Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 44
Capítulo 44




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Bala Negra

O impasse estava dado. Tal como nos filmes de ação onde o herói era apresentado um impasse moral. Deixar o vilão escapar com o roubo e salvar o inocente, ou perseguir o vilão, recuperando o que foi roubado e deixar o inocente à sua própria sorte. Eduardo olhou para Oliver que babava sangue escuro, respirando com dificuldade. A distância viu Jade lutando contra as amarras de couro. Não se soltaria a tempo de fazer nada. Mais a diante ele viu a filha de Ares tentando se levantar sem sucesso, sua tentativa derrotada pela série de ferimentos que acometia seu corpo.

Ele olhou novamente para o sobrinho e num lapso de tempo lembrou-se de como o menino chegou a suas mãos. Ele, um filho de Atena, começando a ganhar a vida longe dos problemas dos deuses tinha recebido um verdadeiro presente de grego: um menino, filho de seu meio irmão e de uma deusa grega exilada. Sentiu por Oliver o mesmo carinho de quando o viu pela primeira vez. Só que dessa vez Oliver era quase um adulto. Sabia das consequências de seus atos e do preço das escolhas que tinha feito. Preço que Eduardo estava agora disposto e dobrar.

Num gesto rápido ele enfiou as mãos nos bolsos de trás de caça e sacou duas pistolas semiautomáticas. As duas glocks 21, cor de grafiti, saltaram para suas mãos já cuspindo projéteis de chumbo. Do outro lado Luciano sorriu por um segundo, tirando do coldre escondido em sua bota uma pistola luger, coberta de tinta ouro e manchas de sangue seco e disparando também. Os dois se moviam rápido e disparavam um no outro, errando os tiros por milímetros. Vasos de plantas estouraram, junto com pedaços de parede e galhos de arvores partidos. Embora não conseguisse se mover Eric conseguia ver o movimento das balas. Era muito rápido. E muitas delas chocavam-se em pleno ar. É como se estivessem lutando Kung Fu e as balas fossem os socos e chutes, bloqueios e esquivas. Por um momento o jovem filho de Hermes amaldiçoou o seu dom: poderia ver tudo que estava acontecendo, mas nada poderia fazer. Uma sensação de incapacidade, de inutilidade, de completa impotência doeu fundo no seu peito, muito mais do que sua perna que parecia estar quebrada.

Os dois combatentes chegaram a menos de dois metros um do outro. Pistolas descarregadas. Luciano sorriu jogando a pistola de lado, assumindo a posição de luta. Eduardo colocou as pistolas de volta no bolso e dobrou os braços junto ao queixo, como um lutador de boxe. Seu semblante era sério, desafiador, ao contrário do rosto de Luciano, deformado por um sorriso sádico, escancarado.

Os dois começaram a se digladiar. Socos e chutes trocados com rapidez e precisão cirúrgica. Os dois borravam a vista de quem tentava observá-los, movendo-se com rapidez, como se pudessem desaparecer de um lugar para aparecer em outro, trocando socos e chutes numa rapidez que deixaria dos lutadores de Dragon Ball impressionados. Embora eles estivessem tecnicamente empatados, o tio Eduardo parecia levar uma pequena vantagem. Luciano não conseguia mais imprimir a mesma velocidade sobrenatural que usara para nocautear todo o grupo de jovens semideuses que jaziam em volta. O estilo do tio Eduardo era mais sério e contido. Era como se seu cérebro fosse um computador que analisava o oponente e dava o golpe com mais chances de acertar ou causar mais estrago. Ele batia mecanicamente, deixando as emoções completamente de lado, o seu rosto convertido numa máscara inexpressiva. Já Luciano lutava como um louco, adaptando-se e improvisando a cada passo. Ele estava com o mesmo sorriso louco na cara, uma expressão que faria o Coringa corar de inveja. Os dois combatiam num balé mortal, onde cada passo significaria a vida ou a morte de ambos.

Num dos embates surgiram ao lado da piscina. Foi ali que a sorte pareceu sorrir para um deles. Luciano desequilibrou-se no piso molhado e o Tio Eduardo viu ali a oportunidade de desferir o golpe final. Mas quando ele avançou sem reservas sobre Luciano percebeu, tardiamente, que tudo não passava de um embuste: o jovem emo-core girou o corpo aparentemente desequilibrado sobre o próprio eixo, girando como um furacão humano no ar, desferindo um chute na lateral da cabeça do Tio. Pego de surpresa o tio de Oliver voou até ser dolorosamente amparado pelo tronco de uma palmeira. A cabeça zonzeava, enquanto ele tentava assumir uma postura defensiva. Ele estava nocauteado em pé. Se fosse uma luta de MMA seria esse o momento em que o juiz separaria os dois dando a vitória por nocaute técnico à Luciano. Mas essa era uma luta de vida ou morte e não haviam juízes em volta. Luciano surgiu à frente de Eduardo começou a golpeá-lo na linha da cintura. Ele batia tão rápido que seus movimentos eram borrados mesmo para a visão de Eric.

Jade tentava desesperadamente se soltar, mas as tiras tinham sido feitas para suportar mesmo a força de um semideus enfurecido. Foi que ela viu num reflexo da luz da lua a ponta da faca de prata que tinha se quebrado na sua luta com Luciano. O fragmento parecia ser afiado o bastante para que Jade pudesse se soltar. Ela começou a rastejar na direção do brilhante prêmio de prata a poucos metros dela, numa corrida mortal contra o tempo. A sua cabeça fervilhava de informações e tudo o que ela conseguia pensar era que alguns de seus amigos estavam às portas da morte. Ela tinha de impedir isso, a qualquer custo.

