Seis semanas se passaram, sentia que algo estava crescendo em meu ventre. Não precisava de testes modernos vindo da Capital, meu instinto animal me dizia que eu estava grávida. Não contei nada a Peeta , preciso de ajuda.

Subo a estrada da Aldeia dos Vitoriosos, o vento frio de outono penetra na minha pele. Bato forte na porta de Haymitch, quem abre é a Hazelle, após a guerra ela voltou a morar no Distrito 12 enquanto Gale se mudou para o 2.

– Oi Hazelle, o Haymitch está em casa?- pergunto.

– Está na sala, desmaiado de bêbado, não acorda por nada - diz Hazelle irritada.

Entro na casa assim mesmo, vou até a sala, é deprimente. Várias garrafas em cima da mesa, observo que ele ainda dorme com uma faca na mão.

– Haymitch- grito- Acorde Haymitch!

Ele nem se mexeu. Pego uma garrafa de água ardente branca e despejo o conteúdo em cima dele.

– O que você está fazendo aqui Katniss? - pergunta Haymitch assustado.

– Preciso de sua ajuda.

– Escuta aqui queridinha, da próxima vez que você me acordar desse jeito vou te dar uma facada. Entendeu?

Ignoro a ameaça, tenho problemas maiores.

– Haymitch estou grávida e não tenho coragem de contar pro Peeta - despejo as palavras em cima dele.

– Que notícia maravilhosa - diz ele sorrindo- Por que não? Ele ficará feliz.

– Exatamente ele vai ficar feliz mas eu não estou. Só sinto medo, não quero ver a decepção nos olhos dele - digo.

Haymitch cerra os lábios, tem o ar preocupado.

– Você quer que eu conte?

– Sim - simplesmente digo.

– Está bem. Hoje a noite irei a casa de vocês.

– Obrigada Haymitch.

Retorno para o meu lar, Peeta está acendendo a lareira mas logo nota a minha presença.

– Onde você estava? - Ele me questiona - fiquei preocupado.

– Na casa de Haymitch, vamos recebe-lo para o jantar - noto o olhar desconfiado de Peeta - na verdade só vim buscar minha jaqueta. Vou caçar, precisamos de carne fresca.

Pego a jaqueta que está no sofá, beijo Peeta na boca delicadamente e saio. Ele não diz mais nada.

Na floresta encontro meu velho arco em um tronco oco. Observo ao meu redor, não demora muito e eu avisto um filhote de cervo e acerto uma flecha bem entre os olhos do animal. Me aproximo da minha caça, tiro o saco de dentro do bolso da jaqueta , coloco morto dentro e vou até o rio.

Tiro as vísceras e a pele do animal com uma faca e jogo na água corrente, pego o resto do bicho e recoloco no saco e volto para casa. Peeta tinha preparado um banquete só faltava a carne.

– Peeta não precisava ter feito o jantar. Eu cuidava disso - digo.

– Katniss você sabe que cozinhar para mim é uma terapia, eu também gosto de te mimar - diz ele sorrindo.

Peeta me agarra minha cintura e me dá um beijo longo e intenso.

– Qual é a carne - pergunta ele recobrando o fôlego.

– É cervo, se quiser eu preparo.

– Não, pode deixar comigo, vá se aprontar.

Deixo Peeta na cozinha, tomo um banho demorado, refaço minha trança e me troco. Quando desço para a sala de jantar , percebo que ele já tinha se arrumado e posto a mesa. Escutamos batidas na porta.

– Entre, está aberta- grito.

Haymitch entra no cômodo, ele tem com uma aparência boa e está sóbrio.

– Boa noite casal! Que mesa linda! - Haymitch puxa a cadeira e se senta.

Comemos quase toda a comida, estavamos cheios. Haymitch se pôs a falar.

– Peeta preciso te contar uma coisa - ele nem espera por uma reposta e continua - Katniss está grávida.

Peeta olha para mim e pergunta:

– Isso é verdade Katniss?

Apenas faço que sim com a cabeça. Ele se levanta da cadeira e me pega no colo, está estonteante de felicidade, forço um sorriso para agrada-lo. Nos beijamos.

– Vou deixar vocês comemorarem a sós - diz Haymitch se levantando da cadeira.

– Espere, vou leva-lo até a porta - digo me soltando dos braços de Peeta.

Quando estava chegando a entrada de casa senti minhas pernas amolecerem, a minha visão se escureceu por completo. Tentei me segurar em algo, não tive tempo e meu corpo bateu com força no chão. Ouvi a voz aflita de Peeta mas de repente tudo se calou.

Vejo Prim, ela está com um bebê no colo, ambos estão sorrindo. No céu há bombas. Te avisa-los mas eles não me escutam, corro na direção deles mas quando chego, os dois estão pegando fogo. Minha irmã grita por ajuda. Eu não conseguia fazer nada.

Acordo desesperada e assustada, Peeta está com as mãos segurando os meus braços. Depois de anos os pesadelos voltaram mais reias do que nunca. Abraço forte Peeta.

– Vai ficar tudo bem - ele sussurra - eu prometo.

Encosto a cabeça no peito de Peeta e adormeço.