PDV Laurie Bernard

Fazia mais de doze horas que ele tinha saído após a nossa pequena discussão.

Eu estava sentada em uma poltrona cor de rosa que eu tinha colocado em frente à janela do meu quarto para poder ver quando Christian chegasse.

Por volta das três da tarde, logo depois dos sapos de chocolate que a Evolet e eu resolvemos comer depois de tanto tempo esperando ele chegar para o almoço Christian mandou um patrono avisando sua mãe de que ele estava bem, que ela não precisava se preocupar e que ele iria ficar por um tempo na casa de um amigo da escola.

Também disse que talvez não voltasse hoje.

Tive vontade de soca-lo quando a Sr.ª Fournier nos chamou para almoçar e contou sobre o patrono.

Quem ele pensava que era para fazer isso? Me deixar praticamente doida de preocupação e não se dar nem ao trabalho de me dar um pequeno aviso dizendo “estou bem”.

Mas depois de algumas horas a raiva passou e eu resolvi deixar para lá. Como a Evolet tinha dito enquanto conversávamos de manhã ele, assim como eu, precisava de um tempo para se acalmar.

Só que então eu comecei a ficar preocupada por não saber onde ele estava.

Tudo bem, ele estava na casa de uma amigo, mas qual? Christian era extremamente popular em Beauxbatons e tinha amigos em vários lugares da França.

Mas ele sabia se virar, sabia se proteger e não iria correr nenhum risco desnecessário. Chris tinha sido um dos melhores alunos a se formar em junho e agora iria se tornar auror, eu não precisava me preocupar.

Ou pelo menos não devia.

Depois de ter a minha crise de choro e de desabafar com a Evolet percebi que não adiantava me preocupar com o que acontecesse daqui para frente.

Não que eu fosse parar de me preocupar, mas não adiantava acabar com o que estávamos vivendo agora para, quem sabe, não sofrer no futuro, se fosse para sofrer, que fosse.

E foi assim que horas depois eu fui parar em frente à janela só esperando que ele voltasse logo.

_Laurie, quer sair dessa janela? - Evolet pediu entrando no quarto irritada - Ele não vai aparatar no jardim só porque você está ai esperando igual a uma idiota.

_Eu sei que não. - respondi olhando para a sua cara de irritada e ao mesmo tempo preocupada - Mas eu quero ver a hora que ele chegar.

_Não sabemos nem se ele vai chegar hoje. - Evolet disse.

_É, eu sei que não, mas mesmo assim. - dei de ombros e voltei a olhar pela janela.

Ouvi Evolet murmurar alguma coisa, provavelmente preocupada comigo ou me xingando outra vez, e depois começar a arrumar suas coisas para dormir.

Dez minutos depois Evolet apagou a luz sem nem perguntar se eu me incomodava de ficar no escuro e se deitou na cama que meu pai tinha montado para ela no meu quarto.

Todos na casa já tinham ido se deitar e já passava das onze da noite.

Fiquei sentada lá hora olhando o jardim, hora olhando as estrelas até que pouco mais de uma hora depois que Evolet tinha se deitado eu escutei um estampido de aparatação e um vulto apareceu no jardim.

_É ele? - Evolet perguntou baixinho.

Me assustei com sua pergunta pois achava que ela já tinha dormido há muito tempo.

_Não sei - respondi no mesmo tom - Não dá pra enxergar.

Evolet levantou e veio até a janela olhar.

Estreitei os olhos ao lado dela mas tudo o que consegui ver era um homem alto com uma capa de viagem e a varinha na mão andando em direção a casa.

Segundos depois a luz da sala foi acessa, a porta da frente abriu e a Sr.ª Fournier saiu e foi abraçar o homem encapuzado.

Não tive mais duvidas de que era o Chris.

_Não adianta você começar a brigar com ele... - Evolet começou a me alertar mas a ignorei completamente e corri para o andar de baixo.

Ao longe escutei Evolet gritar um “Ótimo, me ignore mesmo” mas não dei atenção.

Quando cheguei à sala vi a Sr.ª Fournier perguntando onde ele tinha estado o dia todo e Chris respondendo que tinha ficado na casa de um amigo de Beauxbatons.

Como não sabia se ele ainda estava bravo comigo fiquei parada perto da porta sem me aproximar.

_Está com fome? - a Sr.ª Fournier perguntou a ele.

