POV LUKE

Estava tendo um sonho incrivelmente ótimo, quando minha mãe abre a porta:

–Levanta Luke, hoje o dia vai ser cheio, estou saindo pra começar a arrumar as coisas da barraca no festival, preciso que você arrume o café para a Annie, depois tire umas caixas da casa dos fundos, os Troian vão se mudar logo logo. Ok! Tchau. – disse ela saindo e batendo a porta.

Meus pais eram assim, nem se importavam em dizer Bom Dia ou sequer perguntar se eu ou a Annie, minha irmã mais nova estávamos bem. Meu pai vive trabalhando e só chega depois das 11 da noite. Minha mãe também é ocupada, mas de vez em quando tem uma folga do hospital, o que não adianta muito, pois ela insiste em ”ajudar” a cidade nas horas vagas. Como hoje, ela montou uma barraca no festival só pra ajudar na arrecadação de dinheiro pra construção da nova igreja.

Ultimamente ela tem tido muito menos tempo pra gente, porque nossos vizinhos, os Troian, vão vir morar aqui em casa, o Sr. Troian foi assassinado e eles não têm onde morar por causa de contas que ele deixou. Meu pai se solidarizou e os convidou para mora na nossa casa dos fundos, eu estranhei essa atitude dele, eu sei que os dois eram muito amigos, mas meu pai não faz esse tipo de pessoa, na verdade tive a sensação de que ele fez isso por culpa, eu sei que meu pai tem muitos segredos, mas não vai ser eu quem vai descobrir.

Annie abre a porta com uma carinha de sono linda.

–Luke eu to com fome – falou ela ainda esfregando os olhos.

–Mas já dinossaura ? – ela ri com o apelido – Vou fazer nosso café, oque você quer? Panquecas?

–Não, eu quero cereais. – ela sorriu mostrando o dentinho que faltava.

–Tá bom sua banguela viciada em cereais! Vai trocar de roupa porque eu tenho que te levar na casa da Rachel antes de ir pro festival. -Falei levantando e vestindo uma camiseta, mas quando olhei ela ainda estava na porta – Eu vou contar até três se você ainda estiver aí vou te encher de cosquinha ...1...2...3!! – ela saiu correndo e gritando. Ri dela e fui pro banheiro lavar a cara.

Depois de ter lavado tudo o que precisa, desci e fui fazer o café, coloquei o cereal na tigela com leite. Comi a minha e deixei a da Annie já pronta, fui pro quintal tirar as caixas da casa dos fundos. Tava colocando uns troféus nas caixas quando a Annie me chama.

–Luke vem cá! – ela meio que gritou então eu fui correndo com medo de que alguma coisa tivesse acontecido. Cheguei na cozinha aos tropeços.

–O que foi Melannie ? – disse já afobado.

–Ah nada de importante é só que eu não to conseguindo colocar minha blusa! – ela falou com a cabeça enfiada no buraco da blusa onde deveria ficar o braço.

Suspirei aliviado, me sentia responsável pela Annie, e eu nunca me perdoaria se alguma coisa acontecesse á ela enquanto estivesse sobre meus cuidados. Ela tem 7 anos, meus pais mal notam sua presença, então eu me sinto responsável por ela desde que nasceu.

–Me deixa vestir isso, vem cá! – puxei ela pra perto e vesti a blusa do modo certo.

–Brigada Luke! – ela me deu um beijo na bochecha e saiu correndo.

–Ei! Espera aí leãozinha , e esse cabelo?! Você não pode sair desse jeito, as pessoas vão correr!- eu disse rindo do cabelo loiro bagunçado dela.

–Eu não consigo arrumar! Arruma pra mim?! – ela fez uma cara de pidona.

–Vem cá! Eu não sei fazer isso direito, vou fazer de qualquer jeito. –joguei o cabelo dela pra cima e amarrei. – Tcharãm, prontinho! Tá uma princesa, agora vai comer que eu to com pressa!

Ela foi comer, e eu voltei pra casa dos fundos e terminei de empacotar as coisas. Fui colocar algumas caixas na lixeira e vi Hanna do outro lado da rua me encarando. Ela era minha melhor amiga até o 1 ° ano do ensino médio, eu tive que me afastar dela porque estava começando a sentir alguma coisa á mais por ela, descobri isso quando a gente foi á um parque aquático juntos e no final do dia ela me deu um beijo na bochecha. Eu não podia gostar dela, ainda tinha muita coisa pra viver, então resolvi me afastar, logo depois eu entrei para o time de futebol da escola e me tornei popular, e não me arrependo do que fiz, se bem que às vezes sinto falta dela e fico imaginando o que teria acontecido se tivesse me rendido aquele sentimento. Mas não importa mais, e eu não posso ficar pensando nisso, tenho namorada, Ashley a mais gata do colégio, Hanna é chamada de ''A esquisita’’ pelos meus amigos então aderi ao apelido.

–Perdeu alguma coisa aqui esquisita?! – percebi que ela ficou vermelha de raiva.

–Não, com certeza se eu tivesse perdido não seria nessa sua cara feia. – ela disse e mostrou o dedo do meio. Quem ela pensa que é ?!

–Vá se ferrar Hanna! – o irmão dela chegou bem na hora. O cara é legal, é do time e é um bom jogador.

–Algum problema Luke?

–Não, to de boa e você Nathan como tá? – perguntei mudando de assunto. Mas minha vontade foi de dizer ''Sim, tira sua irmã escrota daqui '' mas me segurei.

–To jóia! Você vai no festival né ?

