Aposta Destrutiva escrita por Wine


Capítulo 8
O insistente, o péssimo tutor e a comedora de testículos




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– Sabe dançar, não é? – A pergunta deixou a boca de uma nervosa Lily Evans.

Ela estava tremendo, sabia disso. Havia quinze minutos que andava ao lado de Potter e a cada segundo sua autoconfiança diminuía. Por algum motivo, James se recusara a aparatar, então estavam fadados a continuar numa longa caminhada.

Lily se amaldiçoou por ter sido quem escolhera o local do encontro, James Potter deveria estar acostumado a frequentar pubs de luxo e ela estava prestes a leva-lo ao oposto disso.

James sorriu e olhou para ela de canto de olho. Eles não conversaram muito desde que saíram de Hogwarts, Lily aparentava estar estressada demais para isso. Era bonitinho o modo como ela se comportava, lembrava-o de seu primeiro encontro. James deveria ter uns doze anos e a garota era um ano mais velha. Na época ele se sentira um verdadeiro garanhão por namorar Angélica, a garota do terceiro ano. Bem, James Potter ainda se sentia um verdadeiro garanhão, portanto nada de significante mudou.

– Claro que sei – James respondeu confiante, estava mais do que acostumado a ir a festas. Dançar era uma consequência.

Era impressão dele ou Lily Evans escolhera um desses lugares com música alta no qual as pessoas se pegavam no canto? Definitivamente esse seria um local dentro da zona de conforto do garoto. Ainda assim, eram apenas duas horas da tarde... baladas desse gênero só funcionavam durante a noite.

– Pode me dar uma dica sobre onde estamos indo? – ele perguntou, tentando preencher o silêncio entre eles. – Bistrô com jardim e lago artificial? Rave com música pesada e drogas liberadas?

Um riso histérico deixou a garganta de Lily. Droga, ela não deveria rir de modo tão histérico, não soava nada atraente. Não havia nada que Lily odiasse tanto quanto ficar nervosa, uma vez que agia de modo ridículo e imprevisível.

– Nenhuma das opções – ela disse em tom mais sobreo. Seu olhar estava focado na calçada a frente. Não iria arriscar visualizar o belo garoto ao seu lado e desencadear uma convulsão espontânea. – Realmente acredita que eu iria escolher uma rave, Potter? Francamente...

Dando de ombros e enfiando as mãos nos bolsos, James sorriu. A calma e expressão relaxada dele pareciam deixar Lily ainda mais impaciente e irritada consigo mesma. Por que ela não podia agir de forma tão natural?

– Não sei – ele disse em um tom que poderia ser tanto sério como brincalhão. – Para ser honesto, estava começando a achar que nem aceitaria sair comigo.

– Não iria aceitar mesmo – Lily confirmou e balançou a cabeça, sentindo a necessidade de se explicar. – Digo, se semana passada alguém me contasse que estaria... – por alguma razão, ela achou extremamente difícil dizer as palavras “em um encontro” – com você hoje, eu internaria essa pessoa na hora.

– Estou tentando não me ofender.

Lily revirou os olhos.

– Sabe o que estou dizendo – ela respondeu, como se não fosse nada demais. – Somos muito diferentes, James. Além disso, se nós não fossemos monitores, tenho certeza de que nem mesmo saberia meu nome.

James voltou a olhar para ela, qualquer traço de humor abandonou o rosto dele.

– Claro que saberia seu nome! Não sou tão idiota como pensa. Mas o que a fez mudar de ideia? – ele perguntou, sua curiosidade era como um enorme peso em suas costas.

Pela primeira vez em muito tempo, Lily olhou-o nos olhos. Quando as bochechas dela coraram um pouco, ela preferiu culpar o vento frio ao garoto ao seu lado.

– Insistência sua, talvez – ela disse antes de pigarrear. – Ou talvez eu estivesse com pena de um cara que implorou para eu sair com ele todos os dias dessa semana.

Por mais que as palavras dela pudessem soar firmes, James sabia que estavam longe de ser verdade. Os olhos dela não eram incógnitas que escondiam os sentimentos, pelo contrario, eram fáceis de serem interpretados. Lily não estava pronta para admitir, mas era claro que ele já a conquistara. James Potter tinha quase certeza disso.

– Aproposito, - ela disse desviando o olhar para o chão instintivamente. – Chegamos.

James parou de pensar nos objetivos egoístas de sua aposta e deu uma boa olhada no estabelecimento a apenas alguns metros de distância deles. Sua garganta de repente pareceu mais seca do que o normal.

– Hum – ele murmurou indeciso. – Tem certeza de que estamos no lugar certo?

– Certeza absoluta.

– Entendeu? - Remus perguntou após um longo discurso explicativo.

– Ahaaaam.

– Está sequer prestando atenção no que estou dizendo?

– Ahaaaaam.

