Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 55
Capítulo 55




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Você colhe o que planta

Era o final do dia. Jefferson Figueiredo se preparava para fechar a sua loja. Apesar de ser formando em história pela URCA-CE e ter mestrado e doutorado em metalografia histórica pela universidade de Reykjavík, na Islândia, ele estava longe das salas de aula e das universidades há pelo menos uma década. Hoje ele trabalhava na sua loja, a excalibur: um pequeno e próspero negócio no da cutelaria histórica. Ele era um ferreiro moderno. Era chamado de “ferreiro de neve” devido à cor da pálida sua pele. Apesar dos quarenta e tantos anos tinha o físico de fazer inveja a muito macaco de academia: 1,85, 80kg de puro músculo, olhos castanhos escuros e um cabelo castanho curto, cortado à moda escovinha. A sua loja ficava na Avenida Jabaquara, entre o metrô Praça da Árvore e a estação Santa Cruz.

No ramo da cutelaria ele era famoso, como Sean Connery era famoso entre os atores. Ele vendia suas peças para praticamente todo o Brasil e até mesmo algumas partes do mundo. A fila de espera para uma faca ou machadinha poderia chegar facilmente a dois anos ou mais. O último filme de Robin Hood usou espadas forjadas por ele. Entre seus trabalhos mais famosos estavam a restauração da armadura de batalha do Rei Henrique III, usada por ele na guerra dos Cem Anos. Ele estava fechando a fachada da loja quando seu celular tocou. Era uma mensagem de whatsup da sua esposa, Madja. Uma sequencia de fotos. Mostravam uma mesa posta com o jantar, uma garrafa de vinho francês gelando, um box de DVDs de Tony Bennett e uma embalagem de lingerie da Victoria’s Secret largada sobre a cama. É, a noite prometia. Mas a última mensagem o deixou minimamente chateado: amor, não se esquece de jogar o lixo fora.

Resignado ele foi até os fundos da loja onde dois sacos o aguardavam. Um preto, cheio de lixo comum, não-reciclável e um branco, bem mais cheio, com os dizeres “reciclável” escrito em verde forte. Ele pegou os dois e levou para fora. Estava terminando de colocar tudo nos containers da limpeza pública quando ouviu a voz atrás dele:

– Você continua forte como sempre Jeff.

O ferreiro de neve se virou, sacando da cintura uma faca artesanal de cabo de madrepérola. A lâmina de bronze celestial, grande e de aparência mortal era pálida, como a pele de seu dono. Ela parecia vibrar, como se ansiasse por sangue.

A Dra. Cassandra saiu da penumbra, erguendo as mãos em posição de rendição. Estava vestindo um sobretudo marrom claro e por baixo dele um conjuntinho saia preta e camisa social branca. Usava também uma echarpe vermelha e um par de luvas de couro claro, combinando com o sobretudo. Os cabelos estava soltos, dando a ela uma aparência menos rígida e mais jovial.

– É assim que você recebe os amigos? – disse ela num tom reprovador.

– Não somos amigos, Cassandra. Você fez questão de deixar isso bem claro da última vez que nos encontramos. – com a mão livre Jeff ergueu a camisa mostrando uma cicatriz rosada e muito marcada, que ia de um lado a outro do peito, morrendo depois de suas costelas – Naquela época eu achei que também tinha deixado claro que não queria mais contato com você, com o santuário, com os deuses ou com que quer que fosse.

– Não acredito que você guarde tanto rancor, mesmo depois de tanto tempo. Você sabe que tive meus motivos. Tinha minhas ordens – a voz dela titubeou. Ela sorriu de novo, esforçando-se para parecer gentil e amigável – Por que tanto ódio no seu coração?

Depois de dizer isso ela fez menção de se aproximar, mas ao perceber que a faca não se moveu nem um milímetro de sua posição ofensiva, ela parou.

– Preciso falar com você. É urgente. – disse ela num tom mais firme.

