Correntes: Atados pelo Sofrimento escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 12
Capítulo 11: Viagem




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Separei poucos pertences, os deixei em uma gaveta vazia da minha cômoda de madeira, a mala estava em baixo da cama, bastaria pôr tudo dentro e seguir viagem. Agora eu tinha que inventar algo para Billy e Jacob e rezar para que não somente tivesse autorização para ir a minha antiga cidade como Jacob não decidir ir só para não ter que trabalhar na oficina de carro com seu pai. Geralmente eu não tomava café com eles, mas desta vez tomei um bom banho, vesti uma roupa qualquer e desci. Jacob ficou surpreso em me ver, nem lembro quando foi à última vez que tomamos café juntos. 

-Nossa Bells, fazia um tempo que você não ficava conosco pela manhã. –Jacob comentou enquanto comia. Eu sorri. Iria aproveitar aquele momento “em família”, principalmente se ele era o meu último.

-É que eu queria ficar aqui com vocês. –Falei dando de ombros e comendo um pouco mais da panqueca feita por Billy. –Nossa, tio Billy essa panqueca está ótima!

-Que bom que gostou Bella! –Billy abriu um enorme sorriso, ele gostava de ter sua comida elogiada. Permanecemos em silencio comendo, me manifestei quando todos estavam prestes a sair para mais um dia de trabalho.

-Tio Billy? –O chamei. Ele parou em frente à porta.

-Sim? –Ele disse, Jacob já estava do lado de fora.

-Eu sei que esse não é um bom momento, mas... Eu quero aproveitar que estou de férias e ir para San Marcos. Sabe, levar flores para meus pais e pegar algumas coisas minhas em nossa antiga casa... –Eu esperei pela resposta de Billy, no fundo eu sabia o que ele diria. Ele sorriu tristonho.

-Claro minha filha. Vai amanha? Por que não no fim de semana assim eu e Jake vamos com você.

-Não, não quero atrapalhá-los!

-Não iria nos atrapalhar. Também quero visitar meu velho amigo.

-Tio... Eu... Bem... Eu gostaria de ir sozinha. Poderíamos ir juntos em outra ocasião, mas por hora eu quero ir sozinha. Por favor?

Billy olhou para minha expressão e deve ter visto o quanto eu queria ir só, pelo menos não viu que, por trás dessa suplica, havia desespero. Se eles fossem eu não poderia garantir que eles não se machucariam.

-Tudo bem pequena. Vai amanha cedo?

-Sim. Vou comprar a passagem hoje.

-Tem dinheiro. Posso lhe dar se não tiver.

-Eu tenho sim tio Billy.

-Bom então faça o que deve ser feito. Conversamos melhor sobre isso mais tarde.

-Obrigada. –Falei com sinceridade, mas não estava agradecendo só por ele permitir que eu fosse só, mas também por tudo o que ele tinha feito por mim. Minha voz estava um pouco embargada, esperava que não notasse isso. Ele me olhou e sorriu.

-Disponha. –E assim saiu com Jacob para a oficina.

...

A ida até a rodoviária foi rápida, não havia uma grande fila como supus. Assim que cheguei em casa, após o almoço, terminei de arrumar meus pertences. Perguntei-me se realmente seria necessário levar algo. Se eu não conseguisse eliminar James, o que eu mesma duvidava, provavelmente morreria. Billy poderia desconfiar, foi essa resolução que me fez arrumar uma pequena bolsa. Tudo estava preparado. Diria a Billy que dormiria na casa de uma amiga e pronto. Considerei o que eu poderia me dispor para, quem sabe, tentar danar James. Billy tinha uma arma em casa, usada para a caça esportiva. Eu poderia pega-la, mas caso ele desse falta meus planos poderiam ser arruinados. Lembrei-me então da arma de meu pai, ele era policial, tinha duas armas: uma que usava em serviço e outra em casa, escondida. Minha casa agora estava sendo ocupada por outra família que morava lá de aluguel, o dinheiro do aluguel depositado em uma conta para mim junto com o dinheiro deixado por meus pais. Os móveis, tudo o que pertenceu a mim e a minha família que n ao foi trazido para cá para Forks estava guardado no porão de minha casa, a porta trancada para que só eu tivesse acesso. Eu entraria e procuraria a segunda arma de meu pai. Não que isso fosse me salvar, mas nunca se sabe. Ficaria satisfeita em causar o mínimo dano que fosse a James, ver seu rosto contorcido pela dor.

“Talvez seja minha última viagem, como foi para meus pais na estrada de San Marcos. Se vou invariavelmente para o caminho que leva a minha morte, eu posso...” –Pensei em Edward. A cena do beijo em minha cabeça. O que Edward poderia estar pensando do meu ato? Nem eu mesma sabia ao certo por que fiz isso, ou talvez eu não quisesse admitir o quanto eu estava envolvida, o quanto eu estava encantada por Edward. Por que não dizer, sabendo que ninguém ouviria meus pensamentos, que eu estava apaixonada por ele. Eu não queria admitir isso por que Edward acabaria sendo um empecilho para meus planos acerca de James. Eu pensaria duas vezes antes de correr para a morte certa só para tê-lo por perto. E não era isso o que estava acontecendo agora? Enquanto eu estava sentada em minha cama vendo minha mala a minha frente, eu não estava reconsiderando minha decisão?

O pingente de minha mãe em meu pescoço pareceu pesar uma tonelada. Senti a responsabilidade de fazer algo, ainda que mínimo, pelos meus pais. Eu faria isso. Levantei-me determinada e, ao rumar para o banheiro, vi no espelho uma nova Bella.

