Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 76
Nas forjas do destino.




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Oliver tinha investido milhares de horas de seu tempo livre em jogos de rpg de exploração. Tinha se educado para encontrar pequenos detalhes, pistas e marcas nos mundos virtuais que costumava visitar. Ele aprendeu a ler alguns padrões dos construtores desses mundos. Era como se todos seguissem os mesmos mapas, como se bebessem da mesma fonte. Era um padrão bastante aberto, mas que sua mente abstrata conseguia ver, reconhecer, ler e interpretar. E era justamente reconhecer esse padrão que o permitia seguir por aquele corredor de manutenção sem se perder.

– Eu sabia que pelo menos um dos caras da Bethesda Software tinha que ser um filho de Hefesto. Ninguém monta labirintos e imagina armadilhas como um filho de Hefesto. – disse o garoto para si mesmo, ignorando dois corredores que trifurcaram o caminho mais atrás. – você acredita uma vez eu fiquei dois dias inteiros perdido em Blackreach, sem ter a menor ideia de como sair?

Ao lado dele e com Pacato seguindo de perto estava Nathalia. A filha de Ares já tinha desistido a muito de tentar entender a maneira geek que o colega se manifestava às vezes. Sabia apenas que deveria confiar em Oliver. Ela tinha muito mais a ganhar confiando nele.

Por fim o menino parou em frente a um cano que parecia ter um vazamento de vapor. Ele passou a mão espalmada pelo vapor e depois passou a inspecionar em volta, como se procurasse alguma coisa. Depois de dois minutos de busca ele achou o que procurava. Uma pequena alavanca escondida numa reentrância da parede. Ao puxá-la para baixo uma das paredes deslizou, revelando uma escada de mármore escurecido pelo tempo.

– Como você sabia...? – deixou escapar Nathalia enquanto se apressava para acompanhar o amigo. À medida que subiam iam sentindo o calor aumentando.

– Devemos estar perto de uma das forjas. Fique de aviso: pode ser que o povo de Hefesto não nos veja como aliados.

– Pode deixar, chefe. – disse a menina, sacando uma adaga. Naquele espaço confinado a espada seria pouco útil.

A escada os levou até um corredor mais amplo, de piso metálico. O lugar cheirava a suor, carvão queimado e óleo lubrificante. Ao longe podiam ouvir as famosas forjas de Hefesto trabalhando. E pareciam estar em ritmo acelerado, apesar dos indesejáveis visitantes no portão. Nathalia parecia bem mais acostumada ao barulho das forjas que Oliver. Enquanto o menino dependia quase que exclusivamente de sua visão, ela podia notar sons que ele, aparentemente, não se dava conta. Era essa audição de guerreira que ela esperava pudesse ajudar. Os dois seguiram pelo corredor até um par de portas duplas. O som das forjas parecia ter ficado para trás.

– Devemos estar quase naquela jóia em forma de coração. – disse Oliver. – Esse lugar se parece muito com os corredores de Understone Keep, de Skyrim. Claro, sem as ruínas para todos os lados e sem os elfos...

Por fim desembocaram num grande salão. Eles estavam no que parecia uma mistura de mostruário com sala de troféus. Oliver e Nathalia estavam num balcão superior, que dava a volta em toda a exposição. Provavelmente tenham encontrado, sem querer, o tour dos hospedes no castelo de Hefesto. Lá em baixo havia dúzias de armaduras, armas e carros de batalha em volta, encerradas em delicados esquifes de cristal. Não, cristal não. Oliver reconheceu imediatamente o diamante jupiteriano, obra de sua mãe. Algumas daquelas armas pareciam tão majestosas quanto antigas.

Bem no centro do salão estava uma moça vestindo um longo vestido azul claro, quase desbotado. Usava uma coroa simples, com três pontas, feito de bronze muito polido. A sua pele era branca, qause rosada e seus cabelos castanhos escuros, meio longos, descendo em cachos por toda extensão de sua cabeça. De onde estavam não conseguiam ver seu rosto ou seus olhos, mas ela tinha um porte que não se aproximava nenhum pouco com a nobreza. O modo com que ela andava pelo salão, de costas para os meninos, dava mais a impressão de estavam vendo uma leoa que circula sua presa. Ela parou em frente a um enorme corcel mecânico e acariciou sua testa, por cima do esquife de cristal.