– Não tenho nenhum interesse de falar com você. – disse Jeff, resoluto. – Eu tive muito trabalho de me estabelecer aqui. Para ficar longe de tipos como você.

– Sei que teve. Tive muitos problemas para encontrá-lo. Eu sei que você não quer nada comigo ou com os outros. Eu sei. Mas... Tenho uma missão para você.

– Já disse que não me interessa. Caia fora antes que eu precise limpar o seu sangue da calçada da frente da minha loja.

– Nem nestes termos? – perguntou ela mostrando uma foto no seu smatphone. O ferreiro arregalou os olhos.

– É uma montagem, só pode ser.

– Queria eu que fosse. Agora vamos conversar?

O celular do ferreiro tocou novamente. Ele olhou a tela e sorriu.

– Amanhã, às oito, na minha loja. Não se atrase, filha do sol. Ah, mais uma coisa: se for um truque, você não vai sair daqui viva.

As horas passaram lentamente. Estar naquela posição desconfortável não deixava brechas para um descanso verdadeiro. Tudo doía, tudo era desconfortável. Oliver levantou a cabeça e viu o agente de preto voltar. Estava sem o terno, com a camisa branca machada de sangue perto das mangas e no peito. A gravata estava afrouxada. A mão esquerda estava enfaixada e parecia estar faltando o dedo indicador. Ele trazia uma bandeja coberta por um pano, montada sobre um carrinho de compras. O agente parou em frente à cela de Jade e tirou o pano que cobria a bandeja. Lâminas, facas, ferramentas em geral, martelos e até mesmo uma furadeira movida à bateria jaziam na bandeja. Ele sorriu, e depois pigarreou, fazendo Jade acordar. Se a menina assustou-se com o conteúdo da bandeja, não deixou transparecer.

– Você já assistiu “O Albergue” de Eli Roth? É um dos meus filmes favoritos. – ele pegou um dos bisturis e lambeu a lâmina de forma sádica. – mas aqui eu não vou precisar que você fique com uma mordaça. Eu vou adorar ouvir seus gritos. “Eu não vou te matar” – disse ele imitando um sotaque britânico – “Só vou te machucar muito”...

– Monstro! Eu não tenho medo! – falou Jade, desafiadora. – Venha e faça o seu melhor!

– Você não tem medo de mim. Eu sei. Eu poderia passar o dia usando tudo o que esta bandeja tem a oferecer eu não conseguiria nem mesmo desarrumar o seu cabelo, menina. Mas o seu namoradinho... – disse ele olhando para Oliver e pegando a furadeira da mesa – Com ele eu posso brincar o quanto quiser.

O agente empurrou o carrinho de supermercado com a bandeja em direção a Oliver. Ele abriu a porta e entrou na cela, ficando de frente para o menino.

– Alguma coisa a dizer antes de começarmos? – perguntou o agente segurando firme na furadeira.

– Na verdade é uma pergunta e um comentário. Você gosta de cinema, certo? Deveria ter mais cuidado. Essa frase que você usou no final, “vou te machucar muito” é do Corina no filme do Esquadrão Suicida. Mas, você gosta de quadrinhos também? O meu tio é um grande fã de quadrinhos. Eu li tudo de quadrinhos que você pode sonhar. Sou um grande fã da Marvel e da DC. – disse Oliver de forma casual, como se estivesse conversando na fila da loja de quadrinhos. Eric conhecia aquele tom de voz do amigo e passou a se preparar, sabe-se lá para que. – uma das minhas histórias favoritas é a Graphic Marvel “A vingança do monólito vivo”. Você já leu?

– Não, acho que não... Mas o que tem a ver com essa situação? – disse o agente, levemente intrigado com o comportamento do menino, largando a furadeira e pegando um alicate.

