Os olhos meus, que são tão seus escrita por La-Fenix


Capítulo 4
Moulin Rouge-Um amor em vermelho


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente gostaria de agradecer a todos os reviews gatos que eu recebi nessa ausência. Vocês são muito gatos: princesakory; Eveebaby;
Lara Hunter;
Nanda-L;beehive;Lilis07(um obrigado especial pra você por ter me motivado);Lady Star;Jajabarnes ;OtomeHana;SasaUchira;Miss Cris;love kick;Finholdt;AFearlessGirl13
Graças a todos você eu tive a vergonha na cara de sair da melancolia e voltar a escrever^^, espero que eu agrade a todos com a minha história.
NOTAS;O filme Moulin Rouge existe e não me pertence, quem quiser assista ao filme porque é lindo demais. (Tem uns spoilers no cap)




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Tentei pregar os olhos durante a noite, infelizmente eles insistiam em manter-se abertos. Minha intensa curiosidade horas antes se esvaiu tão rápido quanto apareceu, em seu lugar nasceu uma ansiedade enorme em meu peito.

Nem de longe essa ansiedade era causada por eu estar abrigada na casa de um estranho. Ela remetia aos anos que eu havia passado em cativeiro, aos anos que eu não dormia por medo de entrarem na minha cela para me abusarem e torturarem, aos anos em que estar numa cela não significavam estar encarcerada num lugar escuro e frio, mas sim estar fechada para o mundo exterior.

Fechada de traições… Fechada de traidores…. Presa com meu medo e minha raiva.

Não que eu não gostasse de estar livre, pelo contrário eu estava aliviada, contudo eu estava livre demais não tinha limites nem barreiras ao meu redor e isso assustava.

Me imaginei como um pássaro preso numa gaiola por quase toda a sua vida, que de repente teve a sua gaiola quebrada. Ele queria voar mas, suas asas estavam enferrujadas e ele não sabia mais como encarar todo o céu a sua frente.

A mão que repousava em meu ombro era o que deixava tudo menos assustador, Asa Noturna conseguia me trazer de volta a realidade com suas atitudes confiantes e calculadas. Ele literalmente fazia com que as coisas como, uma briga na cozinha se tornassem fáceis de serem encaradas. Até mesmo sua atitude completamente normal de servir uma refeição a uma visita me deixava menos perdida no mundo.

Virei meu rosto para sentir seu cheiro nos lençóis e vi luzes acessas pela fresta da porta.

Me esgueirei, sem motivo aparente, para perto da porta e a abri com lentidão para fazer o mínimo de barulho possível.

A sala era realmente um cômodo, em que alguém colocou alguns móveis e desistiu de fazer qualquer espécie de decoração, me deixava surpresa que alguém com um lugar para morar tivesse como deixar o lugar tão impessoal assim.

–Não consegue dormir? -Levei um susto ao perceber que o moreno havia se encostado na porta.

–Muito tempo tendo que ficar sozinha… A gente se esquece de como é estar em algum lugar normal. -Falei olhando ao redor sem querer encarar a máscara.

–Entendo… -Ele foi até uma mesa atulhada de papéis e fotos, arrumou um canto livre entre a papelada e indicou um lugar para eu me sentar. -Se quiser pode ficar aqui, até sentir sono ou ficar enjoada de me ver trabalhar.

Fiquei inesperadamente feliz com o gesto e dei um sorriso involuntário ao me sentar.

–E você? Porque não consegue dormir? -Ele organizava os papéis com o cenho levemente franzido..

–Hábito.-Ele falou simplesmente, dando de ombros.- Fui treinado para resistir por muito tempo sem dormir, mesmo com sono meu corpo fica alerta demais para eu relaxar.

Observei os movimentos repetitivos que ele fazia para organizar a papelada.

Pegar um papel de uma pilha. Ler o papel. Colocá-lo em outra.Digitar algumas coisas em um dispositivo acoplado em uma espécie de bracelete em seu pulso. Repetir o processo.

Me indaguei mentalmente o porque ele não usar algum computador avançado para processar os documentos. Afinal se os humanos tinham como se teletransportar eles não precisavam de usar tanto papel.

–São registros antigos… -Me surpreendi quando ele me respondeu sem eu dizer nada. -Dos Accel’s, estou verificando esses registros pra captar semelhanças entre ocorrências antigas e o seu caso.

–Pra quê?-Eu não entendi o propósito daquele trabalho todo.

–Entender o que eles queriam com você.

–Porque não pergunta? -Quis me calar no mesmo instante, ele não teria uma resposta verdadeira vinda de mim.

–Você não me responderia. Primeiro porque não quer. Segundo porque está traumatizada.

–Traumatizada?-Não sabia o significado daquela expressão, não havia nenhuma palavra que correspondesse na minha língua.

–Sabe?... Ficar abalado com alguma coisa. -Não contive uma risada de graça.

–Isso parece com aquele negócio de ‘amigo’, o mais próximo disso em Tamaran é Rutha, fraco.

Eu não quis me aprofundar dizendo que a tradução mais adequada seria ingrato ou desonrado. Se você sobrevive a alguma coisa tem que ficar feliz e se sentir agraciado pelos Deuses, não ficar choramingando pelo o que aconteceu.

–Não é questão de ser forte ou fraco… Todos podem sentir medo. -Ele respondeu com empatia no tom.

–Se você diz…-Comecei a girar os polegares.

Ficamos desse jeito por um bom tempo, ele trabalhando e eu observando. Não era algo ruim ou monótono, era algo que eu poderia fazer por horas sem me cansar.

