Correntes: Atados pelo Sofrimento escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 3
Capítulo 2: O estranho




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Eu olhei ininterruptamente para o rapaz diante de mim, mesmo com a pouca iluminação do recinto, foi fácil perceber a beleza inumana daquela pessoa. A pele era branca, quase possuía um brilho próprio, os cabelos eram lisos, um pouco bagunçados, não pude definir a cor em primeira instancia. Ele manteve seus olhos que possuíam um estranho brilho fixos em mim por minutos que me pareceram a eternidade, por fim moveu-se. Levantou da poltrona que antes estava sentado e ficou de pé diante e mim.

-Então senhorita, por que invadiu minha propriedade? –Retorquiu ainda mantendo o timbre suave quando deveria estar furioso pelo meu ato.

-Peço perdão. Eu ouvi a música que estava tocando e vim ouvi-la melhor. Eu não iria invadir sua casa ou algo assim, nem mesmo ultrapassaria seu gramado. –Não consegui fita-lo. Abaixei a cabeça olhando o edredom de qualidade que me cobria.

-Está bem. Tenha mais cuidado quando for sair por ai para exploração. Não é muito bem visto uma donzela sair por ai e se infiltrar em uma floresta. –Edward disse. Seu sotaque e algumas expressões utilizadas me fizeram sentir como se estivesse em um século anterior. –É melhor regressar a sua casa. Certamente mora aqui nas proximidades, não é?

-Sim. Eu moro atrás da sua casa. –Murmurei enquanto me levantava.

-Mora com os Black? –Ele perguntou e, ao vê-lo, pude ver a curiosidade em sua face.

-Sim, por enquanto. –Fiz questão de arrumar a cama que até poucos instantes estava deitada e passei a caminhar para a porta. Edward guiou-me, nenhuma palavra foi trocada enquanto íamos para a saída. Eu estava tão envergonhada pelo que fiz que apenas mantive meus olhos no piso. Eu pensei que Edward apenas me guiaria até a frente de sua mansão, mas para a minha surpresa ele saiu junto a mim.

-O que está fazendo? –Perguntei quando o vi fechar a porta e caminhar pelo gramado.

-Vou levá-la até a sua casa. Não seria prudente deixá-la desacompanhada. Venha. –Por alguns instantes pude ver mais de meu acompanhante. Vestia-se com elegância, elegância demais para quem estava sozinho em casa (aparentemente sozinho) e iria dormir. Praguejei ao pensar que talvez tivesse atrapalhado algo. Ele vestia uma calça social preta, camisa de botões vermelha, suspensórios pretos, sapatos sociais pretos. Estava tão absorva em olhá-lo atentamente que não me dei conta que caminhávamos para a minha casa. Em um determinado momento eu estaquei, tudo ao meu redor estava escuro, era difícil caminhar. Senti uma mão macia e anormalmente gelada segurar minha mão, eu sabia que era Edward, tinha que ser ele. Eu podia ver seu vulto branco andando com graça entre as árvores. Devo confessar que a principio fiquei assustada, pensei que uma alma penada havia segurado minha mão. Após perceber de quem era aquela mão ofertada para me ajudar a caminhar sem me ferir, eu senti um estranho calor. Ficamos calados durante aquela curta caminhada até que paramos. Oh droga, havíamos chegado ao meu destino. 

-Esta deve ser sua moradia. –Edward falou e virou-se para me ver, notei então qual a cor de seus olhos, eram de um estranho ocre, olhos tão belos e intensos! –Tome cuidado quando andar por ai.

-Obrigada senhor Edward. Desculpe o incomodo. –Murmurei envergonhada. Ainda sentia a frieza de sua mão mesmo após Edward deixar de segurar minha mão.

-Não foi incomodo. –Ele passou a caminhar para sua casa, mas eu não consegui fazer o mesmo. Eu fiquei parada olhando-o. Para a minha surpresa Edward parou.

-Clair de Lune... Era a musica que eu tocava ao piano, que a atraiu até mim.

-Minha musica favorita. –Eu disse risonha, pateticamente risonha devo ressaltar.