Remus suspirou derrotado. Era ingenuidade da parte dele acreditar que Dorcas Meadowes estava ouvindo o que ele dizia. Para ela, as palavras entravam por uma orelha e saíam pela outra. Nem mesmo fazia uma forcinha para transmitir a imagem de que estava tentando aprender alguma coisa.

– Solta gases com frequência?

– Ahaaaam.

Dorcas! – Remus exclamou irritado, atraindo a atenção dela.

Ele quase nunca soava irritado. De fato, Remus Lupin podia suportar muita coisa de boca fechada, porém a indiferença dessa garota estava tirando-o do sério. Já fazia mais de quinze minutos que ele tentava explicar a matéria de poções, porém a garota não se manifestava.

– Quem você pensa que é para dizer meu nome assim? – Dorcas perguntou, o tom de voz tão irritado quanto o dele. – Se é um péssimo tutor, não é minha culpa!

– Péssimo tutor? – Remus indagou incrédulo. – Sou um ótimo tutor. Você é quem é impossível!

Dorcas ergueu uma sobrancelha.

– Não parece algo que um ótimo tutor diria.

Merda, ela tinha razão, Remus percebeu. Ele teve que respirar fundo diversas vezes para retomar sua sanidade mental.

Poxa, por que os céus foram tão cruéis com ele e fizeram-no tutorar a aluna mais irritante de Hogwarts inteira?

– Tudo bem – Remus disse mais calmo. – Vamos começar de novo. Tente prestar atenção dessa vez.

– Sempre presto atenção – Dorcas respondeu como se estivesse expondo um fato.

Ele cerrou os punhos.

Nesse dia, James Potter aprendeu uma importante lição de vida: escolha você mesmo os locais de seus encontros.

Era verdade que caso James tivesse que eleger uma garota em meio a uma multidão, Lily Evans não seria a sua primeira escolha. Ela não apresentava o tipo de corpo gostoso e escultural que James estava acostumado a admirar. Entretanto, quando eles conversavam era... divertido. Durante a caminhada deles, por exemplo, Lily soube provoca-lo na medida certa. Além disso, não era como se ela não fosse bonita, só detinha uma diferente forma de beleza... bem mais delicada, com toda certeza.

No entanto, qualquer afeição que James adquiriu por ela estava ameaçada no momento em que ele e Lily entraram no restaurante – se é que uma espelunca como essa poderia ser chamada assim – que ela escolhera.

Era um estabelecimento razoavelmente grande. Por fora, a parede amarela ligeiramente desbotada exibia uma grande placa luminosa com as palavras “West Goddessess – Almoço e Jantar”. Parecia um daqueles restaurantes à beira da estrada no qual as pessoas apenas paravam caso estivessem sem combustível ou com uma vontade imensa de fazer número dois.

– Vamos entrar – ela chamou-o, já a alguns passos à frente.

– Humm – James murmurou indeciso.

Se ele corresse rápido o suficiente poderia fugir até o Canal da Mancha, nadar até a França e nunca mais voltar. Era uma opção tentadora.

Ao invés disso, James reuniu toda coragem que conseguiu e forçou suas pernas a seguirem a ruiva.

Por dentro, o restaurante não melhorava muito sua imagem. O piso era de madeira e se estendia por todo o ambiente que parecia um enorme galpão. Havia muitas mesas que quando vistas juntas tinham o formato de “U”. No meio da disposição de mesas, havia um espaço vazio que ficava bem em frente ao que parecia ser um palco, um tablado de madeira com alguns instrumentos musicais, mas sem qualquer pessoa ou microfone em cima.

– É bem simples – Lily disse nervosa quando notou a expressão incerta de James.

– É mesmo – ele concordou, lutando contra o impulso de dizer algo grosseiro a respeito do restaurante.

Algumas famílias jantavam em mesas próximas deles. Não havia nenhum casal, apenas pais com seus filhos. Todos vestiam pelo menos uma peça de roupa que lembrava o oeste americano. Não aparentava ser o tipo de lugar próprio para um primeiro encontro. De fato, James passou a se perguntar se Lily sabia que eles estavam em um encontro.

– Mesa para dois? – Uma mulher baixinha perto de seus cinquenta anos perguntou aproximando-se deles.

Ela vestia um avental vermelho com o nome do restaurante estampado em letras marrons e um baixo rabo de cavalo nos cabelos loiros.

– É – Lily respondeu insegura.

James estava quieto, muito quieto para seus padrões. Todavia, não hesitou em seguir Lily e a garçonete até uma mesa ao canto do grande salão. Para a enorme surpresa dele, as cadeiras também eram de madeira, assim como o restante da decoração.

A garçonete lançou a ele um olhar severo, como se estivesse cobrando algo de James. A princípio, ele julgou que ela fosse maluca, mas então notou que a mulher fazia sinal na direção de Lily, quem estava se sentando. Rápido como um raio, James acordou de seu transe e apressou-se para puxar a cadeira dela, como um verdadeiro gentleman faria.

– Aqui estão os cardápios – a garçonete disse quando James sentou-se à mesa, entregando um caderninho para cada um. Voltando-se para Lily, ela sorriu. – Sua amiga veio aqui esses dias com o namorado. Ele é um doce de menino.

