O nome no espelho escrita por Gui Montfort


Capítulo 3
Capítulo 3 - Desfecho


Notas iniciais do capítulo

Conrad descobre o que o aguardara o tempo todo na mansão de Perla, a bela ruiva. E não era nada bom. Vamos ver?



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Conrad estava preso em um mundo de pensamentos obscuros. Parecia não ouvir a voz de Perla que o indagava com angustia. O que se passava em uma sua cabeça era uma idéia absurda, louca, mas possível. Ele tentava arrancar da memória relatos de casos que se encaixassem em sua teoria. E achou, em meio a sua estante bagunçada que ele gentilmente chamava de lembranças havia mesmo um caso como o que ele julgava ser o seu. Condições semelhantes... mas como ele resolveu esse problema? – tentava buscar mais informações dentro de si... e nada.

Voltou para o jardim, para junto de Perla que o olhava nervosa.

– Perla, preciso invocar o espírito de sua mãe. Não faz sentido não termos a identificado com nenhum de meus aparelhos. A não ser que ela esteja sendo feita... – ele sabia que suas palavras soariam como loucuras para uma leiga como Perla e hesitou por alguns segundos -...feita prisioneira ­– disse quase sussurrando a ultima palavra que era o centro de sua teoria.

– Pri...prisioneira? – Perla engoliu àquelas palavras com certa dificuldade. – Isso não é possível. São fantasmas...

– Parece loucura. Mas só testando pra saber. – Conrad a puxou pelo braço e com passos rápidos e firmes entrou na casa outra vez. Foi direto pra sala. Solicitou a Perla o máximo de sal que ela pudesse trazer da cozinha, não demorou nem dois minutos para que ela voltasse com um pacote cheio e fechado da substancia. Alexis Conrad desenhou um círculo com o sal e pediu que Perla ficasse nele.

– Não saia daí por nada, entendeu? Por nada! – A ordem veio no estilo militar que ainda possuía depois de anos fora da Polícia Federal.

Com um spray que tirou de sua mochila desenhou alguns símbolos que eram totalmente estranhos à Perla.

– Preciso de algum objeto pessoal de sua mãe. Algo que ela realmente se identificasse. – Disse após terminar os desenhos que deixaram o assoalho da sala com detalhes em azul.

– Tome. – Perla tirou sua pulseira e estendeu a mão para Conrad a pegasse. – Isso era dela, usava desde criança, foi presente de meu avô. – Conrad pegou a pulseira e a pôs no centro do circulo que criara com os demais símbolos. Aproveitou e tirou de sua mochila uma Bersa Thunder 380 niquelada, a pistola tinha capacidade para oito tiros. A visão do artefato assustou Perla.

– Para quê uma arma desta? – Não se conteve.

– Ela está recheada de munição especial. Não é uma bala comum. Mas uma munição com sal, servirá para atrasar qualquer espírito inconveniente. – Explicou. – Tipo seu avô. Após conferir a arma e ter certeza que estava tudo certo, iniciou o mantra de invocação. Nada aconteceu nos primeiros dois minutos, mas a partir do terceiro, os quadros da parede tremiam, alguns porta-retratos caíram da estante, no quarto minuto as lâmpadas do lustre estouraram. Algo começou a tomar forma diante dos olhos de Perla e Conrad. A mãe de Perla começava a aparecer, seus cabelos ruivos estavam totalmente desarrumados, olhos profundos e vazios. Trajava um longo vestido preto.

– Mãe?! – Perla quis sair do circulo e abraçar aquilo que ela pensava ser sua mãe. Entretanto, Conrad fez sinal para que ela permanecesse dentro do circulo. Ainda não terminou – seus pensamentos não estavam errados. Após a mãe de Perla tomar forma, surgiu por trás dela o espírito de seu pai. Ele a segurava pelo pescoço. O velho era mais forte que aparentava. Se eu tivesse sido enterrado com esta gravata borboleta preta eu também me tornaria um espírito violento– uma Conrad não deixou de fazer uma piada para si mesmo. A gravata e o terno preto sobre blusa branca formavam os trajes fúnebres do velho patriarca. Seus olhos escuros não possuíam nada além de ódio e avareza. Ali estava ele, dentro do circulo, mas não era um circulo protetor. E aquele ritual exigia que nada que pudesse limitar ou prender o espírito fosse usado. Era um risco muito grande. Mas Conrad não tinha alternativas. Quando invocou a mãe de Perla, sabia que o espírito de seu avô viria junto.

