjurara uns para os outros. Remo até tentara questionar, mas só o que recebeu em resposta foi: “Ela nos proibiu de ir até o campo, não de treinar.”

Estava tudo muito bem, na verdade. Alguns alunos iam descendo as escadas e se esquivando dos lances, sentando nas poltronas encostadas às paredes. Outros passavam direto para o buraco do retrato em direção ao salão principal. O problema foi quando uma garotinha do primeiro ano foi atingida no nariz por uma bola de futebol rebatida com uma força exagerada de Black. A menininha caiu sentada no degrau atrás dela, sentiu um filete de sangue escorrendo em direção à boca e começou a chorar antes que pudesse perceber.

“Parem o treino, parem!”, exclamou Tiago, mas ninguém o ouviu. “PAREM!”

Ele não teve tempo de levantar a varinha para fazer nada. Lílian, que vinha descendo com Dorcas e Marlene logo atrás da menininha, perguntou enfurecida: “O que pensam que estão fazendo?!”

“É meio óbvio, não é, Evans?”, perguntou Black, balançando o bastão. “Treinando.”

Lílian lançou um olhar fulminante para o garoto, que parou o braço na mesma hora. Então curvou-se na direção da menininha, que segurava o nariz e soluçava baixinho. Tentou fazê-la tirar as mãos, mas a menina gemeu de dor, então a ruiva desistiu. “Vocês podem levá-la à ala hospitalar?”, pediu a Dorcas e Marlene, que imediatamente carregaram a garotinha, tentando distraí-la da dor. Depois que o buraco do retrato se fechou, Lílian voltou seus olhos verdes enfurecidos para o grupo que ainda planava a alguns centímetros do chão.

Ninguém se mexia.

Eles poderiam ser estátuas, ou estar petrificados. Mas era simplesmente medo.

Lílian cruzou os braços. “Então?”

Como ninguém disse nada, ela resolveu tentar de novo. “Se não falarem agora, eu mando vocês lavarem as roupas do Filch como detenção.”

Os sete jogadores começaram a dar todo tipo de explicação simultaneamente. Gesticulavam, alteavam as vozes para serem ouvidos, olhavam desesperados para Lupin em busca de ajuda, mas ele estava chocado demais com aquele comportamento para fazer alguma coisa. Além do mais, se era para alguém punir Tiago e Sirius, ele não era a pessoa mais indicada.

Lílian ergueu a mão e todos se calaram. Com todos falando ao mesmo tempo, ela não conseguia entender nada. Apontou silenciosamente para Potter, que olhou assustado para trás antes de entender que ele deveria falar.

Houve um momento de hesitação antes de ele disparar: “Foi um acidente, lírio!”

“Evans. Eu já disse que é Evans!”, com aquela irritação toda, Tiago achou melhor não discutir. “E é difícil acreditar que foi um acidente, Potter. Vocês com certeza sabiam onde estavam treinando.”

“Claro que sabíamos, a Prof.ª Minerva nos proibiu de ir ao campo por causa dessa tempestade que apareceu do nada!”

“E por isso você acha que pode transformar a sala comunal num campo improvisado?”, a pergunta de Lílian fez Tiago refletir por um momento, sob os olhares atentos do resto do time e dos poucos estudantes que continuavam nas poltronas.

“Sim”, disse ele, dando de ombros. “Tanto que transformei.”

Lílian respirou fundo. Aquilo tinha que ser brincadeira.

“Potter”, disse, pausadamente. “Você não é o dono dessa torre para fazer dela o que quiser. E se aquela menina tivesse sofrido um machucado mais sério? Queira Deus que tenha sido só um nariz quebrado, ou você e seus amiguinhos estarão muito encrencados.”

“Ora, ela devia ter tomado mais cuidado!”, exclamou Tiago, começando a ficar irritado. Ele tinha todo direito de treinar onde quisesse; era tão dono da torre quanto qualquer outro aluno. “Todos os outros conseguiram ficar inteiros, Evans. Não tenho culpa se aquela menina não prestou atenção ao ambiente.”

