Aposta Destrutiva escrita por Wine


Capítulo 11
Conversas, ameaças e calote




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– Foi assim que ele ficou preso de cabeça para baixo – James terminou de contar como pregara uma peça num sonserino durante o quarto ano. – Um simples feitiço de fixação dos sapatos no teto. Nada muito elaborado, mas bem difícil de remover.

Sorrindo, Lily balançou a cabeça perplexa. Eles ainda estavam caminhando de volta a Hogwarts. Era de se esperar que depois do desastre que o encontro deles foi, iriam andar o mais rápido possível, desesperados para irem embora e deixar de encarar o outro. Porém, Lily escolhera o caminho mais longo e James caminhava vagarosamente, nenhum deles exibindo ansiedade para chegar à escola. De fato, devido a alguma lógica distorcida que regia a mente deles, sentiam-se mais a vontade após a discussão.

– Impossível – Lily murmurou incrédula e desatenta às pessoas em volta. – Sempre acreditei que vocês usaram algum feitiço de levitação permanente. Eu vi como foi difícil para McGonagall tirá-lo de lá.

– As melhores engenhosidades são simples – Potter comentou com seu ego inflado.

Não havia nada que ele gostasse mais do que contar como era criativo em suas peças. Talvez se gabasse um pouco, mas as pessoas sempre se impressionavam com suas histórias. De fato, Lily Evans não só parecia impressionada, ela parecia cada vez mais extasiada.

– Genial – ela sussurrou maravilhada, perdida em pensamentos.

Com um largo sorriso no rosto, James lutou contra o instinto de passar seu braço pelos ombros dela. Pelo que conhecia de Lily Evans, ela não aparentava apreciar toques impulsivos.

– Você, a senhora rainha da exigência, acabou de me chamar de gênio?

Lily revirou os olhos e deu um soco leve no braço dele. Ainda sorrindo feito bobo, James inclinou ligeiramente a cabeça para olhá-la. Lily não era alta, mas também não era baixinha. James tinha apenas um palmo e meio de altura a mais do que ela.

– De qualquer forma, - ele continuou despreocupado. – Pensei que você fosse contra essas... brincadeirinhas. Lembro-me bem de quando brigou comigo e meus amigos alguns anos atrás por causa disso. Você defendeu aquele esquisitão da Sonserina, não é? O Snape.

Lily também se recordava. Tal episódio foi, talvez, a primeira vez em que ela falou mais do que três frases a James. Na época, os dois eram novos demais para serem monitores, portanto não interagiam significativamente um com o outro. A garota era tímida, não teria coragem de trocar simples palavras com todo poderoso James, mas quando ele ameaçou seu amigo – ex amigo – Severus Snape, Lily teve coragem de defende-lo com palavras afiadas contra a gangue de Potter.

Foi surpreendente quando James parou de torturar Severus para ouvir o que ela tinha para dizer. Devido a sua criação, James sempre respeitou garotas. Lily tinha certeza de que ele iria parar de pregar peças em Snape caso ela continuasse seu discurso. Contudo, humilhado por ser defendido por uma garota com quem constantemente desentendia-se e orgulhoso demais para obter piedade de Potter, Severus surtou e insultou-a, titulando Lily de sangue ruim.

Depois disso, James pareceu encarar Snape com ainda mais desprezo e atormentou-o até não poder mais. Lily assistiu tudo em choque, mas, por mais que ela detestasse admitir, sua raiva a dominou naquele dia. Ela gostou de ser defendida por alguém – ainda que no período Potter nem mesmo soubesse seu nome direito. De qualquer forma, era de se esperar que sua amizade com Severus Snape não fosse durar. O garoto tinha uma personalidade muito fraca, seguia seus amigos “sangue puro” fielmente.

Lily se lembraria daquele capítulo de sua vida para sempre, afinal perdeu um amigo naquele dia, mas ganhou um herói.

– Sou contra as brutalidades das suas peças, James – ela disse sem vontade nenhuma de elaborar, jogando o cabelo para trás dos ombros. – Mas isso não quer dizer que eu não saiba apreciar a ciência por trás delas.

Naquele momento especifico, James notou que Lily Evans estava fantástica. O rosto estava devidamente maquiado, mas não era isso que a deixava tão linda. Era o sorriso. A pele corada. O vento que levantava mechas do cabelo ruivo, por mais que ela tentasse segurá-lo. James sempre achou que preferia as morenas, mas olhando Evans, ele acreditou que ela pura e verdadeiramente perfeita.

– Nós poderíamos tentar de novo, sabe – James deixou as palavras escaparem.

Lily olhou-o com elevada expectativa, mordendo o lábio inferior.