– Bem, velho amigo – começou ela num tom saudosista – Talvez seu lugar seja mesmo num museu. Você é de outro tempo e espaço, no final das contas. Mas como eu gostaria de sentir o vento nos meus cabelos com você ao meu lado mais uma vez.

– Sua majestade! Sua majestade! Rainha Sweldma, rainha... – a voz grossa e áspera vinha de trás da moça e ela demorou dois segundos para se virar para o anão que entrara no aposento. Ele era atarracado, músculos proeminentes saltando para fora das vestes simples que usava: um par de calças jeans, pesadas botas de couro, uma camiseta da última turnê do Motorhead e por cima de tudo um avental bem surrado. Ele se abaixou, fazendo uma reverência longa, mostrando a cabeça quase sem cabelos e a pele marcada por terríveis queimaduras.

– Eu não sou uma rainha, tenente Valton. Quantas vezes eu vou ter de lembrá-lo disso? – disse ela tentando disfarçar o riso, parecendo mais séria do que realmente estava. – Vamos lá, levante-se. Eu não tenho paciência para essas coisas de etiqueta. Eu não sou “ela”.

O anão levantou-se e encarou a menina. Apesar de seu porte, ela era pouca coisa mais alta do que ele. Por fim, o tenente limpou a poeira da garganta e começou novamente a falar:

– Sua majestade, acabamos de receber uma mensagem dos soldados mercenários de Apolo. O líder deles acaba de chegar e com ele um contingente muito maior daqueles demônios de pele azul. Ele fez terríveis demandas e disse que se não forem atendidas ele “colocará os portões do castelo abaixo e tomará aquilo que é de seu pai, por direito”.

– Se aquele demônio do Ion pensa que vamos entregar tudo de mão beijada, é melhor que ele tire sua harpa da chuva. – disse Sweldma, cerrando o punho em tom de desafio.

– Esse nome não me é estranho... Sweldma. Eu já ouvi antes. Já Ion é outra história. Eu o conheço bem, pelos relatos dos livros de estratégia. Ele é um dos filhos bastardos de Apolo, dos tempos antigos. Ele serviu na guerra contra os titãs. Poderoso guerreiro e sacerdote de Apolo. – sussurrou Nathalia para Oliver – com esse teremos problemas.

– Os nossos batedores afirmam que ele tem agora dez vezes mais soldados e guerreiros que antes. Ele tem até mesmo máquinas de cerco. – disse o anão, sem desviar os olhos da moça à sua frente. – Ele está há poucas horas daqui. Os soldados que estavam na frente do palácio já levantaram acampamento para se juntar à força principal de ataque.

– Podemos vencê-los? – perguntou Sweldma.

– Eu não sei Suca... – respondeu o anão, virando o rosto pela primeira vez – nossos homens estão dispostos para a luta, mas sem um filho de Ares para nos liderar em batalha...

– Continue – exigiu a menina, abrandando a expressão ao ouvir seu apelido de infância.

– O palácio vai sofrer pesados danos, sem falar das baixas... temos muitos civis e refugiados em nossos muros. Devemos nos preparar para defesa?

– Não – disse ela olhando fixamente para o anão – quando Ion chegar ele estará preparado para uma boa briga. E eu não gosto da ideia do meu lar se transformar num campo de batalha. Junte todos os servos de meu pai aptos para a batalha, e todos os autômatos de guerra que temos. A esta altura Ion não estará esperando um ataque. Nós vamos pegá-lo de surpresa. Rápido, Valton...

O anão fez uma continência e saiu da sala ás pressas. Sweldma voltou-se para o seu corcel e olhou novamente para ele.

– Ah velho amigo... como eu gostaria de ter você ao meu lado nesta empreitada... Mas para o bem do meu reino, eu tenho de ir, mesmo sem você.

– Talvez você não precise ir sozinha – disse Nathalia para chamar a atenção. Sweldma ergueu os olhos para o balcão e viu Oliver e Nathalia em pé. Os dois saltaram para baixo descendo como se pesassem como plumas. – Sou Nathalia, filha de Ares e chefe do Santuário do Vale do Amanhecer e este é Oliver, filho de Astréia, a senhora das estrelas. Estamos aqui para impedir que Apolo ascenda como novo líder do panteão e libertar Zeus.

– Eu sei quem são vocês. Vi os cartazes de procurados na TV a cabo. Eu mesma passei uma curta temporada no Vale do Amanhecer. Filoctetes é o guardião de vocês, não é mesmo?

– Não mais – o cenho de Nathalia fechou-se ao recordar-se do amigo morto.