Remo fez uma careta, sabendo que se tinha algo que podia piorar a situação, era exatamente uma resposta daquele calibre. Ele viu quando Lílian piscou, indignada, parecendo prestes a descer a mão na cara de Tiago, e não poderia tirar a razão da amiga se ela o fizesse.

“Ela não tinha obrigação de saber que você decidiu usar a sala comunal para um treino estúpido! Ninguém aqui é obrigado a cumprir seus caprichos, Potter!”

“Eu também não tenho obrigação de saber quando alguém vai descer as escadas, Evans”, retrucou Potter, sem fazer esforço para esconder o deboche na voz. “Sinto muito pela garota, mas nós temos um jogo importante essa semana, e não podemos parar o treino por um nariz quebrado que nem é do time. Se isso fosse um jogo e alguém fosse atingido nas arquibancadas, seria simplesmente levado à ala hospitalar e tudo certo. Não precisa desse estardalhaço todo, também.”

“Acontece, capitão, que isso aqui não é um jogo. É uma atitude completamente egoísta e irresponsável que prejudica as pessoas que moram nessa torre! E se você não parar, eu...”

“Você o quê?”, desafiou Potter, descendo da vassoura. Lílian não se intimidou.

“Conto à Prof.ª McGonagall o que vocês fizeram. Vão ter que se entender com ela” sentenciou a garota, e Potter abriu a boca para rebater com algo à altura, mas mudou de idéia. Lílian apenas esperou, enquanto ele fazia um sinal e os seis jogadores restantes desmontaram timidamente de suas vassouras.

“Você não tem esse direito, Evans”, murmurou Potter. “Mas não posso me dar o luxo de sermos suspensos do jogo”, Lílian revirou os olhos. Ele realmente não pensava em nada além de si mesmo. Potter alteou a voz para os colegas de time: “Vamos procurar outro lugar para treinar, pessoal.”

Em silêncio, o time de quadribol da Grifinória saiu da sala comunal. Lílian continuava parada no mesmo lugar, respirando fundo e tentando por tudo não gritar de raiva. Como aquele garoto que proporcionara um momento tão bom aos colegas no dia anterior podia ser tão egoísta e arrogante? Era só um maldito jogo, e o time já era o melhor da escola, para quê arriscar a integridade física dos colegas com um treino estúpido como aquele?

Os poucos alunos que tinham se atrevido a ficar na sala até o final da discussão aos poucos levantaram e colocaram as poltronas de volta no lugar. Remo continuava imóvel, pensando se era seguro tentar acalmar Lílian ou se deveria simplesmente escapar em silêncio.

“Não pense que não sei que você poderia ter feito algo, Remo”, murmurou a ruiva, voltando-se para ele. “Eu devia reclamar com o Prof. Dumbledore, porque você fecha completamente os olhos quando se trata de Potter e Black.”

“Lílian, eu...”

“Eu entendo, são seus amigos”, ela interrompeu, passando a mão nos cabelos longos, gesto que mostrava sua impaciência. “Mas você não pode deixá-los fazerem o que bem entendem assim. Desta vez foi um nariz quebrado, mas e se eles acabarem matando alguém? Você vai deixar?”

Remo continuava calado. Lílian sabia a resposta, e bufou. Deu uma última olhada para ele, dizendo um “Sei que não é tão fácil para você, Remo. Mas pense um pouco nisso, ok? Vou ver como está aquela menina.”

E, fingindo não ver todos os olhares assombrados direcionados a ela, Lílian saiu da sala comunal. O caminho até a ala hospitalar foi feito em silêncio, regado por xingamentos até a sétima geração de Potter passeando em sua mente. Uma pergunta pairava entre os palavrões, deixando-a ainda mais impaciente.

Quem é Potter?


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Notas finais do capítulo

¹ Bexigas, pra quem não lembra, é um jogo bruxo parecido com nossas bolas de gude, só que quando um jogador perde elas espirram um líquido fedorento na cara dele.

É isso, pessoal :3 Espero que tenham gostado. Qualquer erro/esquisitice/problema/equívoco, me avisem por favor. Eu sempre reviso os capítulos, mas às vezes alguma coisa escapa ;;

Até o próximo! x



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