Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 31
Capítulo 31




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You are my sunshine, my only sunshine...

Jade não queria acordar. Sabia pelo seu relógio biológico que o sol já tinha nascido – aliás ela sempre sabia o momento exato em que o sol nascia e que ele se punha. Ela afundou um pouco mais na enorme cama de casal em que estava, aproveitando cada segundo que podia do colchão de molas ensacadas e dos travesseiros fofinhos de penas de ganso.

– Penas de ganso? – gritou jade ao pular da cama para o meio do quarto. A única vez que tinha deitado numa cama assim tão boa foi quando seu pai veio buscá-la para sua festa de 15 anos, onde foi tratada como uma verdadeira princesa. Tinham ido para um charmoso hotel cinco estrelas na fronteira nevada da França, onde puderam aproveitar o dia mais longo do ano.

Ela olhou em volta. Era um quarto imenso. Paredes brancas, pé direito alto, forro de gesso e uma enorme janela que dominava todo o lado direito do quarto. As enormes cortinas com blackout estavam fechadas, mas mesmo assim não conseguiam barrar a linda luminosidade que vinha lá de fora. O quarto tinha sido feito pensando na janela. Ela iluminava tudo, mostrando a paisagem para fora: algumas árvores e um descampado verde, se estendendo até um pequeno monte por onde o sol nascia logo atrás. Num dos cantos da sala existia uma escrivaninha com um notebook e alguns livros de colégio. Na parede da cabeceira da cama, que ficava de frente para a porta do quarto, existiam dezenas de pôsteres de atores teens e boys band da moda. Ela se aproximou da parede e viu uma guitarra autografada pelo Bon Jovi. “To my greatest fan, thanks Jade” dizia a inscrição feita em caneta especial. Jade sentiu a cabeça rodar um pouco, como se estivesse sendo invadida pelas memórias daquele dia, que ela sabia, jamais tinha acontecido. Ela sacudiu a cabeça afastando as imagens inéditas do show e dos bastidores com o seu pai quando se deu conta: estava nua.

A vergonha de estar nua veio tão instantaneamente quanto ela se deu conta e ela passou a buscar alguma roupa para vestir. Ela se lembrava de que quando era pequena costumava dormir nua e sempre acordava com o nascer do sol. “Para dar bom dia ao sol”, lembrava sua mãe quando contava a história para qualquer um que tivesse paciência para ouvir. Mas as lembranças tinham de esperar: Jade ouvira passos no corredor, do lado de fora de uma das portas do quarto, e, portanto, jogou-se na cama e passou a fingir que ainda estava dormindo.

A porta abriu e Jade engoliu um seco. Era Oliver. Mas não como ele era. Ele estava diferente. Maior e mais cheio, com o corpo atlético, definido, escondido por trás da camiseta do time de basquete do Phoenix Suns. Estava uma calça jeans e tênis de corrida. Mal se notava os óculos de aros finos que trazia emoldurando o rosto. Ele estava muito mais bonito e se movia com a leveza de um gato.

– Vamos lá preguiçosa! – ele disse com um tom carinhoso e caloroso – Não quero tomar bronca do professor Roberto só porque você se esqueceu de levantar de novo. Vamos lá!

Mal Jade tinha terminado de ouvir as frases do rapaz ela sentiu o lençol ser arrancado com um puxão firme. O grito dela paralisou o rapaz, quando ele percebeu o que tinha feito. O tapa de Jade veio na velocidade da luz e Oliver foi expulso do quarto mais rápido que o pensamento.

– Mas Jade, você não deveria bater assim no seu amigo! – a voz da mãe de Jade soava com uma preocupação zombeteira como se ela estivesse ralhando com uma criança brincalhona – o que é que vão dizer quando o coitadinho do Oliver chegar na escola com a essa marca de quatro dedos na cara? Desculpe mais uma vez querido... – repetiu enquanto apertava uma bolsa de gelo contra a face do rapaz.

– Não se preocupe dona Mara. A culpa foi minha. Eu que arranquei o lençol da Jade. Não sabia que ela tinha voltado a dormir como veio ao mundo. – Oliver se esforçava para parecer sério, mas estava prestes a explodir. O fato de hoje era daqueles que seria contado em todos os natais dali para frente.

Jade olhava tudo com um misto de incredulidade e encantamento. Estavam na cozinha americana da casa, um lugar luminoso e espaçoso, cheio de bancadas de mármore escuro e eletrodomésticos de última geração, todos de aço escovado. Enquanto Oliver e sua mãe conversavam animadamente trocando frivolidades sobre o passado, Jade observava a casa toda com muita atenção. Foi quando percebeu a foto do pai num porta-retratos ali perto. Ele estava mias lindo do que nunca. Estava do lado da mãe, com um barrigão. Logo atrás deles um carro vermelho, um camaro conversível com a placa “Helios – 1”. Parecia o casal mais feliz do mundo.

