As Sete Coisas escrita por maguita


Capítulo 10
Parte II - Amor: IV - Beijos


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo, gente bonita o/
Boa leitura!



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Parte II - Amor

IV
Beijos






O sol adentrava o corujal, pintando faixas mais claras no chão de pedra. O vento quase incessante que percorria a torre fazia as penas soltas no chão esvoaçarem e Lílian encolheu um pouco os pés quando uma onda maior de frio a atingiu. Verificou se a tinta estava borrada em algum ponto do pergaminho, perguntando-se por que não fora escrever na biblioteca, e então voltou à sua carta.

Queridos papai e mamãe,

Consegui um tempinho para contar as últimas novidades para vocês. A escola vai bem, continuo estudando como sempre e minhas notas estão no mesmo nível – o que, para o último ano, é uma coisa boa. Em alguns meses, farei as provas finais, mas estou tranquila quanto a isto, porque já faço tudo que posso para me preparar.

As meninas estão bem, e mandaram abraços e lembranças a vocês. Dorcas adorou a pulseira que vocês mandaram de aniversário, já está usando e fazendo inveja à Marlene. Remo também manda lembranças, assim como Sirius, Pedro e Tiago.

Às vezes eu nem acredito que já estou com ele há dois meses e meio... parecia tão impossível que um dia fôssemos conseguir conversar como pessoas civilizadas, imaginem se um dia eu imaginaria ser a namorada dele. Mas Tiago mudou tanto do sexto ano para cá, não é? Ele me levou à floresta quando completamos dois meses, e foi a coisa mais linda que já vi. O pôr-do-sol passou a ser minha hora preferida do dia...

“... e eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas eu...

Lílian pulou de susto e quase chutou o tinteiro ao ouvir a voz de Tiago muito próxima, à esquerda. O garoto havia chegado sem ser percebido, sentara ao lado dela e vinha lendo tudo que ela escrevera até aquele ponto. A ruiva supunha que estivesse concentrada demais na carta, porque normalmente tinha uma boa percepção.

Levou alguns segundos até se acalmar e, à medida que sua respiração se normalizava, surgia uma vontade imensurável de encher Tiago de tapas para ele aprender a não chegar tão sorrateiramente e principalmente a não ler suas cartas sem que ela soubesse. Lílian chegou mesmo a erguer a mão, mas parou no ato ao ver o brilho nos olhos de Tiago, encarando-a. um sorriso enorme despontava pouco a pouco nos lábios do garoto, e Lílian começou a ficar preocupada.

“Tiago...?”

“Você me ama”, sussurrou ele, sem desviar o olhar.

Lílian sentiu as bochechas esquentando. “B-bem, eu...”

“Está escrito aí, Lílian. Você me ama!”

Tiago ficou de pé e se aproximou tão depressa que Lílian mal teve tempo de piscar. Ele estendeu a mão e tirou o pergaminho das mãos da garota, encontrando alguma resistência por parte dela, mas conseguindo após alguns segundos.

E eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas eu o amo, mamãe”, recitou, seu sorriso aumentando e seus olhos brilhando mais. Lílian baixou os olhos, fixando-os em seus sapatos e tentando controlar o rubor nas faces. Uma coisa era admitir para si mesma e para seus pais. Outra coisa, completamente diferente, era deixar Tiago saber de seus sentimentos. “Lílian.”

A garota hesitou antes de levantar a cabeça, e quando o fez, foi surpreendida ao ter os lábios de Tiago tocando os seus pela primeira vez. Lílian precisou de alguns segundos até entender o que estava acontecendo ali; quando fechou os olhos, sentiu que o tempo havia parado. Podiam ter ficado ali por minutos ou horas, e nenhum dos dois saberia dizer.

Quando Tiago finalmente se afastou um pouco, deixou sua testa apoiada à da ruiva e arrumou uma mecha de seus cabelos atrás da orelha, sorrindo em seguida.

