Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 50
Capítulo 50




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/460709/chapter/50

Unidos nós vencemos, divididos nós caímos.

Fazia exatamente 10 minutos que Oliver e Eric tinham voltado de São Paulo. Era muito estranho poder percorrer mais de seis mil quilômetros em pouco mais de duas horas, mas não era tão estranho quanto o cosplay de Naruto steampunk que estava na frente deles na fila do muppy. Muppy, essa bebida de gosto estranho que exercia uma verdadeira fascinação sobre todos os fãs de anime. “Se você não é fascinado por ela, é porque nunca provou”, afirmava um cartaz colado com fita crepe perto da praça de alimentação. Apesar do avançado da tarde o evento fervia.

O evento de animes estava bom, mas a praça de alimentação era um show à parte. Havia de tudo que se podia imaginar e mais um pouco: das tradicionais – e caras – comidas da culinária chinesa e japonesa, passando por itens mais ocidentais como pizzas e sanduíches artesanais esbarrando até mesmo em misturas inusitadas como a tapioca de quebab. A praça era composta de filas: fila para escolher o que comer, para pagar o que se vai comer, para pegar o que se vai comer, e finalmente para achar um lugar para sentar. Mesas eram disputadas à tapa. Finalmente uma mesa repleta de saiyajins afrodescendentes foi desocupada e Eric sentou-se nela, frustrando algumas guerreiras ninjas do seriado Avatar. Mal tinham se sentado para comer quando o celular-torradeira começou a apitar loucamente.

– Vem cá, você não tinha colocado esse troço no modo silencioso? – reclamou Eric, cuspindo pedaços de tapioca sabor frango à moda de Barcelona com guacamole e molho picante pela mesa.

– Eu deixei – respondeu Oliver, lutando para tirar o aparelho do bolso de trás de sua mochila enquanto equilibrava uma tapioca de queijo coalho e erva doce numa das mãos. Por fim ele depositou a tapioca no prato plástico à sua frente sacou o tablete, desbloqueando sua tela.

As imagens da TV Diário On Line apareciam na tela com impressionante nitidez. Um distúrbio climático desconhecido estava atingindo o parque ecológico do cocó. Chuva de granizo e ventos fortes dividiam espaço com redemoinhos de poeira e línguas de fogo que se erguiam como gêiseres furiosos do chão. Os dois meninos olharam impressionados para a tela, presos pelo magnetismo daquela imagem surreal. Para além das imagens da TV, os meninos conseguiram ver através da névoa a imagem de Apolo formando-se nos céus.

– Temos de ir até lá, agora. – disse Oliver decidido, colocado o tablet de volta na mochila e jogando para dentro da boca tanta tapioca quanto podia mastigar.

– Eu sei de um jeito bem rápido – disse Eric carregando o amigo para um pátio aberto, ao lado de onde um grupo de cavaleiros de ouro disputava corridas com algumas garotas vestidas de empregadas góticas. Lá chegando ele tirou sua camiseta revelando que algumas das feridas da luta de semana anterior ainda estavam bem marcadas na sua pele. O menino respirou fundo, como se reunisse coragem para receber um tranco de dor e abriu suas asas.

As asas saíram de suas costas e se espalharam majestosamente, alcançando quase dois metros de cada lado. As plumas brilhantes, peroladas, refletiam a luz do sol com altivez.

– Cê tá louco? – protestou Oliver antes do amigo posicionar-se atrás dele e agarrar as alças da sua mochila.

– Deixa que a névoa cuida disso. Com Apolo envolvido Isabel não pode esperar por sutilezas. – ele olhou em volta e sussurrou nos ouvidos de Oliver – Se Isabel não pode, imagine Jade. Oliver assentiu silenciosamente, com determinação no olhar.

– Que se dane a névoa. Vamos embora.

Uma menina passou entre os dois, tirou uma foto rápida e comentou sorrindo: belas asas cara. É o anime “X/1999” da Clamp? Maneiro!

– Você não viu nada ainda. – Eric olhou de volta para a menina vestida com o uniforma laranja com ideograma de uma tartaruga na altura do peito e sorriu. – Better clinch up, Legolas. – E ao dizer isso lançou-se aos céus com meteórica velocidade.

