Secret escrita por Queen of Hearts


Capítulo 3
Contratos


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, já estamos chegando ao final.



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Com tudo se tornando negro ao seu redor, o cérebro da garota passou a mandar informações para que fugisse dali, mas seu corpo não lhe obedeceu. Para ela, ver o rosto de Ciel tão perto lembrava o quanto a jovem esperou para revê-lo e por um súbito sentimento de saudade, acabou deixando-se levar pela armadilha do demônio. Sabia que Ciel não a impediria se tentasse fugir, mas era sua vontade saber o que acontecera no passado e o que estava iniciando em Greenwich.

Levou-se pela escuridão.

Acordou algum tempo depois, deitada sobre algo e notando que não estava mais no beco. O algo em que estava apoiando a cabeça não era nada confortável e a jovem dama percebeu que aquilo jamais seria uma almofada ou um lençol quentinho. Era uma pedra. Uma enorme pedra cinza. Levantou-se rápido. Olhando para cima, em busca de descobrir onde estava, percebeu ser uma floresta. Ao se certificar do que realmente estava vendo, foi empalidecendo aos poucos. “Que motivos alguém teria para trazê-la ali?” pensou e olhou para trás.

— Ah! — assustou-se ao ver um jovem parado em sua frente. — C... Ciel? — recuou alguns passos.

— Olá Lizzy! Gostando do passeio? — seus olhos brilharam em vermelho púrpura.

— O que você... — tentou recuar mais um passo, mas sentiu uma queimação na perna, fazendo seu corpo oscilar para frente.

A trilha estava logo atrás dos dois e observando que Ciel estava de costas para a mesma, tentou correr para lá, mas foi bloqueada.

— Não tão rápido! — rebateu o demônio, segurando o pulso de sua antiga noiva.

A escuridão cobriu-os novamente, e antes que a jovem percebesse, estavam sobre um penhasco próximo a cidade de Greenwich. Em cima do enorme abismo, a situação da garota parecia horrível demais para que a mesma pudesse acreditar e olhando para baixo, esperneou, fazendo eco à montanha através de seus gritos de socorro.

Do outro lado, segurando a parte de trás do vestido da prima, Ciel Phantomhive inclinava o corpo da jovem em direção ao precipício. Sua mão e os pés da garota era a única coisa que a prendia ao chão. Quando seus olhos encheram-se de lágrimas, o jovem conde enfim perceber que a loira estava chorando. Sentindo o corpo da garota tremer, ouviu-a gritar:

— Por que está fazendo isso, Ciel?!

O demônio não respondeu. Sentindo uma dor no coração bem pior que a queimação no rosto, ela tentou novamente:

— Escute, estive lhe procurando todo esse tempo. Sempre acreditei que você estava vivo, mesmo depois de todos dizerem que não e aquele... Aquele sonho me fez acreditar ainda mais. Portanto, não faça isso Cie!

Nenhuma resposta, de lugar nenhum. A garota se entregou ao choro.

— Ciel! — berrou desesperada.

— Não sou mais o Ciel — disse em voz baixa o jovem que um dia havia sido um conde. — Sou um demônio Elizabeth.

Um tremor perpassou sua espinha e balançando a cabeça compulsivamente em negação, balbuciou confusa:

— O... O que vo...

Seu corpo foi jogado para trás. Sentindo os braços doerem, ela virou-se para o outro lado. Com uma expressão totalmente incrédula procurou se levantar, mas seu braço foi segurado novamente. Puxando rudemente o pulso da garota, o demônio aproximou-se do rosto da jovem e lambeu um filete de sangue que caía-lhe da bochecha, sua expressão era faminta. O corpo da loira se contraiu.

— C... — tentou.

Mas foi ao chão novamente. Folhas pregaram-lhe o rosto e ela cuspiu-as.

— Já disse, não sou mais o Ciel Phantomhive — murmurou o demônio.

— Então quem é você? — rebateu a garota, procurando deixar o horror de lado e compreender o criatura a sua frente.

