29º Capítulo – Beatriz

Hoje o dia na empresa estava cheio. Mesmo não participando das finanças propriamente ditas da empresa, ocupando apenas uma cadeira da Diretoria e realizando algumas façanhas nas áreas sociais da CEM, eu percebia que a agitação era grande.

Anne Roch estava atribuladíssima com dois aparelhos celulares na mão enquanto Beatriz Linhares a seguia com um pilha de papéis. Eu via a cena cômica de dentro da minha sala, já que o andar composto da diretoria era todo de divisórias de vidros sendo que apenas a sala da Presidente tinha persianas dando privacidade. Mas hoje estavam todas abertas. Anne estava tenho um dia difícil. Ela e todos a sua volta.

Gil Moreira passou pela minha sala e lançou-me um olhar quente. Deu uma risada em direção a sala de Anne e entrou para me falar algo. Levantei minha cabeça na sua direção:

– Anne está com a macaca hoje. Ela já atendeu tantos investidores e clientes ao telefone que está misturando palavras em inglês, português, alemão e francês. Ainda bem que ela não fala japonês.

Eu concordei com a cabeça. Anne era um mulher incrível mas não era a mulher maravilha que queria ser. Trabalhava demais e era totalmente viciada em trabalho. Mas com as ações a venda estava ficando no limite essa semana. Gil estava me olhando curiosa e continuou a puxar papo:

– E aquele moreno lindo Bia? Rolou algo né?

Eu corei. Engasguei. Mas olhando para ela não tive coragem de mentir e logo contei:

– Eu já o conhecia Gil. Ele é empresário daquela empresa GlobalTime. Para falar a verdade já rolava alguma coisa com a gente antes daquele dia. Eu não tive coragem de falar.

Ela sorriu para mim. E sentou bem na minha frente. Como se fossemos amigas íntimas ela prosseguiu:

– Eu sabia Bia. Vi que ele olhava na direção da nossa mesa o tempo todo. E quando disse no ouvido dele que Beatriz estava interessada nele pude ver a expressão no rosto dele de reconhecimento. Era em você que ele estava pensando e não na Linhares - percebendo meu espanto ela continuou - Bia, escute uma mulher vivida. Aquele homem gosta realmente de você. Quando um homem entra em um bar, lotado de mulheres e olha fixamente para uma sem desviar o olhar é o maior sinal de entrega de seu corpo. Vai por mim, os homens quando gostam entregam primeiro seu corpo e aí é só questão de tempo até você possuir sua alma.

– Gil, você diz cada coisa! Tentei disfarçar meu nervosismo.

– Não Bia eu não só digo, eu vivi cada coisa, que tenho convicção de afirmar o que eu te disse. A propósito, você falou em GlobalTime? Ele não seria o magnata Frederico Costa?

– Exatamente, porque?

– Você não está sabendo? Teve um anúncio agora de manhã da venda do grupo GlobalTime. Parece que houve uma proposta de pagamento do passivo da empresa junto com a venda dos ativos válidos. Existem diversos interessados, inclusive Bancos estrangeiros.

Eu processei a informação de Gil detalhadamente em meu cérebro. Frederico vendeu as empresas? E estava quitando o débito trabalhista e fiscal? Tinha que ligar para Felipe e Diogo e confirmar essa informação

– Não sabia...

– Bem ligue para ele. Quem sabe trata-se de alguma coisa grande e ele te convide para uma comemoração?

E saiu da minha sala toda sorridente. Eu peguei meu telefone e olhei no visor. Tinha duas chamadas de Felipe. Vinha chumbo grosso por aí. Não perdi tempo e retornei.

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– Sr. Friednhich?

– Yes, I am (Sim, sou eu)

– Sou Jason da GlobalTime – silêncio e suspiro do outro lado da linha – preciso lhe falar pessoalmente sobre os detalhes da venda da empresa.

– I will be in Brazil in three days (eu estarei no Brasil em três dias)

– Great.

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– Não estou entendendo, explica esse anúncio de novo, Felipe?

Eu estava bem confusa na frente de Diogo, Ana Carolina e Felipe depois da explicação desse último sobre a venda dos ativos da GlobalTime. Diogo também não conseguia compreender muito do que havíamos escutado durante 30 minutos da narrativa de Felipe. Somente Ana Carolina sorria como se tivesse levado um prêmio.

– Bia, não há dificuldade. As empresas do Grupo estão todas a venda após a quitação de todos os débitos que possuíam. Pelo que foi informado nos processos foram realizados depósitos judiciais quitando todas as execuções trabalhistas. A venda da empresa está condicionada a continuidade das obras e serviços em andamento e também a manutenção de todos os postos de trabalho. Há muita perda de dinheiro para os donos da GlobalTime nessa história. Mas ainda sim, eles sairão bem milionários porque as empresas estão sendo cobiçadas por muitas companhias estrangeiras o que está elevando o valor unitário das ações. A previsão desse leilão é daqui uma semana. Parece que um grupo forte no ramo farmacêutico quer comprar mais da metade mas houve recusa dos donos da GlobalTime. A ideia é uma abertura livre das ações na bolsa. Mas isso é apenas especulação. O que nos interessa é que os depósitos foram confirmados. São reais. E os juízes estão liberando o levantamento do dinheiro para todos os trabalhadores.

– Meu Deus! Isso quer dizer que estamos um pouco mais ricos, né? Diogo sorria para mim e para Ana Carolina.

– Bem, meu escritório tenho pelo menos uns trinta processos da GlobalTime. Vocês juntos devem possuir quase 100 – afirmou Carolina para um Diogo sorridente, apontando para mim e Felipe também.

– Exatamente 96 processos, eu disse. Eu sabia porque tinha sido todos ajuizados por mim. Comecei com 12 processos mas logo todos os trabalhadores estavam procurando meu escritório após a perícia favorável que conseguimos. Isso tudo eu tive ajuda de Felipe, que havia realizado um acordo comigo e Diogo para participar dessas ações.

– Ok, isso merece uma comemoração. Vou reformar minha casa, e comprar passagens para Paris, Brena sempre quis ir lá! Diogo estava bem animado.

Eu estava estranhamente calada, até para mim. O que Frederico tinha realmente feito? Que jogada era essa? Ele tinha ido na minha casa aquele dia, tentou me dizer algo mas eu não quis ouvir nada. E depois teve aquela reação exagerada quando eu mencionei o Jason para ele. Ele até tentou disfarçar mas eu vi o quanto aquilo o incomodou. Tinha mais coisas nessa história que não estava sendo veiculado. Sorri timidamente para meus companheiros que estavam animados demais e não mencionei nada para atrapalhar.

Eles tentaram me convencer a sair com eles para o LiverPool mas eu queria chegar cedo em casa e pensar sobre o que eu sabia daquela história. Eu iria pesquisar ao fundo de tudo aquilo para ter certeza que Frederico tinha se direcionado para ser um bom empresário. Eu queria acreditar que aquilo não era sonho mas acostumado com decepções meu coração custava a acreditar.

Tomei um longo banho, coloquei a minha velha camisa do Ramones, e liguei meu ultrabook. Não tinha avançado na minha pesquisa mais que trinta minutos quando percebi meu visor ligado do telefone. Era Frederico. Pela décima vez....