– Uau – murmurou a menina de uniforme laranja olhando para cima – eu tenho que conseguir um desses para o ano que vem!

A batalha tinha começado com um ataque em carga. Com o escudo em frente Nathália abriu caminho entre os katómeros como uma bola de boliche derrubando pinos. A sua espada dançava a sua frente, desferindo golpes e cortes com impressionante precisão. Não havia firulas ou golpes dados a esmo: tudo era milimetricamente calculado. Era como ver um experimentado cirurgião trabalhando depois de ter se acostumado a ver açougueiros. Os poucos inimigos que chegavam perto o bastante para desferir um golpe eram parados pelo escudo da guerreira: nenhum chegava perto de tocar em sua brilhante armadura.

Os colegas não ficavam muito atrás, embora não fossem capazes de acompanhar seu ritmo. Lucas estava com feições arbóreas: sua pele lisa e morena havia se metamorfoseado numa casca dura e grossa de madeira, como o tronco de um carvalho. Uma de suas mãos fechou-se como uma grande bola de espinhos desferindo golpes longos e esmagadores. A outra tinha criado uma espécie de escudo de madeira que o protegia da maioria dos golpes.

Já Isabel contava com apoio elemental: fadas feitas de fogo dançavam à sua volta e pequenos gnomos feitos de pedra e cascalho moviam-se em sua defesa. Os katómeros que passavam pelos gnomos de pedra invariavelmente eram queimados pelas fadinhas de fogo – uma versão infernal e flamejante da Sininho de Peter Pan. Quando um deles conseguiu atravessar suas defesas a menina não se desesperou. Com um gesto ela convocou uma lufada de vento que o ergueu no ar. As fadas de fogo se uniram numa grande raquete de tênis em chamas, golpeando o katómero e o enviando de volta à sacerdotisa. Nesse momento a mão do gigante se moveu, bloqueando o ataque. O demônio explodiu em pedaços ao tocar sua pele ríspida.

Um quilômetro atrás Jade corria tentando vencer a distância que a separava do campo de batalha. Não haviam mais humanos correndo em sentido contrário, mas a vegetação parecia se colocar em sua frente a cada curva do trajeto. Muitas vezes ela parecia jurar que aquele galho tinha se movido apenas para interceptar seu movimento. Por fim, a uma centena de metros da clareira, seus pés se enredaram numa raiz grosa e ela caiu no chão, literalmente “catando cavaco” como se dizia na crônica esportiva. Ela levantou-se tonta e sentiu no rosto uma ardência úmida. Passou a mão e viu sangue. Sangue brotava de um corte na sua bochecha. Era a primeira vez que se feria desde que tinha sido adotada por Balder. O corte lembrou-lhe subitamente de sua mortalidade: de que podia ser cortada, ferida e morta. Sua mente se encheu de dúvidas atormentantes. Teria Balder lhe abandonado na presença iminente de Apolo? Teria perdido os poderes? Ou seria alguma maldição. Ela balançou a cabeça e limpou o sangue com a gola da camisa. Não tinha tempo para pensar nisso agora. Os amigos precisavam dela. Se tivesse que morrer enfrentando o pai, que fosse. Ela se levantou e correu na direção da clareia.

Lá alto nos céus Oliver lutava para manter os olhos abertos. Ele e Eric viajavam muito rápido. Cada vez que o filho de Hermes batia as asas era como se dessem um belo salto para frente. Num instante cruzaram metade da cidade e ele até já sentia dificuldade de respirar. Mas preferiu não comentar nada. Sentia o coração pesado. Se tivesse ficado com Jade poderia protegê-la. Aliás, como se Jade precisasse se proteção. Era capaz de quando chegarem ela ter limpado o chão do lugar com a cara de Apolo e ainda rir da sua cara. Como ele poderia ser tão panaca? Mas no fundo ele sabia que o que ele tinha era medo. Medo de perder quem ele ama. Como todas as pessoas que já amou, Oliver temia perder Jade.

