O Sangue do Olimpo escrita por Belona


Capítulo 4
Annabeth


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora!



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Subi para o convés, maravilhada mais uma vez por estar respirando a brisa fresca do mar. Era oceano infinito para todos os lados, e isso me dava uma sensação de liberdade. De estar na superfície mais uma vez. E eu torcia para nunca mais ter de voltar ao submundo.

Percy estava afagando o dorso de Blackjack. O cavalo ergueu a cabeça quando me viu.

– Oi – disse, enquanto me aproximava.

Percy sorriu.

– Tudo bem?

– Como poderia estar melhor?

Blackjack relinchou baixinho e Percy deu risada e mandou-o voar na noite. O Pégaso abriu as imensas asas, e o vácuo que o movimento deixou fez com que aterrissássemos dois metros para trás. Então ele disparou pelo céu.

– Ele disse alguma coisa? – Perguntei, enquanto o acompanhava com os olhos.

– Que você parecia mais bonita desde que voltou do Tártaro.

Sorri.

– E o que mais?

Percy me abraçou.

– Mandou que eu ficasse de olho em você.

Ri abafadamente.

– E você já não faz isso o suficiente?

Ele me apertou com um pouco mais de força.

– Nunca vai ser o suficiente.

Eu me soltei delicadamente.

– Eles estão preocupados. – Falei, sentando ao lado da amurada.

– E nós não? - Percy observou o mar. Ele fechou os olhos por um momento, e senti todo o navio dar uma guinada para a direita. Não ousei perguntar o que ele estaria evitando.

– Eu estou com medo, Percy. – Não fiquei com vergonha disso. Acho que todos têm o direito de ter medo de vez em quando.

– Eu sei... Eu também. – Ele inclinou a cabeça. – Mas tenho medo mais pelos outros. Ultimamente a morte não me assusta mais.

– Bú. – Falei. Ele me olhou. – Desculpa, não pude evitar.

Percy expirou o ar com força.

– Você sabe... Vamos todos morrer.

– Você tem tanta esperança assim? – Perguntei, lembrando-me da discussão do jantar.

– Não vale a pena. Não quero ficar frustrado quando alguma coisa atravessar minha garganta. – Ele tinha o olhar perdido.

– Vai ser duro quando virmos os nossos amigos em situações como esta.

– Mas eu...

– Eu sei, eu sei, Percy. Você não vai deixar que isso aconteça. Só não fique frustrado quando não puder evitar.

Ele se sentou ao meu lado.

– Isso me dá dor de cabeça.

– Não se preocupe. – Beijei sua testa. – Vamos ficar juntos. Para sempre. Nem que eu tenha de morrer com você.

Ele me olhou com intensidade.

– Não seja tão burra para fazer isso.

– Você foi burro o suficiente para me acompanhar na estrada para o inferno.

– Nada a ver. – Seus lábios queriam se abrir em um sorriso. – Eu fui para fechar as Portas da Morte. Nada mais.

Fiquei olhando-o. Ele riu.

– Mentira. Eu nem pensava nas Portas da Morte. Só não ia deixar que você caísse sozinha.

– Pois é. – Fiquei pensativa. – Sabe o que mais me impressiona?

– Que ainda estamos vivos? – Ele perguntou.

Meneei a cabeça.

Ficamos em silêncio.

O que mais te impressiona, Annabeth? Pensei. Estar viva, estar com seus amigos. Talvez as coisas piorem daqui pra frente. Mas quando foi que melhoraram? Quando... É. Quando você esteve na presença de todos eles novamente. Quando os encontrou pela primeira vez. É uma equipe. Vão conseguir. Nem que tenham de enfrentar a morte. De novo, de novo e de novo.

Estava pensando em todas essas coisas quando de repente, algo mudou. A atmosfera ficou mais pesada. Parecia que o mar estava mais denso, por mais que nem uma onda se formasse.

Eu e Percy nos levantamos, alertas. Desembainhei minha espada.

O navio começou a ranger. O som do motor parando de funcionar. Os noventa remos pararam de se mover, batendo uma última vez na água. Em quinze segundos, os outros já estavam no convés, completamente despertos. O Argo estremeceu mais uma vez, e ocorreu o desligamento total. Festus tossiu fogo e ficou frio e imóvel.

Nós também estávamos assim. Imóveis. Perscrutei a escuridão, mas meus olhos não se acostumavam de jeito nenhum. A lua pareceu perder o brilho, e todas as luzes do navio apagaram com um estampido.

Eu estava rígida, esperando alguma coisa. Mas não sabia o quê.

Agucei os ouvidos, e pude ouvir o barulho da água. Mas não havia ondas.

Hazel arquejou. Estendeu a mão, e toda a amurada se encheu de diamantes amaldiçoados.

– Não adianta, filha... – uma voz mais carecida do que uma senhora de cento e vinte anos falou. – Eu sou a morte.

– Você não é Tânatos – Ela decretou.

O cacarejo riu.

Então pude ver o que era.

Uma figura encapuzada estava vindo em nossa direção. Mãos ossudas seguravam um remo estraçalhado, e ela movia-o com lentidão. Estava sobre uma canoa pequena, que parecia feita de fumaça.

Engoli em seco.

Ela parou o barquinho na frente do navio, a uns cinco metros de distância.

– A morte é complexa demais para ter apenas uma personificação. – Sua voz era como arranhar uma faca em uma superfície de vidro. – Você é filha de Plutão. Você também é uma parte da morte.

Percebi que todos estavam desconfortáveis. Minha espada não parecia tão útil agora.

– O que você quer? – Hazel perguntou.

– Eu quero você.

