Sinal escrita por Universo das Garotas


Capítulo 1
1º capítulo


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo da história de Ana Beatriz e Fred.



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1º capitulo - Fred

Parado no sinal, com aquele maldito trânsito desta Cidade, eu olhei para direita, quando vi alguém observando meu carro. Do meu lado o sempre puxa saco Jason ria da menina que estava olhando. Claro, eu pensei, esse é um raro modelo. Trata-se de Alfa Romeo novo, em estilo clássico, modelo 8C Competizzione de útlima geração. Qualquer pessoa mesmo que não conhecesse esse modelo sabia que se tratava de um carro caro e imponente. E era mesmo. Não seria a primeira vez que alguém olhasse boquiaberto para o carro.

Mas a menina não olhava boquiaberta, estranhamente ela parecia reconhecer o carro e admirá-lo de uma maneira simples. Ela estava com os cabelos presos no alto da nuca, com um óculos de sol. Parecia estar derretendo, mas ainda sim ela estava bonita. Estranho esse olhar quando todos limitavam a abrir a boca escancaradamente. Jason olhou para mim com aquela cara sempre zombeteira e falou:

– Vou assustar essa piriguete abrindo os vidros e perguntando se ela perdeu alguma coisa.

Antes que eu pudesse impedi-lo, o idiota abriu o vidro de repente. A garota moveu ligeiramente o rosto para nós, não tão pega de surpresa quanto Jason havia suposto que ela seria. Ela tinha um olhar calmo e confiante para sua idade.

– Gatinha, eu sei que o carango é lindo, mas a sua boca é ainda mais aberta desse jeito...

Ela nem sequer corou, virou seu rosto na nossa direção e disse:

– Eu deveria supor que haveria dois idiotas dentro dessa máquina, pois somente um desses poderia trocar as rodas originais e colocar uma de liga leve ridícula como essa.

Meu mundo caiu nessa hora. Como assim ela sabia que as rodas haviam sido trocadas? A julgar pelo carro dela, um modelo mais antigo, nacional, que embora fosse potente e clássico era imensamente inferior ao meu. Não deixei barato:

– Você por acaso já entrou em algo assim (apontei para o meu carro), mesmo que como passageiro, já que seu sentido apurado de carro não vai além de carros nacionais??

Olha, eu até que achava o modelo dela bem clássico, e se me lembrava bem, tratava-se de uma edição limitada relativamente cara há um tempo atrás de uma marca nacional, mas convenhamos, quem era ela para falar do meu carro? Provavelmente uma assalariada que não possuía uma renda que lhe desse folga para trocar por um modelo mais novo. E as rodas que ela se referia eram provavelmente mais caras, e por isso eu as coloquei, do que o meio de transporte em que ela tava sentada.

– Não precisaria entrar para saber que você fez a maior estupidez em troca-las por algo infinitamente mais caro, mas que retira em 90% a estabilidade de seu carro. Assim como percebe-se que você é um idiota, mesmo quando não tinha ainda soltado suas ideias sobre mim.

Nesse momento o sinal abriu e ela engatou a 1 ª marcha acelerando tanto que eu achei que ela fosse bater no carro da frente. Ela claramente queria avançar antes do sinal fechar novamente mas havia tantos carros parados na nossa frente que ela não conseguiu, parando encima da faixa de pedestre. Eu acelerei o meu bem devagar, e fui aproximando novamente ao lado dela, enquanto percebia que o semblante dela, antes mais calmo, tinha se transformado em uma carranca. Não aguentei e soltei outro comentário cretino:

– Parece que você entende mais de carros do que consegue dominá-los....!

Nesse momento o meu acompanhante estúpido disse:

– Duvido que ela consiga alcançar aquela próxima faixa sem que a gente já esteja alcançando aquele radar do shopping....

Eu lancei a ele um olhar que o fez calar! Como assim ele chamou ela na seta?? Tipo um racha de três segundos?? Porque esse era exatamente o tempo que eu levaria para alcançar o tal radar que ele mencionou assim que o nosso sinal abrisse. Ela estava a menos de 100 metros do ponto onde estávamos. E ela provavelmente ainda estaria engatando a marcha quando eu atingisse essa marca. Mas ela não respondeu dessa vez. Apenas limitou a olhar para ele sem nenhum sorriso no rosto, com aqueles óculos e sua pele brilhando pela luz do sol.

Ela devia estar morrendo de calor, sem ar condicionado naquela sua gerigonça, já que estava com todos os vidros do seu carro abertos. E nesse segundo o sinal abriu, e ela fez o que eu nunca teria imaginado: jogou todo seu carro para o nosso lado me impedindo de qualquer movimento. Eu fui rápido o suficiente para não bater, o que não impediu de encostar a parte da frente do meu carro no seu para-lama esquerdo. Ela me lançou um olhar mortal, e mesmo de óculos eu senti seu olhar gelado em nós.