“Sabe aquela história de superar minha surpresa?”, perguntou, recebendo um murmúrio em resposta. “Esquece. Depois do que eu li, não preciso de mais nada.”

Lílian mordeu o lábio, contrariada. “Não era para você saber assim.”

“Ah não?”

“Não. Eu ia pedir conselhos à minha mãe sobre como te contar, para fazer uma coisa bonita, mas você meio que arruinou meu plano”, ela revirou os olhos e Tiago riu.

“Eu devia dizer que sinto muito, mas seria uma mentira deslavada.”

Lílian estava prestes a dar uma resposta sarcástica, mas foi impedida quando algumas corujas que estiveram caçando na floresta adentraram o corujal farfalhando as asas e fazendo as penas espalhadas no chão rodopiarem nos pés do casal. Os dois riram antes de Tiago abraçá-la pela cintura e roubar um selinho da garota.

O pergaminho com a carta incompleta, meio amassado porque o garoto fechara a mão com força antes do primeiro beijo, caiu no chão e ficou esquecido ali até Lílian decidir escrever uma nova carta para os pais, com Tiago ao seu lado, sorrindo bobamente.



Com a chegada de dezembro, Hogwarts foi se cobrindo lentamente com uma espessa camada de neve, seus telhados lembrando uma cobertura de glacê. Os professores enfeitaram suas próprias salas e todos os que haviam ficado para o Natal ajudaram na decoração do castelo. Os dormitórios ficaram sob a responsabilidade dos alunos, e Hagrid levava as doze árvores vistosas para o Salão Principal, para serem ornamentadas pelo corpo docente.

A torre da Grifinória não estava tão cheia, porque a maioria dos estudantes decidira passar o feriado em casa. Lílian havia considerado fazer o mesmo a princípio, mas suas amigas decidiram ficar, bem como os Marotos, e seus pais mandaram uma carta junto ao seu presente dizendo que iam viajar com Petúnia – a garota não parecia muito feliz nos últimos meses, pois brigara com Valter, então o Sr. e a Sra. Evans decidiram animá-la um pouco. Lílian respondera depressa desejando um feliz natal, mandando presentes e esperando que Petúnia ficasse mais alegre com a viagem.

“Você sabe, Lílian, sua irmã não merece esse amor todo”, comentara Sirius, que a vira escrevendo a carta na mesa bamba próxima à lareira. Aparentemente, espiar a correspondência alheia era parte do Código Maroto. “Do pouco que você conta, ela só te trata mal porque você é bruxa e ela não. Se eu fosse você – e olha que eu entendo de irmãos problemáticos -, não me importaria tanto com ela.”

“Acontece que nós sempre fomos muito amigas, Sirius”, disse Lílian, dobrando a carta depois que a tinta secara. “Túnia só ficou estranha assim porque eu não passo mais tanto tempo em casa, e parece que ela brigou com o namorado, então-”

Namorado? Sua irmã tem um namorado?”

Lílian revirou os olhos e fez o possível para reprimir uma risadinha. “Sim, ela tem.”

“De qual deles devo ter pena?”, perguntou Sirius, franzindo o cenho em genuína preocupação. Lílian não conseguiu mais segurar e acabou rindo com vontade. “Acho que vou ter pena dos dois, porque convenhamos, para namorar sua irmã, o cara tem que ser tão ruim quanto ela.”

Lílian estava prestes a retrucar para Sirius não ofender sua irmã, quando o buraco do retrato se abriu e Marlene, Dorcas, Remo, Tiago e Pedro entraram carregando pelo menos duas caixas de enfeites cada um, conversando animados. A garota guardou a carta no bolso das vestes e lançou a Sirius um olhar que dizia com todas as letras para ele não tocar no assunto. O garoto assentiu com um sorrisinho e os dois foram ajudar a enfeitar a sala comunal.

A simples tarefa de decorar a torre da Grifinória, que devia durar cerca de uma ou duas horas, acabou se estendendo pela tarde inteira. Lílian não podia esperar nada diferente, considerando que ela e as amigas estavam trabalhando com os quatro garotos mais bagunceiros de Hogwarts.

