O Diário de Julieta Dellamour escrita por Anna


Capítulo 2
Capítulo Um - Último Dia de Verão


Notas iniciais do capítulo

Eu ia postar só amanhã à tarde, mas, minha criatividade me ajudou e consegui terminar o capítulo hoje e.e Agradeço a todos os comentários, favoritos, acompanhamentos, e visualizações que tive apenas com o prólogo. Vocês são de mais!

— Boa leitura, galera:



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Um — Último Dia De Verão

>Por Julieta Dellamour

Hoje, para a minha total angústia, infelicidade e desespero, é o último dia de verão. É hoje em que o sol vai raiar e irradiar o seu famoso calor que faz a cabeça das pessoas virarem de tal modo que as faz tomarem um longo banho na água salgada do mar, isso pela última vez.

Hoje foi a última vez que eu pude acordar a hora que eu bem entendesse e que eu pude me dar ao luxo da dúvida cruel de almoçar ou tomar café da manhã já na quase na hora do lanche, amanhã não terei mais isso, vou ter de acordar cedo e ponto. Hoje é a última oportunidade que tenho de ir a uma festa e aproveitar a furreca vida "social, mas não tão social assim", que eu tenho.

Hoje é o último dia de verão.

Isso tudo dramaticamente falando, é claro, já que a) Eu moro na Califórnia e para a minha total alegria (ou então, total tristeza) o sol sempre marca presença em quase todas as ocasiões; b) Tá, ok, essa dai é verdadeira, para o meu sofrimento tomar continuidade vou ter que acordar (e dormir) cedo durante um ano inteirinho; c) Eu tenho várias e várias oportunidades de ir à várias e várias festas, entretanto, só vou em algumas. Sabe? Para marcar presença e não perder o hábito festeiro que eu não possuo de todo; d) Tenho uma vida social, sim. E até agora não me decidi se isso é uma coisa boa, ou se é uma coisa ruim.

De qualquer forma hoje é o último dia de verão e minhas aulas começam amanhã.

Enfim... Estou tendo que arrumar o meu quarto, só porque a minha mãe disse que, como eu acordei muito tarde hoje teria de arrumar mesmo que não quisesse. Ou seja, se eu pude acordar às cinco da tarde, aparentemente também posso dar uma geral no meu quarto. Aparentemente.

Além do mais, eu sei que se eu acordasse cedo ou tarde, minha mãe mandaria arrumar aquela coisa de qualquer jeito. E desta vez ela não está sendo exagerada em dizer que "daqui a pouco meu quarto vai tomar vida própria e sair por ai dançando salsa", pelo jeito que aquilo está, eu não duvido nadica de nada que ele fizesse isso mesmo, isso é, se fosse possível.

E eu admito que se a minha preguiça não tivesse vencido o meu bom censo, eu mesma já teria arrumado o lugar há muito mais tempo, mas, ela venceu. E agora estou tendo de tribá-la para poder fazer as coisas bem feitas.

Porque com a minha mãe é assim: ou você faz, ou você faz. Dada às opções eu prefiro fazer (no caso, limpar) e muito bem feito! Caso contrário, ela iria me fazer limpar tudo outra vez, e não importa o tempo que eu gastei na primeira vez, ela iria me fazer limpar nem que fosse com a minha própria língua!

E também se eu não arrumasse e tentasse contestá-la eu não poderia ir de nenhuma maneira à festa da Camile, que, por sinal, é daqui a duas horas. E essa festa se encaixa perfeitamente em: "só vou a algumas para não perder o hábito".

As pessoas tem que entender (nesse caso, vulgo, minha mãe) que: Camile é a minha melhor (das melhores, das melhores, das melhores, que não são as piores) amiga, então vivo quase sempre grudada nela. E não é só pelo fato de que ela é minha melhor amiga, não. E sim, porque grudo em tudo o que gosto, e é óbvio que isso se aplica a pessoas.

Se bem que às vezes eu acho que a Camile não é uma pessoa e sim um daqueles bichos raros. E também porque as festas da Mille são sempre as melhores, são sempre fantásticas...

...Ah, e o mais importante: isso é como uma tradição para mim, uma coisa muito importante que é como uma "marca", que faço todo o ano. E se não faço, tenho sempre a impressão de que algo está faltando. Tem gente que usa uma determinada roupa na virada do ano, eu vou às festas da Mille.

E é exatamente por isso que eu tenho que esvaziar a minha cabeça de qualquer coisa, antes que eu entre em um universo totalmente paralelo e fique criando mil e uma histórias em minha cabeça, e, mil e duas expectativas de várias coisas que obviamente não irão acontecer nesse ano.

Sempre é assim, por sinal. Eu começo com uma tarefa bem simples, no meu canto, com os meus pensamentos, e quando acabo, já pensei em tudo o que vou fazer durante as próximas horas, e também tudo o que vou fazer nos próximos dias e nas próximas semanas.

Fazer o que, enquanto algumas pessoas vivem sem pensar, eu vivo para pensar, às vezes acho até que uso o meu cérebro em demasia. Essa é mais uma das minhas manias estranhas, como a de falar sozinha, felizmente, não estou falando sozinha agora, se não, minha mãe estaria aqui já ligando e agendando uma consulta na psicóloga.

