Correntes: Atados pelo Sofrimento escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 13
Capítulo 12: Pesadelo




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Um dia e meio em um ônibus até chegar a San Marcos. Minha cabeça estava longe. O que aconteceria a mim? James estaria onde eu pensei que estaria? Como Billy e Jacob reagiriam caso algo acontecesse algo comigo? E Edward? Eu não sei se era bom ou ruim o fato de não ter me despedido adequadamente dele. Mas depois do que houve me senti encabulada de encontrá-lo. Eu o havia beijado e sei que isso o atordoou. Senti medo em pensar que poderia ser desprezada por ele. Era até cômico, eu caminhando para a morte, sem me preocupar enquanto temia um único olhar.

Quando cheguei à rodoviária de minha cidade, respirei fundo. Eu sabia exatamente o que iria fazer.

...

-Entre querida! Meu marido não está aqui, mas você pode tratar de algum assunto a respeito do aluguel da casa comigo. –Disse a simpática senhora de uns trinta e poucos anos. Lembrei-me vagamente de seu nome: Summer.

-Não vim tratar de assuntos referentes ao aluguel, senhora. Vim aqui na verdade para pegar uns pertences que ficaram na casa.

-Ah, eu sabia que mais cedo ou mais tarde alguém viria para pegar os pertences que ficaram! Eu peguei tudo e, com a ajuda do John, coloquei tudo em um dos quartos. Vamos lá, levo você lá. –A senhora disse guiando-me pela casa. Um sentimento de nostalgia me atingiu. A decoração estava diferente, mais moderna, com cores quentes, mas ainda era minha casa. Eu quase podia ver as fotografias de quando eu era criança em cima da lareira, as flores do campo em um vaso de cristal em cima da mesa da cozinha,...

-Então... Venha querida. –Senhora Summer disse. Ela estava em frente à porta de um dos quartos, meu antigo quarto, onde estavam guardados os moveis e outros pertences. Claro que não estava tudo ali, devia haver coisas no porão. Esperava que o que eu estava procurando estivesse em meu quarto. Lá estava: a cômoda do quarto dos meus pais estava no meu antigo quarto.

-Desculpe-me pelo incomodo. Prometo que serei rápida. Pegarei só algumas fotografias. –Disse risonha.

-Claro. Fique a vontade. Eu vou preparar um café para nós duas. O que você acha?

-Perfeito. –Disse e suspirei aliviada quando a senhora Summer se afastou. Fui para perto da cômoda e a tombei para o lado.

Meu pai era policial. Usava duas armas: uma usava durante o dia e deixava na delegacia, a outra ficava em casa escondida debaixo de sua cômoda. Descobri por acaso quando tinha uns quinze anos. Claro que nunca a havia pegado. Aquele era o momento. Eu não sabia se uma bala poderia matar um vampiro, mas eu não tinha nada além disso.

Peguei a arma escondendo-a em minha cintura, por baixo do moletom verde escuro que usava. Coloquei a cômoda na posição original. Eu sabia que se vasculhasse aquele espaço encontraria fotos ou algum pertence de meus pais. Eu não fiz isso. Levantei-me e fechei a porta após sair. Inventei uma desculpa para a senhora Summer e parti rapidamente. Era fim de tarde e eu queria chegar o quanto antes a estrada. Não tinha carro, mas eu poderia ir de taxi. Foi fácil parar um taxi e convencê-lo a me levar pela estrada até a cidade vizinha, afinal eu tinha uma boa grana.

-Está escurecendo e logo vai chover. É meio perigoso seguir por essa estrada. –O motorista comentou. Estava um pouco mais escuro por estar nublado, algo raro em San Marcos. O chuvisco começou quando nós entramos na estrada.

Ver aquela estrada quase no escuro em meio a um chuvisco lembrou-me do acidente. Eu estava fervendo de raiva, a ânsia de acabar com James me dominando. Eu sentia o peso da arma em minha cintura. Fiquei alheia a tudo, o que me despertou foi à curva, a mesma curva em que houve o acidente.

-Pode parar aqui senhor.

-O que? Que historia é essa?

-É aqui onde vou descer. Encoste.

-Olha moça... Nós estamos no meio do nada!

-Mas é aqui que eu vou descer.

-Eu vou levá-la até a cidade vizinha. Não vou deixá-la aqui nesse fim de mundo! Se algo acontecer a você...

-PARA ESSA MERDA DE CARRO AGORA! –Gritei. Eu não tinha paciência para argumentar com esse infeliz, também temia que James aparecesse e fizesse algo com o pobre homem.

