Avatar: A Lenda de Zara - Livro 3: Fogo escrita por Evangeline


Capítulo 17
Cap 16: Cura




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Ele soltou a parte superior do kimono no chão e fechou os olhos.

– Se não for pedir demais. – Sussurrou Avalon com medo da reação da garota.

Zara estava com o olhar vidrado no corpo de Avalon. Por cima do corpo, dos músculos e da pele dele, queimaduras sem fim cobram o seu corpo. Algumas quase pretas por causa da “idade”, outras ainda avermelhadas. Em alguns lugares a pele já era enrugada.

Ela não tinha como formular alguma frase para responde-lo.

Hesitantemente, Zara tocou o ombro de Avalon, para que o rapaz virasse as costas para ela. Ele estremeceu com o toque frio da mão da garota, e logo virou-se de costas, deixando-a encarar o resto de seu tronco repleto de cicatrizes de queimaduras.

Zara pôs as duas mãos, uma em cada ombro, e fez com que Avalon se abaixasse, se ajoelhasse. A garota fez o mesmo atrás dele, e dobrou a água do mar para suas mãos, purificando-a lentamente como aprendera quando era menor.

Depois de purificada, a água tomou a forma das mãos de Zara, como luvas. Muito devagar, a curandeira tocou as costas de Avalon, movendo-se muito lentamente.

O toque era muito frio, mas ao mesmo temo refrescante, e completamente indolor. Depois que água passava, o local não continuava molhado, era como se a minha pele fizesse a humidade evaporar. Foi naquele momento que a minha cabeça começou a trabalhar contra mim.

Zara estava ali, curando minhas queimaduras sem pestanejar. Por mais que eu brigasse com ela, eu não conseguia trata-la mal. E quando ela movia as mãos tão lentamente, eu não podia negar que me sentia bem, seguro. Talvez até aceito por alguém.

Por um instante eu quis abraça-la.

Os servos que haviam acompanhado a jovem Avatar e Avalon evitavam olhar a cena. Eles não sabiam quem era Zara, e ver uma dobradora de água era uma coisa extremamente rara para os habitantes da Nação do fogo.

Aquelas cicatrizem me perturbavam e quando o tom escuro começava a sumir eu tinha vontade de suspirar aliviada. Em alguns momentos temi não conseguir cura-lo, mas eu consegui. A pele dele absorvia a água depois de pouco tempo, o que me ajudava muito. Foi então que minha cabeça começou a trabalhar contra mim.

Ele estava ali, quieto, sem comentários agressivos, sem pestanejar. Ele não estava reclamando, nem me cobrando nada. “Se não for pedir demais” ele havia dito. Os músculos de suas costas eram perfeitos, apenas escondidos por todas aquelas marcas.

Tive vergonha de descer as mãos para as queimaduras mais para baixo de seu corpo, assim como tive vergonha de subir as mãos para perto de seu pescoço. Eu nunca havia tocado alguém daquela maneira.

Foi então que eu finalmente terminei as costas. Estavam perfeitas. Eram perfeitas. O formato, a musculatura, a cor, tudo era perfeito ali. Eu o toquei seu ombro com um cotovelo para não infectar a água, ele logo se virou para mim.

Encarei seu rosto recentemente limpo por algum tempo, mas ele ficava de olhos fechados, ou com o olhar baixo, eu não conseguia ver seus olhos. Devo ter corado quando coloquei as mãos em sua barriga. Mais uma vez, toda a musculatura do corpo de Avalon era perfeita.

As queimaduras da parte da frente de seu corpo pareciam mais graves, era mais complicado de purificar e curar. Comecei a perceber que ele olhava para todo o processo, prestando muita atenção.

Olhava para o meu rosto, para meus braços e para o encontro de minhas mãos com sua própria pele. Quando levei as mãos para mais perto de seu peito senti seus pelos se eriçarem, e pude vê-los eriçando-se por todo o seu corpo.

Por um instante eu quis abraçá-lo.

O sol começava a se por, e Avalon e Zara ainda estavam ali no processo de cura das queimaduras do rapaz. Passaram a tarde inteira em total silencio, respiração lenta e sem encontro de olhares. Cada um perdido em seus pensamentos, e suas reflexões.

Sempre que ela começava a migrar as mãos muito lentamente para um outro ponto, ela apertava os olhos e mordia o lábio inferior. Quando ela passava da parte superior de meu tórax para a inferior, eu me arrepiava por causa da água fria e da brisa. Sempre que eu me arrepiada ela corava.

Nenhuma garota ou mulher jamais havia me tocado daquela maneira sem segundas intenções.

Quando Zara terminou, a noite já havia caído. Seus olhos se fechavam sozinhos pelo cansaço, a água em suas mãos havia diminuído de volume consideravelmente, e Avalon estava com o corpo perfeitamente curado. Não havia sequer uma queimadura ou cicatriz.

Ele não olhou para o próprio corpo, pois sabia que perderia tempo demais no processo. Ele via o corpo cambaleante de Zara quando os dois se levantaram, então apoiou o corpo da menina no seu e a levou para o quarto dela.

Dentro do navio, não precisariam mais dividir quartos, e depois daquele dia tão tenso e intenso, ele queria ficar sozinho, assim como sabia que ela iria querer estar só por algum tempo.

Quando ele a deitou na cama e a cobriu, encontrou os olhos claros de encontro com os seus. Ela sorria fracamente e em silencio, mas ele não conseguia sorrir de volta, ele nunca sorria.

– Avalon. – Ela chamou num sussurro quando ele deu as costas para ir para seu próprio quarto. O rapaz virou-se para Zara, mostrando prestar a atenção em suas palavras. – Vocês não se aprecem nem um pouco. – Disse certa de suas palavras, surpreendendo o rapaz.

– Obrigado. – Ele sussurrou de volta e retirou-se.

Zara sabia que eles não se pareciam. Embora ambos fossem reservados e um tanto mal humorados, Airon e Avalon tinham razões completamente diferentes.

Airon era mais malicioso e infantil. Era mal humorado por natureza. Avalon não era o que demonstrava ser. Zara entendia que por trás das palavras rudes dele, estava o peso de ser irmão mais velho, de esconder tantas coisas e de ter que usar métodos violentos para tudo o que queria fazer, mesmo levar o Avatar para aprender a dobra de ar.

Pelo resto da noite, antes de adormecer, Zara chorou por seus pais. Sentia tanta falta de Tera e Gaibo quanto sentia de Leuh. Perdida em memórias de sua infância, Zara chorou e dormiu, exausta pelo gasto de energia do dia inteiro.

Avalon, por outro lado, não pregou os olhos durante a noite. Foi até a popa do navio onde treinou sua dobra de fogo. Chutes e socos acompanhados de jatos e lâminas de fogo, em conjunto com suspiros aflitos e grunhidos de angústia.

Quando o sol começou a nascer, Avalon sentou-se no chão de madeira onde pôde assistir aquele espetáculo natural, pensando em seu tio-avô. O rapaz conhecera Iroh por muito pouco tempo, mas aquele velho tolo tinha sido o único membro de sua família que o aceitou. Airon não quis ser aceito pela tolice de Iroh.

– Pequeno soldadinho, pra casa a marchar... – Sussurrou como se fosse começar a cantar, mas desistiu no meio do caminho.


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Notas finais do capítulo

Okay, sei que a maioria quer a Zara com o Airon, mas deixem a história rolar antes de reclamarem, okay? U_U
Outra coisa, le desânimo está me matando, estou demorando meio século para escrever um capítulo meloso e chato como este, imaginem só um capítulo de ação ou de mistério? e-e