Como que em um golpe de sorte, termino de arrumar o meu quarto relativamente cedo para começar a me arrumar para a festa, o que me dá a bela oportunidade de ficar um tempo sem fazer nada no twitter durante meia hora.

Quando deu sete e meia, tratei de tomar um bom banho, depois de algum tempo se devia ou não molhar o meu cabelo, enfio minha cabeleira loira debaixo da água corrente e fria. Assim que termino de tomar meu banho, volto para o meu quarto — que ficava no final do corredor principal, e o banheiro, no meado do corredor — e tiro a toalha que estava enrolada em minha cabeça.

Depois de pentear, desarrumar, bagunçar, pentear de novo... Olho-me no espelho e, finalmente, gosto do meu cabelo: cacheado meio rebelde, porém nem tanto. E isso é bem melhor do que o “cacheado indomável” que usava na quarta série.

Pego as roupas no guarda roupa, as mesmas que já havia escolhido com certa antecedência, e me visto rapidamente, maquiando-me logo depois. E, pela última vez, me olho no espelho. Estava usando uma blusa de lã com mangas longas, e que era menor na frente (deixando aparecer um pouco da minha barriga) e longa atrás, um short vinho coberto por paetês, uma sapatilha confortável vermelha escura e um colar meio que extravagante. Minha maquiagem era constituída por: pó, blush, e rímel. Estava muito calor para me emperiquitar.

— Não chegue muito tarde, não beba, não fume, não faça nada de errado! — Minha mãe gritou enquanto descia as escadas.

Revirei os olhos e dei um beijo estalado em sua bochecha. Ela sabe muito bem que não faço nada de errado, porque insiste em falar as mesmas coisas toda vez que eu saio?, pensei. Sem dizer nada, sai da casa fechando a porta logo atrás de mim com um único baque.

***

Quando cheguei, a festa já estava se desenrolando, entretanto, ainda não havia ninguém bêbado. E eu me perguntei o porquê, já que ano passado as oito e quarenta já tinha gente vomitando em sapatos alheios. Inclusive, vomitaram no meu sapato. E esse é um dos motivos pelos quais eu não gosto de bebida.

A festa deveria ter começado uma hora antes do marcado, simplesmente, porque sempre era assim. Camile odiava esperar, por isso adiantava tudo o que podia.

Enquanto andava, cumprimentei algumas pessoas, sorri para outras, e fiz um aceno com a cabeça para poucas. Conhecia todos os presentes, mas não falava com todos. Isso seria cansativo de mais e eu não sou essa simpatia toda.

Procurei por Camile — ela tinha que saber que a sua musa de inspiração já havia chego — em todos os cantos da casa que eu tinha o conhecimento. Ou seja, procurei-a pela casa toda. Até que parei de procurar porque meu estomago começou a dar sinal de vida, por isso fui até a mesa que tinha alguns de meus aperitivos favoritos...

...Batata frita. Eu simplesmente amo batata frita, a cor, o gosto, o barulhinho atraente que faz toda vez que eu dou uma mordida na mesma... Ah, a dona batata frita é simplesmente muito irresistível. Acho que um dia irei me casar com uma. Afinal, é o meu amor verdadeiro, e que também será eterno.

Quando peguei uma cestinha cheia de batatas, vi uma cabeleira rosa pulando de um lado para o outro, acho que a dona da cabeleira estava tentando dançar. E eu sabia quem era a dona daquela cabeleira, era a Mille.

Camile não é alta nem baixa, é média, tem uma pele clara, entretanto, não chega a ser branca, seu cabelo natural é castanho escuro, mas, em dois e dois anos ela pinta de alguma cor, hm... Diferente. Ela pintou ano passado de rosa, ou seja, ela vai ficar com aquilo na cabeça até o ano que vem. Possui enormes olhos mel, mas, usa lente de contato, o que faz os mesmos ficarem pretos.

Camile pode até ser a minha melhor amiga, mas, acho que ela ficaria muito mais bonita sem aquela tinta horrorosa no cabelo, e sem a maldita lente de contato. Um dia falei isso para ela e ela ficou sem falar comigo durante uma semana inteira. Nunca mais toquei no assunto, por mais que o mesmo venha a minha cabeça de vez enquanto...

Deixo a minha cestinha com as minhas preciosas fritas em um lugar na mesa e vou até a pulante dançarina está.

— Camile! — Grito para que ela possa me ouvir.

Ela nem se vira para mim. Grito outra vez. Nada. Estou quase batendo nela quando grito a todo pulmão:

— JUSTINAAA!!

Agora sim, ela me ouve e vira me encarando com a pior de suas caras.

— Já falei para não me chamar dessa porra de apelido, sua loira oxigenada dos infernos! — Gritou ela de volta.

Todos estão encarando o nosso pequeno escândalo.

