Correntes: Atados pelo Sofrimento escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 2
Capítulo 1: Som




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-Ah, Bella! Ai está você! –Billy disse ao me ver sair do ônibus em que vim. Abraçou-me desajeitado antes que eu saísse do portão de embarque. Eu correspondi seu abraço tentando conter o constrangimento por estar sendo abraçada em publico.

-Oi tio Billy. –O cumprimentei. Billy olhou-me por alguns minutos, certamente queria me falar algo, mas não disse o que foi melhor para mim.

-Vamos guria. –Ele falou pegando minhas malas, as poucas coisas que trouxe na verdade, e as carregando para sua picape, um Chevy 53, o mesmo da época quando eu e meus pais morávamos próximos de sua casa.

Billy era filho de criação de minha avó, mãe de meu pai. Eu sempre o vi como meu tio, embora na prática não seja. Eu era bem próxima dele e de seus três filhos, Jacob, Rachel e Rebecca. Até que meus pais resolveram se mudar da pequena cidade de Forks para São Marcos no estado da Califórnia. A viagem que seria para mudar nossas vidas, meu pai assumindo um posto maior em sua função de xerife e minha mãe como professora de uma escola conceituada. Não foi o que aconteceu. A viagem a São Marcos foi à sentença de morte para meus pais, queria que tivesse sido para mim, mas eu sobrevivi, infelizmente.

Durante a viagem nada falamos. Agradeci por isso. Billy ajudou-me novamente com as malas quando chegamos em sua casa.

-Onde está o Jake? Ele também saiu de casa? –Perguntei a Billy enquanto o ajudava com minhas malas.

-Jacob ficou em casa para deixar tudo arrumado para você. –Billy disse e rapidamente olhou para avaliar minha reação.

-Não precisavam ter todo esse trabalho comigo. Poderiam me deixar arrumar o espaço que irei ocupar.

-Imagine Bella! Não faríamos isso com você. A propósito eu a matriculei na escola de Forks, a mesma escola do Jake. Você tem carteira, não é?

-Tenho sim Billy.

-Que bom por que o Jake é novo demais para tirar a carteira e temos um carro a mais em casa. Você poderá dirigi-lo assim vocês dois não precisarão caminhar para a escola.

-Puxa, legal da sua parte.

O restante do caminho foi silencioso. Eu sabia que eu teria que ser uma boa atriz e fingir estar sempre bem, não queria preocupar Billy e os demais. O problema era que até mesmo atuar o tempo todo, fingindo estar bem, cansa, mas me servia de consolo que isso não iria durar. O meu sofrimento pela perda de meus pais, por estar só não iria durar.

...

-Hei Bells! –Jacob cumprimentou-me esfuziante. Eu sorri levemente, fui abraçada fortemente por ele. Billy e Jacob ainda viviam na pequena casa de poucos cômodos na reserva La Push. Eu já havia ido aquela casa muitas vezes quando era pequena, antes de meus pais mudarem, nada parecia ter mudado, pelo menos nenhuma mudança visível.

-Vem. Vou levar sua bagagem. -Jacob se prontificou a pegar minhas malas e levar até o quarto. O local estava limpo, arrumado, com poucos móveis. Apenas a cama, o armário, uma escrivaninha e uma penteadeira antiga. Para mim tudo estava perfeito, eu não passaria muito tempo ali mesmo. Jacob colocou minha bagagem ao lado da cama, Billy entrou logo em seguida trazendo mais coisas.

-Obrigada. –Eu disse a eles.

-Então você certamente está com fome. Vamos Jake, vamos preparar algo para Bella enquanto ela toma um bom banho. –Billy disse colocando as mãos no ombro do filho.

-Claro. Alguma preferência sobre o que quer comer Bells? Hoje é você que manda! –Jacob disse.

-Como qualquer coisa, não se incomodem em me agradar.

-Tudo bem. Vamos fazer algo saboroso, certamente apreciará. –Billy disse puxando Jacob pelo ombro para fora do quarto.

