Aposta Destrutiva escrita por Wine


Capítulo 7
Sozinha, solteirona e sem amigos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/462376/chapter/7

– Então, quer dizer que meu kero-kero do amor vai ter um encontro com outra mulher hoje?

Vanessa revirou os olhos e fez uma expressão de repulsa, sabia que o garoto estava ocupado demais com a cabeça entre suas pernas para notar seu desconforto. O que ela não fazia por bons trocados... e quantos trocados aquele garotinho tinha para lhe oferecer!

– Não é nada importante, é só uma aposta – James fez questão de dizer. – Você é a única para mim, Vanessa. Sabe disso.

Ele passou a língua pela intimidade dela e Vanessa forçou alguns gemidos saírem de sua boca. O garoto era pegajoso demais para seu gosto, mas a mulher estava acostumada a fingir prazer, afinal essa era sua profissão.

– Não sei se vou suportar a ideia de meu kero-kero se agarrando com outra – ela continuou a interpretar seu papel de namoradinha ciumenta.

– Eu poderia dizer o mesmo para você – James lembrou.

O garoto sentou-se e uma expressão séria tomou seu rosto. Seu corpo estava banhado em suor devido ao que ele e Vanessa fizeram repetidas vezes, mas apesar de se sentir completamente satisfeito fisicamente, seus pensamentos não deixavam de ser raivosos.

– Tive que marcar um horário para ver minha namorada! – James cuspiu as palavras. – Porque corria o risco de ela estar com outro! Vanessa, já lhe disse antes, largue essa vida! Posso lhe sustentar, sabe que posso. O que fez com o dinheiro que lhe dei semana passada? Você podia alugar uma casa e sair desse lugar imundo.

– O dinheiro não foi suficiente – Vanessa respondeu numa voz excessivamente chorosa. – Só deu para comprar sapatos, vestidos e lingeries... Por isso preciso continuar trabalhando aqui. Para me sustentar.

James arregalou os olhos. Será que a quantia que ele dera fora insuficiente? E ele culpando sua namorada...

– Me perdoe, pequena – ele disse preocupado. – Não tinha ideia que sofria tanto. Vou lhe dar o dobro que dei a última vez. Acha que será suficiente?

– Talvez.

Vanessa iria torrar cada tostão da herança daquele garoto.

Quando uma garota diz que sua roupa poderia estar melhor, ela quer dizer que está horrorosa. Quando afirma que o look a deixa gorda, quer ouvir alguém dizer que ela está magrinha. Entretanto, quando uma garota diz que não quer ser tutorada, ela quer dizer que não quer ser tutorada. Remus Lupin descobriu isso da pior maneira possível naquela manhã de sábado.

– Vê se me escuta com atenção – Dorcas disse as palavras com entonação acentuada. – ME. DEIXE. EM. PAZ.

Remus piscou os olhos algumas vezes e olhou envergonhado para os lados. Eles estavam no salão comunal da Grifinória sendo observados por alguns calouros do primeiro ano. Era cedo, Dorcas ainda vestia seus shorts de pijama, mas isso não a deixava menos assustadora. Seu curto cabelo castanho mel estava desorganizado, porém não era como se ela o penteasse com frequência.

– Eu... – Remus estava sem palavras. O que ele diria? Tudo que queria era ser um cara legal, fazer uma boa ação ao ajudar alunos em seus estudos. Nunca imaginou que terminaria assim. – Slughorn me mandou ser seu tutor, disse que você está indo mal na matéria dele, então...

Me deixe em paz! É surdo por acaso? – Dorcas o interrompeu, farta de ouvir o frangote falar. – Vou arrebentar sua cara se não parar de falar.

Era engraçado ouvir isso dela, já que exibia um corpo frágil, alto e magro. Dorcas poderia ser modelo de passarela com toda certeza. No entanto, apesar dos traços femininos, Remus não queria arriscar apanhar de uma garota. Em uma escala de um a dez, Dorcas tirava nota máxima em expressões diabólicas.

Mas – ele protestou. – Quero ajuda-la...

– Eu não quero a ajuda de ninguém – Dorcas cuspiu as palavras, a raiva invadindo seus sentidos. – Não preciso da ajuda de ninguém! Principalmente de um garoto que só pensa em sexo.

Se não fosse trágica, seria hilária a maneira como Dorcas sempre fazia comentários que pegavam Remus de surpresa.