_Sim, bastante.

_Eu faço alguma coisa para você comer - me ofereci antes que sua mãe fizesse isso.

Chris não tinha me visto ainda e quando me olhou não consegui reconhecer nenhum sinal em seu rosto de como ele estava.

Não dava para ver se ele estava com raiva, com sono, com fome, ou mesmo cansado.

_Bom, se é assim acho que vou dormir. - a Sr.ª Fournier avisou mesmo sabendo que eu era uma negação em qualquer coisa relacionada a cozinha - Boa noite, crianças.

_Boa noite, mãe - Chris desejou.

_Boa noite - desejei quando ela passou por mim.

Fui até a cozinha sem dizer nada e escutei ele me seguir.

Abri o armário procurando alguma coisa fácil de fazer e tirei a única coisa que não precisava ir ao fogo, um pacote de pão e um vidrinho de geleia.

_É, acho que a sua mãe devia ter ficado - comentei erguendo o saco de pão para que ele visse.

_Qualquer coisa que você fizer vai ficar bom. - Chris afirmou.

Me deixei levar pelo elogio e sorri de lado sabendo que ele não estava mais bravo.

Fiquei de costas para ele que estava encostado no batente da porta e comecei a fazer o sanduíche com geleia em cima do balcão ao lado da pia.

_Você diz isso porque acha que eu ainda estou brava. - afirmei enquanto passava geleia no pão e o via se aproximar de canto de olho.

_É, pode ser isso também - ele comentou se encostando do meu lado no balcão - Mas também pode ser porque eu estou morrendo de fome. - riu.

_Idiota - xinguei-o também rindo.

Chris tirou a faca da minha mão e me puxou para um abraço do nada.

O abracei de volta apertado escondendo meu rosto em seu peito.

_O idiota que você ama - ele afirmou.

_Não, - corrigi - o idiota convencido que eu amo.

Chris deu uma gargalhada quando eu disse isso e não pude deixar de dar uma risadinha junto com ele.

_Me desculpe - pedi - Eu fiz muito drama com tudo aquilo.

_Não - ele falou - Você tinha razão em ficar preocupada e com medo, eu é que não devia ter brigado com você, deveria ter conversado e te lembrado que eu posso me cuidar bem sozinho e que vou ser um bom auror, ter feito você perceber que não tem com o que se preocupar, desculpe.

_Eu sei que você sabe se cuidar - disse e me afastei um pouco para poder olhar seu rosto - mas mesmo assim...

_Laurie, - ele me interrompeu - eu sempre vou voltar para você, não se preocupe.

Chris me beijou como se quisesse deixar o que tinha dito mais claro.

Correspondi seu beijo sem hesitação e quando paramos de nos beijar Chris me olhou com a maior cara de sério, e, achando que ele iria dizer alguma coisa séria para me dar mais certeza de que eu não precisaria me preocupar esperei em silêncio.

_Agora que nos acertamos - disse e colocou uma mexa do meu cabelo atrás da minha orelha - Será que dá pra terminar o sanduíche? Eu tó mesmo morrendo de fome.

Olhei para ele com cara de “eu não acredito nisso” e antes que eu me arrependesse coloquei uma fatia de pão em cima da outra terminando o lanche e lhe entregando o pratinho onde eu tinha feito.

_Boa noite, Fournier. - desejei seca.

_Boa noite, Bernard. - desejou ele me roubando um beijo e depois sorrindo.

Sai séria da cozinha mas ao chegar no corredor não aguentei e abri um sorriso feliz por termos nos acertado.

***

PDV Evolet Potter

_Bom dia, ruiva! - Laurie gritou abrindo as cortinas do quarto.

_Feche isso, Laurie - mandei irritada colocando o travesseiro em cima da minha cabeça e puxando a coberta para cobrir meu rosto.

_O que é isso, Evolet? - Laurie perguntou - O dia está lindo, o Chris voltou para casa, mamãe está fazendo panquecas de chocolate e ainda temos aproximadamente um mês e meio de férias, vai querer perder tudo isso dormindo?

_Vou - respondi sem parar para pensar.

_Meu Merlin, Evolet! - Laurie exclamou indignada - Levante, já é quase dez horas e logo as corujas vão chegar e...

_Corujas? - perguntei tirando o travesseiro da cabeça e jogando a coberta um pouco para baixo - Do correio?