– Jade, não esqueça que seu pai chega hoje de viagem. Lá pelas sete da noite. Esteja em casa cedo. – ela olhou para Oliver como se fosse um general dando um comando a um soldado. Ele se empertigou assumiu a posição de sentido e bateu continência, numa das muitas brincadeiras que não cansavam de trocar.

– Vamos embora Jade. Minha mãe emprestou o carro dela, vamos que eu não quero chegar atrasado hoje.

Lá fora o dia radiante brilhava no que parecia ser o mais perfeito dos subúrbios americanos. Casas de madeira branca, perfilados ao longo da rua larga e sinuosa, adornados por lindos e enormes gramados davam o tom bucólico, interrompido por um ou outro casal fazendo esportes juntos. Um casal passou sendo arrastado por um lindíssimo golden retriever de pêlo tão dourado que Jade piscou por um instante.

O carro da mãe de Oliver era um modesto Astra, cor azul escuro, mas bem escuro mesmo. Desses que a noite poderia desaparecer sem deixar marcas. Ela entrou junto com o amigo que saiu dirigindo lentamente pela rua, como se estivesse curtindo cada momento.

– Mas o que é isso? Um episódio daqueles seriados americanos, tipo “as visões da Raven”? – Eric estava incrédulo, incapaz de acreditar no que seus olhos mostravam.

– Bom, seriado ou não, eu achei meio imoral para o horário... quer dizer, foi muita sorte a câmera estar posicionada do lado que Oliver puxou o lençol e dessa forma não vimos nada do que Jade tinha para oferecer. Que nem naquele episódio dos Simpsons em que Homer e Margie ficam presos pelados do lado de fora da casa. – Lucas soava estranhamente maldoso, como se quisesse espezinhar alguém que não estava à vista. Ele se serviu de uma porção de pipoca e encheu um copo com uma generosa dose de coca-cola.

– É o desafio. Ele está brincando com a mente de Jade. Ele está fundindo a realidade de sonhos que ele está criando com as memórias dela. Não sei o que pode acontecer se ela acreditar que aquele sonho é a realidade e nós somos alguma coisa que saiu de uma noite mal dormida depois de uma maratona de jovens deuses. – o tom de Nathália soou apreensivo. Ela sabia muito bem o quanto o guardião do desafio poderia ser convincente. Ela ainda se culpava por ter esfaqueado a sua irmã, mesmo sabendo que se tratava apenas de uma ilusão.

– É estranho... – começou o cavaleiro – a ilusão está perfeita demais. Como se algo ou alguém estivesse manipulando o poder do guardião. Mas quem poderia fazer isso? – ele se levantou um pouco preocupado e caminhou em direção a enorme tela por onde todos poderiam assistir o desafio e fez menção de tocá-la, esticando a mão. Quando ele tocou a tela uma explosão de luz e som tomou conta do aposento.

A explosão de energia tinha sido espetacular, arremessando o cavaleiro dezenas de metros para trás. Ele chocou-se com a parede, para o espanto de todos. Isabel correu para socorrê-lo, seguida por Oliver e Eric. Absorto pelas imagens que fluíam da tela Lucas não se moveu, pegando uma fatia de pizza que tinha acabado de se materializar na mesa.

– Eu não acredito nisso! – Jade parecia realmente espantada. – eu estudo em Sunny Dale Highs?

– Não sei porque o espanto – comentou Oliver estacionando o carro na área externa do colégio. Estudamos aqui, juntos, desde o nono ano. – quando ele falou “juntos” puxou Jade para perto dele. Ela sentiu o perfume do menino e seu coração acelerou. A pele dele era macia, quente, quase elétrica. O sol brilhava forte no céu. Ele esticou-se para dar um beijo nela quando foram interrompidos por uma voz familiar.

– Srta. Fofo, e Sr. Stelle... vocês não querem se atrasar para as aulas, não é? – a visão do professor Roberto encheu os dois com pavor adolescente. Incrível como uma pessoa pálida e magra como ele, enfiado num tweet tão antiquado poderia ser tão aterrador. Jade piscou e por um momento tudo à sua volta mudou, como se a névoa tivesse sido retirada por apenas um instante. Era um lugar frio, escuro, feio e sem vida. Num canto ela viu o que parecia ser um pequeno relâmpago sumir na escuridão, antes que todo o cenário de Sunny Dale High estivesse de volta. Ela estava de volta na escola, mas sentada na sua carteira. Na sua frente um caderno aberto recheado de contas do que parecia álgebra.