O modo como a mulher disse a última frase, olhando de canto de olho para James, deixava claro como ela não pensava que ele fosse um doce de menino.

– Frank é muito bom mesmo – Lily respondeu educadamente.

– Não se preocupe, menina. Um dia também encontrará alguém honesto como ele – a mulher disse com um olhar de reprovação na direção de James. – Quando escolherem os pedidos é só chamar.

Ela sorriu e retirou-se.

Qual era o problema daquela garçonete? James não pôde deixar de pensar. Tinha o sexto sentido por acaso? Ele olhou para Lily, mas a garota não parecia ciente das indiretas negativas que a mulher lançou.

Irritado, James folheou o cardápio. Não tinha a menor ideia do que escolher, duvidava da qualidade dos pratos do restaurante. Ele temia que se pedisse algo como o escondidinho de tetas fatiadas, seu prato fosse batizado com algum inseto da vizinhança.

– Já sabe o que vai pedir? – Lily perguntou com olhos curiosos.

Os braços dela estavam apoiados na mesa e o cardápio estava fechado a sua frente.

– Realmente não – James respondeu sincero, forçando-se para expulsar a repulsa de sua voz.

Lily sorriu tímida. Ela tinha razão, James não parecia nada confortável nesse restaurante. Estava acanhado e suas costas encolhidas, como se estivesse tentando desaparecer.

– Sabe, - Lily começou vagarosamente, tentando aliviar a situação do rapaz. – Eu gosto muito da torta de legumes deles. Você deveria pedir também.

Suspirando, James fechou o cardápio em suas mãos. Não era como se ele fosse encontrar nada melhor do que a tal torta de legumes mesmo. Fazendo um sinal com a mão, ele chamou a garçonete que os atendeu mais cedo.

– Duas tortas de legumes – James pediu quando a mulher se aproximou com seu caderninho.

A loira assentiu, fazendo suas anotações.

– Bebidas?

– Uma cerveja amanteigada, por favor – Lily respondeu pronta.

– Um uísque de fogo – James disse.

– Posso ver sua identidade, garoto? – A garçonete exigiu, olhando-o de cima a baixo.

Fazendo uma careta, James vasculhou os bolsos em vão.

– Não trouxe minha identidade.

Ele já passara da maioridade, Merlin! Não precisava mostrar sua identidade para comprar bebidas!

– Então não trarei seu uísque – a atendente respondeu simplesmente.

Era como se os dois estivessem numa batalha, o olhar de James era frio como gelo, porém o da garçonete não ficava atrás em escala assustadora. Um esperava que o outro cedesse. Quando a ideia de suborno passou pela mente de Potter, Lily se pronunciou.

– Traga duas cervejas amanteigadas, por favor – a ruiva disse, procurando resolver a situação.

– Tudo bem, querida – a garçonete assentiu; o sorriso voltando ao rosto. – Querem bolinhos de testículos de boi para a entrada? São importados!

Os testículos são importados? – James perguntou pasmo.

Aquele lugar estava se tornando um verdadeiro show de horrores para o maroto.

– Não – a garçonete respondeu lançando outro olhar irritado para ele. – Os bolinhos são importados.

Bem, isso não mudava o fato de serem testículos.

– Não queremos nada, obrigado – James dispensou-a.

Quando a mulher já estava longe, um sorriso surgiu nos lábios de Lily que logo foi acompanhado por uma risada eufórica.

– Esse é seu plano diabólico, Evans? – Ele perguntou. Ainda estava um pouco irritado, mas sabia fazer brincadeiras. – Me trazer no estábulo da amaldiçoada Morgana e me fazer comer as bostas dos cavalos dela?

Lily tentou responder, mas não conseguia parar de rir. Seu rosto já estava ligeiramente avermelhado.

– Maldade pura – James continuou, sorrindo também diante das gargalhadas dela.

– Não é tão ruim assim – ela revirou os olhos. – Você ainda nem provou a comida! Alice e eu adoramos os pratos daqui.

Uma resposta espertinha parou na ponta da língua de James, mas seus pensamentos foram tomados por uma dúvida mais urgente.

Por Merlin! – Ele exclamou temeroso. – Vocês não comem o bolinho de testículos, não é?

– Talvez – Lily deu de ombros, seus olhos verdes desafiando os dele. – Isso lhe assusta, Potter?

Na verdade, ela nunca chegou perto desses bolinhos, Lily odiava comidas exóticas. Contudo, isso não vinha ao caso. Irritar James Potter era uma prioridade.

– Lily Evans comedora de testículos – James balançou a cabeça decepcionado. – Essa poderia ter sido uma frase tão sexy...


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Notas finais do capítulo

Sinceramente, quero agradecer de coração aos leitores lindos e maravilhosos que deixaram review! É por vocês que estou continuando a fic. Espero não ter estragado tudo com esse capítulo haha. Como acham que o encontro vai terminar?



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