Por fim o jovem emo-core parou ofegando finalmente. Estava quase sem fôlego, suando. Aos seus pés o tio de Oliver jazia, contorcendo-se de dor. Luciano foi até a extremidade do jardim e pegou a sua Luger do chão. Limpou a poeira com uma soprada e a recarregou, sacando um novo pente de balas de um dos bolsos. Depois ele caminhou sem pressa até Eduardo. Ele virou o homem com a bota. O peito arfava levemente, subindo e descendo com certa dificuldade. Com certeza algumas costelas quebradas e hematomas que ficariam doloridos pelos dias a seguir.

– Não era assim que eu queria que terminasse Dudu. Se Cassandra estivesse aqui ela provavelmente desaprovaria minhas ações. – ele cuspiu logo após falar o nome da médica do Santuário meio-sangue, não exatamente por nojo, mas por desprezo – ela e aquele namoradinho estranho dela... como era mesmo o nome daquele nerd bobalhão?

– O nome dele é Roberto. Professor Roberto. E ele é meu amigo.

O jovem emo-core não teve tempo de entender o que estava acontecendo. A rajada de energia cortou o ar da noite atingindo a Luger em cheio. O grito de dor de Luciano intensificou-se quando ele percebeu que não apenas a arma tinha sido destruída, mas também sua mão. No lugar dela e de seus dedos restava apenas o coto queimado, recém-cauterizado pela potência do disparo. Ele agarrou-se ao toco fumegante do braço e gritou de joelhos no chão. Ele virou os olhos marejados de lágrimas na direção do disparo e encontrou a figura de Oliver. O menino esta em pé e nenhum ferimento estava à mostra. Na verdade ele parecia mais cheio de vida do que nunca.

– Você! – gritou Luciano, cerrando os dentes, lancinado pela dor da perda de sua mão – Mas você estava quase morto! Eu senti a sua energia se esvaindo e a sua alma indo em direção aos Campos Elísios. Isso não pode ser. Nem mesmo a ambrosia injetável salvaria a sua vida miserável. Como...

– É como me ensinou o meu tio: quase e nada são a mesma coisa. – disse Oliver, espada em punho, olhando fixamente para ele. Seu corpo estava envolto a uma luz azulada e seus cabelos ondulavam como se ele estivesse debaixo da água. O mesmo padrão de energia que ele demonstrou quando lutou com Zeus. Mas diferente de Zeus, Luciano não parecia suportar tão bem suas rajadas de energia.

Oliver caminhou em direção a Luciano, o que fez o vilão recuar. Ele estava realmente assustado. Não pensava, em nenhum momento que a sua vida poderia estar em risco e agora ele estava à mercê de um garoto. Ele tentou divisar uma saída, mas não via nada. Num canto do jardim a menina que não morria estava quase solta de suas amarras, libertando-se com o fragmento da faca de prata. Ele estava exaurido. Quase sem energia, incapaz de usar seus poderes mesmo que sua vida dependesse disso. Foi quando ele passou de novo ao lado de Isabel. A menina tinha sido a menos afetada por seus poderes. Ele tinha apenas dado alguns golpes para desacordá-la. Num movimento rápido ele agarrou a menina, se pondo atrás dela.

– Para trás garoto das estrelas! Eu vim apenas em busca do mapa e do pêndulo. Não tenho qualquer intenção de matar esta mocinha, mas vou fazer isso se você não me deixar seguir com a minha vida. Um acordo, o que me diz? Você me deixa ir e eu prometo não fazer nenhum mal à ela.

O brilho de Oliver arrefeceu-se, e ele olhou para Eric jogando no chão, forçando para se arrastar, as pernas pendendo sem vida ao longo de seu tórax. Os seus olhos imploravam para que Oliver não deixasse que nada de ruim acontecesse com Isabel. Oliver respirou fundo e a sua espada desapareceu. Um sorriso de esperança brotou no rosto de Luciano.

– Sem ressentimentos, garoto. – disse ele colocando Isabel cuidadosamente no chão. Depois ele se levantou colocando as mãos para cima num gesto de rendição. – eu cumpri a minha parte. Agora eu posso ir, não é?

– Não. – a voz de Oliver soou cavernosa, carregada de raiva. – você quase me matou, atacou deliberadamente meus amigos e quase matou as pessoas que eu mais amo nessa vida. Você tem que achar que eu bati a cabeça com muita força para deixar alguém perigoso como você escapar – a espada de energia surgiu de novo nas mãos do menino, ainda mais brilhante e poderosa, pronta para dar a rajada mortal.

Luciano tremeu. Estava cansado, ferido, exaurido. Pelo a menos a morte viria rápido, pensou ele quando olhou para o chão. Logo uma sombra lhe cobriu. Era Jade.

– Prometa, pelo monte Olimpo e pela sua vida, que não voltará afazer mal a nenhum de nós e nem permitirá deliberadamente que nenhum outro ser, homem ou deus o faça. – a voz dela ainda era mais inflexível que a de Oliver, com a diferença de que a dela não estava carregada de nenhuma emoção.

– Eu prometo.

– Pois levante-se e vá embora. Tenho certeza que Oliver vai concordar comigo, não vai? – disse ela virando para o garoto e sorrindo. O sorriso que desarmo a alma belicosa de Oliver.

– Ok, pode ir. Mas se eu te ver de novo não vou ser tão flexível.

Uma brisa soprou e como se aproveitando dela Luciano desapareceu com ela, desfazendo-se em poeira. Era um truque e tanto. Oliver olhou para Jade. Era indisfarçável a afeição que havia entre os dois. Eles se abraçaram num abraço que pareceu durar uma eternidade. Depois se separaram. Tinham muita coisa para resolver e um mundo para salvar.


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