– ... você fez sopa no verão e ainda serviu em canecas, qual é o seu problema? – disse, rindo pateticamente.

Já bem de noite, fiquei conversando com Tio Stark na sacada da cobertura, sentindo a brisa noturna de verão e observando a cidade. Os Vingadores já haviam ido para suas camas.

– Uma bela surpresa eles passarem um tempo conosco, né? – perguntei, me apoiando no parapeito da sacada,ao lado do meu tio.

– É, tenho que concordar.

– Nunca pensei que dividiria um apartamento com super herois...

– Aham – tossiu ele. – Você já dividia uma mansão com o um heroi bilionário, caso não se lembre.

Tive que rir do comentário.

– Eu disse herois, no plural! Essa que é a novidade.

– Ok – ele disse, rindo. Após uma pausa quase imperceptível, acrescentou: – Mas não se esqueça de que estão aqui a trabalho. E não babe muito no Thor.

A última sentença soou um pouco estranha aos meus ouvidos, mas logo meu cérebro captou a mensagem e eu ri, me defendendo:

– Os caras de quem eu gosto se não estão mortos estão velhos. E nenhum deles é bombado – ao contrário da maioria das garotas da minha idade, eu acho atraentes os roqueiros e metaleiros de antigamente. ”Se não estão mortos estão velhos” porque eu os prefiro em suas fases mais jovens.

– Hum... – Tio Stark me olhou de lado, desconfiado. – Estranho, todas as garotas da sua idade são louquinhas por caras desse porte físico.

– Bom, eu faço parte das garotas que gostam de músculos menos definidos – olhei para ele do mesmo jeito.

Nos encaramos de lado como sempre fazíamos em discussões divertidas. Instantes depois, Stark pôs-se a me provocar:

– Pensa que não percebi você olhando pros braços dele no jantar?

– O quê? – eu não olhei pros braços de ninguém, ele estava blefando!

– Viu, você até riu!

– Não ri, não!

– Riu sim!

– Ri não!

– Riu sim!

– Vai se ferrar! – disse, dando um empurrão de brincadeira nele. Nós dois caímos na gargalhada.

– Estava brincando – disse ele, se recompondo.

Eu sei. Como sempre,ele era um filho da mãe comigo – não no mal sentido. Ele pode ser um tanto arrogante, mas comigo sua personalidade é bem mais agradável, jeito de tio mesmo.Por isso eu o achava o máximo,e sempre adorei nossas conversas.

De repente, uma ideia me veio á cabeça. É muito comum eu ter ideias repentinas e, se não forem constrangedoras demais, eu as compartilho com meu tio:

– Estava pensando... – comecei, pensativa – Como seria se eu fizesse parte dos Vingadores? Se eu tivesse super poderes ou simplesmente fosse uma agente da S.H.I.E.L.D., como a Natasha? Minha audição sobre humana seria muito útil.

– Não consigo imaginar isso... mas acho que você não estaria preparada.

– Como assim? Se eu recebesse um treinamento, eu estaria mais do que preparada!

– Anne, ser um super heroi não é apenas ter super poderes maneiros e saber lutar – ele disse um pouco mais sério, fitando a constelação de luzes dos prédios abaixo de nós. – Temos que saber tomar decisões difíceis e arriscadas se quisermos proteger algo importante ou alguém que amamos.

Nesse momento, percebi que ele estava se lembrando de Pepper. Foi ela quem construiu a Torre Stark e sempre esteve ao lado do meu tio para qualquer coisa. Eles se amam muito.

– Está dizendo que eu não sei tomar esse tipo de decisão? – perguntei, meio chocada, meio compreensiva.

Stark virou-se para mim:

– Você é muito jovem, não teve a oportunidade de passar por situações que a testassem nesse sentido.

– Mas sofri consideravelmente. Lembra quando não tinha amigos de verdade na escola? Aquilo ao menos me ensinou que existem pessoas que podem usufruir do fingimento para conseguir aquilo que querem – disse, amargamente. Meus ditos “amigos” só falavam comigo ou para se aproveitar da minha inteligência ou então para sair dizendo que tinham uma amiga esquisita.

– Mesmo assim, ainda faltaria muito para você estar preparada – Stark passou seu braço pelos meus ombros e me guiou de volta ao interior do apartamento.

– Vou fazer dezesseis anos, tio. Não sou mais um bebê!

– Eu sei disso! - disse, sorrindo - E, por saber disso, decidi deixá-la me ajudar nas análises que farei junto ao Bruce. Você não é uma das melhores alunas no colégio?

Sim, eu sou. Acho que puxei a inteligência do meu pai e ainda sofri influências de conhecimento do Stark e da Pepper, tornando-me um “Frankenstein intelectual”. Vou bem em todas as matérias,mas as únicas ciências das quais eu realmente gosto são as Humanas.

Assenti com a cabeça e ele bagunçou meu cabelo de leve.

– Ótimo. Agora vá dormir, quero você bem disposta amanhã para nosso primeiro dia de trabalho! – disse ele, utilizando um tom animado que provavelmente teria como função me contagiar.

Mas não funcionou. Apenas permaneci indiferente e disse, sem a menor variação de tom nas palavras:

– Yey, Ciência – e ainda levantando preguiçosamente o punho no ar.

Subi as escadas pensando no conselho dado na sacada. Poderia realmente ser útil algum dia – isso se nesse “algum dia” eu virasse uma super heroína. Acredito que meu tio falou aquilo por pura experiência, por ter já passado por situações que exigiram a sabedoria de escolha que havia mencionado. Mas, por alguma razão, uma coisa mínima não me saía da cabeça quando eu me deitei.

Eu não sou mais um bebê.

~POV de Loki

Maldito Thor e seus companheiros!

Tudo estava indo do jeito que eu planejara: tinha o Tesseract e o receptáculo em minhas mãos, tudo estava pronto para abrir o portal e iniciar a invasão dos Chitauri a este mundo infeliz. Com o cetro que haviam me dado, pude controlar a mente de agentes dessa S.H.I.E.L.D. para servirem de comparsas e me ajudarem a conseguir os materiais que precisava. Tudo de acordo com o plano!

Mas não. Os Vingadores arruinaram tudo, me renderam, tomaram o Tesseract e recuperaram o agente Barton e o Dr. Selvig. E quanto a mim? Me trancaram nesta cela de vidro, numa torre no meio da ilha de Manhattam. O que mais me enraivece é o fato de eu estar no mesmo lugar que o idiota do meu irmão. Se não fosse por ele e os outros, eu já teria dominado Midgard.

Não sei por quanto tempo me manterão aqui, preciso arranjar um modo de escapar. A cela é muito resistente, portanto acho que o melhor é esperar por uma brecha. Se ao menos ela chegasse logo...

Senti um tremor debaixo dos meus pés, uma luz forte inundou o ambiente onde estava e, depois, tudo escureceu.