Embora a casa dos Bernard fosse velha, acho que por ter passado de geração em geração, tinha sido bem cuidada desde que tinha sido construída.

Era uma casa razoavelmente grande, de dois andares, quatro quartos, três banheiros, sala e basicamente tudo o que uma casa tem.

As paredes tinham sido repintadas recentemente - no último verão eram amarelas - de branco e várias flores roxas tinham sido plantadas em toda a extensão da frente da casa, atrás dela, a uns trinta metros de distância, também tinha um lago não muito grande.

Tirando isso todo o resto do terreno tinha permanecido igual à antes de Laurie nos mostrar a casa, basicamente um campo verde de milhares de metros que eu sabia que ainda era terreno dos Bernard e que só tinha como chegar se você fosse bruxo através de aparatação, portal ou de uma estradinha de terra que não era visível pelos trouxas.

Se pensasse bem acho que era o lugar perfeito para a Sr.ª Bernard e toda a paranoia de segurança que ela estava tendo atualmente.

_Que feitiço sua mãe usou? - Chris perguntou a Laurie segundos depois da casa aparecer - Não foi o Feitiço Fidelius, foi?

_Claro que não, se fosse eles nunca me deixariam como fiel do segredo - Laurie respondeu como se fosse óbvio - É alguma coisa que já era da casa, não sei ao certo o que.

_Hum - Chris murmurou diante da resposta seca e resumida de Laurie.

Arqueei a sobrancelha ao olhar para Laurie, ela estava mentindo descaradamente eu tinha certeza disso e sabia que Chris também.

Se tinha uma coisa pela qual Laurie era apaixonada era por feitiços e eu duvidada muito de que ela não soubesse qual era o que protegia a casa, na verdade acreditava mais que era a vontade dela em ignorar Chris que a impediu de explicar o feitiço.

Vi a Sr.ª Fournier lançar um olhar preocupado ao filho e depois se virar para Laurie com um olhar de censura que nenhum dos dois viu e depois entrar na casa sem esperar ser convidada.

_Mamãe estava tomando banho quando vocês chegaram, - Laurie falou enquanto andava para dentro da casa - por isso não veio aqui fora, achei que vocês iam chegar mais tarde, para o almoço.

_Eu mandei uma carta ontem à tarde avisando que iriamos nos adiantar, não recebeu? - Chris perguntou confuso.

_Ah, então era isso... - Laurie comentou baixinho - Eu recebi, mas... - Laurie deixou a frase no ar na metade e olhou para baixo dando de ombros.

_Mas não quis ler apenas porque era eu quem tinha escrito - Chris afirmou perdendo a paciência - Não é? Típico de você Laurie, parece uma criança que quer ignorar tudo o que está acontecendo a sua volta e só viver no seu mundinho colorido.

Sabendo que eu estava sobrando no meio daquela conversa apresei o passo para entrar logo dentro da casa e sair do meio da briga antes que - assim como acontecia antes mesmo deles começarem a namorar - Laurie começasse e me meter no meio da confusão só que fui impedida por Chris.

_Não precisa sair correndo, Evolet - avisou ele secamente - Não vou parar para discutir com a senhorita ai agora, não estou com paciência pra conversar com uma criança.

Ai, pensei, essa foi cruel.

_Avisa a minha mãe que eu não volto pro almoço - Chris pediu a ninguém em especial e aparatou.

Após o estampido da aparatação escutei Laurie começar a soluçar e fiz única coisa que podia, fui até ela e a abracei.

(...)

O almoço estava pronto já fazia duas horas e até agora nada do Chris aparecer.

Ele tinha avisado que não voltaria para almoçar mas mesmo assim a Sr.ª Bernard e a Sr.ª Fournier tinham nos feito esperar até agora.

Depois dele sair sem dizer para onde ia Laurie teve um acesso de choro incontrolável e como eu sabia que ela precisava desabafar deixei ela chorar por mais ou menos meia hora sem dizer nada até que pouco a pouco ela conseguiu se acalmar e me dizer o que a estava deixando tão preocupada.

E eu a entendia, o problema dela não era com Chris se tornando auror e entrando para a Ordem, ela aceitava que ele precisava fazer o que queria da vida, o problema dela era com a incerteza de como a guerra iria acabar.