Depois do ataque de Isabel o gigante resolveu tomar a sua parte na batalha. Ele se movia com muita elegância e rapidez para alguma coisa daquele tamanho. Em nada lembrava os monstros de seriados que se moviam desengonçados. Ele chutou na direção de Nathália, carregando junto com o pé uma dezena de katómeros que não foram rápidos o bastante para sair do meio. O primeiro impulso da guerreira foi bloquear o chute, mas no último segundo ela resolveu esquivar. Bem a tempo. Na ponta do pé de Godzila do monstro surgiu uma verruga que despontou como um míssil. Onde estava Nathália a explosão levantou terra e criou uma pequena cratera de 2 metros de diâmetro. Outra verruga explodiu no alto do deu ombro uma metralhadora giratória, calibre .50, começou a disparar, cuspindo milhares de projéteis de bronze celestial. O escudo da armadura de Ares cresceu e cobriu toda a frente da guerreira, absorvendo os mortais disparos.

Ao ver o devastador ataque que cobria sua amiga Lucas resolveu agir com mais ímpeto. Ele contatou mentalmente as árvores em volta. Uma goiabeira centenária aceitou seu convite e ergueu com suas raízes um rochedo do tamanho de um fusca. Com o comando do rapaz as raízes se balançaram para frente arremetendo a rocha com firmeza na direção da sacerdotisa. Como esperado o gigante cessou seu ataque, rebatendo o ataque como um jogador de vôlei toca uma bola.

A metralhadora enferrujou e apodreceu, caindo quase que em cinzas em direção do solo. Outra verruga explodiu fazendo surgir de dentro dela um canhão de artilharia. O canhão mirou na direção de Isabel e disparou, explodindo em seguida.

Tanto o gigante como a sacerdotisa olharam para o lado e viram Jade que segurava uma lança que tinha tomado dos lanceiros.

– Deve ser muito frustrante para você Apolo. Todo o seu poder, todo o seu fulgor e não poder destruir sozinho meia dúzia de mortais. Você deve ser a piada do Olimpo! – ela arremeteu a lança em direção a outra verruga que se formava no peito do gigante, explodindo-a no impacto. A face da sacerdotisa se retorceu novamente. Apolo estava furioso. Mais do que antes!

O gigante saltou tentando esmagar Jade com um soco. O primeiro golpe errou por pouco, mas a fera não parava. Jade esquivara com dificuldade dos dois golpes seguintes, mas o novo golpe a jogou para cima. Ela caiu pesadamente no chão.

– Não! – o grito de Oliver ecoou pelos céus. Tomado de fúria ele largou da mochila e da segurança do vôo de Eric, mergulhando na direção do monstro. A espada surgiu em suas mãos e golpeou com força titânica. Quando o metal estelar da Astéron thráfsma tocou a pele do gigante houve uma explosão e uma onda de choque em meio a uma chuva de faíscas. O impacto jogou Oliver de volta e ele caiu amparado num monte de arbustos compactos, recém convocados por Lucas. O gigante olhou para a sua mão e percebeu, atônito, que ela estava ferida. Havia um corte profundo, por onde vertia uma gosma oleosa que poderia muito bem ser sangue de gigante.

– Vai ter que fazer melhor do que isso se quiser me matar “papai”. – Jade se levantou limpando a poeira das roupas. Uma fadinha de fogo começou a voar pouco a frente dela e meia dúzia de gnomos de pedra fizeram uma barreira de meio metro de altura à sua frente. Ela sentiu a presença de Isabel guarnecendo seu flanco esquerdo. Logo ao lado da pequena bruxa pousou Eric recolhendo as asas.

Uma rajada de energia azul acertou o peito do gigante, fazendo-o recuar um passo. Oliver já estava de volta a ação. Era claro que o garoto estava comprando tempo para que os amigos se reorganizassem.

– Você está bem? – perguntou Eric entre os dentes, torcendo para que o gigante não percebesse.

– Estou sim – respondeu Isabel, num tom assustado.

– Temos um plano? – insistiu o rapaz.

– Sobreviver – completou Lucas aproximando-se dos colegas. – Sobreviver o bastante para fugir daqui. Mas se você perguntou isso é porque deve ter uma ideia em mente.

– Pode ser que eu tenha – disse Eric com um sorriso torto na boca – se funcionar, escapamos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os novos herois do Olimpo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.