– E então? Como vai ser? – Disse Conrad se afastando dos símbolos em lentos passos para trás. – Você vai deixar a casa por bem...ou por mal? – O velho sabia que as palavras eram dirigidas a ele. – Podemos tentar um acordo... – sem movimentos bruscos - Conrad arrastava os pés pois sabia que qualquer movimento demasiado seria mortal. Seu relógio, que era na verdade um termômetro personalizado, bipou loucamente, o que indicava que a temperatura no local havia caído de forma voraz. Ele tem muita força. Fez de sua casa o seu campo de energia. – Concluiu . Quando estava próximo ao circulo de sal, o velho estendeu a mão, uma corrente de ar violenta atingiu o investigador no peito o arremessando a três metros de distancia de Perla.

– Droga! Isso dói. – Tentou se levantar ainda com a arma em punho. – Vai ser por mal, não é?! – Apoiou-se sobre o joelho esquerdo. – Pois bem. Qual é âncora dele afinal? O que o prende aqui além da casa? – Tentava achar a resposta enquanto mirava sua Bersa Thunder. O som seco do tiro ecoou pela casa. Acertou o peito do espírito, que cambaleou. Ele é forte, muito forte. – Pensou quando viu que o velho não soltara a filha. Perla já estava em lágrimas com as mãos tampando os ouvidos. Outro estampido. O velho deu passo para trás, mas segurava firme a sua refém. Restam seis balas. – Quando terminou de pensar, foi atingido por outra corrente de ar que o fez se chocar contra a parede em que os quadros ficavam. A cabeça bateu com força nos azulejos. A pintura a óleo caiu sobre Conrad, fazendo-o soltar a arma sem querer. Perla gritava ao ver seu avô caminhar lentamente em direção a ela. Não posso sair do circulo, não posso sair, não posso sair... – repetia pra si mesma de olhos fechados e cabeça curva. Aquilo era muito estranho pra ela. Nunca pensara na existência de tudo aquilo antes. Alexis Conrad pegou a arma novamente e quando levantou os olhos para saber a exata posição de Firmino, avô de Perla, mudou de estratégia. ­No braço, Conrad, no braço – numa fração de segundos descarregou quatro tiros no braço direito de Firmino. Ele soltou sua filha que estava fraca e acabou desabando, ficando prostrada. Com suas forças exauridas apontou para o quadro, o grande retrato de sua família. O quadro?! – Se questionou Conrad olhando para a peça que estava ao seu lado. Lançou o olhar mais uma vez para a mãe de Perla que continuou a apontar com sua mão direita para o quadro e desenhava círculos na região do umbigo. Ela falava algo, mas era inaudível. Conrad não percebeu a aproximação perigosa de Firmino e quando se deu conta dela, ele já estava sendo sufocado pelas mãos fortes do avô de Perla que se agachou para findar a vida do investigador. Conrad tentava respirar. Pensou em atirar, ainda restavam duas balas, mas não possuía firmeza nas mãos. O quadro? A barriga...? Preciso respirar, respirar...o quadro... - Seus pensamentos estavam confusos. Deixou a arma cair de suas mão, o barulho causado pelo choque da Benser Thunder fez com que Firmino desviasse o olhar até a arma. Conrad tirou de sua jaqueta um isqueiro e fez a pequena chama abraçar a tela do quadro. Não sabia se teria resultado. Espero estar certo... – quando seus olhos já estavam se fechando graças a falta de ar em seus pulmões. Uma chama começou a devorar as pernas de Firmino. Conrad sentiu um alivio quando as mãos de seu algoz estavam longe de seu pescoço. Perla gritou.