A julgar pela face dos colegas a aula se arrastava miseravelmente por horas. Sentado ao seu lado Oliver se dedicava a leitura de uma revista em quadrinhos. Mais ao lado reconheceu o que parecia ser o Eric, mas muito mais alto e forte, com um livro de estratégias de basquete. O sinal tocou e todos foram abandonando a aula. Jade demorou a se levantar. Estava tudo estranho, com que se ela mesma estivesse um pouco tonta. Se não soubesse diria que ela estava bêbada. Ela saiu pelos corredores, em sentido contrário a leva de estudantes que seguia pelo corredor.

Sem demora ela chegou num enorme saguão adornado por um par de escadas de madeira antiga que levava a o segundo andar. Num canto visualizou uma menina pequena e magra, cabelos loiros mal cuidados enfiados num surrado agasalho preto. Ela andava apressada, segurando um grosso livro contra o seu peito, como se o livro fosse algum tipo de avatar protetor. De repente Jade percebeu o porque da pressa da menina. Ela estava sendo seguida. Um grupo de três rapazes altos e fortes, com roupas que pareciam ser do time de futebol. Todos lindos, fortes e loiros. A menina tentou subir pela escada, mas foi interceptada por duas meninas vestidas como líderes de torcida.

– Pensa que vai a algum lugar bruxinha? – o tapa de uma delas arrancou o livro das mãos da menina. O livro deslizou pelo chão até parar nos pés de Jade. Mas ela mal teve tempo de pensar no livro. O grupo cercou a menina, importunando-a, batendo nela, humilhando. Ela foi empurrada, puxada e por fim derrubada no chão. Ela tentou se arrastar de quatro no chão enquanto os outros faziam barulhos de cachorros latindo. Um dos meninos sacou uma coleira com corrente da mochila e afivelou fortemente o pescoço da menina no chão.

– Vamos lá cadelinha... passeando. – disse ele enquanto tentava puxá-la pelo salão. Os outros riam e um deles filmava.

– Ah isso vai ficar muito legal no youtube. – disse um deles.

Uma das meninas a ergueu do chão pelos cabelos e depois cuspiu um pedaço de chiclete no piso laminado.

– Vai lá cadelinha... Esse é o teu almoço. Pega com a boca e come. Mastiga e engole – disse a menina pisando sobre a goma recém cuspida no chão, deixando sobre a superfície rosa uma marca de pegada suja – faz isso e a gente deixa você em paz... por hoje.

Jade sentia o corpo arder de ódio. A imagem dantesca da cena tinha lhe paralisado um momento, mas agora ela estava possessa. Agarrou o livro do chão e correu na direção do grupo. Ela saltou no ar e sem aviso golpeou um deles que estava de costas com o livro. O garoto agarrou a parte de trás da cabeça e caiu para frente estatelando-se no chão. A menina do chiclete tentou dizer alguma coisa, mas foi prontamente nocauteada com o livro. Um dos rapazes tentou socá-la, mas ela esquivou-se com graça e chutou o rapaz nos pises baixos. Ele caiu no chão, gemendo copiosamente. O casal restante se entreolhou sem entender nada e começaram a disparar pelo corredor.

– Você está bem? – Jade apressou-se em tirar a coleira da menina caída e com espanto viu que se tratava de Isabel.

A menina estava tão espantada como os jovens que haviam fugido. Sua boca se abriu numa expressão confusa quando ela perguntou:

– Me deixa em paz! Por que você está me ajudando? Normalmente é você que me persegue!

“Não, isso não pode ser verdade”, pensou Jade. Ele nunca perseguiria alguém daquela forma. Era malvado, cruel, inumano. Ela piscou com força e a névoa dissipou de novo. Dessa vez apenas ela e Isabel estavam uma frente para a outra, no mesmo ambiente que vislumbrara mais cedo.

Isabel não estava mais vestida como a “perseguida gótica” e Jade estava com a mesa roupa que tinha vestido pela manhã, quando saiu da pensão em Fortaleza. Isabel começou falando:

– Tem alguém manipulando o desafio. Alguém poderoso. Não sei se você poderá vencer. Cuidado. Duvide de todos. Descubra o enigma. O que está errado. A pista está no...

A névoa se refez antes que a menina pudesse completar a frase. Jade sabia que agora era um sonho manipulado que vinha vivendo. Nada daquilo seria real, mas estava se tornando real. Ela tinha pouco tempo para resolver o enigma, seja ele qual fosse e buscar sair dali antes que sua mente fosse envolvida por aquela poderosa névoa. Mas como fazer isso? De súbito ela teve uma idéia. Era bem arriscado mas tinha tudo para funcionar. Ela passou a correr pelos corredor


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