Eu estava só no quarto, só para lamentar e chorar, mas não o fiz. Eu deitei na cama que agora era minha e olhei o teto. Essa era minha nova vida, na pequena cidade de Forks onde nasci e passei boa parte da minha infância, o lugar que, apesar de belo e de ter pessoas boas, não era o meu lugar, nunca foi. Agora eu teria de viver ali até conseguir uma bolsa em alguma faculdade longe da cidade, ou até que meu fim chegasse.

...

O jantar foi um evento alegre, alegre para Billy e Jacob. Jake contou-me tudo o que perdi desde que sai com meus pais para San Marcos, eu fingi ouvir atentamente. Eu era uma boa atriz, aprendi durante o tempo após o acidente em que fiquei internada no hospital recebendo mimos de desconhecidos, amigos de meus pais e os funcionários do hospital. Após o jantar Jacob quis conversar um pouco mais, saber sobre mim, mas eu aleguei cansaço e me retirei para o quarto. Minhas coisas ainda estavam nas malas, como eu ainda estava nas férias de verão eu tinha muito tempo para fazer isso. Esse era o outro problema, como eu estava de férias de verão não teria a desculpa da escola para fugir das gentilezas de Billy e Jacob, teria que pensar em uma forma de me manter muito ocupada.

Após um demorado banho, eu vesti meu pijama favorito, abri a janela do quarto que fica ao lado da minha cama e me deitei com o rosto voltado para a janela.

Eu estava um caco, por dentro e por fora. As feridas que ganhei no acidente estavam cicatrizadas, mas as feridas em minha alma estavam mais abertas do que nunca. Eu poderia sorrir, conversar, mas seria apenas teatro. Eu não sei até quando suportaria isso. Afastei-me um pouco da cama alcançando uma das malas e pegando uma pasta. Voltei a deitar. Era o documento dos exames que fiz antes do acidente por culpa de uma dor de cabeça.

-Meu passaporte para a felicidade... –Murmurei abraçando a pasta e olhando o teto. Foi quando eu ouvi. Estava longe, mas deu para identificar o som. Era o som de um piano, minha música favorita estava sendo tocada no piano, banda Debussy. Eu fechei os olhos mergulhando naquela melodia, era como estar voltando ao passado. Incapaz de ficar parada, eu me levantei e sentei no beiral da janela. O som vinha do bosque aos fundos da casa de Billy certamente vinha de alguma habitação nas proximidades.

Como um girassol persegue os raios de Sol eu me senti compilada a fazer o mesmo. Aquela melodia tão bela e aconchegante foi como um Sol em meio à escuridão. Eu peguei meu Hobby preso em um gancho atrás da porta, sai pela janela caminhando no telhado e, com a ajuda de uma árvore, desci até o solo. Eu sei, eu deveria voltar para o quarto e tentar dormir, mas eu precisava sair de lá e caminhar para aquela música, para ouvi-la melhor. E então eu caminhei ignorando o frio e a escuridão, andando por entre as árvores usando minha audição como guia. Só precisei caminhar uns cem metros até me deparar com um campo aberto e a frente uma bela casa, praticamente uma mansão. Era de lá que vinha o adorável som do piano. Mas o som cessou assim que vislumbrei a casa. Apenas a luz de um cômodo estava ligada. Eu dei mais um passo até ela, não notei que estava diante de um barranco. Eu cai barranco abaixo e tudo ao meu redor escureceu.

...

-Hmmm...

Sentia uma dor crescente na testa, mas não senti a terra ou a grama abaixo de mim como deveria ser. Eu estava deitada em algo macio, incrivelmente perfumado. Eu abri meus olhos não enxergando muito nitidamente o ambiente que me cercava, estava escuro. Sentei-me no que julguei ser a cama, uma luz de um abajur foi acessa e pude ver uma silhueta sentada em uma poltrona vermelha. O desconhecido olhou-me, seus olhos pareciam brilhar no quarto pouco iluminado.  Eu fiquei olhando para aquela rapaz. Eu sei que eu deveria me preocupar por estar só com um homem ou perguntar como vim para ali, mas... Mas eu não pude. Por que diante de mim estava o rapaz mais belo que eu já havia visto em toda a minha vida.

-Quem é você? -Consegui dizer, ou melhor, murmurar. Pretendia repetir por saber que dificilmente ele me ouviria, mas ele ouviu.

-Edward Cullen.

 


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