_Ah... - Laurie parou meio sem saber o que responder - É.

_E? - perguntei sem saber qual era a importância do correio.

_E... - Laurie se enrolou - E as cartas vão chegar, e... bem...

_Está me escondendo alguma coisa, Laurie? - perguntei desconfiada interrompendo a sua enrolação.

Laurie não me olhou, começou a mexer no seu guarda roupa procurando alguma coisa para vestir e colocou a mão na boca roendo a unha.

Coisa que ela só fazia quando estava nervosa, mentindo, ou escondendo alguma coisa.

Nesse caso eu achava que eram os três.

_Eu? - se fez de tonta - Claro que não, o que eu teria para esconder?

_Não sei, - respondi - quem sabe, talvez, o que as corujas vão trazer.

_Ora, Evolet. - disse depois de pegar uma troca de roupa e ir para a porta - Elas vão trazer cartas, é o trabalho delas. Agora levante!

_Laurie, espera! - pedi correndo até a porta e indo atrás dela no corredor.

Quando Laurie me viu no corredor correu para o banheiro e se trancou lá.

_Você vai me explicar o que está acontecendo quando sair dai, Bernard. - avisei.

_Ah, não vou não, Potter - respondeu lá de dentro rindo.

Franzi a testa confusa sem saber o que Laurie estava aprontando e me virei para voltar para o quarto, dei de cara com Chris que estava saindo do quarto de hospedes já vestido e acredito que indo tomar café.

_O que ela está escondendo? - perguntei antes mesmo de dar bom dia.

_Não faço ideia - Chris mentiu descaradamente e passou por mim sem dizer mais nada.

(...)

Depois de tomar meu banho - no banheiro do andar de baixo já que Laurie tinha se trancado no de cima para não ter que me encarar - voltei para o quarto para guardar minhas coisas.

Depois de guardar meu pijama fui procurar minha escova de cabelos que estava dentro da minha bolsa e dei de cara com o galeão falso.

Olhei rapidamente para ver se Draco tinha resolvido falar alguma coisa mas a antiga mensagem ainda estava lá sem nenhuma modificação.

Guardei o galeão, penteei meus cabelos rapidamente e desci.

Ao chegar à cozinha dei bom dia a todos simpaticamente e fuzilei Laurie com o olhar.

Me sentei olhando as panquecas de chocolate da Sr.ª Bernard e me servi de duas junto com um copo de suco de laranja.

Enquanto comia vi que Laurie estava mais desesperada do que ontem olhando para a janela mas fiquei quieta pois sabia que ela estava com vontade de me contar o que estava acontecendo na mesma proporção que eu estava curiosa para saber.

Por sorte não tive que esperar muito, antes mesmo que eu terminasse de comer vi duas corujas - uma cinza e outra parda - voando em direção a casa e depois parando na janela.

_Chegaram! - Laurie exclamou e correu para a janela.

Sabendo que Laurie não se dava bem com corujas - elas tinham a mania de bica-la por algum motivo que ninguém sabia - Chris foi atrás dela e pegou as cartas.

Laurie esperou ele pegar as cartas impaciente quase pulando ao lado dele enquanto eu assistia com uma sobrancelha arqueada.

_Ok, então é uma para a Senhorita Bernard - Chris leu o destinatário e entregou a carta a Laurie que a abriu em segundos - e a outra para a Senhorita Potter.

_Pra mim? - perguntei confusa e me levantei para pegar a carta - De onde?

Ninguém se deu ao trabalho de me responder então olhei a carta e antes mesmo de olhar o remetente vi o selo de Hogwarts e soube do que se tratava, minhas notas nos N.O.Ms.

_Espera, por que recebeu uma carta de Hogwarts, Laurie? - perguntei olhando o selo atrás da carta que ela ainda lia.

Laurie demorou alguns segundos para responder e quando respondeu só murmurou um:

_Eu entrei.

_Você o que? - perguntei ainda confusa.

_Isso é ótimo, Laurie! - Chris afirmou feliz e a abraçou.

_Oh, querida, estou tão feliz por você. - a Sr.ª Fournier comentou também indo lhe dar os parabéns.

_Parabéns, minha filha, como foram seus N.O.Ms? - perguntou o Sr. Bernard.

Laurie respondeu a pergunta do pai e depois recebeu um abraço da mãe também feliz.

_Alguém quer me explicar o que está acontecendo? - perguntei já me irritando com toda aquela palhaçada.