– Não penso em sexo – Remus disse e instantaneamente se arrependeu de sua escolha de palavras. – Digo, não penso só em sexo. Não. Espere, eu não estou pensando em sexo. Quero dizer –

– Todos os garotos só pensam em sexo – Ela continuou inabalada com a confusão dele. – Vocês são nojentos.

Sem palavras, Remus nada pôde fazer além de assistir à garota marchar ao seu dormitório como um soldado pronto para a linha de frente de uma batalha. Parte dele desejava segui-la, visto que seu código de honra interior dizia que ele se comprometera a ajuda-la nos estudos, entretanto o instinto de sobrevivência de Remus falou mais alto. Talvez fosse melhor deixa-la em paz.

– Tudo vai dar errado! – Entrando no quarto, Dorcas ouviu sua colega de quarto, Lily Evans, choramingar enquanto batia a porta. – Onde eu estava com a cabeça? Sou uma burra anta, anta, anta, anta...

– Opa, o que é isso? – Dorcas perguntou dirigindo-se ao seu guarda-roupa para escolher a roupa do dia. Preto e camuflagem eram looks válidos. – Crise na antalândia?

Os olhos de Lily se ergueram para encarar a colega de quarto, parecendo estar mais redondos e aguados do que de costume. O cabelo ruivo estava catastroficamente bagunçado devido ao fato de ela constantemente bater na própria cabeça com um travesseiro. O conjunto calça e blusa de pijama cor verde limão que Lily vestia só a deixava com aparência ainda mais cômica.

– Oh, por favor! – Alice, a terceira colega de quarto, exclamou irritada. Alice quase nunca soava irritada. – Lily, pare de ser dramática, esse é o meu trabalho. Dorcas – ela continuou, virando-se para a recém chegada e cruzando os braços. – Não piore a situação, Lily já está nervosa o suficiente para o encontro com Potter essa tarde.

– O quê? – Dorcas, que parecia ocupada demais revirando peças de roupas em uma gaveta sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Abruptamente, ela virou-se para encarar as duas companheiras.

Por alguns segundos, Lily e Alice se entreolharam com expressões confusas antes de voltar sua atenção para Dorcas.

– Lily, - Dorcas voltou a falar, soando inacreditavelmente desesperada. Ela largou a camiseta limpa que acabara de pegar e jogou-se de joelhos na frente da ruiva. – Me escute. Não faça isso. Não pode sair com um amigo de Black. Me escute. Não é brincadeira. Não saia com ele.

Ajoelhada, seu rosto ficava no mesmo patamar do rosto de Lily, que a analisava com certa hesitação. A respiração de Dorcas estava intensa, como se ela tivesse percorrido uma maratona. Suas narinas aparentavam abrir de forma mais acentuada que o normal, deixando-a com aspecto de louco. Contudo, Lily foi capaz de ver algo sincero no olhar da colega de quarto.

– Por quê? – Lily sussurrou assustada.

O exterior de Dorcas parecia ser o de um paciente fugido de um hospital psiquiátrico como o St. Mungus. Ela tinha que contar a Lily, avisar a garota que estava prestes a passar o que a própria Dorcas passou.

As duas garotas já foram melhores amigas; isto é, até Dorcas afastá-la completamente. A dor que Sirius Black lhe causou foi insuportável e com James Potter, o melhor amigo de Sirius, não seria diferente. A doce Lily não merecia passar pelo que ela passou. Se Dorcas contasse tudo agora, Lily não precisaria sofrer. No entanto, mesmo depois de meses e embaixo de looks assustadores, Dorcas Meadowes ainda morria de vergonha do episódio que mudou sua vida. Não estava pronta para falar.

– Acredite em mim – a voz de Dorcas falhou. – Se sair com ele, se arrependerá pelo resto de sua vida.

Lily estava sem reação e Dorcas não sabia mais o que dizer sem se comprometer. Para Alice, que até esse momento assistia as duas a certa distância, aquela foi a gota d’água.

Qual o seu problema, Dorcas? – Alice disse entredentes. – Nós entendemos que está nessa fase insuportável por algum motivo ridículo, mas só porque você afasta pessoas por opção, não quer dizer que todas nós deveríamos morrer sozinhas também. É exatamente isso que vai acontecer com você, sabia? Vai terminar sozinha, solteirona e sem amigos, caída em algum bar de quinta categoria. Pare de desejar a infelicidade das suas amigas! Lily é uma ótima garota, ela merece ter um cara decente como namorado. Dorcas, você é quem é uma invejosa do caramba.