-TUDO BEM! DESCE! –O homem retorquiu, ríspido. Parou e eu desci num átimo jogando no banco do carona o dinheiro da corrida. Ele arrancou com o carro e eu me vi em meio à escuridão, o frio intensificando-se assim como a chuva. Eu olhei para o barranco e desci lentamente por ele. Eu me senti entorpecida. Como se estivesse jogando algum videogame em primeira pessoa. Sim, era isso que ocorria. Aquilo tudo era surreal. Vampiros, a morte dos meus pais, uma nova vida na cidade que eu nunca gostei, tudo! Eu não senti minhas pernas caminhando para a escuridão que era o fundo do barranco, um pouco claro pelo brilho de um poste a beira da estrada.

“Ele não está aqui!” –Pensei por não ver ou ouvir nada. Cansada pela descida, sentei-me no gramado e olhei para a escuridão que era o bosque a minha frente. Onde James poderia estar? Eu não conseguia pensar em um lugar além daquele, mas rezei para que ele não decidisse ir à casa de Billy. Eu não queria que ninguém ficasse ferido. Por outro lado James poderia ter desistido. Afinal Edward havia me protegido e o ameaçado. A chuva estava forte, típica chuva de verão. Eu decidi deixar aquele lugar e seguir para a cidade. A idéia de retornar a Forks me pareceu tão agradável, encontrar com todos, encontrar com Edward...

-Aonde pensa que vai, minha menina? –Ouvi a voz dizer. Antes mesmo de me virar e ver quem era o dono da voz, algo me atingiu jogando-me para mais fundo no barranco. Eu não sei de onde veio o objeto que me atingiu, a que força ele se lançou para mim ou a que altura eu fui arremessada. Quando abri meus olhos eu estava afastada da margem da rua, caída em um gramado molhado recebendo as gotas de chuva que passavam pelas copas frondosas das árvores acima de mim.

-Ai... –Murmurei enquanto tentava me sentar, minhas costas doíam muito, mas tinha certeza de que não havia quebrado nada. Apenas consegui ficar sentada, parecia fraca ainda para me levantar. Com horror eu vi um vulto vir em minha direção por entre as árvores. Ele ria.

-Ah, adoro ver o seu rosto crispado pela dor, ainda que momentânea. Como está, minha menininha? Sentiu minha falta? –Disse divertido. Eu conseguia ver parcialmente seu rosto através do brilho mortiço da lua cheia daquela noite que passava pela camada de nuvens e pelas frestas nas copas.

-Estava procurando por você, seu maldito. –Sibilei conseguindo por fim me mexer e levantar. Eu o encarei mortiferamente através da escuridão parcial.

-Eu sei. Eu sabia que você me encontraria. Aqui foi o começo, é aqui que deve terminar. –James caminhou lentamente para mim, eu posicionei a mão por cima da arma escondida em minha cintura debaixo do moletom que usava.

-Será o fim, mas não para mim. Será o nosso fim. Eu não vou sem te levar junto! –Falei entredentes. James soltou uma gargalhada. Eu engoli em seco sua atitude e peguei a arma escondendo dentro da manga de meu moletom, minha mão direita segurando-a.

-Acha mesmo que pode fazer algo, Isabella? Como é tola! Então por isso veio até mim? Acredita que irá me deter? Eu lamento meu bem, isso não será possível. Uma mera humana com você não pode fazer nada para me exterminar. –Os passos de James estreitavam mais e mais o espaço entre nós. Eu sabia que precisava esperar até que ele estivesse suficientemente perto para disparar. Esperei pela sua aproximação enquanto meu coração martelava furioso no peito. Não era só a pulsação acelerada que James estava provocando em mim. Eu sentia a dor de cabeça vindo, uma dor que eu sabia que me incapacitaria.

Não! Eu não poderia fraquejar agora, não sem antes revidar em James, descontar minha fúria!

James ficou de frente para mim, apenas milímetros separavam nossos corpos. Sua respiração em minha pele era gelada, um hálito agradável. Seus olhos eu podia ver, estavam rubros, indicio de que andou matando. Ele ergueu a mão e tocou minha bochecha, afagou-a. Eu senti nojo daquele individuo, queria cuspir em sua face, mas sabia que não poderia perder a cabeça agora.

-Sabe, desde aquele nosso encontro aqui eu tenho pensado muito em você. Você se tornou uma obsessão. Foi um pouco difícil encontrá-la, seu cheiro desapareceu e tive que investigar sua vida, o que não foi fácil. Além do que eu estou sendo perseguido pelos Volturi. Acho que aquele vampiro que esteve protegendo você explicou quem são eles. Fui uma criança muito levada e despertei em alguns humanos a curiosidade sobre o que era. Eles estão putos comigo preocupados que eu arruíne o segredo de nossa raça. Isso me atrasou um pouco, mas eu consegui afinal. Eu sou um rastreador, minha menina. Ninguém escapa de meus ataques. Você foi uma exceção e por isso me vi louco por você, mas tão logo isso acabará. Seja boazinha, ou irei machucá-la.