_Eu vou pra Hogwarts! - Laurie contou.

_Você o que? - perguntei espantada.

_Eu vou pra Hogwarts - repetiu ela.

_Como assim?

_Depois que você saiu da escola eu fiquei um pouco sozinha e só tinha o Chris comigo, não que ele não fosse boa companhia... Embora até pouco antes do natal ele vivesse correndo atrás das outras garotas... Mas agora que ele se formou eu ia ficar sozinha em Beauxbatons então falei com madame Maxime e ela falou com Dumbledore que disse que desde que eu prestasse os N.O.Ms e conseguisse pelo menos cinco eu poderia ser aceita em Hogwarts, então eu fiz as provas uma semana depois que sai de Beauxbatons e agora mandaram a carta de resposta, eu vou pra Hogwarts, Evolet! - Laurie explicou em um folego só.

_Eu não acredito - exclamei abismada e puxei a carta de sua mão.

RESULTADO DOS NÍVEIS ORDINÁRIOS DE MAGIA

Notas de aprovação: .......................................... Notas de reprovação:

Ótimo (O) ......................................................... Péssimo (P)

Excede Expectativas (E) .................................... Deplorável (D)

Aceitável (A) .....................................................Trasgo (T)

RESULTADOS OBTIDOS POR LAURIE BERNARD

Astronomia (O)

Defesa Contra as Artes das Trevas (E)

Estudo dos Trouxas (O)

Feitiços (O)

Herbologia (A)

História da Magia (E)

Poções (O)

Transfiguração (A)

Trato das Criaturas Mágicas (P)

Runas Antigas (E)

Junto com o pergaminho com as notas tinha outro que dizia:

Prezada Senhorita Bernard,

Temos o prazer de informar que V.Sa. conseguiu os número de N.O.Ms necessários e graças a isso tem agora uma vaga na escola de magia e bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e matérias necessários para o sexto ano.

O ano letivo começa dia primeiro de setembro e estamos esperando a sua coruja até 31 de julho, no mais tardar.

Atenciosamente,

Minerva McGonagall

Vice-diretora.

_Por Merlin - exclamei - É verdade.

_Mas é claro que é, achou que eu iria mentir sobre uma coisa dessas? - Laurie perguntou franzindo a testa.

_Claro que não - afirmei - É que isso é ótimo demais pra ser verdade.

Mesmo estando espantada com o que tinha acabado de ler e sem saber ainda se isso estava mesmo acontecendo fui até Laurie e a abracei dando os parabéns a ela e comemorando por agora ter a minha melhor amiga estudando comigo outra vez.

Devolvi a carta de Laurie e me lembrei de abrir a minha para ver com tinha ido nos N.O.Ms.

RESULTADO DOS NÍVEIS ORDINÁRIOS DE MAGIA

Notas de aprovação: .......................................... Notas de reprovação:

Ótimo (O) ......................................................... Péssimo (P)

Excede Expectativas (E) .................................... Deplorável (D)

Aceitável (A) .....................................................Trasgo (T)

RESULTADOS OBTIDOS POR EVOLET POTTER

Adivinhação (A)

Astronomia (E)

Defesa Contra as Artes das Trevas (O)

Feitiços (O)

Herbologia (O)

História da Magia (O)

Poções (O)

Transfiguração (O)

Trato das Criaturas Mágicas (E)

Runas Antigas (E)

_Eu só não passei em um, mas não gosto de animais mesmo - Laurie deu de ombros - E você? Como foi? - perguntou.

_Razoavelmente bem - respondi ainda avaliando a lista - Mas acho que podia ter ido melhor.

_Fala sério, Evolet - Chris puxou o pergaminho das minhas mãos e olhou as notas - Você foi melhor do que eu quando fiz as provas em Beauxbatons, seis “Ótimo”.

_Sim, eu sei - disse - Mas ainda assim...

_Evolet, fique quieta! - Laurie mandou rindo e foi falar com a mãe - Mãe acha que precisamos ir para Londres comprar minhas coisas ou conseguimos comprar tudo aqui na França mesmo?

Não prestei atenção na conversa de Laurie com a mãe, tinha ficado extremamente feliz com os meus seis “O” e também com os meus “E” no entanto tinha esperado passar em tudo com “O”.

Mas fazer o que se a vida não nos dá tudo que queremos.