Leo murmurava:

– Ataque direto. Ataque direto. Ataque direto.

Jason deu um passo para a direita, Frank deu um para a esquerda e Percy deu um passo para trás, todos de guarda em volta da garota.

– Senhora – Piper disse, com sua linda voz – Tem alguma outra forma de resolvermos isso, sem que nossa amiga precise acompanhá-la?

– Tem – a figura inclinou a cabeça. Pude ver uma boca preta sob o capuz. Perguntei-me se ela havia tomado um pouco do Flegetonte. – Quem é o dono do navio?

Ninguém falou nada.

Leo deu dois passos para frente.

– Hum... Oi?

– Ahh! – Sua voz soou estridente. – Filho de Hefesto! – A senhora soltou um som estranho. Talvez uma risada. Ela se voltou para Piper – Sinto muito, garota esbelta. Ele não serve.

Pude ouvir o som de nossas respirações. Leo estava com as sobrancelhas levantadas.

– Não se preocupe, Fogo. – Ela estava falando com Leo. – Sua hora vai chegar. Mas agora preciso dela. – A criatura se virou para Hazel. – Você vem?

– Hazel? – Murmurou Frank, nervoso.

– Uma parte da morte com medo da morte? – A coisa riu.

– O que vocês acham? – Hazel perguntou.

– Ela não atacou. Então, acho que se fosse nos matar, já teria o feito. – Piper disse, sem desviar os olhos da figura.

– Ela está certa – Jason corroborou. – Mas não sabemos aonde ela vai te levar.

Falávamos alto, então a senhora escutava.

– Só vai descobrir se tentar. – Ela falou.

Percy estava com os olhos semicerrados.

– Tem sim, outro jeito. – Ele falou. – E nós sabemos qual é.

– Sabemos? – Leo e Frank disseram juntos.

Minha mente pareceu derreter. Claro! Era ele. Da última vez, estava guardando a entrada, separando os mortos para o elevador. Conduzindo-os. Mas as lendas eram verdadeiras. Aquela era a verdadeira aparência e função de...

– O que vai fazer com Hazel no Mundo Inferior, Caronte? – Perguntei.

Fez-se silêncio.

Sob o manto, a figura se retorceu. Quando voltou a falar, a voz era firme e masculina.

– Ela precisa ir para lá, semideuses. Se quiserem ter sucesso na missão. – Caronte respondeu.

– Se você confiná-la nos Campos de Asfódelos... – Percy não completou a frase.

Caronte riu.

– O que vão me dar em troca?

– Espere. – Leo disse. – Você está exigindo que ela vá com você, e ainda pede algo em troca? Que sistema é esse?

– Estou dizendo que quero um motivo que me impeça de trancafiá-la onde deveria estar. Deveria, deveria... Se não fosse a maldita profecia. Hades nunca gostou dos Oráculos...

– Mas nunca dá certo tentar interferir nas profecias – Jason disse, duvidoso.

– A morte talvez consiga – Caronte respondeu.

Droga. Pensei. Vamos, Annabeth... Pense.

Passei os olhos pelo navio, tentando ver algum modo de escapar.

– Você vem comigo, moça – Caronte disse. – E vocês têm vinte segundos para garantir que ela voltará.

Caronte. O que ele disse da última vez? Ah, sim. Do sistema falho. Mortos demais, trabalho demais.

Percebi que ele estava contando regressivamente. Já estava no quinze.

Mortos demais. Trabalho demais. Hades era duro.

– Nove, oito, sete, seis...

Mortos demais, trabalho demais.

– Cinco, quatro...

Trabalho demais.

– Três... Dois...

– Espera! – Exclamei.

– Alguma oferta, filha de Atena? – Caronte perguntou.

– Sim. – Minha voz falhou. Engoli em seco. - Da última vez... Você disse que os mortos te davam muito trabalho. E nos pediu que comunicássemos a Hades, quando chegássemos ao seu palácio, que você desejava um aumento. Creio que sua situação não tenha melhorado.

Ele cruzou os braços.

– Sim?

– Então... Você disse agora pouco que as maldições dos diamantes de Hazel não funcionavam com você.

Ele permaneceu em silêncio.

– Hazel? – Chamei.

– Diga.

– Você daria esses diamantes para Caronte?

Ela de desvencilhou da escolta e caminhou até a amurada.

Todos os diamantes se reuniram. Ela tirou do bolso um saquinho de moedas, e os diamantes se guardaram ali. Era mágico, porque a quantidade de pedras era muito maior do que o saquinho poderia guardar.

– Pronto. – Ela falou. Jogou o saquinho para Caronte. – Vou voltar?

Caronte enxameou o saquinho.

– Vai. Agora venha.

– Jure pelo Rio Estige! – Disse Leo.

Caronte suspirou.

– Aaaai! Tá bom. Eu, Caronte, condutor dos mortos, juro pelo Rio Estige que Hazel Levesque voltará.

Hazel se virou para nós.

– Cuidem-se. – Ela estava apreensiva.

– Você também – Frank disse.

Ela sorriu.

– Somos semideuses. Vou voltar para a equipe.

Caronte riu.

– Talvez ela não esteja aqui.

– O quê? – Hazel perguntou.

– Nada, não. Venha. – Caronte estendeu a mão.

Hazel olhou para o mar.

– Pode ir – Percy disse.

Ela deslizou pela a amurada, e pôde-se ouvir um baque molhado. Então ela surgiu, andando por cima da água, e subiu na canoa.

Caronte remou, e a canoa avançou lentamente. Então sumiu.

– Droga. – Leo falou.

Assenti.

– Estão tentando nos separar.


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