Sem saber se no final ele iria continuar junto com ela vivo e saudável ou seria apenas a lembrança de um amor morto.

E esse medo estava fazendo com que ela não soubesse lidar com tudo isso. Laurie confessou que nessas semanas separados ela tinha pensado inúmeras vezes se o melhor não seria terminar com ele e ver se conseguia supera-lo.

_Laurie, não seja burra - pedi depois que ela me contou às coisas que estava pensando - Você terminando com ele agora só vai te fazer sofrer mais, e além do mais, veja o caso da mãe dele, tenho certeza que se você perguntar a ela a última coisa da qual ela iria se arrepender era de ter ficado com o Sr. Fournier quando eles eram jovens e estavam na guerra.

_É, só que ela estava com ele o tempo todo, lutando ao lado dele - argumentou - Não presa em uma escola.

Contra argumentei dizendo que talvez fosse até melhor isso já que assim ele poderia se concentrar mais na segurança dele sabendo que ela estava segura dentro dos portões de Beauxbatons e não duelando com Comensais.

Laurie não disse nada e ficou pensando no que eu tinha dito até que uns dez minutos depois fomos chamadas para almoçar e - como tínhamos esquecido de avisar que Chris tinha saído - ficamos sentadas até agora em volta da mesa esperando.

_Acha que pode ter acontecido alguma coisa com ele? - Laurie me perguntou baixinho querendo evitar que a Sr.ª Fournier e a Sr.ª Bernard ficassem mais preocupadas.

_Não, Chris sabe se virar. - afirmei despreocupada e escutando meu estomago roncar - Ele só precisa de um tempo sozinho.

_Ahan - murmurou olhando para a janela procurando algum sinal da sua chegada.

_Pare de olhar essa janela - mandei - Vamos lá em cima, preciso pegar uma coisa na minha bolsa.

Laurie balançou a cabeça concordando e fomos até o seu quarto onde minhas coisas estavam.

Quando chegamos lá fui até o meu malão que estava no canto do quarto e mexi nele até achar alguns sapos de chocolate que estavam conservados por um feitiço que eu tinha começado a usar após deixar por duas semanas um saco de chocolates esquecidos no malão e ter perdidos várias peças de roupa por terem derretido em cima delas.

_Aqui - joguei um saco onde haviam várias caixinhas fechadas de sapos de chocolate para Laurie - Não acho que ele vá voltar tão cedo então... - dei de ombros.

Laurie se sentou na cama e começou a comer enquanto eu fui até a minha bolsa procurar - adivinha só - o galeão falso.

Depois de o Chris ter dito que talvez Draco só quisesse realmente evitar ser pego falando comigo por algum Comensal da Morte ou me proteger de alguma outra coisa eu resolvi parar de andar o tempo todo com o galeão e deixa-lo guardadinho na minha bolsa para ver se eu esquecia um pouco de ficar preocupada com Draco.

Tinha ido bem até agora sem ter olhado nenhuma vez para ele desde que tinha chegado à França.

Mas eu não iria conseguir fazer isso por muito tempo.

Peguei minha varinha e toquei o galeão com ela vendo a mesma mensagem que ele tinha mandado na noite anterior.

Nada novo.

_O que é isso? - Laurie perguntou entre uma mordida e outra no chocolate.

_Uso para falar com Draco - resumi e o devolvi o galeão à bolsa.

_Como?

Fui até a cama, me sentei, peguei um sapo para mim e contei as mesmas coisas que mais cedo tinha contado ao Chris.

Não pude ficar mais abismada ao ver que Laurie partilhava da mesma ideia que ele.

_Tenho que concordar com Chris - afirmou ela - Talvez ele só esteja querendo te proteger de alguma coisa.

Dei de ombros e continuei comendo meu sapo de chocolate.

Quando - infelizmente - os sapos acabaram ficamos conversando sobre os dramas dos nossos relacionamentos e colocando a conversa em dia sobre coisas que não eram tão importantes para serem contadas por cartas mas que quando estávamos em Beauxbatons adorávamos falar como, por exemplo, o que estava acontecendo lá atualmente.

E, por Merlin, eu não tinha reparado que tinha sentido tanto a falta desses momentos “menininhas” com a Laurie.