– Não acho que toda a sua habilidade teria te preparado para isso não é? E por sinal, eu manobrei de um jeito que apenas meu para-lama encostou no seu carro, o que deve ter provocado um pequeno amasso no seu. No meu, provavelmente, não aconteceu nada.

Nesse momento ela jogou o carro de novo para frente, desviando do meu por centímetros e seguindo reto pela avenida. Ah! Merda! ela alcançou a próxima faixa enquanto eu e Jason ainda estávamos como idiotas olhando para o carro dela indo embora.

– Meu adeus! Fred, foi mal cara! Que louca! Jesus Ave Maria! Não sei como ela conseguiu fazer isso, mas foi incrível, embora ela, ai cara, ela arranhou seu carro, você tem que ver isso! Eu tô.....

– Cala a boca Jason! Eu estou memorizando a placa dessa vadia na minha mente! Pega uma caneta!

– Para quê cara, ela num deve ter dinheiro para arrumar isso, além do mais....

– A caneta! Eu gritei com Jason, ele as vezes (sempre) me dava nos nervos...

Saímos daquele maldito sinal direto para a Global Time, minha empresa no ramo de serviços (uma das muitas que eu tinha), e o motivo de eu estar nessa Cidade horrorosa. Eu tinha uma reunião com todos os supervisores regionais na sede da empresa.

Eu já não estava de bom humor por estar aqui hoje, agora com meu carro favorito arranhado, eu estava de péssimo humor. Chegamos na empresa e estacionei na garagem coberta exclusiva. Peguei o elevador e Jason desceu no 4º andar, direto para a área de funcionários local. Antes de sair ele me direcionou um sorriso e disse:

– Lá vamos nós para dar as péssimas notícias...

Eu não gostava de Jason. Ele era um funcionário antigo que sabia demais da maneira como cresci na vida, e tinha lá suas qualidades como Diretor de Operações. Ali estava uma: ele não tinha escrúpulos quando se tratava em dirigir a empresa para mais lucros. Mesmo que fosse despedir de uma só vez uns 300 funcionários da companhia, medida que eu tinha exigido dele para continuarmos a expansão para outra Cidade.

Não me levem a mal, a Cidade X era a minha natal, mas apenas abri a primeira empresa e sede aqui porque eu morava aqui na época, mas se eu pudesse eu nunca mais pisaria aqui. Eu não ia fechá-la, mas transferir os negócios principais para outra cidade era uma opção razoável para mim, mesmo que significasse a dispensa de muitas pessoas, algumas com mais de 15 anos de casa.

Parei no 10ª andar, meu exclusivo com uma ampla sala e vista panorâmica da Cidade. Não que isso melhorasse a qualidade da vista. Tanto que a minha cadeira era virada para o lado contrário da janela ampla.

Eu propositadamente coloquei uma coleção exclusiva de Tarsila do Amaral no final da minha sala (pelo preço aquilo deveria simplesmente me fazer ver o jardim do éden) mas compensava a outra vista em contraponto.Odiava a Cidade, tudo que ela representava, a familiaridade de suas curvas, ruas, locais. Eu nasci ali, no pior lugar que a Cidade reservava. Fazia qualquer favela ser a terra encantada. Mas enfim, não era isso que eu pensava nesse momento.

Eu ainda tinha 20 minutos pra meu compromisso, e meus pensamentos estavam novamente naquela mulher de cabelos escuros e presos em um coque desalinhado. Como ela foi atrevida! Será que ela era assim com todo mundo? Jason claramente a tinha irritado, eu não poderia culpá-la por isso, já que ele foi realmente um idiota, mas ela foi um pouco exagerada, não é mesmo? Ou não?

Ponderando sobre isso, decidi ligar para Antônio, o chefe jurídico da empresa local:

– Sr. Frederico, o senhor já está na empresa? Em que posso lhe ajudar? Já encaminhei a papelada das rescisões trabalhistas conforme o email que enviou-me...

– Não é sobre isso que estou te ligando. Preciso que descubra o contato de uma mulher que bateu no meu carro hoje à tarde.

– Alguém bateu no seu carro? O alfa romeo? Oh Senhor, eu sinto muito. Quer acioná-la na justiça? Eu poderia entrar imediatamente com uma liminar....

– Sim sim, não foi uma batida, só uma arranhado. A placa é KLX- 1503. Aguardo retorno.

– Claro, posso não conseguir um telefone, mas certamente tenho endereço e nome do proprietário. Leva menos de uma hora senhor.

– Não tenho esse tempo todo. Vou entrar em uma reunião em 20 minutos, que deve durar a tarde toda. Me envie por mensagem assim que você tiver a resposta.

E antes que ele respondesse eu desliguei o telefone. Saindo da minha mesa, fui em direção ao elevador para a minha reunião, enquanto pensava que cor de olhos aquela bela morena deveria ter por baixo daqueles óculos escuros.


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