O Sangue do Olimpo escrita por Belona


Capítulo 5
Hazel




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Eu sabia das lendas de Caronte. Soube que era ele na hora em que senti o frio da morte me envolver.

Duvidava que ele me traria de volta, mas se ele tinha jurado pelo Estige... Talvez eu voltasse mesmo. Na verdade, o que mais me intrigava era o fato de porque eu estava indo.

Percy havia solidificado a água para que eu pudesse chegar até a canoa. Ele deu três remadas e viajamos nas sombras. A escuridão se aplainou a minha volta, e os gritos ecoavam ao longe. Senti os calafrios deslizarem por meu corpo, sem me afetarem. Na verdade, eles até que me fortaleceram. O frio, a escuridão, a morte... Tudo isso era a minha natureza, o meu forte. Eu pertencia a isso, e como disse Caronte, eu era parte da morte. Assim como Frank era definitivamente a ferocidade da guerra, Jason era um raio em movimento, Piper era uma personificação da beleza, Annabeth da sabedoria, e Percy era água. Leo, como disse Caronte, era fogo.

Agora, a magia também era natural para mim. A Magia Negra.

Passei tantos anos, tanto tempo escutando que minha mãe era uma bruxa... Eu sempre tentei contradizer todos eles. Minha mãe era uma farsante. Mas, no final, Hécate me contou a realidade. De fato, ela era mesmo uma bruxa. Usava magia de verdade. Isso não me aborreceu, mas a notícia de que eu também era quase conseguiu. Hécate me disse que eu podia derrotar Pasifae se treinasse, e consegui.

Estranhei no começo, mas agora tudo o que eu podia imaginar era como eu conseguiria usar meu poder em ajuda dos meus amigos. Éramos uma equipe. Eu me afeiçoara a cada um deles de todo o coração, e iria fazer o que pudesse. Enfim, eu estava na guerra. Precisávamos vencer todas as batalhas. E eu era, no final, a velha Hazel. Filha de Plutão, filha de uma bruxa.

Saímos no Mundo Inferior, flutuando por entre os penhascos de lodo. As almas pairavam sobre o lugar. Gritos estridentes podiam ser ouvidos, vindos dos Campos da Punição. Uma grande caverna exalava escuridão ao longe, beeem longe. Perguntei-me o que seria, mas descobri que não queria saber. Abaixo de nós, as almas dos Asfódelos caminhavam sem rumo por toda a eternidade. Sentia alguma coisa me puxando para aquele lugar, mas nada muito forte. A ilha de Elíseos estava a uns dois quilômetros dali. Não fiquei surpresa ao conseguir mapear todo o Mundo Inferior em um segundo. Eu passara setenta anos vagando por ali. Talvez nesse meio tempo dera para aprender uma coisa ou outra.

Vi um jardim lindo, exótico, com flores brancas, pretas e vermelhas. As árvores rodeavam os canteiros, e estavam todas carregadas de gordas romãs. O jardim estava logo ali, rodeando um palácio.

– Desça – Caronte ordenou. Ele tinha parado na porta do grande palácio. – Não sei por quanto tempo querem você aqui, mas virei te buscar.

Saltei da canoa e acenei para Caronte. Ele riu e sumiu.

As portas estavam fechadas. Parei diante delas e ergui o punho para bater, mas elas escancaram-se de repente. Constrangida, baixei a mão e dei dois passos hesitantes para dentro do palácio. Lembrei de quando Caronte disse que queria que eu o acompanhasse, e Jason, Frank e Percy ficaram na minha frente. Sorri.

O palácio era escuro. Não completamente negro, mas decorado em tons de azul, preto e roxo. O salão era amplo, e chamas azuis dançavam em alguns candelabros. O chão era de mármore. Duas escadarias, em lados opostos do hall se uniam no segundo piso, um corredor suficientemente largo para quatro pessoas passarem lado a lado.

Subitamente, apoiada no parapeito do segundo andar, surgiu uma mulher. Tinha os cabelos castanho escuros, preso em tranças decoradas com margaridas, e usava um vestido longo, vermelho vibrante. Era um contraste grande com o resto da decoração. Tinha a pele pálida, e seu sorriso era branco como a neve.

– Querido, ela chegou!

A mulher desceu as escadarias correndo, mas deveria achar muito cansativo descer degrau por degrau, porque apareceu na minha frente instantaneamente. Ela me abraçou.

– Ah, querida! Estávamos a sua espera.

Ela cheirava a uma mistura de centenas de tipos de flores diferentes, e seu abraço era fresco.

– Perséfone? – Uma voz grave ecoou. Nós duas olhamos para o dono da voz, e vimos um cara alto, com cabelos pretos e olhos castanhos. Usava calça de moletom e uma camisa polo azul clara e chinelos.

