O monstro dentro de nós escrita por Sayu


Capítulo 7
Um monstro


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do capítulo o/



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Naquela noite eu sonhei com algo... Com os gritos que vinham das celas fechadas do hospital psiquiátrico. Eu vi pessoas sendo amarradas, amordaçadas, cortadas ao meio para serem examinadas, vi pessoas serem dilaceradas ainda vivas por máquinas que queriam ver o interior de seu cérebro.

Acordei atordoada e com um sentimento pesado em meu peito. Hector dormia angelicalmente na cama ao lado. Aproximei-me de seu rosto e afaguei seus cabelos, ele parecia um animal indefeso naquela hora. Eu queria abraça-lo, mas imaginei o quão desconfortável a situação ficaria se ele acordasse.

– Karin? – ele abriu seus olhos lentamente.

– Bom dia.

– Bom dia... Ontem à noite você não parecia estar dormindo muito bem.

– Está tudo bem, eu só tive um pesadelo.

Ele sentou na cama e eu sentei ao seu lado. Hector parecia muito aconchegante naquele momento, mas talvez fosse apenas por eu estar realmente perturbada por aquele estranho sonho.

– O que acha que tinha dentro das celas fechadas?

– Eu sei o que tinha. Eu já estive lá.

– Jura? E o que tinha?

– Não passei muito tempo por lá. Mas sabe, aquele lugar tinha cheiro de morte. Era por que todas as pessoas que estavam lá carregavam a morte de alguma maneira.

– Quer dizer que eram pessoas com problemas psicológicos... E assassinos?

– Tecnicamente, assassinos de alto nível. De um grau de psicopatia tão alto que eles deveriam estar numa prisão perpétua. Mas sabe, a corrupção fez com que eles fossem apenas para o hospital psiquiátrico. Naquele lugar, sangue e morte correm à solta. Quando estive lá, apenas sobrevivi por que me aliei com pessoas fortes.

– Quer dizer que lá é livre? E ficam todos juntos? Isso é tão errado e estava em meu rosto o tempo todo...

– É como o mundo é. Existem coisas terríveis acontecendo bem na nossa frente, mas nós não vemos e às vezes é melhor que não vejamos. Porque não é fácil lidar com o fato de que o mundo é tão terrível e que somos tão impotentes na frente de todo o caos.

– Sabe, eu sempre acreditei que nós poderíamos mudar as coisas. Mesmo que só um pouquinho. Agora eu me pergunto se isso é realmente verdade.

Deslizei meus pés pelo macio carpete e escorei minha cabeça no ombro de Hector. Olhei para minhas pernas e lá estavam as cicatrizes de meus cortes. Sem querer, lembrei-me de toda a dor de estar sozinha. Lembrei-me da dor que era tão grande que eu apenas queria que ela desaparecesse, então peguei cacos de vidro e cortei minha perna.

Minha intenção nunca fora de me matar, a intenção das pessoas que se cortam nunca é essa. Mas sabe, às vezes a dor é tão intensa, tão terrível, que a dor física é a única forma de aliviar a dor psicológica. Eu usava meias calças para cobrir esses cortes, mas agora eu gosto deles, porque vejo que eles já não são mais necessários.

Batidas na porta tiraram-me bruscamente de meus pensamentos. “Acordem criancinhas, é hora de irmos, temos que nos encontrar com Lis e Oliver para esclarecer alguma coisa e aproveitar o dia para viajarmos para o Bairro Proibido.”, era a voz de Claire que estava especialmente irritante naquela manhã.

– Estamos indo! – gritei.

Lavei meu rosto e amarrei meus cabelos. Hector já estava parado em frente a porta e assim que estava pronto, nos encontramos com Claire que não parecia estar de muito bom humor. Nós andamos em direção ao elevador enquanto a mulher se queixava de estar usando aquela roupa fazia muito tempo e que ela era muito desconfortável.

Assim que chegamos à recepção, encontramos Lis e Oliver sentados no saguão enquanto despreocupadamente brincavam de “adedonha”.

– O que aqueles idiotas estão fazendo? – Claire suspirou. – Olha, eu vou acertar as coisas aqui, fiquem com eles por enquanto.

Com um pouco de insegurança, peguei a mão de Hector e andei até os dois que ainda não pareciam ter notado nossa presença.

– Olá. – falei.

– Ah, é a garotinha de ontem! Como eu pensei, você é fofa mesmo. Aposto que ficaria bem bonita com estilo “steampunk”! – Lis falou.