-A minha também. –Ele disse sem se virar, em pouco tempo Edward havia desaparecido no bosque. Só assim retornei para meu quarto. Pela primeira vez após o acidente que matou meus pais eu experimentei dormir bem, uma noite sem sonhos era bem verdade, mas melhor do que nada.

...

-Hei Bella adormecida, ta na hora de acordar! –Ouvi uma voz dizer, eu reconheci como a voz de Jacob. Abri vagarosamente meus olhos, era de manhã. Jacob me chamava do lado de fora do quarto. A brisa da manhã penetrava pela janela aberta, então realmente aconteceu tudo aquilo comigo. Pude sentir o galo na testa, por cima deste um curativo certamente colocado por Edward. Edward... Meu quase visinho incrivelmente lindo. E aquela imagem, borrada, porém vívida ficou em minha mente enquanto eu me levantava, ia tomar meu banho, após meu banho vesti roupas simples e confortáveis e desci para tomar café.

-Bom dia. –Disse para Jacob que estava na cozinha. Ele virou-se e sorriu alegremente, eu sorri apenas para ser simpática.

-Bom dia. Sente-se Bells. –Ele me ofereceu uma cadeira alta de frente para a bancada da cozinha, eu sentei. –Estou fazendo ovos com bacon, você quer?

-Acho que vou querer algo mais nutritivo. –Falei. Jacob sorriu.

-Eu tenho algo para você. Tem cereal. Você quer?

-Eu prefiro isso. Desculpe pelo incomodo.

-Imagine Bells! Deixe disso! Sempre que quiser algo apenas pegue, essa casa é sua. –Jacob falou de forma amistosa, eu apenas sorri. Eu jamais veria aquela casa como minha. –A propósito como foi a sua primeira noite aqui?

-Foi boa. –Eu disse e meus pensamentos foram para Edward. Ele era o fato que fez minha noite ser boa. Aquilo me deixou confusa, eu não deveria estar feliz só porque conheci um cara que gentilmente me ajudou. Servi-me de cereal, não estava com fome, mas comi para não deixar ninguém preocupado com meus hábitos.

-E ai Bella, o que pretende fazer durante esses dias de férias de verão que você tem? Você tem um mês, não é?  

-Tenho sim Jake, mas confesso que não tenho planos. Estou pensando em, sei lá, ficar por aqui ajudando na limpeza da casa e estudando.

-Credo Bella, isso lá é programa! –Protestou Jacob. –Você deveria aproveitar para dar uma volta por Forks, muita coisa mudou desde que você saiu daqui. –Eu olhei sugestivamente para Jacob, ele sorriu sem jeito. –Tudo bem, não mudou muito.

-Eu agradeço a sugestão Jake, mas quero aproveitar esse tempo para ficar quietinha.

-Bom se você mudar de idéia basta me falar.

-E onde está o Billy?

-Ele foi para a loja de peças de carro na cidade.

-Vocês ainda têm aquela loja?

-Sim. Ela está diferente, está maior. Cresceu bastante. Você precisa ir lá ver.

-Quem sabe outro dia Jake.

-Bom eu vou sair para dar uma ajuda para o velho, se quiser ir lá sabe como chegar, não é?

-Sei sim. A propósito eu vou fazer a comida e limpar por aqui.

-Bella, não precisa disso.

-Eu faço questão e nem vem que não tem! –Jake riu com minhas palavras.

-Tudo bem Bells. Faça como quiser. Mais tarde, se você quiser, eu posso mostrar alguns lugares para você. Não será um passeio, apenas reconhecimento de território. Mostrarei onde fica a escola, o melhor restaurante daqui, o supermercado, a biblioteca...

-Tem uma biblioteca por aqui Jake?

-Tem.

-Bom então reconhecimento de território eu aceito.

-Ok. Preciso ir agora ou o Billy vai me matar. Fique bem Bells. Qualquer problema ligue para a loja, o telefone estava anotado e coloquei próximo do telefone.