— Creio que também já lhe respondi.

A jovem suspirou e tentando se soltar novamente da mão do demônio, arqueou o corpo. Foi em vão, o máximo que conseguiu fazer foi arrastar o rosto pelas folhas, fazendo com que outras lhe pregassem no rosto. Ciel estava ao seu lado, sentado sobre as folhas e com uma das mãos segurando-lhes os braços. Ele olhava diretamente para seu rosto e os seus olhos pareciam brilhar mais que o normal. Sentindo que estava perdendo, a loira parou de se mexer. O demônio por sua vez, deu um sorriso zombeteiro e com um peteleco, retirou uma mecha de cabelo de cima do olho da garota. Bufando, a jovem perguntou:

— Podemos ao menos falar sobre os incidentes que andaram acontecendo e que provavelmente você está envolvido?

— Claro, pergunte — respondeu o demônio, brincando com um graveto.

— Por que os matou?

O jovem sorriu e desenhando um círculo na areia, afundou cinco vezes no círculo o graveto, respondeu em seguida:

— Porque eu quis — jogou a areia sobre o círculo — e porque... Eles fizeram um contrato comigo.

— Como? — confundiu-se a garota.

— Sou um demônio e demônios fazem contratos. Sua alma por seu desejo, esse é o nosso preço.

— E esse preço pode ser qualquer coisa? — perguntou a jovem.

— Se estiver ao nosso alcance, sim.

— Há alguma coisa que não está ao seu alcance?

— Acho que não — o sorriso do jovem esticou —, mais alguma coisa?

— Você vai me matar?

O demônio silenciou. Com um súbito medo, a garota havia perguntado aquilo para ter ideia do que ia lhe acontecer, mas não esperava receber todo aquele silêncio. Após alguns segundos, que para a garota pareceram horas, o jovem mostrou alguma reação e puxando-lhes os braços, fez a loira sentar-se a sua frente.

— Por que não deveria? — perguntou, encarando-a com brilhantes olhos vermelhos.

— Porque ainda resta algo em você — respondeu a loira chorosa.

— Demônios não possuem sentimentos, Elizabeth. Acha que faria tudo isso a você se ainda fosse humano?

— Acho que só está tentando mostrar o quanto mudou. Caso contrário, já teria me matado.

Encararam-se, e sentindo o sangue lhe subir a cabeça, o jovem demônio puxou o pulso da loira e o mordeu. Uma dor percorreu o braço da garota, mas percebeu que ele não estava bebendo o sangue como um vampiro faria, se é que isso existe, e sim mordendo para lhe fazer sentir dor. A jovem engoliu um grito e o demônio a soltou. Sentindo as lágrimas lhe chegarem novamente aos olhos, observou-o levantar.

— Demônios não possuem sentimentos, Midford — disse novamente, virando-se de constas para a dama ensanguentada.

Com uma expressão cansada, ela simplesmente aconchegou o braço cheio de sangue ao peito e se levantou também, seguindo-lhe.

— E quanto a eles? Qual o preço deles? — perguntou.

— Quem?

— Os nobres.

— Não costumamos falar sobre nossos contratos.

— Mais fale para mim, mereço saber — rebateu magoada — Você nunca me contou nada enquanto humano.

O jovem se virou e observando a expressão da loira, deu um suspiro e se pôs a falar:

— Muito bem. Vamos ver por quem começo...

— Comece do começo — pediu a loira.

— Quer começar pelo mais covarde deles? — fez uma expressão de repulsa, porém a loira não se alterou — Como quiser então.

Sentando-se sobre uma rocha, na qual, a garota acabou por sentar no chão, iniciou:

— Barão de Manchester ou simplesmente Gerard Housman era um homem compassivo e generoso, que possuía uma rixa com o irmão gêmeo a fim de proteger seu tesouro mais estimado, o povo de Manchester — bufou em zombaria. — Ao menos era o que estaria escrito em uma manchete de jornal se o encontrasse jogado por aí. No entanto, se um demônio fosse seu contratante, saberia que este homem não passa de um covarde que não consegue proteger a si mesmo.