–Kory… -Asa Noturna falou meu nome num sussurro. -Que tal a gente assistir a um filme?

Tive que ouvir uma minuciosa explicação sobre o que era um filme, enquanto ele pegava um projetor holográfico de uma gaveta. Não era tedioso, fazer ele falar era até legal.

–Enfim, existem filmes de vários tipos. -Ele ligou o projetor e logo apareceram vários ícones no ar. -Ação, aventura, comédia, romance...

Conforme ele movia a mão para passar pelos ícones dos tais ‘filmes’, um em especial chamou a minha atenção.

–Espera, volta um. -Ele voltou uma página, e eu vi a imagem de uma ruiva bem bonita usando um vestido vermelho belissímo e sendo beijada por um rapaz estranho e encantador. -Moulin Rouge… É bom?

–É um musical… -Ele parecia um pouco perdido ao tentar me ajudar. -As pessoas cantam no meio do filme, e ele é meio romântico.

–Parece ser fantástico! -Senti meus olhos se arregalarem a simples menção de romance e música. -Nunca tive o prazer de experimentar música humana.

Sentei-me entusiasmada no sofá e esperei o filme começar.

______________________________________________________________________________

No momento em que ela me olhou com os olhos enormes, brilhando de animação eu fiquei sem pernas. Borboletas faziam seu próprio musical no meu estômago.

Coloquei o filme e apaguei as luzes.

Sentei-me ao lado de Kory no sofá mas sem encostar nela.

[...]Dias tornaram-se semanas, semanas tornaram-se meses, e então em um dia nada especial, eu fui até minha máquina de escrever, me sentei e escrevi nossa história. Uma história sobre uma época, uma história sobre um lugar, uma história sobre as pessoas. Mas acima de todas as coisas uma história sobre amor. Um amor que viverá para sempre.[...]

A abertura melancólica do filme me deixava triste ao me lembrar do final do filme. Naquela época eu não entendia porque ele insistia em dizer que era uma história de amor. Do pouco que eu sabia sobre o amor, a única coisa de que eu tinha certeza era a de que pessoas que se amam não deveriam ser separadas… Talvez eu estivesse certo, mas a experiência de amar sempre seria um problema para mim, algo que nunca tinha solução, e ao mesmo tempo não tinha problema.

[...]A coisa mais importante que você pode aprender é só amar e ser amado em troca[...]

Olhei para a mulher ao meu lado.

Seu cabelo parecia relva selvagem vermelha crescendo sem proporção, seus dedos estavam um pouco tortos -foram quebrados-, ela não estava fora de forma contudo seu corpo parecia padecer de cuidados. Ainda assim ela se maravilhava com todas as palavras que era ditas, e sorria ao ouvir a primeira música.

–Hey…-Ela sussurrou como se estivesse em um cinema.-Porque os morros estão vivos com o som da música? É alguma magia ou poder? Alguma tecnologia de guerra?

Era uma pergunta um tanto inusitada. Porem me recordei que em Tamaran a arte e a poesia não ocupavam um papel muito marcante na sociedade, sendo que o planeta era assolado por guerras o tempo todo.

–Quer dizer que a música é tão bela que até as montanhas se sentem mais vivas ao ouvirem ela. -Seu cenho ficou franzido e eu imaginei ela confabulando sobre morros dançantes.

Ela voltou a assistir o filme se encantando com cada música e com cada cena.

A noite foi caminhando lentamente sobre as promessas de amor boemias, a cidade não estava quieta,mas seu burburinho noturno era um pano de fundo agradável para a noite. Kory havia se aproximado de mim -ou eu dela- para sussurrar algumas coisas sobre o filme, na maioria das vezes eram dúvidas dela em relação ao: “O que são árabes, e elefantes?” ou “O que seria Can Can?”

Em dado momento ela parou de falar e acabou cochilando no meu ombro. Ao invés de tentar ser o cavalheiro e levá-la até a cama, chamei por seu nome para ela poder ver o final do filme. Em parte porque ela dormiu só por estar muito cansada e estava encantada com as imagens do longa, em parte porque eu queria desvendar suas reações.

Por incrível que pareça ela não se afastou de mim ao acordar, talvez estivesse cansada demais. A sensação dela apoiada em mim era boa, seu cabelo roçava no meu pescoço e me deixava com um pouco de cócegas.

Era a parte final do filme onde eles comemoravam o final do musical, para então a Satine morrer (Nota da autora:A atriz principal).

–Não… -Ela começou a fungar e quando eu me dei conta lágrimas escorriam por seu rosto molhando meu ombro.

–Hey hey é só um filme… -Fiquei desnorteado com aquela reação, não sabia o que fazer.

Enquanto ela chorava cheguei a conclusão de que ela estava chorando por tudo que já havia passado também. Sem dizer uma palavra abracei seus corpo e repousei sua cabeça em meu ombro, com ela virada pra mim.

Ouvir ela prantear com uma voz cheia de dor.

Eu já havia visto muitos refugiados de guerra, entretanto nenhum deles havia me deixado com o coração partido como a Kory fez.

Envolvi ela com os braços o máximo que pude e imaginei que pelo menos ali nada poderia machucá-la.Fiquei com ela nos braços até ela parar de chorar, deixei que ela dormisse junto de mim até o sol raiar e quando o primeiro raio de sol tocou seu rosto inchado de tanto chorar eu pensei.

‘Na verdade, nunca mais irão te machucar.’


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Comentem!
E por favor não me matem...