Jacob saiu e me senti melhor por estar só, sem precisar fingir a alegria e empolgação que não tinha. Mesmo sabendo que Billy e Jacob não iriam aprovar, eu cuidei da casa limpando-a e arrumando-a. Queria fazer qualquer coisa que mantivesse minha mente ocupada, para não pensar em nada ligado a meu passado, meus pais, minha casa... Eu queria ter a mente vazia para não pensar nas coisas que faziam meu peito doer. Enquanto preparava o almoço, sabendo que logo Jacob e Billy estariam ali para comer, eu senti uma forte pontada na cabeça. Precisei me afastar do fogão e sentar em uma das cadeiras da pequena mesa da cozinha. Aquela dor era conhecida por mim, eu já a sentia há algum tempo. Mas aprendi algo após a morte de meus pais, a ignorar a saúde e sempre fingir que tudo está bem.

Eu não sei até quando ignoraria aquilo. Passei a mão pelo nariz e com horror vi gotas de sangue sair de minhas narinas e cair na costa de minha mão direita. Nada fiz. Apenas retirei o sangue de minha mão tomando o cuidado de não deixar nenhum vestígio, e segui com meus afazeres.

...

A chuva desabou quando eu por fim terminei o almoço, algo comum em Forks. Jacob e Billy chegaram embaixo daquela chuva, ensopados como previ. Eles pareceram aprovar a limpeza e organização feitas na casa por mim, mais ainda a comida que preparei: arroz, bife, salada e batata frita.

-Poxa Bells, com essa chuva eu acho que teremos de deixar nosso passeio para depois. –Jake falou pesaroso enquanto se servia pela segunda vez da refeição que fiz.

-Tudo bem Jake. Fica para depois. –Eu disse. –Bom eu já comi antes de vocês então eu vou para o quarto, tem algumas coisas que preciso organizar.

-Ok Bella. Fique a vontade. –Billy disse. Eu segui para meu quarto.

E as horas se passaram... Eu fiquei ali entretida em arrumar o que não estava organizado só como uma desculpa para me isolar. Lá pelas tantas, após eu tomar meu banho e me preparar para ficar vegetando na cama, mas o silencio quase sepulcral foi quebrado pelo já conhecido barulho de um piano soando longe, tocando minha música favorita. Eu poderia ter ido dormir, mas me senti inquieta. Acabei fazendo a mesma bobagem da noite anterior. Vesti meu hobby e meu par de  tênis e sai pela janela. Desta vez agi com mais prudência ao caminhar, não queria acabar no fundo de um barranco. Eu não ousei me aproximar muito da mansão de Edward. Fiquei sentada na beira do pequeno barranco onde cai noite passada e contemplei a linda noite e a doce melodia que soava. Eu me deitei no gramado e me perdi em tudo aquilo.

-Pretendendo dormir no meu gramado? –A voz disse e eu estaquei com a proximidade. Num átimo estava de pé olhando desorientada para todas as direções até encontrar um desconhecido de pé a alguns metros de mim.

-O-o que? Que-quem é... –Ele ligou uma lanterna que estava em sua mão focando no rosto.

-Boo. –Edward disse divertido, desligou a lanterna em seguida. –Veio ouvir novamente eu tocar?

-Espera! A música ainda está rolando! Como você... –Edward ergueu a outra mão, notei que algo como um controle remoto estava nela. Ele balançou e pude ver o sorriso sarcástico nos lábios. Eu iria dizer algo, como por exemplo: que belo tocador de piano fajuto ele é! Mas quando eu ia dizer...

-Parece que meu plano de conduzi-la a minha casa deu certo, fico grato por isso. –Então ele tocou a música para que eu viesse até ele? Minha voz morreu. –Siga-me. –Ele falou caminhando para sua casa. Eu me vi incapaz de recusar. Prontamente o segui sem me importar se minha atitude era certa ou errada, apenas queria ir junto a ele.

 


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Notas finais do capítulo

Logo terá mais. Deixem coments. Ah tenho outros fics aqui como "Lembre-me!", "Renascida" e "Internato Cullen: um amor avassalador". o/