— E eu já falei para prestar atenção quando eu te chamo — Respondi calmamente — E vocês, adorável público... — Virei-me para as pessoas falando com uma voz calma — Tem como VOCÊS IREM CUIDAR DAS SUAS PRÓPRIAS VIDAS? — Gritei a última parte e todos voltaram para as suas atividades.

Puff... Californianos.

— O que você quer hein, Julieta? — Perguntou Camila com uma carranca.

— Nada só queria que você soubesse que eu estou aqui. — Respondi e ela me olhou cínica.

— Que bom que você está aqui, todos já perceberam — Indagou com o sarcasmo transbordando em suas palavras — Tinha que me chamar de Justina? Merda!

Acontece que “Justina” era o apelido que eu dei a ela na época em que ela era caída pelo cabelo loiro, liso e com franja do Justin Bieber. E para a minha legítima defesa... A culpa não foi minha, ela que disse que iria trocar o nome para Justina. Então eu, tecnicamente, não tenho nenhuma culpa, apenas a lembro desse fato.

— Você não me ouviu, mas, bem... Agora que já sabe que eu estou aqui, adeusinho! — Disse acenando com uma de minhas mãos enquanto me afastava e deixava para trás uma Camile muito nervosa.

***

Estava há duas horas na festa e já tinha feito de tudo um pouco: tinha comido as minhas adoráveis fritas, bebido as minhas adoráveis cocas, pulado, dançado, conversado... É, acho que vou recomeçar esse “ciclo” várias vezes até dar meia noite.

Algo está diferente nessa festa como se houvesse faltando algo, um fato interessante ou sei lá o que. Só sei que estou sentindo a ausência de algo que não sei exatamente o que é.

Não é de barraco — pode me julgar quem quiser, mas, eu amo ver um barraco se formar. Não gosto de guerras, mas, sou amante das brigas de festas, ah, e não posso esquecer das de ruas provocadas por vizinhos fofoqueiros — porque já teve uns cinco.

Um deles eu fui a protagonista, que foi o caso da minha “briguinha” com a Mille, o segundo foi por conta de comida, o terceiro eu não lembro, o quarto também não, o quinto foi há poucos minutos que uma garota puxou “acidentalmente” o cabelo da outra, alegando que essa estava traindo o namorado de uma amiga, o que no final era mentira e a garota que começou havia se enganado.

Cinco morangos — mudei de fritas para morangos porque, é simplesmente mais saudável — depois eu finalmente percebi o que estava faltando: era a falta dos pesadelos. Os pesadelos são os “populares”, os “riquinhos” lá da escola.

Quando percebi que era isso, olhei para o céu escuro pontilhado por estrelas, pelos piscas-piscas e luzes coloridas do jardim da Mille, e agradeci a Deus por eles por eles não virem.

Não aguentaria nada esta noite.

***

Quando deu onze e cinquenta e cinco, eu estava na varanda da Camile, a mesma estava ao meu lado, estávamos conversando com umas primas delas que vieram de São Francisco para passar o verão, e que, amanhã iriam embora.

— Liste apenas uma coisa que você gostou na festa desse ano — Katrina, uma das primas de Mille, falou de repente.

Katrina era quase igual à Cami (sem todas aquelas coisas que ela tem para se diferenciar, é claro) a única coisa que era diferente, eram os olhos, que era uma imensidão azul.

— Que aquele povo chato não veio — Respondeu Taylor — outra prima de Camila — que tinha cabelos curtos e pretos e olhos castanhos, como os de Cami.

Todas nós concordamos.

— Que teve bastante barraco! — Respondeu Camile nos fazendo rir.

Enquanto Kat se recuperava do ataque de riso, perguntou:

— E você, Julieta, de que mais gostou?

Fiz uma cara pensativa por alguns instantes e depois respondi:

— Que não teve bebida. É sério, minha mãe quase não deixou eu vir por causa disso. — Camile me olhou indignada.

— É claro que ela iria deixar você vir! Ela me ama!

— Engraçado... Ela é a minha mãe e te ama?

— Se acostume, a vida não é um mar de rosas amarelas, baby! — Respondeu ela, jogando o cabelo rosa na minha cara.

Iriamos discutir, é claro, sempre discutíamos por qualquer que fosse a coisa, mas, Taylor chamou nossa atenção dizendo que faltava apenas um minuto para a meia noite. Paramos de falar na mesma hora.

Andei em direção a mesa que continha aquelas “velas-tipo-de-aniversário-que-sai-tipo-uns-fogos-de-artifício” que eu até hoje não sei o nome, e voltei para a varanda.

Quando deu meia noite fiz o mesmo pedido de todos os anos: que esse seja um bom ano, que eu seja boa aluna, que não arrume muitas confusões como no ano passado.

E por meros instantes, meu corpo se encheu de uma nova esperança, me fazendo realmente crer naquilo que eu desejava. E, também, por meros instantes, foi ano-novo outra vez.

Foi o meu ano novo, foi o último dia de verão.


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Notas finais do capítulo

Bem grandinho, né? Acho que todos os capítulos serão assim... Por favor, sejam bonzinhos e deixem seus humildes comentários para essa autora necessitada. Em breve conheceremos novos personagens hiiiiper importantes para a fic, aguardem!