Eu voltei a frequentar meu emprego. Saia de casa ás oito e só voltava ás seis da noite. Meu irmão proibira Friedrich de ir até nossa casa depois das seis. E assim, passaram-se 38 dias desde o dia que tínhamos nos relacionado e que ele tinha quase me matado.

Minha mãe tinha nos visitado algumas vezes, preocupada comigo. Mas, segundo ela, seu namorado não podia ficar dois dias longe dela que ficava “louco de saudade”, termo usado por ela. Mesmo assim, todas as visitas poderiam ser simplificadas em uma única palavra: silicone. O único assunto dela fora este e disse algumas duas ou três vezes que tinha ficado muito preocupada quando soube que tive convulsão.

Meu pai tinha ligado diversas vezes. Ele sim estava preocupado e falar com ele me dava uma paz. Eles adoravam Friedrich, então não tinham o culpado. Sabiam o quanto nos implicávamos um com o outro.

O Inferno começou quando eu estava no trabalho. Lendo uma matéria que Ringo tinha feito, que falava sobre mulheres e suas crises existenciais; “não que eu seja machista”, sim, Richard, você é machista falando de mulheres como se fossem o monstro do guarda roupa.

Voltando.

Estava sentada no meu escritório. Os óculos de grau na ponta do nariz, mastigando uma jujuba e lendo. Ringo adentrou a sala com um pacote em mãos.

— Pequena, trouxe uma coisa pra você. — ele sentou na cadeira do outro lado da minha mesa e abriu o pacote. Um cheiro de fritura invadiu minhas narinas, meu estômago embrulhou. Peguei a lata de lixo do chão e vomitei. — Charlize!

— Tira. Isso. Daqui.

— Você precisa voltar no médico.

Coloquei a mão na barriga e assenti pra ele. Ele saiu me puxando pela mão, entrou no meu carro e me levou num médico. Demorou o meu horário de almoço inteiro pra que pudesse finalmente ser consultada. O médico fez diversas perguntas, e ele parecia já saber o que era, só queria ter certeza.

— É simples, você pode estar grávida. Ou pode ser apenas um enjoo sem explicação.

Ringo fez um estalo com a boca e colocou as duas mãos na frente do rosto. Como eu ia estar grávida, se tomei a pílula? Quem deu diploma a esse médico?

Saímos de lá e Ringo insistiu que eu comprasse dois testes de farmácia, com o dinheiro dele, claro, não gastaria o meu por uma coisa que eu sabia que era impossível.

Entrei no banheiro da farmácia e ele ficou me esperando do lado de fora, queria logo poder passar um teste de farmácia todo urinado na fuça dele que ficou de paranóia todo o caminho do hospital até a farmácia, dizendo como o meu filho teria cabelos dourados como o meu e olhos quase-negros como o de Friedrich.

POSITIVO.

Meu. Teste. De. Farmácia. Deu. Positivo!

— RICHARD! — gritei. Juro que meu coração parou de bater por uns segundos, senti um arrepio percorrer meu corpo todo, meu sangue ficou quente, os olhos encheram de lágrimas.

— Não precisa nem me dizer...

O que eu ia fazer da minha vida agora?