Sinal escrita por Universo das Garotas


Capítulo 2
2º Capitulo – Beatriz




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Entrei no meu escritório fula da vida. Que merda de manhã. Que idiotas eram aqueles que estavam naquela máquina de alfa romeo?? Meu Deus nem todo o dinheiro no mundo deveria fazer homens tão idiotas como aqueles! E aquelas rodas? Eram de um material ridiculamente caro, mas que perdiam muito para as originais de fábricas em questão de segurança. Mas homens com dinheiro fazem idiotices piores que essa. Acreditem, eu tenho experiência com isso.
Tudo bem, eu estava de mal humor pelo que ele tinha falado comigo. Era do pior tipo de preconceito que eu já vi. Eu desprezei o sujeito ainda mais por isso. Meu carro tinha para mim um valor sentimental que eu jamais admitia para alguém, mas acho que todos percebiam a medida que ele ia só ficando mais velho e eu não o abandonava.
Mas tudo bem, eu tinha um dia daqueles no meu escritório hoje. Convoquei amigos, meu sócio e até minha mãe para trabalharem num caso de trabalhadores que estavam sendo demitidos de uma empresa e não receberam nada de acerto. Isso era coisa de uma empresa local, das grandes mesmo, mas eu não entendia o porquê de uma empresa com balanços anuais tão favoráveis de repente começar a ter números negativos em menos de um ano.
Eu selecionei tudo de material jurídico que eu tinha, balanços publicados, contratos sociais, contratos de trabalho. E mesmo analisando tudo e percebendo erros eu não encontrava algo para coagir a tal empresa a pagar corretamente os acertos rescisórios. E como eu tinha experiência com isso provavelmente eu teria que instruir eles a aceitarem algum acordo que essa empresa proporia na próxima audiência, o que significava eles abrirem mão de parte de seus direitos.
Não gostava disso. Eu era uma advogada trabalhista razoavelmente nova mas já tinha colocado algumas empresas no chinelo que tendiam a fazer lucros em cima de prejuízo de funcionários, quando descobria algum furo nas suas contas ou quando alcançava algum bem de um sócio importante. Mas esse caso estava difícil.
A campainha do meu escritório tocou. Fui atender e fui recebida por um largo sorriso de um amigo advogado, Dr. Felipe Andreas:
– Olá, sua cara está ótima para quem quer passar o dia folheando documentos...- Bom dia para você também, aliás boa tarde considerando que você madruga para trabalhar!- Você que acha que é natural acordar as 10 horas da manhã enquanto que o resto do mundo 8horas já estão trabalhando, com café da manhã tomado e tudo!- Não vamos discutir que horas o dia começa mais uma vez, entra logo!
Felipe era um cara bom, mais velho que eu uns 7 anos. Tinha sido um chefe meu no meu primeiro e único emprego que já tive. Fomos advogados desse empresa que estava falindo há uns cinco anos, então só tratávamos de ser réus nos processos discutindo dívidas trabalhista e algumas tributárias. Peguei amor pela causa trabalhista e depois que saí de lá me especializei e montei um escritório com outro sócio. Na época em que trabalhávamos juntos, vivíamos brigando, ora porque eu não concordava com acordos que prejudicavam em muito os trabalhadores ora porque eu nunca chegava no horário. Por um tempo ele me punia com multas por atraso, depois ele desistiu, apenas contando meu trabalho pela minha capacidade de cumprir prazos. Posso não acordar cedo mas eu compensava trabalhando até tarde e nunca perdi um prazo. Nós nos mantivemos amigos após a minha saída e ocasionalmente chamo ele para me ajudar em alguns casos.
– Quem mais virá?- Convoquei Ana Carolina, João e Leonardo. Além da minha mãe e do Diogo.
Diogo era meu sócio, primo do meu ex-marido que se tornou meu sócio após se formar. Ele compartilhava dos mesmos ideais que eu, e apesar dos protestos de meu marido na época para abrirmos um escritório voltado para áreas mais lucrativas com advocacia empresarial, eu e Diogo batemos o pé e abrimos um trabalhista. Advogado trabalhista realmente tem fama de pobre, mas até que nos virávamos bem com alguns contratos e ações coletivas de vários trabalhadores. E não cobrávamos nada deles antecipado. Só ao final se ganhássemos a causa.
– Opa, interrompemos algo – chegou nessa hora meu sócio acompanhado da minha mãe. Ele sempre brincava com a amizade que eu tinha com meu antigo chefe. Mas nós não tínhamos nada, além de uma amizade bem antiga. Mas ele não acreditava. Minha mãe balançou a cabeça claramente reprovando o comentário do meu sócio;- Eles são amigos, não são? Disse virando para mim com aquela cara “eu te mato se você se envolver com outro assalariado”. Na cabeça da minha mãe só os donos de empresa eram homens dignos de namorar a sua filha única. Felipe claramente percebeu o comentário dela e ficou desconfortável.- Querida mamãe, tão curiosa como sempre. Mas vamos pular os cumprimentos e começarmos a pesquisar sobre a Global Time?? Disfarcei a falta de educação dela no melhor jeito que eu conseguia....
Minha mãe tinha muitos defeitos. Mas desde que Sr. Mauro, vizinho dela há anos tinha sido mandado embora com uma mão na frente e outra atrás, ela tinha tomado ódio pela empresa e me prometeu ajuda para pesquisar. Ela não tinha formação jurídica, quiçá alguma formação superior além do segundo grau. Mas a minha mãe era uma máquina de ler em velocidade, coisa que eu tinha herdado dela, e ela literalmente comeria em um dia os calhamaços de papéis que eu juntei sobre a tal empresa.
– Por onde começamos? Perguntou Felipe- Que tal pelo último balanço? Respondeu Diogo- Não gente, não vamos começar pelo local mais óbvio. Vamos à fonte: quero saber primeiro quem foi o sócio fundador dessa empresa. E se teve várias alterações depois, se ele permaneceu na chefia da empresa mesmo como “suposto empregado”. Porque se esse cara coloca laranjas em seu lugar para sair do contrato social e pagar de rico quando a empresa dele está insolvente eu vou arrastá-lo para um processo judicial junto com seus bens! E isso é algo que nós vamos descobrir!

Meus amigos e minha mãe me olharam com aquela cara, de ela é doida mas a gente até que gosta. E adentramos o dia em cima de vários papéis e a base de muitas rosquinhas e café expresso.


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