– Ir a um lugar não tão... exótico – ele continuou, tomando cuidado com seu vocabulário. Não queria brigar com a garota novamente.

Diante da escolha lexical dele, Lily gargalhou.

– Eu não pretendia levá-lo de volta àquele restaurante mesmo – ela atestou.

– Acho que nem você vai querer voltar lá depois do que fizemos.

Confusa, Lily lançou-o um olhar de interrogação.

– Não acho que nossa discussão foi assim tão vergonhosa a ponto de eu nunca mais ter coragem de aparecer por lá – ela disse, percebendo que ele não iria explicar-se sem um estimulo.

James sorriu, uma expressão que claramente indicava que ele escondia algo dominava seu rosto.

– Lil, você nem percebeu que saímos sem pagar a conta, não é?

Espantada, Lily interrompeu abruptamente seus passos. Como Potter podia soar tão calmo a respeito do que acabara de dizer? Pelo amor do mago Merlin, como ela pôde sair sem pagar? Que vergonha! Ela não era uma caloteira!

– James! – Lily castigou-o, sentindo uma vontade imensa de bater o pé no chão. – Precisamos voltar! Por que não disse antes?

– Relaxa – ele respondeu num tom tranquilo. – Deixei meu casaco lá. Aposto que custa mais que o restaurante inteiro. Além disso, precisamos apertar o passo. Acho que vai chover.

Ainda indignada, Lily queria a todo custo voltar e quitar sua divida no restaurante. Estava tão envergonhada, não era do tipo de pessoa que saía sem pagar. Também não era do tipo de pessoa que discutia em lugares públicos, porém Potter aparentava fazer uma enorme bagunça em seu comportamento.

Quando olhou para o céu, contudo, notou que as nuvens estavam extremamente escuras, o que provava que estavam carregadas. Poderia chover a qualquer instante. Droga, por que ela escolhera o caminho mais longo?

– Tudo bem – Lily suspirou derrotada, recomeçando a andar. – Vamos para Hogwarts. Mas depois vou dar um jeito de voltar lá e pagar. Prometo.

James não sabia se Lily estava fazendo uma promessa a ele ou a ela mesma, mas a garota soou tão firme e, ao mesmo tempo, graciosa que, dessa vez, ele não resistiu. Passou o braço pelos ombros dela. O movimento a surpreendeu, mas ela não se acovardou diante da proximidade. Continuou andando no mesmo ritmo que James e até considerou a ideia de passar seu próprio braço pela cintura dele, mas decidiu que seria ousadia demais. Além do mais, Lily frequentemente segurava a saia que ameaçava a subir com a intensa ventania.

Para James, aquele se revelou um bom dia no final das contas. Bom, não. Ótimo.

Pela primeira vez em muito tempo, Dorcas Meadowes estava chorando na frente de outra pessoa. Era vergonhoso soluçar tão forte e ter seu corpo todo tremendo, porém a essa altura Dorcas nem se importava mais, já se sentia tão humilhada por finalmente tocar no assunto que deixara escondido por meses que nada mais parecia importante. Ela não era a valentona que sua imagem pessoal implicava.

– Aqui – Remus disse com a voz calma, procurando transmitir tranquilidade para a garota. – Coma isso.

Ele tirou um pequeno pacote azul do bolso da calça. Dorcas olhou-o pelo canto dos olhos, mas sua visão estava distorcida graças ao excesso de lágrimas. Os dois estavam sentados próximos ao lago, mas precisamente escondidos atrás de algumas árvores a fim de evitar os estudantes curiosos que passeavam por perto. Quando Sirius finalmente convenceu Marlene a deixar a biblioteca, já era tarde demais, as garotas já haviam chamado muita atenção e viraram a atração principal do local.

Sozinhos, Remus achou que tinha a responsabilidade de se certificar de que Dorcas ficaria bem. Talvez fosse cavalheirismo ou altruísmo, mas ele queria cuidar dela, a garota parecia tão frágil em contraste a sua aparência diária. Foi então que ela desmoronou e chorou como uma menininha de três ou quatro anos, implorando que ele fizesse algo para ajuda-la. Assustado e sem saber o que fazer, Remus encaminhou-a desajeitadamente para um de seus lugares preferidos do domínio de Hogwarts.

– É chocolate – ele continuou quando ela não se mexeu. – Sempre me sinto melhor quando como chocolate.

Remus estendeu a mão para entregar a barra de doce a ela. Apesar de estar sentado ao lado dela, ele manteve expressiva distância entre eles. Remus sentia-se como se aquela Dorcas vulnerável pudesse quebrar caso ele chegasse perto demais.

