Pov. Augustus

Eu juro que não foi por mal. Mas acabei escutando toda a conversa da Hazel com os pais. Não vou nem dizer como foi. Só resumir para: C. P. R. V. N. C. (Castigo Para o Resto da Vida e Nada de Cirurgia). Dava para ouvir os soluços do pai de Hazel á quilômetros. Mas Hazel não soltou um ruído sequer. E ela não teve permissão nem de se despedir de mim.

Ouvi que ela não podia atender minhas ligações também. Então fiz toda uma estratégia e liguei para a mãe dela, três dias depois:

–Alô, Sra. Grace?

–Augustus. Desculpe, mas Hazel não pode atender as suas chamadas. Talvez daqui a algum tempo, no dia seguinte ao que seria a cirurgia, eu permita...

–Sra. Grace, pode me responder a três perguntas?

–Claro, Gus. -Ela disse, desconfiada.

–1: Você acha justo o castigo da Hazel, estou correto?

–Isso é um tanto óbvio, Augustus. Eu só faria á minha filha aquilo que sei que é justo, certo e melhor para ela. É claro que acho que estou correta.

–Certo. Minha pergunta 2 é: Considerando o quanto você sabe que gosto, aliás, amo, sua filha, você acha que faço bem á ela?

–Bem, sim. Mas porque essas perguntas agora?

–Bem, Sra. Grace, é que essas duas perguntas me levam á terceira e mais significativa: A senhora acha justo que Hazel seja castigada, mas você acha justo eu ser castigado por causa de algo que ela fez?

–Eu não estou te entendendo, Augustus. -Ela respondeu, hesitante.

–Acho que está me entendendo perfeitamente bem. Você está castigando sua filha, mas inconscientemente está me castigando também. Eu amo sua filha o bastante para que ficar distante dela seja um castigo para mim. A minha pergunta para você é: Eu preciso e vou continuar sendo castigado pelo que sua filha fez?

Silêncio total do outro lado da linha. Quando eu comecei a achar que ela desligou na minha cara, ou algo do tipo, ela respondeu em uma voz baixa e envergonhada.

–Não, Augustus, não vai. Me desculpe, eu nem fazia ideia de como seria para você. Mas ela não vai te ligar. Você vai ter de ligar para ela. Pode ser?

–Bom saber, Sra. Grace. Claro que pode. Obrigado pela sua consideração. Até logo.

–Até.

E desligou. Eu entrei no porão, fechei a porta, e, com muito esforço, fiz a melhor dancinha da alegria que conseguia com uma perna e uma prótese. Depois, sem perder mais tempo, liguei para Hazel.

–Alô?

–Hazel Grace.

–Como conseguiu convencer minha mãe? Sabe, estou começando a te considerar um gênio depois dessa.

Um diálogo de três falas e BUM, estávamos no que eu chamo de Minha Terceira Dimensão, que eu adoro compartilhar com Hazel Grace. Não que ela saiba. Era como se eu não estivesse no porão e ela não estivesse no quarto dela, mas sim num lugar aconchegante e só nosso, que só podíamos alcançar com o telefone.

–Bem, digamos apenas que um pouco de sentimentalismo e amor adolescente podem fazer de tudo.

Ela riu. Eu quase conseguia vê-la na minha frente, rindo e falando com um enorme sorriso.

–Sabe, Hazel, eu estou um preocupado pelo fato de te conhecer.

–Hein? -Agora o tom de voz dela era de confusão total, com um toque divertido.

–Acontece que eu te conheço. Portanto, acabo me preocupando por você não poder fazer a cirurgia.

–Augustus, eu juro que não estou te entendendo. - Falou quase igualzinho á mãe. Nossa.

–Vou explicar. Como você está proibida de ir á cirurgia,vai fugir ou ficar deprimida.

Ouvi um suspiro.

–Você me conhece mesmo.

–E qual das opções é a certa?

–Acho que vai descobrir sozinho.