James era gentil, perversamente gentil. Inclinou-se movendo seus lábios para o meu pescoço. Ele iria se alimentar de mim. Saquei a arma e quando por fim ele percebeu meu movimento, eu atirei em seu abdômen. James cambaleou para trás, aproveitei e atirei mais algumas vezes em seu peito e em sua cabeça.

Ele caiu de costas no chão. Eu fiquei parada ainda segurando a arma já descarregada. Esperando. Eu suspirei ao notar que James não se mexia. Joguei a arma no chão e caminhei para a estrada um pouco afastada de seu cadáver. E então... Uma mão me agarrou pelo meu tornozelo.

-Aonde vai, Bella? –Ele disse e antes que eu pudesse sequer pensar em fazer algo, James pegou-me pelo tornozelo erguendo-me no chão e me atirou para longe. Eu bati minhas costas no solo, antes que pudesse me levantar eu fui erguida pela gola da minha blusa que ficava por baixo do moletom.

James me olhava com fúria, notei que não havia ferimento algum em sua pele.

-Achou mesmo que poderia me matar, vadia? –Retorquiu, azedo. –Vou lhe ensinar a como ser uma presa obediente. –E então, rápido demais para meus olhos humanos, James me deu um poderoso soco na face.

Eu cambaleei para o lado sentindo o gosto do meu sangue na boca. Fiquei desnorteada, no chão. Tentei me levantar, mas James me deu um chute no estomago jogando-me para mais longe dele. A dor veio de forma avassaladora. A dor no abdômen, na boca e, agora, na cabeça. Senti o sangue escorrer de minhas narinas. Eu sabia que isso não era por nenhum golpe de James, era minha doença decidindo me infernizar no momento errado. James soltou um riso soturno, meu corpo despencou no chão.

-Ah, seu sangue... Que cheiro maravilhoso possui! Sabe como descobri seu paradeiro? Através do hospital local. Parece que você é paciente de lá, não é? E o seu problema não é um probleminha de saúde qualquer. Por isso minha pressa em encontrá-la. Queria eu o prazer de matá-la e não deixá-la ir de forma patética sendo vitima de um tumor. Que coisa patética é o ser humano, morre tão facilmente!

Eu estava cansada, com dores por todo o corpo. Eu sabia que iria desmaiar pela dor alucinante da cabeça que se sobrepunha a qualquer outra dor. James parou e começou a correr, seria rápido, presumi. Rápido. Eu iria morrer, se não pelas mãos dele, pelas mãos de Deus. Que fosse rápido então.

Algo interrompeu a corrida alucinada de James até mim. Foi difícil ver o que era, mesmo com os olhos abertos na direção em que James estava. Algo grande veio de trás de mim, aos fundos do bosque, e pulou em James jogando-o para longe. Eu perdi James de vista tamanha a distancia em que ele foi jogado. Então algo veio rapidamente até mim e ficou de pé diante de mim, eu estava deitada no chão com o rosto na terra, eu só pude olhar para o sapato preto do usuário.

-Bella... –A voz sussurrou aflita. Eu reconheci a voz, sorri.

-Eu não... Não chamei você... Você com meu sangue... Ed... Edward. –Disse debilmente. Edward ajoelhou-se diante de mim e rapidamente me pegou colocando-me em seus braços. Só assim pude ver um pouco do seu rosto, seu rosto lindo, contorcido por algo que julguei ser dor. Por que ele estava com dor? James teria machucado ele ou coisa assim? Eu fiquei imóvel em seus braços sentindo-me quentinha. A chuva em meu rosto dele ter limpado um pouco do sangue que estava em meu rosto. Notei então que os olhos de Edward estavam escuros, ele estava com sede. Ainda sim não senti medo dele, eu me sentia tão segura! Notei que ele não respirava, tentando não me atacar quem sabe.

-Vou levá-la para casa. –Disse entredentes fazendo um esforço hercúleo para não respirar. Naquele momento caótico em que olhava seus olhos e sentia seu corpo frio me aquecendo de alguma forma eu soube o que eu sentia por aquela gentil figura.

Eu o amava, eu amava Edward Cullen. Eu amava aquele vampiro.

Edward fez menção de correr comigo em seus braços, mas um barulho imperceptível aos meus ouvidos humanos o fez parar. Ele se virou para o lugar onde James provavelmente estaria. Nós dois vimos o mesmo vir, o ódio em seu rosto.

-Eu não vou deixar... Não vou deixar que a leve de mim. Ela é... Ela é... ELA É A MINHA PRESA! –James gritou correndo em nossa direção. Soube naquele momento que não havia acabado, meu pesadelo não havia acabado. Estava só começando. Ainda sim me senti estranhamente bem por que Edward estava lá comigo.


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