– Mãe.... mãããeeeeeee. – Sua mãe estava sendo devorada pelas mesmas chamas que tocavam o corpo de seu avô. O fogo consumia aos dois, mas não gerava calor ou queimava qualquer outra parte da casa. – Fica, fica mãe... – as lágrimas correram na face de Perla. Conrad viu Firmino se desfazer por completo. Eu estava certo – pensou aliviado.

Conrad e Perla ficaram em seus lugares por alguns instantes. Atônitos, ainda confusos. O investigador se levantou e tirou Perla do circulo. Foi até a cozinha trazer a tradicional água com açúcar para tentar acalmá-la. Quando voltou à sala, ela estava sentada no sofá, ele sentou-se e tentou explicar.

– Perla, quando eu cheguei à conclusão que havia mais de um espírito na sua casa havia um ponto cego em minha teoria. – Começou. – Pressupondo que o segundo espírito era o de seu avô, não sabia explicar como ele ficou preso a essa casa com seus ossos sendo queimado no ato da cremação.

–Você disse que ele estava preso pelo amor à casa. – Lembrou.

– Sim, mas isso não é o suficiente. É preciso ter alguma parte do corpo intacta. Por menor que seja. Quando resolvi invocar sua mãe naquele ritual, sabia que se ela estava presa nas mãos de seu avô, o ritual era forte o suficiente para trazê-lo junto. Mas foi sua mãe quem ajudou a resolver esse ponto cego. Me diga, aquele quadro, o que tinha de especial nele? Algo em comum a seu avô e a sua mãe?

– Não sei...não me lembro de nada ... – Perla franziu o cenho. – Espera! Tem uma coisa sim... desde que o quadro foi pintado o meu bisavô colocou o umbigo de meu avô atrás da tela. Sabe? Alguns enterram o umbigo da criança, mas não foi isso que fizeram. Meu avô fez o mesmo com minha mãe...e ela fez com o meu. Aquela criança no quadro é o irmão mais velho de meu avô Firmino que morreu pouco depois do quadro ser feito. – Claro, não tinha como ser o Firmino, essa criança tinha dois anos aproximadamente quando foi retratada no quadro. – o investigador concluiu em silêncio.

– Faz sentido. Por mais que não existisse mais o umbigo de vocês fisicamente ali no quadro, sua substância ficou ligada à pintura, ao tecido da tela. Quando sua mãe derrubou esse quadro antes de minha chegada, ela estava te indicando o caminho para o fim de tudo isso. Agora as peças estão encaixadas. – Sorriu para Perla. Seu corpo ainda doía muito. Perla se dirigiu à cozinha. Estava confusa, mas ainda sabia fazer um chá de camomila. Conrad terminou de ajeitar sua mochila, guardar os utensílios e esperou pelo chá. Quando Perla voltou com as xícaras tratou de avisar que estava com pouco açúcar. Ainda bem – pensou Conrad.

– Saúde senhor pegador de espectros – Brincou a bela ruiva.

– Saúde. – O som das xícaras na hora do brinde era um suave sinal de calmaria. – Muita saúde. – Sorriu. – Só mais uma coisa, você jogou as cinzas de sua mãe em seu jardim?

– Não, ela queria distância dessa casa, penso eu. – Sorriu ao lembrar de sua mãe se queixando dos gastos com a casa. – Deixei suas cinzas no rio que corta nossa cidade, ela o achava lindo. – Beberam o chá de camomila sem reservas. Apenas um pensamento perturbava Conrad. Como ele conseguiu burlar meus aparelhos? Escapar da detecção? - Ele voltou para casa sem conseguir solucionar esse problema. Parou em um hotel para passar o restante da noite. Sonhou com os ruivos cabelos de Perla e com seu chá - doce, muito doce – de camomila.


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Notas finais do capítulo

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