Assim que terminou de falar, Alice logo se arrependeu por ter dado voz aos seus pensamentos. Desviou o olhar e cruzou os braços. Talvez fosse a TPM que a fizera desembuchar tudo, mas agora não tinha volta.

Era assim que Dorcas Meadowes se sentia no cotidiano, mas após ouvir tudo que Alice disse, não havia palavras para retratar o que ela sentia. Sem dizer um só ai, Dorcas recolheu sua roupa do chão e saiu do quarto. Não iria olhar para trás.

– Você pegou pesado – Lily acusou Alice assim que Dorcas deixou o cômodo.

– Alguém tinha que dizer essas coisas a ela, sabe disso – Alice respondeu, tentando se defender, não queria se sentir culpada. – Dorcas iria fazer com que você desistisse desse encontro, não é justo. Pode negar o quanto quiser, Lily, mas sei que tem uma quedinha por James desde o segundo ou terceiro ano. Finalmente tem uma chance concreta com ele e, como sua melhor amiga, não vou permitir que nada estrague sua felicidade. Agora, vamos já lavar esse seu cabelo, temos três horas até seu encontro.

Lily assentiu, mas seus pensamentos estavam distantes. Primeiro Remus lhe pediu para se afastar de James, depois Dorcas. Por que diabos eles diziam essas coisas? Parecia que o universo conspirava para que ela se afastasse de James Potter.

Remus Lupin não costumava a se distrair quando estudava na biblioteca, porém não eram todos os dias que alunos do segundo ano da Lufa Lufa jogavam stop lá. Ele tentou reunir todo seu foco para ignorar os gritos abobados e se concentrar em sua leitura.

Era um livro sobre táticas de xadrez bruxo. Remus adorava xadrez, se dependesse dele, jogaria todos os dias, mas seus amigos preferiam vagabundear por aí a ter que gastar neurônios em um jogo intelectual desses.

– Ei – Uma voz feminina distraiu-o.

Ele desviou o olhar do livro, deparando-se com Dorcas Meadowes lançando-o um de seus olhares demoníacos. Remus engoliu em seco, lembrando-se de como a conversa matinal deles terminou de modo vergonhoso.

Para dizer a mais simples verdade, Dorcas só o procurou porque precisava de alguém naquele momento. As frias palavras de Alice fizeram-na se sentir ainda mais solitária do que de costume, mas nenhum de seus antigos amigos parecia ter vontade de passar algum tempo com ela. Dorcas costumava ser popular, porém, através de atitudes rebeldes e grosseiras, fizera com que todos virassem às costas para si.

– Ainda está de pé o lance de ser meu tutor? – ela perguntou, sentando-se na cadeira frontal a de Remus.

– Não posso fazer isso – Lily murmurou agarrando firmemente a gelada pia do banheiro. – Alice, não consigo fazer isso.

A mão de Alice estava suja de sombra azul e riscos de lápis, graças ao papel de maquiadora que desempenhou para Lily. Mesmo sendo uma perfeccionista, Alice estava extremamente contente com o trabalho que fez no rosto da amiga, Lily parecia uma princesa. Um batom rosa claro complementava a pintura enfatizada dos olhos.

– Você está linda, Lily – Alice disse numa voz doce e reconfortante. – Claro que consegue.

Sentindo que iria vomitar, Lily balançou a cabeça de um lado para o outro com força. Era um milagre os cachos recém-feitos não terem desmanchado.

– Você não entende, Alice – Lily chorou e murmurou algo indecifrável. – Entendeu?

– Huh?

Revirando os olhos, Lily colocou as duas mãos ao redor da boca para cochichar algo no ouvido de Alice. Não queria que as outras garotas no banheiro ouvissem sua confissão pra lá de constrangedora.

– Desculpe, não ouvi – Alice disse, enquanto guardava seus cosméticos numa bolsinha. – Pode falar mais alto?

– Caramba, Alice! – Lily exclamou, sentindo os nervos atacarem sua educação. – Esse é meu primeiro encontro, ok? Por isso estou nervosa.

Observando a expressão de Alice, era óbvio que primeiro veio a compreensão e depois a incredulidade.

– O quê? – Alice perguntou exaltada. – E o australiano gato que foi lhe visitar nas férias?

– Eu inventei ele – Lily admitiu culpada. Droga, na época todas as suas amigas tinham namorado, menos ela. Precisava inventar alguma coisa!

– E o cara mais velho da Corvinal? – Alice continuou. De forma alguma aquele era o primeiro encontro de Lily; a garota era uma veterana, pelo amor de Merlin! – Como era o nome dele? Calvin?