...

-Então ficará na casa de uma amiga sua?

-Sim. Eu já falei com ela e com os seus pais. Ela ficou feliz em saber que estou indo para San Marcos. –Disse a Billy dando máxima atenção a lasanha que comia.

-Quanto tempo vai ficar longe Bells? –Jacob perguntou.

-Não sei. Queria visitar meus amigos então acho que uns três dias.

-Poxa! Três dias é muito! Eu tinha falado com o pessoal pra gente ir a Seattle. Acha que consegue chegar a tempo cedo fim de semana? –Jacob parecia aborrecido. Eu sorri.

-Vou ver se chego mais cedo, ok? –Disse e vi um sorriso enorme aparecer em seus lábios cheios. Ah, se ele soubesse o que aconteceria comigo! Não faria planos contando  com minha presença.

-Então vai amanhã guria? –Billy perguntou enquanto se servia novamente da lasanha.

-Sim, amanhã bem cedo.

-Leve seu celular assim poderei falar com você, perguntar se está tudo bem. Dou uma carona pra você amanhã.

-Claro tio Billy. Serei muito grata se me levar à rodoviária. –Continuamos a comer despreocupadamente falando sobre como foi o dia do outro. Senti uma nostalgia me atingir. Ao contrário do que imaginava, eu iria sentir falta disso.

...

Minha mala estava escondida em uma gaveta junto com minha passagem. Eu estava deitada e tentava dormir, sem sucesso. Cogitei a possibilidade de sair e me encontrar com Edward, ver aquele belo rosto e ouvir sua voz divina mais uma vez, mas desisti. Talvez Edward não quisesse mais me ver após o beijo, por isso ele não veio até mim o dia todo. Aqueles pensamentos doeram. Eu era uma mera humana sem nenhuma qualidade afinal, com um pé na cova. O que um homem como Edward veria em mim? Por que ele se interessaria por mim? Embora Edward tenha feito muito, o que poderia me fazer pensar que nutre algum sentimento, eu não queria me iludir. Não sei por quanto tempo fiquei pensando nele, mas em algum momento no decorrer da noite meus olhos se fecharam e eu adormeci.

...

Em algum momento durante a madrugada eu estremeci de frio, a janela estava aberta certamente. Abri um pouco meus olhos mal enxergando o quarto naquela escuridão. Eu estava deitada em minha cama, a janela estava aberta. Estranho, eu a tinha fechado. Meus olhos estavam quase fechados, estava com muito sono, mas pude ver que havia alguém sentado na cadeira da minha escrivaninha, a mesma próxima a minha cama, de frente para mim. Meu corpo estremeceu novamente. Vejo um vulto fechar a janela cessando a brisa e ir até minha cômoda. Pegou um cobertor eu acho. Colocou sobre mim e ficou sentado na cama, as mãos frias acariciando meu cabelo, minha bochecha. Eu adormeci novamente. Um nome me veio à cabeça: Edward. Era ele ali vigiando meu sono, cobrindo-me para não sentir frio?

...

Acordei mais cedo do que pretendia. Tomei banho, vesti minha melhor roupa (jeans, tênis e uma blusa branca por debaixo do suéter caramelo) e tomei café com Billy e Jacob. A mala e a passagem na minha mão. Havia outro item que também levei comigo, apenas para que ninguém o encontrasse: meu exame que diagnosticava meu mal.

Eu estava tranqüila e isso me deixou preocupada, eu não deveria me sentir assim. O plano traçado em minha mente. Eu não iria falhar, mas queria falhar. Queria que o meu plano desse errado e eu pudesse ficar aqui em Forks. Sempre que eu pensava em desistir o pingente de minha mãe pesava e eu voltava aos planos anteriores.

...

-Vá com Deus guria. Ligue assim que chegar lá e se precisar de algo é só ligar. Prometo que da próxima eu e Jake vamos com você. –Billy falou. Estávamos na rodoviária. Eu assenti e subitamente o abracei.

-Obrigada tio Billy. Não sei o que seria de mim sem o senhor. –Falei com emoção. Aquela era uma despedida afinal. Billy pareceu sem jeito em me abraçar, MS abraçou.

-Imagine. Não fiz nada demais. Melhor você ir, seu ônibus já vai sair.

Olhei para Jacob ao seu lado.

-Volta logo Bells. A comida é uma droga sem você. –Ele falou com diversão. Recebeu um cascudo de Billy. Eu sorri, me aproximei e o beijei na bochecha.

-Até mais Jake.

-Até Bells. Espere que chegue a tempo de ir a Seattle comigo e com o pessoal.

-Eu vou chegar. –E assim eu entrei no ônibus acenando e vendo quem sabe uma última vez aqueles que foram minha família. Eu sentiria falta deles. Sentei em uma poltrona ao lado da janela, os outros passageiros iam entrando atrás de mim. Vi Jacob e Billy se afastarem para a caminhonete. Naquele instante, perdida em pensamentos, vi um brilho prateado passando em uma estrada um pouco distante do ônibus onde estava. Por algum motivo lembrei-me do Volvo prateado e Edward. Impossível. Existiam muitos carros prateados em Forks. Não poderia ser ele. Mas algo na minha mente acordou e pensei:

“Terei que ser rápida com James. Caso o contrário ele irá me impedir!”.


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Notas finais do capítulo

Deixem reviews e aumentem minha popularidade o/
beijocas =*********