— O que quer dizer? — perguntou a loira.

— Digamos que Housman trocou o próprio título por algumas bolsas de libras e diferente do que todos pensam, ele não foi enganado, ao contrário, fez uma troca com o irmão e arrependeu-se no momento seguinte que a fez. Agora, sabe qual foi a sua melhor tentativa de ilusão? Enganar um demônio.

Ciel gargalhou.

Espantada, a garota observou como o demônio colocou os braços ao redor da barriga e riu medonhamente. Ela sempre quis que o jovem sorrisse, mas jamais imaginou que um dia sua risada pudesse se tornar tão macabra. Recuperando-se aos poucos, observou Ciel voltar ao normal. Sua expressão ainda era risonha, mas quando falou, sua voz era dura:

— Após ter feito o que me pedira: matar seu irmão; voltei em busca do meu pagamento. Housman, no entanto, não estava disposto a me pagar, assim como não estava disposto a dar o título ao seu irmão mesmo depois do mesmo ter lhe pago centenas de libras, e como o covarde que era, fugiu. Fugiu para Greenwich.

— Como demônio não foi difícil achá-lo e aproveitando-me de sua ganância por dinheiro, fingi ser um marquês que queria lhe ofertar um terreno. Aceitando ambiciosamente, ele foi ao meu encontro e eu é claro, tomei-lhe a alma. Queimei ainda sua casa como vingança e mostrei que não se pode brincar com seres que são mais fortes e mais inteligentes que você.

Horrorizada, a garota apertou as mãos sobre o colo e olhando para a expressão sossegada do demônio, acreditou por um momento que talvez aquele não fosse realmente seu Ciel. Expulsou tais pensamentos da cabeça e ignorando a vozinha em sua cabeça que insistia para que desse o fora dali, continuou a ouvi-lo.

— O próximo é Eliot Ruskin ou devo dizer, meu sucessor? — sorriu com escárnio. — Se quiser saber, o título de cão de guarda da rainha nunca foi tão manchado desde que o bisavô de meu pai deixou-se matar por um mero atirador de facas. Com o conde Ruskin não parece ter sido diferente. Fico me perguntando onde você estava nessa hora e se ainda acredito que realmente confiou nele.

A loira sentiu-se incomodada e tentou a todo custo não olhar para o demônio que do outro lado lhe encarava intensamente.

— Não sou eu quem decide os títulos — respondeu olhando para sua mão como se pudesse dar um tapa em si mesma —, a rainha o escolheu.

— Assim como lhe escolheu para ser sua governanta quando pediu?

— Você sabe por que fiz isso.

— Sim, acho que sei.

Levantando-se e agachando-se a altura da loira, o Phantomhive aproximou-se e ergueu seu queixo. Em seguida, beijou-lhe os lábios, observando a reação da garota ao se assustar com sua ação. Quando enfim terminou de saborear o melhor gosto que já obtivera desde que se tornara um demônio, largou a jovem e voltou a se sentar sobre a rocha, de onde continuou a falar sobre os cinco nobres. Atordoada, a garota nada mais fez do que voltar a prestar atenção, mas seu coração batia forte e ela se tornara extremamente nervosa.

— Esse é um agradecimento pelo suposto ato de amor que fez por mim, o que nos torna quites — disse o jovem.

— Ahn... Certo — respondeu a loira, desviando os olhos do demônio.

Olhando para baixo, ela percebeu o quanto suas mãos estavam tremendo e tentando escondê-las do ser a sua frente, juntou-as e colocou-as entre as coxas, fazendo com que o tecido do vestido as cobrisse. O Phantomhive pareceu não notar e olhando-lhe preguiçosamente, voltou a falar do seu sucessor covarde.

— Caso queira saber, o que levou a morte de Ruskin não foi aquele homem encontrado morto em sua casa, ao menos não literalmente.

— Claro que não, uma vez que você o matou.

