O Sangue do Olimpo escrita por Belona


Capítulo 3
Piper




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/463601/chapter/3

Alguns dias antes...

Sabe aquela terrível sensação de medo que você sente de vez em quando, mas tenta disfarçar com uma coragem inventada? Multiplique essa sensação por três. Não, não. Melhor: por sete.

Nada tinha acontecido por enquanto, e era isso que me assustava. Tudo bem, estávamos todos navegando havia cinco horas, desde que deixamos Nico, Reyna e o treinador na colina perto do Necromanteion. Tudo estava correndo tranquilamente. Podia se ouvir as águas batendo no casco e algumas conversas abafadas.

Tínhamos a vaga noção do perigo que corríamos. A tensão pairava no ar. Não falávamos nada a respeito disso, da morte no fim do caminho e tal. Parecia agora que tudo estava se solidificando. Ninguém entrara no navio pela primeira vez com todas essas perspectivas. Quando vimos do que Gaia era capaz, uma parte de nossa mente morrera e outra tinha despertado. A cautela. O medo. Cada olhar que você recebia e mandava para e de um amigo era cheia de compaixão, pena, amizade, amor, compreensão. Quando trocávamos de roupa, sempre colocávamos a armadura por cima. As espadas, facas, arcos, martelos ou qualquer outra arma estavam sempre à mostra.

Percy e Annabeth pareciam completamente recuperados. Se não estavam, não demonstravam. Mas alguma coisa em seus olhos tinha mudado. Isso era perceptível, mas eles agiam normalmente e eram todos ouvidos para qualquer um de nós. Riam das coisas que contávamos, que passamos enquanto estavam no Tártaro. Os dois estavam magros e pálidos. Era impressionante se ver como estavam. Quer dizer, como agiam quando estavam perto um do outro. Eles podiam não se falar, mas se Annabeth lançasse um olhar para Percy, ele assentia como se ela tivesse respondido todas as suas perguntas. Frequentemente eu conversava com Annabeth, e de vez em quando ela expressava apreensão. Se Percy passasse nessa hora, ela sorria e parecia mais corajosa do que eu já vira.

Leo estava diferente. Continuava o mesmo humorista, levantando nosso astral. De vez em quando, suas risadas morriam tristemente, como se a brisa cessasse repentinamente. Jason conversava com ele, mas dizia que ele não contava nada.

Frank e Hazel estavam de boa. Frank treinava mudando de forma várias vezes durante uma luta, atirando flechas com mais agilidade e precisão do que Círon, aquele maníaco que queria que alguém lavasse seus pés, só pra chutar a pessoa depois, direto na boca de sua tartaruga doméstica. Hazel fazia magia. Testava comigo e com todos os outros semideuses, dublando nossas mentes e fazendo-nos enxergar o impossível.

E... Jason. Eu tinha medo por ele. Ele era a “tempestade” da profecia. Leo ou Jason não voltariam... E isso me assombrava dia e noite. Torcia para estar errada, para que tudo fosse ambíguo. Ele me dava um beijo de “bom dia”, um de “boa noite” e inesperadamente. Beijava-me como se pudesse ser o último beijo da vida, o que na verdade podia ser mesmo. Estava mais carinhoso, e eu não podia ficar perto dele que meu braço instintivamente deslizava para sua cintura.

Entramos no refeitório para jantar. Leo sentou na ponta.

– Uma noite de paz e tranquilidade... – Disse enquanto mexia o copo cheio de Coca como se estivesse dando mais um passo na máfia enquanto bebia vinho.

– Graças aos deuses – falei. Isso soou meio estranho.

– Como vão as coisas, Capitão Água Salgada? – Perguntou Jason, sorrindo.

Percy sorriu também.

– Vinte e cinco graus Sul, trinta e dois Oeste. Com a velocidade da corrente, chegaremos lá em aproximadamente quatro dias.

Hazel inclinou a cabeça em consideração, mas não falou nada. Todos torceram a boca.

– Sabe alguma coisa, Hazel? – Perguntou Frank. – Quer dizer, em relação ao seu irmão.

– Está vivo. – Ela disse. – É tudo o que eu sei dizer.

– Tomara que permaneça assim. – Ponderou Leo. Ela sorriu secamente.

– O navio está em boas condições? – Indagou Percy.

– Ao que tudo indica, sim. – Leo respondeu. – Com a Esfera de Arquimedes, com um dedo posso reparar todos os remos.

– Mantenham a calma. – Usei todo o charme possível em minha voz.

Estamos calmos. – Frank falou, encolhendo os ombros. – É só que...

Ele foi interrompido. Um barulhão ecoou de algum lugar acima de nós. Todos se exaltaram, mas Jason falou (um pouco alto):

– Tempestade!

– Blackjack – Percy murmurou.

– E Arion... – Hazel disse. Ela tombou a cabeça na mesa e respirou fundo. Todos os sete rostos estavam sem cor. Os estampidos continuaram, e um dos cavalos relinchou enquanto batia os cascos insistentemente.

– Eu vou lá ver o que eles querem – Percy disse, se levantando. – Aí já fico de vigia.

– Não vai comer nada? – Annabeth perguntou.

Ele pegou um sanduíche grande de uma travessa e saiu.

– Precisamos estar preparados... – Murmurei. Meu coração ainda batia descompassadamente.

– Estamos preparados. – Annabeth disse, fitando o vazio. – Estamos preparados. Só precisamos manter a calma.

– Não estamos calmos. – Frank disse desanimadamente.

Leo apagou o seu nariz, que tinha pegado fogo. Sorriu travessamente.

– Vamos morrer.

Não sei por que, mas comecei a rir.

– Não acho que vá ser hoje.

– Provavelmente não. – Annabeth também estava rindo.

– Já falei que vocês são loucos? – Jason perguntou.

– Eu me sinto segura. – Hazel disse.

– Num bando de loucos? – Leo questionou.

– Pelo menos são loucos verdadeiros. – Frank disse.

– Loucos, não. Semideuses. Os maiores heróis da atualidade. – Ironizei.

– Quero meu nome nos livros de história. – Jason falou.

– Espere deitado. – Revirei os olhos, levantei e dei-lhe um beijo na bochecha. – Vamos, gente. Percy também é do bando.

– Eu fico com ele – disse Annabeth. – Vocês durmam.

– Alguma razão especial, Annabeth? – Perguntei, sorrindo.

Ela me fuzilou com o olhar.

– Proteger a tripulação deste navio, McLean.

– Mas você tem certeza? – Jason perguntou, atônito. – É que... Bem. Você e Percy acabaram de sair do, ahn...

– Ah, não se preocupe. – Ela relaxou os ombros. – Se eu entrar naquela cabine, provavelmente vou reviver pesadelos e mais pesadelos e não vou conseguir dormir.

– Tudo bem. Qualquer coisa nós estaremos aqui. – Frank disse.

– Eu sei – ela sorriu. – Mais do que nunca todos estaremos aqui.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Sangue do Olimpo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.