– Steam... Punk?

– Sim! É meu estilo, vê? – ela falou, levantando-se e mostrando seu luxuoso vestido marrom com um corpete. Ele tinha algumas camadas e pequenas engrenagens. Era parecido com o de ontem, mas era ainda mais bonito.

– Oh, é um estilo muitíssimo elegante. Mas não combina muito comigo...

– Hum... Que estilo será que combinaria com você? Você não pode usar essa roupa pra sempre, certo? Eu posso costurar uma roupa nova pra você!

– Isso seria bom, mas eu preferia uma roupa discreta.

– Roupas discretas não são legais, assim você não pode mostrar para o mundo o quão brilhante você é.

– Bem, eu acredito que as pessoas possam ser brilhantes por dentro.

– É, você tem razão, mas é muito mais legal ser brilhante por fora, não acha?

– Elizabeth, pare de atormentar a garota. – Oliver puxou Lis para que sentasse no sofá novamente. – Às vezes você realmente exagera.

– Me desculpe. – ela riu, o abraçando. – Mas eu estou mesmo animada para ir até o Bairro Proibido. Bem, na última vez não foi muito agradável, mas agora aposto que seria.

– Hum, como vocês conhecem Claire? – perguntei timidamente.

– Eu sou primo e irmão de criação de Claire. Bem, pelo menos desde que meu pai a adotou. – Oliver falou.

– Oh, você é filho daquele tio da Claire que é da Máfia francesa?

– Exatamente. - ele sorriu. – Mas eu recusei ser herdeiro dele, então Claire herdará tudo.

– Desculpe se isso é pessoal demais, mas por que recusou ser herdeiro?

– As pessoas da máfia não tem uma vida muito tranquila. As pessoas constantemente tentam mata-lo não importa quanto tempo passe e nem se você virar idoso, não existe aposentadoria. Eu também não gostaria de colocar Elizabeth em perigo e já que vamos nos casar um dia, não quero essas coisas nos atrapalhando mais tarde.

“Será que Claire não se importa com isso? Ela sempre parece determinada e forte, mas uma pessoa deve ser mesmo resistente para conseguir aguentar a pressão de segurar tantas vidas e ainda não ter descanso.”, pensei.

– Prontinho, já acertei tudo do hotel. – Claire se aproximou. – Também liguei para o piloto já preparar o helicóptero. Nossa, Lis, essa roupa não vai caber dentro de um helicóptero.

– Claire sempre tão piadista. – Lis riu.

– Claro. Hector e Karin podem sair rapidinho para que nós acertemos as coisas aqui?

– Ah, claro. – falei.

Nós fomos até a rua e sentamos no meio fio. Apesar de tudo, aquilo ainda era apenas uma cidade. E na luz do dia ela parecia menos perigosa. Até mesmo o casino não parecia tão estranho, a única coisa que me incomodava era que não havia muitas pessoas por lá.

– Karin, eu preciso ir ao banheiro. – Hector falou. – Eu volto logo. Tome cuidado e fique com isso. – ele me entregou um canivete.

– Você não vai só ao banheiro? Pra que preciso disso? E eu posso ficar na porta.

– Não, Karin. Você tem que ficar aqui. Por favor, não posso te explicar mais que isso.

– Ok. – Mesmo que soubesse que Hector estava mentindo, aceitei e peguei o canivete de sua mão.

Depois de alguns minutos sozinha, notei um movimento estranho até notar que o lugar estava totalmente vazio. Quando me dei conta, estava cercada por uma gangue de garotos que se aproximou rapidamente.

– Essa garota é muito bonitinha, é estranho estar num lugar como esse sozinha... Então não vai fazer mal que a gente a pegue emprestado, certo?

Antes que pudesse gritar, um deles me agarrou e tapou minha boca. Mas o canivete continuava na minha mão, eu o abri e com toda força que me restava cravei o canivete na perna dele e girei. O garoto gritou de dor e me soltou, nessa hora todos vieram para cima de mim.

Minha mente se desligou. Apenas alguns flashes vieram em minha mente depois disso. De alguém que conseguiu deixar todos aqueles garotos inconscientes, alguns até mortos, com apenas um canivete. Alguém que eu havia guardado dentro de mim e que novamente estava solto... Um verdadeiro monstro.


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Notas finais do capítulo

Se gostarem, comentem e favoritem (:



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