Além do mundo espiritual que apenas Zara podia ver, Muraoka não saía de perto do corpo inconsciente da menina. Avalon estava sentado na beira da varanda, irritado e preocupado.

Pensava no tempo que ainda lhe restava ao lado de Zara, e tentava aceitar aquele sentimento estranho de proteção que ela lhe causava. Avalon imaginava se um dia Zara teria uma rotina normal, e se um dia criaria uma família, teria uma casa. Foi vagando por divagações deste tipo que Avalon se pegou pensando em Zara alguns anos mais velha, com um ou dois filhos, sentada no jardim de sua própria casa. A casa dos dois.

Balançou a cabeça freneticamente para espantar aquele pensamento, não queria aceitar o fato de que aquela garota estranha, ocupada e autossuficiente havia despertado sentimentos em seu coração de pedra.

Ainda decepcionado com a sua falta de autocontrola sob a imaginação, Avalon ouviu um estranho barulho vindo de alguma parte do andar inferior. De início não se incomodou muito, até ouvi-lo novamente, um pouco mais distante que antes.

Franziu o cenho, incomodado e preocupado, e olhou ais uma vez para dentro da sala antes de se levantar em busca do que quer que fosse, mesmo emendo se perder mais uma vez.

– Você Zara, sempre renascerá com a dobra dos cinco elementos naturais deste mundo. – Dizia Raava com um tom compreensivo de voz.

– Como assim, deste mundo? E... Cinco elementos? – Perguntou a garota, ainda não adaptada àquelas conversas com Raava.

– Sim, Zara, deste mundo, pois nunca saberemos o que há além do nosso sol e de nossas estrelas. – Disse a fora feminina angelical diante de Zara. – Você, Avatar, é capaz de obter o controle sob os quatro elementos que eu lhe presenteei, junto com o nosso elo eterno. Eles são Água, Fogo, Terra e Ar. Mas existe um elemento que todos os seres humanos, dobradores ou não, devem ter o controle e equilíbrio sobre. Trata-se do seu espírito.

“A sua consciência. Você, e o seu eu. Eu não posso ajuda-la com isso, admito que a minha presença, esta nossa junção, apenas a atrapalha. Você precisa encontrar o equilíbrio dentro de si mesma. Acredito que a Nômade possa ajuda-la com isso. Estou aqui para responder as suas perguntas, e esclarecer quaisquer dúvidas, Zara. Seja direta, pois o seu corpo logo precisará voltar a se mover.”

Um estranho e longo silêncio se fez enquanto Zara refletia sobre o que poderia perguntar.

– Como eu posso fazer para entrar em contato com você? – Perguntou cautelosamente. Raava hesitou por alguns segundos antes de soltar um suspiro.

– Eu não sei, Zara. Em suas outras encarnações, nossa conexão só ficou estabilizada raras três vezes. Numa delas foi Shun, o menino nômade do ar. Ele nasceu com uma conexão completamente aberta à mim, e não entendo a razão. – Admitiu Raava, pensativa.

– Mas não há nada que eu possa fazer para facilitar o contato com você? – Perguntou mais uma vez.

– Acredito que quando você está com as emoções balanceadas a nossa comunicação é facilitada, ainda mais quando está em algum lugar tão importante para nós como esta sala. – Respondeu não tão certa do que dizia. A conversa durou um longo tempo, imensurável para Zara, porém algo em torno de uma hora e meia.

– Agora você deve ir. – Concluiu Raava. –Hoje as coisas ficarão mais fáceis para nós, e você deve se dedicar à resolução de seus conflitos. – Disse, vendo Zara assentir obediente.

– Zara... – Sussurrou Raava, maternalmente. – Peço que seja paciente, ouça antes de tudo, seja sincera consigo mesma e com todos ao seu redor. Mantenha a calma, eu só posso te ajudar quando seus pensamentos estão organizados.

Zara não entendia a razão daqueles conselhos, mas tudo vindo de Raava era especial e racional, portanto a garota se esforçaria para seguir os avisos da mesma.

Quando Zara finalmente saiu do transe em que estava, já era fim de tarde, e Muraoka ainda estava ali. A jovem Avatar caiu no chão, sendo segurada pela Nômade. Estava com as pernas dormentes e a cabeça doendo, mas com um estranho bom humor.

– Zara! Você está bem? – Perguntou Muraoka deitando a cabeça da garota em seu colo e vendo-a assentir. – Pode me falar o que houve? – Questionou mais uma vez, sem obter resposta. – Talvez depois? – E Zara apenas fechou os olhos em resposta.

A porta da sala ainda estava aberta quando as duas começaram a ouvir passos apressados vindos de fora, e olharam fixamente para o portal pouco iluminado. Zara franziu o cenho, sentindo uma presença estranha ali por perto, e logo levantou-se com um pouco de dificuldade.

Foi então que a grande figura elegante e onipotente adentrou na sala, com passos lentos e olhos abertos. Zara arregalou os olhos ao vê-la, e um sorriso mais que surpreso se abriu em seu rosto.

Muraoka percebeu quase de imediato do que se tratava, e ficou abobalhada ao ver o quão majestosa era aquela criatura. Mesmo Zara estava impressionada com o ritmo de crescimento de Sozen.

A jovem avatar deu breves passos cambaleantes em direção ao grande tigre-leão negro, que logo estava diante de seus olhos. A cabeça de Sozen estava quase na altura da cabeça de Zara, e seu pelo brevemente sujo, porém ainda satisfatoriamente brilhoso.

Pouco depois da entrada de Sozen, Avalon adentrou o recinto, completamente desentendido e arregalando os olhos ao ver a criatura.

Aquele vulto era... um Tigre-Leão... Um Tigre-Leão parado na frente de Zara!

Pensava o rapaz, ainda descrente.

Zosen abaixou a cabeça fazendo uma mesura à Zara, antes de sentar-se. Zara segurou a enorme cabeça negra entre as mãos com um sorriso enorme nos lábios. Encostou a sua testa a de Sozen e fechou os olhos.

– Bom estar contigo de novo, Sozen... – Sussurrou extremamente feliz. – Eu estava precisando de você ultimamente. Ainda bem que me encontrou, estou feliz em te ver novamente.

Avalon entrou na sala e sentou-se no chão, ao pé de uma das estátuas, próximo à Muraoka.

– Espero que esteja com saudade de mais gente, Srta Avatar. – Disse uma voz masculina entrando na sala. Os dois garotos adentraram o recinto, um confiante e o outro hesitante. Zara parecia não acreditar no que via.