Era bom ter Duda de volta em casa. Eu gostava quando estava cozinhando e tinha alguém me fazendo rir. Minha avó dizia que o sabor da comida dependia do seu humor; se você fazia com amor, ficava ótima, se tivesse com raiva, estragava, se tivesse triste, todos que comessem, ficariam tristes também.

Eu estava fazendo o almoço e ela estava me contando sobre como tinha sido sua viagem. E naquele momento eu até deixei a noite com Friedrich cair em esquecimento.

Fazia uma hora que eu tinha tomado a pílula e já me sentia bem melhor. A loira do meu irmão já tinha ido embora, para a alegria de todos. Exceto Duda e Violet, todos estavam jogando Play Station 2.

— Charlize... — chamou Friedrich entrando na cozinha. Olhei para ele enquanto arrumava a salada.

— O que você quer?

— Trouxe uma coisa pra me redimir. — ele levantou a mão que segurava um bombom embrulhado num papel marrom, era do tamanho de uma mão fechada. Abri um sorriso largo, todo mundo sabia o quão viciada em doces eu era.

— Envenenado, não é? — indaguei semicerrando os olhos.

— Cala a boca e come.

Desembrulhei e dei uma mordida grande. Era muito bom mesmo. Em um minuto eu já tinha devorado tudo. Ele jogou outro em mim. Aposto que ele queria algo com aquilo. Meu braço começou a formigar e comecei a coçá-lo enquanto comia o bombom.

— Parece uma criança no Halloween. — comentou Violet.

— Muito bom! Mmmmm. Do que é feito? Preciso de mais uns mil desse.

Devorei o outro e com os dentes e os lábios sujos de chocolate, lambia os dedos, feliz. Já havia esquecido quase que completamente a noite passada.

— Chocolate, creme de leite, conhaque, cacau e... — ele fez uma pausa segurando o riso. Parei de lamber o dedo e foquei nele.

— Você não fez isso, Fred. — disse Duda com os olhos arregalados.

— Eu fiz. — ele gargalhou.

Meu braço estava sangrando por causa da maneira que me cocei com a unha. Meu corpo todo estava formigando. Comecei a coçar meu rosto, depois meu pescoço e já estava ficando insuportável, tantos lugares que eu precisava coçar e não tinha trezentas mãos. Tossi.

— WAXLER, CRISE. ME AJUDE AQUI! — gritou Duda. Violet estava entrando em desespero. Friedrich nunca havia presenciado uma crise alérgica minha, pois eu evitava comer amendoim para que não corresse o risco de ir parar no hospital novamente e ficar completamente inchada e vermelha.

— O que aconteceu?

— Fred fez sua irmã comer amendoim.

— Meu Deus. Vem. — ele repreendeu Friedrich com o olhar, que pareceu não achar mais graça.

Wax me pôs no banco detrás do carro dele e fomos para o hospital, os outros nos seguiram no carro de Jane. Eu tossia tanto que já estava sentindo o gosto de sangue na garganta.

— Por que o Fred tem que ser tão idiota? Por que vocês dois vivem nessa guerra?

Minha garganta havia tapado e eu não estava conseguindo respirar, o que gerou uma convulsão. Medicaram-me (anticonvulsivantes, injeção, antialérgico) e o resto do dia se passou nessa correria. Friedrich estava com uma expressão preocupada, tinha feito diversas ao médico sobre tudo, até mesmo se eu tinha chances de viver, o que soou interessante, pois agora ficara claro que ele nunca teve a intenção de me matar em nenhuma das vezes que quase nos matamos. Mas, eu sempre tivera a intenção, o sonho, o desejo, de matar ele.

Agora, uma informação importante que eu só descobriria dois meses depois desse ocorrido:

Anticonvulsivantes e Antialérgicos diminuem o efeito do Anticoncepcional, quando são ingeridos separadamente há uma probabilidade menor de inibição, e quando são ingeridos juntos, é o meu caso.