— Não foi minha culpa. Ele me pediu com tanta ânsia para que o protegesse que bondosamente o fiz. Não sou um ótimo contratante? — respondeu falsamente magoado.

— E por que ele faria isso?

— Por causa de Daniel McGregor, mais claramente, o homem que vocês encontraram morto na mansão Ruskin. Segundo o desesperado Eliot, aquele homem havia ido vingar-se, após saber que tinha sido enganado rudemente pelo vira-lata da rainha. Tomado pelo ódio por conta do dinheiro roubado que serviria para a construção de sua nova casa e acusado erroneamente de ter matado um barão, o homem perdeu o controle.

— Suponho que Eliot sabia que ele era inocente?

— Obviamente, minha dama.

— O dinheiro serviria apenas para a construção da casa?

— Bom, quando você possui três filhos, uma esposa para cuidar e trabalhou desesperadamente durante cinco anos para conseguir o dinheiro, diria que sim.

Uma expressão de repulsa tomou o rosto da jovem e apertando as unhas fortemente nas costas das mãos sem ao menos perceber, seu olhar se tornou violento. O demônio sorriu.

— Engraçado, não é? Como um ato cruel feito a outra pessoa que você jamais viu na vida, pode parecer-lhe tão desagradável, mesmo que já feito algo parecido.

— Nunca fiz isso! — respondeu a jovem em pânico.

— Não estou dizendo que tenha feito, estou dizendo que poderia fazer se estivesse totalmente em desespero ou tomada pelo ódio.

— Não sou assim — falou magoada.

— Claro que é. Você é humana e humanos são assim: interessantes.

— Isso é o que vocês pensam que somos, não quer dizer que seja verídico.

O demônio observou-a por um momento e esticando o rosto em outro sorriso perturbador, disse por fim:

— Claro que não...

Ouviram um barulho. Um arrastar de folhas e o jovem mestre acabou por se virar para ver quem resolvera lhe perturbar.

— Olá, meu lorde — uma voz fria e falsamente amigável reverberou atrás de si.

O demônio fechou a cara e a garota levantando-se depressa, ficando incrédula com o que viu.

— Demorou Sebastian — disse o jovem, repreendendo-o.

— Minhas sinceras desculpas, meu lorde — o mordomo fez uma reverência.

— Descobriu algo? — continuou o demônio, ignorando a reverência.

— Parece que irão esconder a morte da garota. Não querem mais escândalos.

— Então o jornal de amanhã irá apenas noticiar a nova culinária do chefe Oscar? Suponho que o povo não gostará de saber sobre isso.

Ouvindo a conversa entre os dois demônios, a garota parecia mais e mais assustada, e aproximando-se timidamente, perguntou:

— S-Sebastian?

O homem de cabelos pretos se virou e com o mesmo sorriso falsamente amigável, respondeu-lhe fazendo uma reverência:

— É bom revê-la, minha dama — seus olhos tornaram-se vermelhos.

— V-você é... — perturbou-se.

— Sim, minha dama. Sou um demônio que serve a outro demônio.

A loira recuou.

— Então você e você eram...

— Acho que já sabe a resposta, Elizabeth — falou o jovem, entediado.

— Mas... Como?

— Alois Trancy — sentenciou.

A loira levantou os olhos para ele e seu choque aumentou. Então aquele garoto que havia visto uma única vez quando mais nova, transformara seu noivo em um... Demônio? Um balde de água fria lhe atingiu o estômago e colocando os braços ao redor de si mesma se encolheu, chegando ao seu limite. O jovem se aproximou, mas a garota deu mais um passo para trás, gritando:

— Não chegue perto de mim!

Uma sombra passou pelos olhos do Phantomhive, no entanto, Sebastian foi mais rápido e segurando rudemente o braço da garota, disse ao seu mestre:

— Temos que levá-la, meu lorde. Ela sabe demais.

— Espere! Disse a ela que lhe contaria sobre os nobres mortos e irei fazer isso. Lembra-se? Nunca quebramos um acordo.