– Meu senhor – Perséfone inclinou a cabeça. Achei que deveria fazer o mesmo, mas o cara estendeu a mão e murmurou “não, não”.

Ficamos em silêncio. Perséfone parecia se divertir, olhando de mim para o homem, com um sorriso nos lábios.

– Eu sou Hades.

Sorri.

– Eu sei.

Perséfone ergueu um dedo.

– Sou Perséfone – ela sussurrou, brincalhona.

– Prazer em conhecê-los.

Hades riu.

– Sou Hades. Mas Plutão ao mesmo tempo.

– Sim... eu sei – falei, cuidadosa.

– Não, não! – Hades falou. – Não desse jeito. Não é a esquizofrenia. Sou Hades e Plutão, aqui, agora. Sou grego e romano ao mesmo tempo.

Minha boca se escancarou.

– C-como?

Hades riu e abriu os braços.

– É magnífico, não é? – Perguntou, girando pelo salão.

– Sim! – Respondi, depois de algum tempo, completamente embasbacada. – Mas...

– Como? – Hades perguntou. – Concentração. Agora está ficando cada vez mais difícil... A pretora, a... – Ele estalou os dedos, tentando lembrar.

– Reyna? – Sugeri.

– Isso! Reyna. Ela e meu filho, o Nico... E o sátiro. Eles estão indo para o Acampamento Meio-Sangue com boas intenções, levando a estátua de Atena com eles. Isso pode ser um grande plano. – Hades disse, me olhando intensamente.

– O problema é que... – Perséfone interveio, cheirando uma flor estranha, que tinha tirado do nada. – Aquele magricela. Ele está apontando um canhão para si mesmo. Pena que não pode explodir tão facilmente. Os deuses não podem interferir agora, e isso é ridículo. Ele está contando com uma batalha entre gregos e romanos.

– Vai haver muitas mortes – Afirmei.

Perséfone me olhou.

Pode, querida, pode. Pode haver muitas mortes. Mas não do jeito que você imagina. Está certo que a Legião é grande. Já vimos Nova Roma numa batalha, e isso foi espetacular. Sabemos do que são capazes... Mas não fique pensando que irão dominar tudo de uma vez. Os gregos podem estar em menor número, mas podem arcar com um exército três vezes maior. Eles defenderam Manhattan do maior titã e seu exército sanguinário. Eles não vão ficar de braços cruzados.

Fitei a deusa, que estava com uma expressão séria.

– Ela fala a verdade, Hazel. – Disse Hades. – Não vai ser uma batalha, e sim uma guerra. Uma guerra há muito esquecida vai voltar à tona com muita força se não impedirmos. Quer dizer, se vocês não impedirem. E uma guerra dessas não será bom agora.

– Eu sei – consegui sair do transe. – Mas não consigo evitar... Eu tentei levá-los pelo Labirinto...

– Sabemos disso também – Perséfone disse mais relaxada. – Mas você não teria conseguido a tempo. Mesmo com o seu senso de orientação, mesmo com a magia, mesmo sendo tudo o que você é. – Ela comprimiu os lábios. – Não sabemos nem se dessa forma eles vão conseguir. Mas precisam.

Hades estava mais preocupado do que ela, e isso fez um tremor percorrer o meu corpo. Se até os deuses estavam com medo...

– Hazel – Hades segurou meus ombros. – Isso é muito sério. Tome muito cuidado. Os deuses estão tentando se organizar, tentando se preparar para a batalha. A discórdia entre gregos e romanos só piora as coisas, mas tudo têm esperança. Se conseguirem entregar a estátua e der um jeito no magricela, os deuses podem conseguir se manter na forma unificada. – Ele apontou para si mesmo. – Gaia está apostando tudo nas fraquezas dos deuses e de seus filhos. Eu até já fui convocado algumas vezes no Conselho, e estão pedindo a minha ajuda, acredite se quiser. Não há tempo para antigas desavenças, a Terra está levantando. Cada vez que nos posicionamos, ela muda de tática. Isso é irritante, mas não há opção. Vamos esperar até o último minuto para interferir. Eu já dei o primeiro passo – Ele deu de ombros.

– Ah, e você deve estar se perguntando: Por que Perséfone está se comportando bem na minha presença? – Ela disse com falsete engraçado. – Sou Perséfone e Proserpina ao mesmo tempo. Estou me preparando também, e não estou mais ligando para pequenas coisas. – Ela disse, olhando para as unhas. – Não que você seja uma pequena coisa, mas... Você me entendeu.

– Sim – respondi vagarosamente. – Mas uma coisa vocês ainda não me explicaram... Por que eu estou aqui?

Hades suspirou.

– Preciso te ensinar algumas coisas. Venha.


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Notas finais do capítulo

Reviews são bons, sabiam? Hahaha