– Mas estamos aqui para ajudar. Apolo não pode receber o tal apoio de Hefesto. – apressou-se Oliver, um tanto impressionado com o porte da menina.

– Eu sei – disse Sweldma – meu pai deixou claro que Apolo não pode receber seu apoio, custe o que custar. Mas Apolo é esperto. Nesta sala existem armas poderosas. Eu precisaria apenas de algumas delas para derrotar o exército invasor, mas apenas Hefesto pode abrir esses esquifes. Já tentamos de tudo. Nunca vi material mais duro e resistente.

– Diamante jupiteriano. Especialidade da minha mãe. Aguenta até mesmo o mais forte dos relâmpagos de Zeus. – disse Oliver. – temos um amigo que poderia abrir esses esquifes, mas infelizmente ele não está por aqui – Oliver deixou a imaginação vagar por dois segundos, pensando como Eric e Isabel estavam se saindo, afinal os dois tinham ido direto à boca do leão. – Mas eu acho que consigo abrir pelo menos um deles.

– Você poderia mesmo? – disse Sweldma com um grande sorriso nos lábios.

– Eu poderia tentar. – disse Oliver.

Sweldma apontou para o esquife onde o enorme corcel metálico repousava. Oliver se concentrou. Ele nunca tinha criado aquele material antes. A sua mãe, claro, fazia parecer muito fácil. Era virtualmente indestrutível. Ele se concentrou. Como poderia destruir aquele material? Aumentar a gravidade? Tentar criar um buraco negro para destruir parte dele? Ele estava ficando sem opções quando se lembrou dos livros de filosofia que tanto o encantaram no passado. Um dos filósofos era Anaximandro. Ele acreditava que o princípio de tudo era o apéiron, isto é, uma matéria infinita da qual todas as outras se cindem. Esse apéiron seria algo que não surgiu nunca, embora existisse, além de ser imortal e indestrutível. Esses elementos infinitos se combinavam e se separavam, criando e desfazendo as coisas. Quem sabe essa fosse a resposta. Ele não precisava destruir nada... apenas pedir que se dividissem em pedaços menores. Ele forçou um pouco a sua vontade e sentiu o ressonar dos cristais. Estava no caminho certo.

Sweldma conteve o grito de emoção quando o esquife se desmanchou em bilhões de pedacinhos, como se fossem peças de dominó caindo. Ela se aproximou e tocou a face do corcel. Os olhos da criatura ganharam vida e imediatamente ele relinchou, enchendo a sala com a potência de sua voz.

– Também estou com saudades de você, velho amigo. Apolo está ameaçando meu reino, meu pai e tudo aquilo que eu mais amo. E nós vamos expulsá-lo daqui aos pontapés. Vamos chutá-los tão forte, que vamos usar alguns deles como sapatos. – a menina vestiu com rapidez uma armadura que estava repousando na garupa do corcel.

Do lado de fora, o tenente Valton tinha reunido os soldados como solicitado. Três batalhões de anões, montados nas mais variadas criaturas mecânicas, seguidas por um batalhão de autômatos de forma humanoide, armados com martelos de forja.

– Quando partimos, tenente? – perguntou uma jovem anã, ainda se ajustando à armadura que usava.

– Ainda não. Suca, quero dizer, a rainha Sweldma disse que deveríamos esperar pelo guerreiro capitão.

– O guerreiro capitão? – exclamou outro anão – quem é esse guerreiro que irá no liderar?

– Eu ainda não sei, mas tenho fé nas palavras de Sua Majestade.

Não demorou muito a joia em forma de coração se abriu com um estrondo. Aquelas portas não eram abertas há milênios. O estrondo assustou os soldados lá embaixo.

– Esse som... já será o ataque de Ion? – questionou a anã, apreensiva.

– Não, não pode ser. Ainda é muito cedo demais para isso – respondeu Valton.

– Pelo martelo de Hefesto, olhem! – gritou outro soldado, apontando para o alto. Todos olharam para cima. Descendo do alto, como se estivessem em câmera lenta estava Sweldma, montando seu corcel de guerra, o Tempestade, seguida por Nathalia, montada em pacato (que assumira sua forma mais guerreira), seguida por Oliver, montado em Marmarino. O grupo pousou pouco à frente dos soldados e partiu em disparada. – Quem são eles, tenente?

– Eu não sei.... mas reconheço um guerreiro capitão quando vejo um. Avante!


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