O monstro dentro de nós escrita por Sayu


Capítulo 5
O passado de Hector


Notas iniciais do capítulo

Tava com um bloqueio que parecia que não ia acabar D: e forçar escrever é pior ainda. Não gostei tanto desse capítulo... Mas espero que gostem.



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“Podemos dizer que a nossa casa foi praticamente uma fábrica de monstros. Tínhamos três irmãos mais velhos. Dois garotos e uma garota. Todos eles tinham quase a mesma idade, com apenas em torno de um ano de diferença. Michel, Adam e Julianne. Parecia mais que cada criança que tiveram foi apenas para tortura-las física e psicologicamente.

Por fim, nossos irmãos acabaram descontando suas frustações e raivas nos dois caçulas, no caso, eu e Hector. Cada irmão tinha um tipo de tortura preferida. Julianne estava sempre a falar que eu era gorda, feia e que nunca encontraria alguém disposto a amar uma pessoa defeituosa como eu. Adam era um completo sádico, que começava a rir enquanto destruía meus brinquedos, que naquele tempo eram como meus únicos amigos. E Michel, o mais velho, era o mais terrível de todos.

Michel não tinha piedade nem de Hector, que era apenas uma criancinha. Socos, chutes, queimaduras e marcas de facas por todo nosso braço. Tudo isso era causado por ele. As coisas só pioravam quando ele voltava bêbado para casa, ficava muito mais violento e um dia quase chegou a matar Hector, se não fosse por Julianne que disse que fazer aquilo só traria encrencas para a família.

Nós dois odiávamos nossos pais mais que tudo, mesmo que eles nunca tenham nos machucado diretamente. Só que pior que nos ferir, nossos pais fingiam que tudo estava perfeitamente bem. Nossos gritos e lágrimas eram abafados por um: “Não faça tanto drama” proferido pelas pessoas que deveriam supostamente cuidar de nós.

Eu tentei cuidar de Hector para que ele não fosse atingido por aquela violência e tristeza, mas eu também era apenas uma criança que nada poderia fazer. Na realidade, havia me contentado a viver uma vida cheia de ódio e repulsa. Recheado de jantares em famílias que pareciam intermináveis torturas.

Imagine que alguém te odeia, te maltrate e faça tudo de ruim para você. Mas agora imagine o pior, que você tem que sentar ao redor de uma mesa com essas pessoas todos os dias e brincar de família feliz. Mesmo que sua vontade seja a mais sombria de todas, vontade de realmente mata-los.

Estive tão ocupada pensando em como sobreviver a cada dia que acabei não notando como Hector estava se moldando. Cada dia ele ficava cada vez mais calado e até acabou parando de chorar quando o torturava. Ele era uma criança e aquela atitude era totalmente anormal. Até mesmo parecia que estava aturando nossa brincadeira de família muito bem, logo conseguia sorrir com falsidade como meus pais e meus outros irmãos.

Porém, Hector não teve o mesmo caminho que os outros. Um dia, simplesmente me chamou e disse que acabaria com aquilo. E quando me disse isso, deu um sorriso que fez meu corpo estremecer. Não era um sorriso falso, parecia que ele realmente estava se divertindo com aquilo.

Hector disse para que eu fosse até o quarto onde cada um dos meus irmãos dormia e pegasse a chave. Pediu exatamente a mesma coisa sobre meus pais. Apesar de estar um pouco confusa, decidi confiar em Hector. Apesar de sua pouca idade, era um garoto extremamente genial, com as melhores notas em sua escola, mas que meus pais não se importavam nem um pouco.

De noite, fui silenciosamente e consegui pegar as chaves de todos os quartos. Após entregar a Hector, ele me disse que éramos pequenos e deveríamos apostar em um ataque surpresa. Foi só naquele momento que consegui enxergar o que Hector queria fazer.

Mas naquele ponto, não seria eu que iria impedi-lo. Hector disse que encontrou gasolina e fósforos no porão e que seria bem mais fácil uma morte assim. E ainda disse que queria que eles sentissem como é queimar no inferno. Apesar de assustada, não recuei. Ajudei Hector e espalhar gasolina por toda a casa. Depois trancamos todos os quartos e por fim, ateamos fogo no local.

Antes de sairmos dali, Hector ficou um tempo parado ouvindo os gritos de terror que vinham do andar de cima. E ele sorria como se tivesse acabado de ganhar um prêmio. Depois, do lado de fora, observamos o lugar ruir tão rápido que os bombeiros nem conseguiram chegar a tempo.

Não vou mentir, eu estava feliz. Muito feliz. Era como se um peso tivesse saído das minhas costas. Eu gostei de ver aquela casa queimar e de saber que os monstros haviam virado cinzas. Mas logo depois da animação, percebi que a polícia ia suspeitar que nós houvéssemos feito aquilo.

Não poderíamos dizer que fora acidental, porque todas as provas mostrariam que foi de propósito. E algo arquitetado diabolicamente ainda mais. Assim que a polícia chegou, não dei tempo para que Hector falasse algo e disse tudo aquilo que passamos dentro daquela casa.

E contei também que fora Hector que havia feito aquilo. E ele não parava de me olhar com indignação. Mas a verdade, é que eu sabia exatamente o que estava fazendo. Disse que Hector tinha sérios transtornos psicológicos e a culpa de ter feito aquilo era por isso. E engoliram essa desculpa, o internando no hospital psiquiátrico em que ele te conheceu.

Parece que ainda não entra na cabeça desse garoto que o que eu fiz foi o melhor para todos, quem sabe o que fariam se achassem que Hector era um garoto terrivelmente psicótico e um perigo pras pessoas? Talvez até houvesse o sentenciado a pena de morte.

Bem, depois que Hector foi internado fui encaminhada para ficar com o parente mais próximo. No caso, meu tio que nunca havia visto em toda minha vida. O que eu sabia dele era que meu pai o odiava e sempre tentava ao máximo não mencioná-lo.

Apesar da rixa que os dois tinham, meu tio me acolheu como sua própria filha. Era um homem gentil que via muita importância na família e nos amigos. Porém, esse homem também era um dos maiores mafiosos da França. E como não tinha herdeiros, acabei sendo treinada para que um dia tomasse seu lugar.”

Com tanta informação, minha cabeça estava quase explodindo. Estava muito confusa e intrigada com tudo aquilo, mas também estava inegavelmente fascinada por aquela história. Mais uma vez me dei conta de que havia entrado em algo muito maior do que eu imaginava.

E por mais que soubesse que Hector era perigoso, com aquele relato a certeza havia aumentando. Porque Hector não matou pessoas desconhecidas, mas sim sua própria família. Eu odiava o que a família dele havia feito, mas não podia negar o fato de que Hector era louco. Uma criança fazer algo assim...

– E você? Qual sua história? – Claire perguntou.

– Não é nada interessante. – virei o rosto. – Só algo meio problemático. Não tem necessidade de saber agora.

– Ok, ok. Karine, você está disposta a entrar nisso? É um mundo do qual você nunca viu. Um mundo que as pessoas estão constantemente tentando esconder das pessoas comuns. Tráfico, mortes, vendas ilegais, torturas, tudo isso acontece bem debaixo do nariz dos outros e dificilmente alguém tem a honra ou a desgraça de ver isso de perto.

– Eu não acho que eu tenha muita escolha, de qualquer forma...


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Notas finais do capítulo

Se gostaram, comentem e favoritem ~



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