Decorar as portas dos dormitórios fora fácil, mas a sala comunal em si, que eles decidiram deixar por último, precisou de muitas horas – em parte porque eles perderam muito tempo discutindo onde pendurar alguns enfeites, em parte porque Sirius e Tiago conjuraram neve no meio da sala e iniciaram uma guerra que transformou tudo numa bagunça colossal -, e quando finalmente, ainda ofegantes, risonhos e com as roupas e os cabelos bagunçados, todos decidiram que deviam terminar o trabalho, o sol começava a se pôr do lado de fora.

Lílian estava de pé sobre uma poltrona próxima à janela, ajudando Dorcas e Marlene a pendurar os últimos enfeites na parte mais alta da árvore. As garotas subitamente pularam de suas cadeiras, dizendo que iriam pegar mais enfeites, e a ruiva ficou admirando os últimos raios solares que batalhavam com a neve para se infiltrarem um pouco pelos vidros da torre. Alguém subiu na sua poltrona, mas a garota não desviou o olhar no primeiro momento, hipnotizada pelas lembranças de meses atrás.

“Desde aquele dia, eu sempre paro para ver o pôr-do-sol também”, disse a voz de Tiago, muito próxima. Lílian virou-se bruscamente e quase se desequilibrou no assento acolchoado da poltrona vermelha. O garoto riu e a segurou pela cintura antes que ela caísse. “Assustei você?”

“N-não...”

Tiago sorriu serenamente, e Lílian reparou que ele escondia algo às costas. Estreitando os olhos em suspeita, ela tentou ver o que era, mas foi impedida porque o garoto segurou seu queixo com a mão livre.

“O que está aprontando, Tiago?”, os olhos verdes esquadrinhavam o rosto à frente, procurando algum sinal de brincadeira.

“Resolvi fazer uma surpresa de natal para você”, disse ele, não se intimidando com a sobrancelha arqueada de Lílian. Tiago ajustou os óculos e sorriu novamente. “Olhe para cima.”

Lílian olhou e levou um segundo para entender o que via. Um ramo de visco flutuava acima de suas cabeças. Mas como podia estar flutuando? Eles tinham que ser pendurados, e, aliás, como havia um ramo de visco na sala comunal? Tiago parecia ler cada pergunta no rosto da namorada, e quando ela voltou a encará-lo, roubou-lhe os lábios como fizera no corujal.

Lílian não sabia descrever o que sentia quando Tiago a beijava. Era uma mistura de tantas sensações juntas, que ela nunca imaginara poder sentir de uma vez: as famosas borboletas no estômago, um calor crescendo em seu peito, pernas bambas, perda da noção do tempo, e uma vontade incompreensível de nunca sair dos braços dele. Era bom beijar Tiago. Ela se sentia única, a única garota do mundo que tinha aquele privilégio. Não se importava mais com quantas garotas ele saíra; a escolhida era ela, Lílian Evans.

Algo bateu com leveza no topo de suas cabeças, e o visco, que antes estivera flutuando graças a um feitiço de Tiago – que escondia a varinha às costas -, escorregou para a poltrona e dali para o chão atapetado, fazendo-os sorrir antes de se separarem.

Ainda abraçada ao namorado, Lílian fez uma expressão severa. “E se os outros virem?”

“Foram todos se arrumar para o jantar, Lílian. Ninguém viu nada”, Tiago riu baixinho, e Lílian relaxou um pouco. “Feliz Natal.”

“Feliz Natal”, ela sorriu e roçou a ponta do nariz no dele, roubando um selinho para pontuar a frase. Quando ouviram os amigos descendo as escadas, os dois saltaram da poltrona e se juntaram a eles rumo ao Salão Principal, para comemorar seu primeiro Natal juntos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :3 Comentários, críticas, opiniões e afins são sempre bem-vindos, haha! Até o próximo! x



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