–Vou sim, vou só terminar de arrumar umas coisas pra minha mãe. Te vejo lá! – agora que tinha me lembrei , Annie estava sozinha lá dentro.

Depois que eles saíram voltei pra dentro correndo, encontrei Annie terminando o cereal.

–Pronto monstrinha?! – dei um beijo na bochecha dela e peguei a lancheira.

–Aham - ela limpou a boca e correu pra fora.

Meu pai me deixava pegar o carro dele, mas eu queria o meu, enquanto eu não ganhava, minha mãe tinha um trunfo contra mim pra fazer o que ela quisesse. Dirigi até a casa da minha tia Lola, eu levava Annie lá sempre porque ela tinha uma filha e as duas podiam passar anos brincando que nem viam o tempo passar. Estacionei na porta e minha irmã já foi descendo do carro e gritando.

–RACHEL!!! Eu trouxe minha boneca nova! – enquanto ela gritava, a tia Lola abriu a porta e sorriu enquanto Rachel passava correndo por ela e abraçava Annie.

–Vamos! Eu também ganhei uma! – ela saiu correndo puxando Annie pelas mãos.

–Bom Dia tia Lola – olhei para minha tia sorrindo.

–Bom Dia Luke! Antes de você buscar a Annie, me liga, pra eu arrumar as coisas dela antes OK! Deixa eu ir lá antes que elas quebrem alguma coisa. – ela disse e saiu.

Antes de eu dar a partida no carro meu celular toca, era minha mãe.

–O que foi mãe? – perguntei

–Preciso que você traga umas caixas pra mim que esqueci em cima da mesa.

–Mas mãe eu já saí de casa! – repliquei.

–Volta de novo! Eu quero que você volte e pegue! Ah e ainda vai ter que ficar na barraca comigo- ela levantou a voz.

–Ah não vou ficar em barraca nenhuma. – já tinha me exaltado.

–Vai sim porque eu estou mandando Luke! Ou então não vou dar dinheiro pra você comprar seu carro! – ela acertou meu ponto fraco. – Você vai voltar em casa e buscar as caixas, trazê-las pra mim e me ajudar a cuidar da barraca! É uma ORDEM!

–Tá mãe! – disse gritando também.

Merda! Merda! Merda! A cada palavra dava uma batida violenta no volante.

Voltei até em casa e peguei a Droga das caixas, e segui para o festival. Cheguei na praça e estava lotada, as barracas também, eu simplesmente queria curtir o dia e ver as gatas passarem com meus amigos! Mas NÃO ia ter que passar esse dia lindo enfurnado em uma barraca com minha mãe.

Chegando lá tenho uma surpresa, não é minha mãe que está lá! Minha mãe não tem pernas tão bonitas, sim eu tenho um fraco por pernas. Olho pro rosto da dona das pernas e lá está Hanna, com as pernas em cima do balcão da barraca lendo um livro do tamanho da minha cabeça, Game of Thrones? Acho que era isso, me recupero do susto e pergunto:

–O que você tá fazendo aqui ?

–Sua mãe me pediu pra cuidar da barraca cara de peixe! – Claro era típico dela fazer isso.

– Sério?! Que merda por que ela disse que eu teria que ajudar a cuidar da barraca se não, não ganhava dinheiro pra comprar meu carro... –será que era o que eu estava pensando? –Sinto lhe dizer, mas vamos ter que dividir a barraca, esquisita!

Ela revirou os olhos de fúria e eu descarreguei as coisas que tinham nas caixas, marcadores de livros e até alguns livros no meio. Eu não mereço isso.

Falar em coisas que eu não mereço, lá vem Ashley toda rebolante sorrindo pra mim, ela chega e me puxa para um beijo.

–Oi amor, não pensei que você gostasse de livros! – ela disse rindo da minha cara.

–Eu não gosto! Mas vou ter que ficar aqui o dia todo porque se não, não ganho grana pro meu carro! E sem carro, sem passeio pra nós dois. – dei uma piscadela pra ela.

–Ok, Ok eu me rendo! – ela me deu um beijo rápido – Eu vou dar uma volta com as garotas e depois a gente se vê, beijinhos- e ela saiu acenando.

Quando desviei o olhar de Ashley, vi que a Hanna estava me encarando, parecia que estava segurando pra não falar alguma coisa, mas voltou á sua leitura. Atendi um cliente vendi 3 marcadores, estava lotado de pensamentos até Hanna falar:

–Desde quando você sai com garotas como ela? – ela arqueou as sobrancelhas. Ela estava gata daquele jeito.

–Porque você se importa? – perguntei cruzando os braços.

–Nada! – alguma coisa ainda á incomodava – É só que... Eu acho que lembro de uma vez, que você prometeu que nunca sairia com garotas como ela. Ah mas é claro! Isso foi antes de você abandonar a única amiga de verdade que você tinha – Agora descobri o que a incomodava ela ainda estava magoada com tudo.

–E desde quando você lê livros desse tamanho?- apontei para o que ela estava lendo – A vida é minha Hanna, a culpa não é minha se você não tem vida OK! A culpa não é minha se você não tem Namorado! – Eu gritei e algumas pessoas olharam. Vi os olhos dela se encherem de lágrimas.

Me arrependi do que disse no momento que as palavras saíram da minha boca, uma lágrima escorreu na bochecha dela.

–EU TE ODEIO LUKE ! – Ela gritou o mais alto que pôde, jogou o livro maior que minha cabeça em mim e saiu chorando.

Me arrependi de cada palavra que disse, não podia voltar no tempo mas tinha que concertar aquilo de alguma forma, aquele assunto sempre fora muito difícil pra ela. Eu TINHA de fazer algo.