– Carter – Lily corrigiu. – Nós só estudávamos na biblioteca. Nada mais.

Alice ficou boquiaberta, estava pasma. Como assim Lily Evans nunca teve um encontro em seus dezessete anos de vida? Surpreendentemente, a exaltação da amiga não fazia a confiança de Lily aumentar.

– Está linda, Lily! – Alice afirmou com um sorriso otimista estampando o rosto. – Tenho certeza que tudo vai ocorrer bem!

Lily não tinha tanta certeza, mas desceu as escadas até o salão comunal de qualquer jeito. Uma camisa azul-jeans agarrava seu corpo, valorizando sua cintura. Por cima dela, Lily vestia uma saia amarela clara esvoaçante que combinava com suas botas marrons. Ela esperava que James se vestisse de modo casual, afinal iria leva-lo a um de seus lugares preferidos – que não era nada sofisticado.

Falando em James, ele não estava em nenhum lugar daquele ambiente. Lily fora a primeira a chegar. Por algum motivo, aquilo não a surpreendia; James, definitivamente, desempenhava o papel de vaidoso.

Inquieta, Lily remexeu sua saia. Era impressão dela ou alguns meninos do terceiro ano cravaram os olhos nela? Merlin, ela deveria estar ridícula... Será que Potter iria demorar? Talvez sobrasse tempo para ela trocar de roupa e remover a maquiagem.

– Santo Rei Arthur da Escócia – Lily pôde ouvir atrás de si.

Rápido como um raio, um frio na barriga a atingiu impiedosamente. Lily fechou os olhos, se ela fosse desistir, agora era a hora. Poderia dizer que estava se sentindo mal ou algo parecido e voltar para a cama.

Por outro lado, se não fosse agora nunca mais teria a chance de sair com o infame James Potter novamente, sabia disso. Assim sendo, reuniu toda coragem que encontrou e virou-se, forçando a melhor expressão de descaso.

– Rei Arthur é da Inglaterra – ela corrigiu, procurando acima de tudo manter a calma.

Apesar de não estar tão produzido quanto ela, Lily tinha certeza de que James parecia bonito demais para estar ao seu lado. Em simples jeans escuros e camiseta branca James Potter era capaz de propagar glamour. Como um pedaço de mau caminho como ele foi se interessar logo por ela, uma garota tão comum? Não podia ser verdade.

– É o que eles querem que você pense – James respondeu dando de ombros, ele amava falar abobrinhas mais do que ninguém. – Lil, você está... magnífica.

James não estava mentindo. Por Merlin e suas barbas gigantes, desde quando a meiga aluna Lily Evans tinha... bunda? Era a primeira vez em que ele tinha uma visão clara de que a ruiva tinha sim um corpo, ainda que James desejasse que a saia dela fosse dois palmos mais curta. E a camisa... Se por acaso, mais tarde, eles entrassem em uma sessão de amassos como ele planejava, ficaria contente de desabotoar aquela peça de roupa.

– Pediu que eu usasse botas – ele disse, tentando ao máximo impedir que sua cabeça de baixo pensasse mais que sua cabeça de cima. – Peguei emprestado as botas vagabundas de combate do Sirius, espero que sejam suficientes.

Dessa vez, um sorriso grande tomou conta do rosto de Lily. Suas mãos tremiam e ela se amaldiçoou por isso. Tentou desviar o olhar, mas era difícil com James olhando-a de cima a baixo.

– Acho que são ótimas – ela respondeu nervosa.

– Você é ótima – James disse, duvidando da qualidade das botas sem marca famosa do amigo e sentindo a necessidade de compartilhar o quanto a aparência dela mexera com o psicológico dele. – Deslumbrante.

Lily revirou os olhos, sabendo que estava corando. James Potter parecia um cara tão legal e descolado... Muita areia para o caminhãozinho dela. Também era tremendamente gentil e atencioso. Por que infernos Dorcas e Remus mandaram-na ficar longe dele?

– James, - Lily começou com a voz incerta. – Posso confiar em você?

O sorriso deixou o rosto do garoto e seus olhos se encontraram com os olhos verdes minuciosamente maquiados de Lily.

– Confie em mim como se eu fosse seu reflexo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não sei vocês, mas esse foi um dos meus capítulos preferidos. Talvez eu demore um pouco para atualizar, visto que ainda nem comecei a escrever o próximo capítulo.. mas quem sabe, né? Pesquisas afirmam que reviews aceleram o processo de criatividade XD
** Bye bye, chicos calientes.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aposta Destrutiva" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.