— Não acho que ela vá entender de qualquer forma — rebateu o mordomo, observando a garota tremer terrivelmente e seus olhos arregalarem-se mais e mais, como se uma onda de revelações nocivas estivesse lhe atacando.

— Tentarei mesmo assim — e puxando a loira dos braços do mordomo, ordenou — Saia!

— Como quiser, meu lorde.

Antes de sair, Sebastian olhou para os dois jovens uma última vez e sorrindo bizarramente, sussurrou para que só ele pudesse ouvir:

— Interessante.

Foi em direção à trilha.

~~ XXX~~

Elizabeth.

Alguém a chamou, apesar de ela não conseguir distinguir a voz que a chamava. O frio ao seu redor lhe fazia parecer que estava presa em um lago de gelo e apertando os dedos nas têmporas, percebeu sua cabeça doer. Não podia ser verdade! Seu noivo havia sido roubado de si e ela nunca soube o porquê, agora que recebia tal resposta era como sofrer uma facada nas costas. Por que Ciel? Chorou.

A voz chamou-lhe novamente, e a jovem procurou agarrar-se com todas as suas forças a ela. Até que sentiu alguém lhe segurando e com um choque, percebeu que estava acordada, mas sua mente parecia perturbada demais para deixar-lhe lúcida. Olhou para cima.

— Tome — alguém lhe entregou um lenço.

Segurando o pequeno pedaço de pano, assoou o nariz. Alguém riu próximo a sua orelha, ela o ignorou e sentindo o aperto em seu estômago aumentar, notou que a pessoa lhe sentava sobre uma rocha. A rocha! Como ela poderia se esquecer? Assim como a floresta, o demônio e...

— Ciel? — perguntou desesperada, olhando para os lados como se tivesse perdido algo.

— Você nunca aprende, não é mesmo?

Ela olhou para trás. O Phantomhive estava deitado sobre um dos galhos da árvore preguiçosamente, olhando-a de cima.

— Como...? — tentou a loira, mas mudou de ideia — Esquece.

— Isso acontece por você ainda me associar a Ciel.

— Mais você é o Ciel.

O demônio suspirou e colocando as mãos para trás da cabeça, enquanto cruzava as pernas, respondeu:

— Vamos continuar falando dos nobres. Seu modo de pensar é complicado demais até mesmo para mim.

— Seria o Hardy agora, não? — perguntou a garota, virando para olhar o jovem.

— Na verdade, diria que são todos agora. Acredite, achei um contrato bem interessante enquanto caminhava nas ruas de Greenwich.

— O que quer dizer?

— Refiro-me a Hardy. Assim como suas obras, sua vida parece não ter tido um final feliz. Uma pena, realmente gostava de Judas, O obscuro.

A loira sorriu. Era a primeira vez que sorria desde que chegara ali, mas animou-se ao ver que o gosto pela leitura de Ciel, não foi retirado quando esse virou um demônio.

— Me conte — pediu.

— Hardy era um escritor de romances como você deve saber. Obstinado, ele odiava o fato de seus pais o obrigarem a seguir as funções de conde. Então arranjou uma casa com o máximo de encantamento que suas palavras bonitas ofereciam. Tornando-se escritor, publicou a obra que tanto você quanto eu lemos. Ele só não esperava que uma mulher poderia se apaixonar o suficiente ao ponto de se esconder no dia de sua premiação e mandar-lhe um bilhete, através de seus próprios livros. A duquesa Lancaster era realmente uma mulher esperta.

A jovem se surpreendeu, mas deixou para lá todas as perguntas que lhe vieram à mente, continuando a ouvir.

— Encantado, Hardy lhe respondeu a carta. Parece que ele não era o único que podia escrever palavras bonitas. Porém, além dos dois, havia uma terceira pessoa tão habilidosa quanto.

— A irmã da duquesa — disse a garota, enfim se tocando de algo que deixara passar na casa do Hardy. — As cartas não eram da mesma pessoa, a letra podia ser da mesma, mas o modo de escrever e se expressar não eram o mesmo.