Exasperada, Dorcas chacoalhou a cabeça com tanta força que se descabelou. Não queria chocolate, não melhoraria sua situação em nada. Em circunstâncias normais, ela teria dado um soco no nariz dele por oferecê-la algo tão banal quanto chocolate numa situação de crise.

– Sir... Sirius mentiu. Mentiu... Na minha cara – A voz dela falhou em vários partes de sua frase devido aos excessivos soluços. – Como ele pôde? Depois de tudo que passamos. Eu...

Se pudesse, Remus abriria um imenso buraco no chão ao seu lado e se jogaria. Ele não gostava de situações em que não sabia como agir e, ouvindo as palavras de Dorcas, ele realmente não tinha noção sobre o que dizer. Ironicamente, mesmo temendo-a até a morte, Remus queria a Dorcas grosseira e irreverente de volta.

– Não acredito que ela tenha acreditado nele – Dorcas desabafou, sentindo os ombros pesados.

O que mais doeu para Dorcas foi ver com seus próprios olhos Sirius a chamar de louca e mentirosa e, segundos depois, Marlene acreditar nele como um animalzinho bem treinado. A princípio, Dorcas odiou Marlene por pensar que esta tivesse arrancado Sirius de seus braços, mas agora, ela odiava Mckinnon por agir como uma verdadeira burra ignorante.

Uma folha seca caiu sobre a cabeça de Remus. O vento estava forte, tão forte que balançava seus fios de cabelo impiedosamente e fazia perfeitas ondas periódicas na água do lago. O céu estava ficando cada vez mais escuro, provavelmente anunciando que uma chuva se aproximava.

– Não acho que Marlene tenha realmente acreditado em Sirius – ele disse com uma voz sábia que não sabia de onde vinha quando sentiu a necessidade de quebrar o silêncio. – Acho que no fundo ela sabe que está se enganando.

Ligeiramente mais controlada, Dorcas encarou-o com olhos severos. O lábio superior dela estava tão fortemente pressionado contra o inferior que juntos formavam uma linha reta. Era como se ela estivesse se segurando para não dizer algo. A verdade era que, para Dorcas, não importava se Marlene estivesse se enganando ou se simplesmente fosse uma tonta. Marlene Mckinnon era uma idiota de qualquer forma e Dorcas queria arrancar a cabeça dela por isso.

– Por que você acreditou em mim?

– Como assim? – Remus perguntou surpreso por ouvir Dorcas dizer algo sem que sua voz saísse trêmula.

– Você poderia ter acreditado no seu amiguinho Black – ela disse, voltando aos poucos a soar como a insolente de sempre. – Poderia ter acreditado que eu sou uma psicopata-monstro que faz de tudo para atrapalhar o amor verdadeiro do rei e da rainha de Hogwarts – parecia que Dorcas engoliu algo incrivelmente azedo quando disse as últimas palavras. – Por que resolveu acreditar em mim?

– Não resolvi acreditar em você – ele respondeu calmo como o sensato que era. – Eu acredito na verdade. E, francamente, conheço muito bem meus amigos. Sei do que Sirius é capaz. Não me surpreende que ele tenha... – Remus se interrompeu, procurando palavras que não fossem consideradas indelicadas. – Ferido seus sentimentos.

O cabelo castanho claro de Dorcas balançava com o vento, frequentemente batendo em seu rosto, mas como os fios não eram compridos, não chegava aos olhos. Deuses, como Dorcas sentia falta de seu cabelão. O que ela não daria para poder fazer um rabo de cavalo de novo. No entanto, após o que aconteceu com Sirius, ela prometeu que não se importaria com futilidades nunca mais. Não seria vaidosa. Não seria como Mckinnon.

– Eu a odeio – Dorcas sussurrou para si mesma, mas Remus foi capaz de ouvi-la.

– Ei, - ele disse numa voz aveludada, torcendo para não irritá-la. – Não culpe Marlene. O culpado de tudo é o Sirius, não ela.

Os olhos de Dorcas se arregalaram em fúria. Ela não estava brava com Remus. Estava com ódio da vida, do universo e de sua própria ingenuidade por ter se permitido apaixonar por Sirius Black meses atrás. Contudo, parecia muito mais fácil centralizar toda essa hostilidade em uma só pessoa: Marlene Mckinnon. Afinal, Sirius preferiu Marlene a ela.

– Eu a odeio – Dorcas repetiu mais alto, prometendo para si mesma que faria Marlene sofrer tanto quanto ela sofria.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que continuam acompanhando. Talvez eu demore para atualizar, porque ultimamente estou estudando tanto que, quando chego em casa, só tenho vontade de cair na cama e dormir até as férias haha. Porém tentarei o possível para atualizar em breve!
Wine



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