– Com textos de David Micheline e a arte de Marc Silvestri, a Graphic Novel “A vingança do Monólito Vivo” traz uma sensacional saga, em que alguns dos principais heróis Marvel se unem para combater o Monólito Vivo, mutante egípcio, que descobriu uma maneira de absorver a energia solar sem limites e pretende se vingar destruindo a cidade de Nova York. Um desfecho surpreendente! Um clássico imperdível para qualquer fã da Marvel. – disse o menino de um fôlego só.

– E daí? – perguntou o agente de forma impaciente. Seja ló o que estivesse tramando era claro que o tempo de Oliver estava se esgotando.

– Bom, você se sente o máximo com essas ferramentinhas aí quando eu e meus amigos temos mais poder do que a maioria das pessoas vai sonhar em toda a vida. É verdade que estas algemas eletrônicas me impedem de chamar por minha espada. Ela é muito poderosa, sabe. Ela é super afiada e pode emitir rajadas de energia. Mas eu pensei: não é a espada que tem o poder da rajada de energia. Ela apenas canaliza a minha energia na forma do raio. As algemas me impedem de criar a espada, mas não me impedem de focalizar minhas emanações de energia e enfraquecer o metal. – O agente levou uns instantes para perceber a verdade por trás das palavras do menino, mas agora era tarde para fazer alguma coisa – como ondas do mar num rochedo na praia. É um processo lento, agente, mas você terá de concordar comigo que é bem eficiente!

O menino mal terminou de falar e uma de suas algemas explodiu em meio a um clarão azul. O agente também não teve qualquer reação, que não fosse gritar, quando seu corpo foi violentamente projeto para trás com a força incontida da emanação de energia do menino. O agente foi arremetido com tanta força contra a parede que ficou preso nela, como os personagens de desenho animado.

– Cara que incrível – berrou Eric! – mas qual foi o lance dos quadrinhos?

– Ah isso? O vilão da história usou a mesma técnica para se libertar de algemas idênticas a essa, na prisão do Cairo. – disse Oliver, subitamente tomado por um cansaço inexplicável.

– Agora é só se soltar e soltar a gente. – disse Lucas, cheio de esperança novamente.

– Não tão rápido – a voz do agente veio amarga e cheia de dor. Ele ainda estava preso na parede, provavelmente com uma dezena de ossos quebrados. – Harpias!

Mais rápido do que Oliver pudesse fazer alguma coisa a porta da sua cela se fechou e quatro harpias apareceram, indo aparar o agente.

– A fuga de vocês acaba agora, malditos. – disse ele. – eu mesmo vou cuidar para que ahrrrrg.

Oliver mal pode acreditar quando, com um movimento muito rápido de sua adaga longa, uma das harpias cortou a cabeça do agente. A cabeça rolou no chão até parar em frente a cela de Nathalia, demonstrando uma careta de espanto e dor. Uma das harpias vestida de arrumadeira foi voando até o teto e abriu uma claraboia, deixando entrar a luz da lua e o frescor da noite. Por claraboia outra harpia desceu. Ela tinha um porte majestoso. Ela parou na frente da cela de Eric e a abriu. Parou na frente do jovem e sorriu, mudando lentamente de forma.

– Você me salvou de um destino cruel, filho de Hermes. Hoje, os deuses me agraciaram com a oportunidade de devolver o favor. – disse ela, livrando Eric da armação em formato de X. – Minha mãe, Ocípete, o saúda e o agradece.

– É... valeu. Pelo visto você melhorou muito desde a última vez que nos vimos. Pessoal, essa é... como é mesmo seu nome?

– Ocípedes... – completou baixinho a menina harpia.

– Essa é Ocípedes, a princesa das harpias, filha da rainha Ocípete. Eu a libertei do julgo de Mormo, aquela vampira cospe fogo que enfrentamos no interior de Goiás.

– Teremos tempo para apresentações depois. Quero sair daqui e tirar essas calças de astronauta! – comentou impaciente Lucas. – eu quero mesmo ir ao banheiro!


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