— Sim, por isso lhe digo: dos três, ela definitivamente foi a mais inteligente. Afinal, ser esperto e ter o dom de encantar com palavras não é o suficiente, é necessário ter cérebro.

— Só não entendo como conseguiu imitar tão perfeitamente a letra da irmã?

— A duquesa, sendo mais velha, era do jornal. Muitas das publicações eram feitas por ela, inclusive a do desaparecimento de Housman. Era comum receber cartas de anônimos para suas notícias e tenho certeza que sabia distinguir bem as escritas, chegando ao ponto de imitá-las.

— E todo esse trabalho porque...

— Se apaixonou — respondeu o demônio olhando calmamente para o rosto da garota que parecia abatida. — Tocante, não?

— O que aconteceu?

— Hardy continuou achando que as cartas eram da mesma pessoa e chegou ao clímax do relacionamento, apaixonou-se pelas duas, pois não sabia que eram duas mulheres.

— Não acho que ele tenha se apaixonado, sequer percebeu que as cartas não eram da mesma pessoa — disse a jovem, orgulhosa.

— Talvez tenha razão, mas e quanto ao que aconteceu depois?

— Como assim?

— A casa em que Hardy morava não era própria e o coletor de impostos que ia lhe cobrar todo mês fazia questão de lembrá-lo.

— O Sr. Rigoroso — disse a loira, sentindo um sobressalto.

— Certamente. A propósito, nome interessante esse que você e seu parceiro inventaram. São amigos agora?

— Grey me detesta, não diria que somos amigos — respondeu a jovem corando.

— Não, claro que não — respondeu secamente. — Onde estávamos?

— No marquês.

— Bom, acho que dá para saber o que Hardy fez depois. Desesperado em perder sua casa, suas obras e tudo que um dia havia conseguido, ele tentou convencer o velho homem, mas sua tentativa foi em vã. Então pediu-me para matar-lhe, todavia, não saiu como queria. Horrorizado, Hardy descobriu da pior maneira sobre a verdadeira história por trás das cartas e arrependido por ter matado o pai de suas supostas amantes, pediu-me para levá-lo. Aceitei, sua alma seria minha de qualquer forma.

— As duquesas descobriram?

— Apenas uma delas. Helena Lancaster, a mais nova, jamais conseguiu falar com o homem que ela tanto se esforçou para conquistar. Sequer descobriu que foi morto. Assim como ele, foi morta antes.

— Quem a matou?

— A única pessoa em quem ela confiava...

— Sua irmã! — falaram os dois juntos.

— Não pode ser — disse a jovem levantando-se, sentindo sua garganta secar. — Ela a amava.

— Mas havia alguém que descobriu amar mais do que a própria irmã.

— E você fez isso! — disse irritada, apontando acusadoramente para o demônio.

— Já lhe disse, sou um demônio e demônios fazem contratos. Só estava cumprindo o meu papel — deu de ombros.

— Ela não merecia isso! — gritou a garota.

— E os outros mereciam?

— Não importa. Você não tem coração, nunca vai entender!

— Sim, não tenho — irritou-se o jovem, descendo da árvore e se colocando em sua frente. — Então por que você ainda está aqui?!

— Porque... Porque eu... — tentou a jovem, mas não conseguiu encontrar o que dizer e percebeu que estava tremendo novamente, dessa vez, de raiva.

— Por quê? — perguntou outra vez o Phantomhive, mais próximo do que deveria.

A loira não respondeu e fechando os punhos com força como se pudesse a qualquer momento bater-lhe para que deixasse de ser esse monstro horrível que ela tanto odiava, empurrou-o com força.

— Você quer saber por quê?! — disse furiosa, retirando o anel azul safira que há tanto tempo se destacava em seu dedo, segurando-o firme na mão. — É porque eu te amo, seu idiota!

Jogou-lhe o anel no rosto.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo. Comentem.



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